Criar uma Loja Virtual Grátis
Umpa Lumpa

ONLINE
1



cap. 9 ao 11

9.Teoria

"Posso fazer só mais uma?", eu implorei enquanto Edward acelerava ainda mais pela rua vazia. Ele não parecia estar prestando nenhuma atenção á pista.
Ele suspirou.
"Uma", ele concordou. Seus lábios se pressionaram formando uma linha.
"Bem...você disse que sabia que eu não tinha entrado na livraria, e que eu tinha ido para o sul. Eu só estava me perguntando como você sabia disso."
Ele desviou o olhar, deliberadamente.
"Eu pensei que não estávamos mais sendo evasivos.",eu disparei.
Ele quase sorriu.
"Tudo bem, então. Eu seguí o seu cheiro." Ele olhou para a estrada, dando um tempo pra eu recompor minha expressão. Eu não conseguia pensar numa resposta aceitável pra isso, mas eu guardei a informação cuidadosamente pra estudá-la no futuro. Eu tentei me concentrar. Eu não estava pronta pra deixar ele terminar, justo agora que ele estava finalmente explicando as coisas.
"E você também não respondeu uma das minhas perguntas", eu lembrei.
Ele me olhou com desaprovação. "Qual delas?"
"Como funciona- essa coisa de ler mentes? Você pode ler a mente de todo mundo, em qualquer lugar? Como você faz isso? O resto da sua família pode...?" Eu me sentí uma boba, pedindo explicações pra uma coisa assim.
"Isso é mais que uma", ele apontou. Eu simplesmente entrelacei meus dedos e olhei pra ele, esperando.
"Não, sou só eu. E eu não consigo ouvir qualquer um, em qualquer lugar. Eu tenho que estar pelo menos um pouco perto. Quanto mais familiar é a... voz de alguém, de mais longe eu posso ouví-la. Mas ainda assim, não mais longe que alguns quilômetros." Ele parou pensando. "É como estar num corredor enorme e cheio de gente, todos falando ao mesmo tempo. É só um ruido- um zumbido de vozes no fundo. Até que eu me concentro em uma das vozes, e aí o que ela está pensando se torna claro.
"Na maioria das vezes eu desligo todas- se não eu posso me destrair demais. E então fica mais fácil parecer normal"-ele fez uma careta quando disse a palavra-

"Isso quando eu não estou respondendo acidentalmente ao pensamento das pessoas e não á suas vozes".
"Porque será que você não pode me ouvir?", eu perguntei curiosamente.
Ele olhou pra mim, seus olhos estavam enigmáticos.
"Eu não sei", ele murmurou. "A única suposição é que talvez a sua mente não trabalhe da forma como a deles trabalha. Como se os seus pensamentos estivessem na frequência AM quando eu só posso ouvir Fm".
Ele sorriu pra mim, divertido de repente.
"Minha mente não trabalha direito? Eu sou uma aberração?" - as palavras me incomodaram mais do que deviam- provavelmente porque a ficha caiu. Eu sempre suspeitei que era uma aberração, e fiquei com vergonha de ver as suspeitas confirmadas.
"Eu ouço vozes na minha cabeça e você preocupada que você a aberração". Ele sorriu
"Não se preocupe, é apenas uma teoria..." seu rosto se contraiu. "O que nos leva de volta a você"
Eu suspirei. Como começar?
"Nós não deixamos de ser evasivos?", ele me lembrou suavemente.
Eu desviei o olhar do seu rosto pela primeira vez, tentando encontrar as palavras. Aí eu olhei para o velocímetro.
"Minha nossa!" eu gritei. "Diminua".
"Qual é o problema?", ele perguntou alarmado. Mas não diminuiu a velocidade.
"Você está indo á quase duzentos por hora!", eu ainda estava gritando. Eu olhei cheia de pânico pela janela, mas estava escuro demais pra enxergar. A estrada só era visível até onde os faróis alcançavam. A floresta dos dois lados da estrada pareciam paredes negras - e seriam duram como paredes de aço se nós batêssemos nelas a essa velocidade.
"Relaxe, Bella". Ele revirou os olhos, ainda sem reduzir.
"Você está tentando nos matar?", eu perguntei.
"Nós não vamos bater".
Eu tentei moderar meu tom de voz. "Porque você está com tanta pressa?"
"Eu sempre dirijo assim", ele me olhou dando um sorriso torto.
"Mantenha os olhos na estrada!"
"Eu nunca sofrí um acidente, Bella- eu nunca sequer levei uma multa." Ele sorriu e deu um tapinha na testa. "Detector de radar embutido".

"Muito engraçado", eu soltei. "Charlei é um policial, lembra? Eu fui criada para obedecer todas as leis de trânsito. Além do mais, se você bater o Volvo e transformá-lo numa sanfona, provavelmente você vai se levantar e sair dele".

"Provavelmente",ele disse com uma risa curta, dura. "Mas você não".

Ele suspirou e eu observei aliviada enquanto observava o ponteiro baixando gradualmente. "Feliz?"

"Quase".

"Eu odeio dirigir devagar", ele murmurou.

"Isso é devagar?"

"Chega de comentários sobre como eu dirijo", ele cortou. "Eu ainda estou esperando pela sua última teoria".

Eu mordí meu lábio. Ele olhou pra mim, seus olhos estavam inexperadamente gentis.

"Eu não vou rir", ele prometeu.

"Eu estou com mais medo que você fique com raiva de mim".

"É assim tão ruim?"

"Em grande parte, sim."

Ele esperou. Eu estava olhando para as minhas mãos, então não pude ver sua expressão.

"Vá em frente", sua voz era calma.

"Eu não sei como começar", eu admití.

"Comece pelo começo... você disse que não foi você quem criou essa teoria".

"Não"

"Onde você a encontrou- num livro? Um filme?", ele testou.

"Não - foi Sábado, na praia". Eu arriquei dar uma olhada para o rosto dele. Ele pareceu confuso.

"Eu dei de cara com um amigo antigo da família- Jacob Black", eu continuei. "O pai dele e Charlie são amigos desde que eu era bebê."

Ele ainda parecia confuso.

"O pai dele é um dos ansiões Quileute". Eu observei ele cuidadosamente. A sua expressão confusa estava congelada no lugar.

"Nós fomos dar uma volta" - eu não contei que havia planejado tudo.

"- Ele estava me contando umas histórias antigas- tentando me assustar, eu acho. Ele me contou uma..." eu hesitei.

"Vá em frente", ele disse.

"Sobre vampiros". Eu me dei contar de que estava cochichando. Eu não conseguia olhar para o seu rosto agora. Mas eu ví seus dedos apertando o volante convulsivamente.

"E você imediatamente pensou em mim?". Ainda calmo.

"Não. Ele...mencionou sua família".

Ele estava em silêncio, olhando para a estrada.

Eu fiquei preocupada de repente, preocupada em proteger Jacob.

"Ele só achava que era uma superstição boba", eu disse rapidamente.

"Ele não esperava que eu pensasse nada dela". Não parecia que estava sendo o suficiente, eu tenho que confessar. "Foiminha culpa, eu forcei ele a me dizer"

"Porque?"

"Lauren disse uma coisa sobre você- ela estava tentando me provocar. Um garoto mais velho da tribo disse que vocês não iam até lá, só que pra mim pareceu que ele quis dizer outra coisa. Então eu fiquei sozinha com Jacob e tirei a verdade dele", eu admití, deixando a cabeça cair.

Ele me surpreendeu quando começou a sorrir. Eu olhei pra ele. Ele estava sorrindo, mas seus olhos estavam concentrados, olhando para a estrada.

"Como foi que você forçou ele a contar?", ele perguntou.

"Eu tentei flertar com ele - e funcionou melhor do que eu imaginava". Eu comecei a ficar corada enquanto lembrava.

"Eu queria ter visto isso", ele sorriu obscuramente. "E você me acusando de deslumbrar as pessoas- pobre Jacob Black"

Eu corei e olhei para a noite pela janela.

"E o que você fez depois?" ele perguntou depois de um minuto.

"Eu fiz algumas pesquisas na Internet".

"E isso te convenceu?" A voz dele parecia pouco interessada. Mas as mãos dele estavam apertando o volante.

"Não. Nada fazia sentido. A maioria das coisas era meio boba. E então...". Eu parei.

"O que?"

"Eu decidí que não importava", eu murmurei.

"Que não importava?" O tom dele me fez olhar pra cima -finalmente eu havia penetrado aquela máscara. O seu rosto estava incrédulo, com só uma ponta de raiva que eu temia.

"Não", eu disse suavemente. "Pra mim não importa o que você é".

Um tom duro, de zombaria inundou sua voz. "Você não se importa se eu for um mostro? Se eu não for humano?"

"Não".

Ele ficou em silêncio, olhando diretamente pra frente de novo. Seu rosto estava sem expressão e frio.

"Você está com raiva", eu suspirei. "Eu não devia ter dito nada".

"Não", mas o seu tom estava tão duro quanto o seu rosto.

"Eu prefiro saber o que você está pensando- mesmo se o que você estiver pensando for uma loucura".

"Então eu estou errada de novo?", eu desafiei.

"Não era a isso que eu me referia. 'Não importa'.", ele me citou, apertando os dentes.

"Eu estou certa?", eu ofeguei.

"Isso importa??"

Eu respirei fundo.

"Na verdade não", eu parei. "Mas eu estou curiosa." Pelo menos minha voz estava composta.

De repente ele estava resignado. "Você está curiosa sobre o que?"

"Quantos anos você tem?"

"Dezessete", ele respondeu prontamente.

"Há quanto tempo você tem dezessete?"

Seus lábios se contorceram enquanto ele ainda olhava para a estrada.

"A algum tempo", ele admitiu finalmente.

"Ok", eu sorrí, feliz por ele finalmente estar começando a ser honesto comigo. Ele olhou pra mim com olhos preocupados, como ele tinha olhado antes, quando estava preocupado que eu entrasse em choque. Eu sorrí para encorajá-lo e ele fez uma careta.

"Não ria de mim - mas como é que você consegue sair durante o dia?"

Ele riu do mesmo jeito. "Mito".

"Você queima no sol?"

"Mito"

"Dorme em caixôes?

"Mito". Ele hesitou por um momento e um tom estranho invadiu sua voz. "Eu não posso dormir".

Eu levei um minuto para absorver isso. "Nunca?"

"Nunca", ele respondeu, sua voz quase inaudível. Ele voltou a olhar pra mim com uma expressão tristonha. Os olhos dourados prenderam os meus, e eu perdí a linha de pensamento de novo. Eu continuei olhando pra ele até que ele virou o olhar.

"Você ainda não perguntou a coisa mais importante". Sua voz estava dura de novo. E quando ele olhou pra mim, seus olhos estavam frios.

Eu pisquei, ainda deslumbrada. "E qual é?"

"Você não está preocupada com a minha dieta?", ele perguntou sarcasticamente.

"Oh", eu murmurei. "Isso."

"Sim, isso." Sua voz estava vazia. "Você não quer saber se eu bebo sangue?"

Eu vacilei. "Jacob me disse algo sobre isso."

"O que Jacob disse?", ele perguntou monótono.

"Ele disse que você e sua família não...caçam pessoas. Ele disse que você e sua família não são perigosos porque vocês só caçam animais".

"Ele disse que não éramos perigosos?" Sua voz estava profundamente cética.

"Não exatamente. Ele disse que vocês não deviam ser perigosos. Mas os Quileute não quiseram vocês nas terras deles, só por precaução".

Ele olhou para a frente, mas eu não sei dizer se ele estava olhando para a estrada ou não.

"Então ele estava certo? Sobre não caçar pessoas?" Eu tentei manter minha voz o mais uniforme possível.

"Os Quileute têm uma boa memória", ele murmurou.

Eu considerei isso um sim.

"Porém, não deixe isso te enganar",ele avisou. "Eles estavam certos em nos evitar. Nós ainda somos perigosos."

"Eu não entendo".

"Nós tentamos", ele explicou devagar. "Geralmente somos bons no que fazemos. As vezes cometemos erros. Eu, por exemplo, me permitindo ficar sozinho com você".

"Isso é um erro?", eu ouví a tristeza na minha voz, mas não sei se ele também ouviu.

"Um erro bem perigoso", ele murmurou.

Nós dois ficamos em silêncio depois disso. Eu observei os faróis virando com as curvas na estrada. Eles se moviam rápido demais; não parecia ser real, parecia ser um video game. Eu estava consciente do tempo passando rápido, como a estrada embaixo de nós, e eu estava com um medo horroroso de nunca mais ter outra oportunidade de ficar assim a sós com ele- abertamente, as janelas que existiam entre nós haviam desaparecido. As palavras dele haviam se acabado, e eu não gostei da idéia. Eu não queria perder nem um minuto que tinha com ele.

"Me conte mais", eu pedí desesperadamente, sem me importar com o que ele disesse, contanto que eu pudesse ouvir a sua voz de novo.

Ele me olhou rapidamente, surpreso pela mudança do tom da minha voz.

"O que mais você quer saber?"

"Me diga porque você caça animais ao invés de gente", eu sugerí, minha voz ainda estava cheia de desespero. Eu me dei conta de que os meus olhos estavam molhados, e lutei contra a aflição que estava tomando conta de mim.

"Eu não quero ser um monstro". Sua voz estava muito baixa.

"Mas animais não são o suficiente?"

Ele parou. "Eu não posso ter certeza, é claro, mas eu acho que é como viver a base de tofu e leite de soja; nós nos chamamos de vegetarianos, nossa piada particular. Não sacia a fome -ou melhor dizendo, a sede. Mas nos mantêm fortes o suficiente para sobrevivermos. Na maioria das vezes". Seu tom se tornou obscuro.

"Umas vezes são mais difíceis que outras".

"É muito difícil pra você agora?", eu perguntei.

Ele suspirou. "Sim".

"Mas você não está com fome agora". eu disse confidencialmente, afirmando , não perguntando.

"Porque você acha isso?"

"Seus olhos. Eu disse que tinha uma teoria. Eu percebí que as pessoas- homens em particular - são mais chatos quando estão com fome".

Ele deu uma gargalhada. "Você é muito observadora, não é?"

Eu não respondí, eu só prestei atenção ao som da sua risada, guardando ela na minha memória.

"Você estava caçando com Emmett esse fim de semana?", eu perguntei quando estava silencioso de novo.

"Sim", ele pausou por um instante, como se estivesse se decidindo entre me contar alguma coisa ou não. "Eu não queria ir embora, mas foi necessário. É um pouco mais fácil ficar perto de você quando eu não estou com sede".

"Porque você não queria ir?"

"Me deixa...nervoso...ficar longe de você." Seus olhos eram gentís, nas intensos, e eles pareciam estar fazendo os meus ossos amolecerem. "Eu não estava brincando quando te disse pra ficar longe do oceano ou sobre o acidente na quinta. Eu estava distraído durante o fim de semana inteiro, preocupado com você. E depois do que aconteceu hoje á noite, eu estou surpreso que você tenha sobrevivido ao fim de semana sem nenhum arranhão". Ele balançou a cabeça, e de repente pareceu se lembrar de alguma coisa. "Bem, não exatamente sem um arranhão"

"O que?"

"Suas mãos", ele me lembrou. Eu olhei para as minhas palmas, para os arranhões quase sarados. Seus olhos não perdiam nada.

"Eu caí", eu suspirei.

"Foi o que eu pensei." Seus lábios se contorceram nos cantos. "Eu acho que, sendo você, podia ter sido bem pior- e essa possibilidade me atormentou o tempo inteiro enquanto eu estive fora. Foram três dias bem longos. Eu deixei o Emmett louco".

Ele sorriu pra mim como se estivesse se sentindo culpado.

"Três dias? Vocês não voltaram hoje?"

"Não, nós voltamos no Domingo".

"Então porque nenhum de vocês foi para a escola?", eu estava frustrada, quase com raiva por todas as decepções que eu sofrí durante a sua ausência.

"Bem, você perguntou se o sol me machuca, e não machuca. Mas eu não posso sair na luz do sol- pelo menos, não quando as pessoas estão olhando".

"Porque não?"

"Um dia desses eu te mostro", ele prometeu.

Eu pensei nisso por um momento.

"Você podia ter me ligado", eu decidi.

Ele parecia confuso. "Mas eu sabia que você estava em segurança".

"Mas eu não sabia onde você estava", eu hesitei e depois abaixei os olhos.

"O que?", sua voz aveludada estava compelida.

"Eu não gostei. De não te ver. Me deixou ansiosa também", eu corei dizendo isso em voz alta.

Ele estava quieto. Eu olhei pra cima, apreensiva, sua expressão estava cheia de dor.

"Ah", ele gemeu baixinho. "Isso não é certo".

Eu não conseguí entender a resposta dele. "O que foi que eu disse?"

"Será que você não vê, Bella? Uma coisa é eu me fazer completamente infeliz. Outra completamente diferente é você estar tão envolvida".

Ele virou seus olhos angustiados para a estrada, as palavras dele estavam saindo tão rápidas que eu quase não conseguia entender.

"Eu não quero ouvir que você se sente assim". Sua voz era baixa, mas urgente. As palavras dele me cortaram. "É errado. Não é seguro.

Eu sou perigoso- compreenda isso, Bella".

"Não", eu fiz de tudo para não parecer uma criança mimada.

"Eu estou falando sério", ele grunhiu.

"Eu também. Eu já falei que não me importo com o que você é. É tarde demais."

A voz dele chicoteou, baixa e forte. "Nunca diga isso".

Eu mordí meu lábio, e estava feliz que ele não sabia o quanto doía. Eu olhei para fora. Já devíamos estar perto agora. Ele estava dirigindo rápido demais.

"No que você está pensando?", ele perguntou, com a voz ainda dura. Eu só balancei a cabeça, sem ter certeza se conseguia falar. Eu podia sentí-lo olhando para o meu rosto,mas continuei olhando para a frente.

"Você está chorando?", ele parecia intimidado. Eu não tinha reparado na umidade que os meus olhos estavam começando a acumular.

Eu rapidamente passei a mão na minha bochecha, e sem dúvida, lá estavam as lágrimas traidoras, me delatando.

"Não" eu disse,mas minha voz tremeu.

Eu ví ele levantar a mão direita na minha direção cheio de hesitação, mas então ele parou e colocou a mão de volta na direção.

"Me desculpe". A voz dele estava queimando de arrependimento. Eu sabia que ele não estava se desculpando pelas palavras que haviam me aborrecido.

A escuridão nos envolveu em silêncio.

"Me diga uma coisa", ele perguntou depois de outro minuto, eu podia ouví-lo se esforçar para usar um tom mais leve.

"Sim"

"No que você estava pensando hoje a noite, pouco antes de eu virara na esquina? Eu não conseguí entender a sua expressão- você não parecia assustada, você parecia estar bastante concentrada em alguma coisa."

"Eu estava pensando em como incapacitar uma pessoa- você sabe, auto-defesa. Eu ía enfiar o nariz dele dentro cérebro". Eu pensei no homem de cabelo escuro com uma onda de ódio me invadindo.

"Você ia lutar com eles?" Isso pareceu aborrecê-lo. "Você não pensou em correr?"

"Quando eu corro eu caio demais", eu admití.

"E quanto a gritar por ajuda?"

"Eu estava chegando nessa parte".

Ele balançou a cabeça. "Você estava certa- eu definitivamente estou lutando contra o destino tentando manter você viva."

Eu suspirei. Nós estavamos indo mais devagar, passando pela fronteira de Forks. Levou menos de vinte minutos.

"Eu vou ver você amanhã?", eu perguntei.

"Sim- eu também tenho que entregar o meu trabalho". Ele sorriu.

"Eu vou guardar um lugar pra você no almoço".

Eu fiquei idiota, depois de tudo que passamos essa noite, aquela promessa me fez sentir borboletas no estômago, e me deixou incapacitada de falar.

Nós estávamos na frente da casa de Charlie. As luzes estavam ligadas, meu carro estava no lugar, tudo estava extremamente normal.

Era como acordar de um sonho. Ele parou o carro, mas eu não me moví.

"Você promete que vai estar lá amanhã?"

"Eu prometo".

Eu pensei por um momento, depois balancei a cabeça. Eu tirei o seu casaco, dando mais um cheiradinha.

"Você pode ficar com ele- você não tem um para usar amanhã", ele me lembrou.

Eu entreguei pra ele. "Eu não quero ter que explicar ao Charlie".

"Oh, tudo bem". Ele sorriu.

Eu hesitei, minha mão na maçaneta do carro, tentando prolongar o momento.

"Bella?"- ele perguntou num tom diferente. Sério, mas hesitante.

"Sim?", eu me virei pra ele ansiosa demais.

"Me promete uma coisa?"

"Sim", eu disse e depois me arrependí da minha incondicionalidade. E se ele me pedisse pra ficar longe dele? Isso eu não podia prometer.

"Não vá na floresta sozinha".

Eu encarei ele confusa. "Porque?"

Ele fez uma carranca, e seus olhos estavam apertados quando ele olhou pela janela.

"Nem sempre eu sou a coisa mais perigosa lá fora. Vamos ficar aqui".

Eu tremí um pouco pela inexpressão da voz dele, mas eu estava aliviada. Essa, pelo menos, era uma promessa fácil de cumprir.

"Como você quiser".

"Até amanhã", ele suspirou e aí eu percebí que ele queria que eu fosse embora agora.

"Até amanhã, então". Eu abrí a porta sem vontade.

"Bella?" Eu me virei e ele estava inclinado na minha direção, seu rosto pálido, glorioso, á apenas alguns centímetros de mim. Meu coração parou de bater.

"Durma bem", ele disse. Sua respiração soprou em meu rosto, me deixando fascinada. Era a mesma essência que exalava do casaco dele, mas numa forma mais concentrada. Eu pisquei, totalmente ofuscada. Ele se afastou.

Eu não conseguí me mover de novo até que o meu cérebro ficou regulado novamente.

Então eu saí estranhamente do carro, precisando usar alguma coisa como suporte. Eu pensei ouví-lo sorrindo, mas o som foi baixo demais pra eu ter certeza.

Ele esperou até que eu estivesse na frente da porta, só então ele ligou o motor e eu ouvi ele dar rá silenciosamente. Eu me virei e ví o carro desaparecendo na esquina. Eu me dei conta de que estava muito frio.

Eu peguei a chave mecanicamente, abri a porta, e então entrei.

Charlie me chamou da sala de estar. "Bella?"

"Sim, pai, sou eu". Eu entrei pra vê-lo. Ele estava assistindo um jogo de baseball.

"Você chegou cedo."

"Cheguei". Eu estava surpresa.

"Ainda não são nem oito horas", ele me disse. "Vocês se divertiram?"

"Sim- foi muito divertido". Minha cabeça estava dando voltas enquanto eu tentava me lembrar da noite só de garotas que eu havia planejado. "Elas duas encontraram vestidos."

"Você está bem?"

"Eu só estou cansada. Eu caminhei demais."

"Bem, talvez fosse melhor você ir se deitar". Ele pareceu preocupado. Eu imaginei como o meu rosto estaria.

"Eu só vou ligar pra Jéssica primeiro"

"Você não estava com ela?", ele perguntou, surpreso.

"Sim- mas eu deixei meu casaco no carro dela. Eu quero ter certeza de que ela vai levar para a escola amanhã".

"Bom, pelo menos deixe ela chegar em casa primeiro".

"Certo", eu concordei.

Eu fui direto para a cozinha e caí, exausta, numa cadeira. Eu realmente estava me sentindo um pouco tonta agora. Eu imaginei se era o choque chegando no fim das contas. Vê se se controla, eu disse pra mim mesma.

O telefone tocou de repente, me assustado. Eu tirei do gancho.

"Alô?", eu perguntei sem fôlego.

"Bella?"

"Ei, Jess, eu ia ligar pra você."

"Você chegou em casa?" A voz dela estava aliviada...e surpresa.

"Sim. Eu deixei meu casaco no seu carro- você pode levá-lo amanhã?"

"Claro. Mas me conte o que aconteceu!",ela ordenou.

"Um, amanhã- na aula de Trigonometria, está bem?"

Ela entendeu rapidamente. "Oh, seu pai está aí?"

"Sim, é isso mesmo".

"Ok, eu falo com você amanhã, então. Tchau!". Eu podia ouvir a imaciência na voz dela.

"Tchau, Jess".

Eu subí as escadas lentamente, um torpor dominando a minha mente. Eu me preparei para ir para a cama sem prestar a mínima atenção com o que estava fazendo. Não foi até que eu estivesse embaixo do chuveiro - a água muito quente, queimando minha pele- que eu me dei conta de que estava morrendo de frio. Eu tremí violentamente por alguns minutos até que os jatos de água finalmente relaxaram meus musculos rígidos. Então eu fiquei embaixo do chuveiro, cansada demais pra me mexer, até que a água quente começou a acabar.

Eu saí, me envolvi cuidadosamente numa toalha, tentando manter o calor da água para que os tremores não voltassem. Eu me vestí rapidamente pra ir para a cama e me enfiei embaixo do edredon, me curvando até ficar no formato de uma bola, me abraçando para manter o calor. Uns pequenos tremores passaram por mim.

Minha mente ainda estava rodando, cheia de imagens que eu não conseguia entender, e algumas que eu lutei pra reprimir. Nada perecia estar claro no início, mas quanto mais perto eu chegava da inconsciência, mais algumas coisas se tornavam evidentes.

Sobre três coisas eu tinha certeza absoluta. Primeira - Edward era um vampiro.

Segunda- havia uma parte dele- e eu não sabia o quão poderosa ela poderia ser- que tinha sede do meu sangue.

E terceira, eu estava incondicionalmente e irrevogavelmente apaixonada por ele.

10. Interrogatórios

Foi muito difícil, de manhã, discutir com a parte de mim que tinha certeza que a noite de ontem havia sido um sonho. A lógica não estava ao meu lado, nem o senso comum. Eu me agarrei ás coisas que eu não podia ter imaginado- como o cheiro dele. Eu estava certe de que não poderia ter inventado isso tudo sozinha.
Estava nebuloso e escuro lá fora, absolutamente perfeito. Ele não tinha motivos pra não ir á escola hoje. Eu me vestí com roupas pesadas, me lembrando que não estava com meu casaco. Mais uma prova de que eu não estava imaginando coisas.
Quando eu descí, Charlie já tinha ido embora- eu estava mais atrasada do que havia imaginado. Eu engolí uma barra de granola em três mordidas, bebí leite na boca da garrafa, e corrí para a porta. Com alguma sorte a chuva não começaria antes que eu encontrasse Jéssica.
Estava mais nebuloso do que o normal; parecia que havia fumaça no ar. A névoa estava muito gelada quando entrou em contato com as partes expostas do meu rosto e do meu pescoço. Eu mal podia esperar pra ligar o aquecedor na minha caminhonete. A névoa estava tão forte que eu já estava a alguns passos da entrada dos carros quando eu percebí que havia outro carro lá: um carro prateado.
Meu coração estrondou, tremeu, e depois voltou a bater duas vezes mais rápido.
Eu não ví de onde ele tinha vindo, mas de repente ele estava lá, abrindo a porta pra mim.
"Você quer dar uma volta comigo hoje?", ele perguntou, se divertindo com a minha expressão de surpresa de novo. Havia uma incerteza na voz dele. Ele realmente estava me dando a escolha- eu estava livre para recusar, e parte dele esperava que eu fizesse isso. Ele esperou em vão.
"Sim, obrigada", eu disse, tentando manter minha voz calma. Quando eu entrei no carro quentinho, eu percebí que o seu casaco estava pendurado no banco do passageiro. Ele fechou a porta atrás de mim, e tão rápido quanto era possível, ele já estava sentado a meu lado, ligando o carro.
"Eu trouxe o casaco pra você. Eu não queria que você ficasse doente nem nada parecido".

Sua voz estava cautelosa. Eu percebí que ele não estava usando casaco nenhum, só uma blusa de tricô cinza-clara com uma gola em formato de V e mangas compridas. De novo, o tecido se ajustava no seu peito perfeitamente musculoso. Era uma homenagem colossal ao seu rosto e eu não conseguia tirar os olhos do seu corpo.

"Eu não sou tão delicada", eu disse, mas coloquei o casaco no meu colo, enfiando os braços nas mangas compridas demais, curiosa pra ver se o cheiro era mesmo tão bom quanto eu me lembrava. Era melhor.

"Não é?", ele contradisse com uma voz tão baixa que eu não tenho certeza se ele queria que eu ouvisse.

Nós dirigimos pela rua encoberta de neblina, indo sempre rápido demais, nos sentindo estranhos. Pelo menos, eu estava. Na noite passada, as paredes tinham desaparecido...quase todas. Eu não sabia se continuaríamos sendo tão transparentes hoje. Eu sentí minha língua presa. Eu esperei que ele falasse.

Ele se virou sorrindo pra mim. "O que foi? Não tem mais umas vinte perguntas pra mim hoje?"

"As minhas perguntas te incomodam?", eu perguntei aliviada por ele ter falado.

"Não tanto quanto as suas reações ás minhas respostas". Ele parecia estar brincando, mas eu não tinha certeza.

Eu fiz uma careta. "Eu reajo mal?"

"Não, e esse é o problema. Você aceita tudo tão naturalmente- não é normal. Me faz imaginar o que você está pensando de verdade".

"Eu sempre te digo o que eu penso"

"Você corta algumas partes", ele acusou.

"Não muitas".

"É o suficiente pra me deixar louco".

"Você não quer ouvir", eu murmurei, quase sussurei. Assim que as palavras sairam, eu me arrependí de ter falado. A dor na minha voz era quase uma dor física; eu só esperava que ele não tivesse reparado.

Ele não respondeu, e eu imaginei se tinha estragado o seu bom humor. Seu rosto era impossível de ler enquanto entrávamos no estacionamento da escola. Um pensamento retardado passou pela minha cabeça.

"Onde está o resto da sua família?", eu perguntei- mais feliz por estar sozinha com ele, mas lembrando que o carro costumava estar sempre cheio.

"Eles vieram no carro de Rosalie". Ele levantou os ombros enquanto estacionava ao lado de um carro vermelho chamativo conversível e com a capota levantada. "Ostentoso, não é?"

"Umm, uau", eu suspirei. "Se ela tem isso, então porque ela vem de carona com você?"

"Como eu disse, é ostentoso. Nós tentamos passar despercebidos".

"Vocês não têm muito sucesso". Eu sorrí e balancei minha cabeça enquanto saíamos do carro. Eu não estava mais atrasada; esse motorista lunático me levou para a escola em tempo suficiente. "Então porque Rosalie veio dirigindo hoje se seria mais notável?"

"Você ainda não percebeu? Eu estou quebrando todas as regras agora". Ele me encontrou na frente do carro e caminhou muito próximo de mim enquanto entrávamos na escola. Eu queria diminuir ainda mais a distância, erguer a mão e tocá-lo, mas eu tinha medo que ele não gostasse.

"Porque vocês têm carros assim?" Eu imaginei em voz alta. "Se vocês procuram privacidade?"

"Uma indulgência", ele deu um sorriso sem graça. "Todos nós gostamos de dirigir rápido".

"Dá pra notar", eu murmurei por baixo do fôlego.

Embaixo do telhado de proteção da cafeteria, Jéssica estava me esperando, seus olhos estavam prestes a sair das órbitas. Sobre o braço dela, seja louvada, estava o meu casaco.

"Oi, Jéssica", eu disse quando estávamos a apenas alguns passos de distância. "Obrigada por lembrar". Ela me passou o casaco sem falar nada.

"Bom dia, Jéssica", Edward disse educadamente. Realmente ele não tinha culpa que a sua voz era tão irresistível. Eu do que os seus olhos eram capazes de fazer.

"Er... Oi." Ela passou os seus olhos arregalados pra mim, tentando recompor seus pensamentos bagunçados. "Eu acho que a gente se vê na aula de Trigonometria". Ela me deu uma olhada cheia de significância. Eu prendí um suspiro. O que era que eu ía dizer pra ela?

"É, eu te vejo lá".

Ela foi embora, parando duas vezes pra olhar pra nós por cima do ombro.

"O que você vai dizer pra ela?", Edward sussurou.

"Ei! Eu achava que você não podia ler minha mente!", eu falei por entre os dentes.

"Eu não posso", ele disse assustado. Então o entendimento brilhou nos seus olhos. "Contudo, eu posso ler a dela- e ela está esperando pra te pegar na sala de aula".

Eu gemí enquanto tirava o casaco dele e devolvia pra ele, vestindo o meu prórpio. Ele o dobrou nos braços.

"Então, o que você vai dizer pra ela?"

"Uma ajudinha?", eu implorei. "O que ela quer saber?"

Ele balançou a cabeça, sorrindo estranhamente. "Isso não é justo".

"Não, não compartilhar o que você sabe- isso não é justo".

Ele pensou por um momento enquanto caminhávamos. Nós paramos na porta da sla onde eu ia ter minha primeira aula.

"Ela quer saber se nós estamos namorando em segredo. E ela quer saber o que você sente em relação a mim", ele disse finalmente.

"Maravilha. O que eu devo dizer?" Eu tentei manter minha expressão bem inocente. As pessoas estavam passando por nós a caminho de suas salas, provavelmente olhando pra nós, mas eu não estava prestando atenção neles.

"Hmmmm..." ele pausou para colocar uma mecha do meu cabelo que estava se soltando atrás da minha orelha. Meu coração começou a bater rápido demais. "Eu acho que você deve dizer que sim para a primeira...se você não se incomodar- é mais fácil que dar outras explicaçôes".

"Eu não me incomodo", eu disse com a voz fraca.

"E quanto á outra pergunta...bem, eu vou estar escutando pra ouvir a resposta dessa". Um dos cantos do seus lábios se levantou colocando o meu sorriso favorito no rosto dele. Eu não conseguí recuperar o meu fôlego a tempo de responder a isso. Ele se virou e foi embora".

"A gente se vê no almoço", ele falou por cima do ombro. Três pessoas que estavam passando pela porta pararam pra olhar pra mim.

Eu corrí pra dentro da sala, envergonhada e irritada. Ele era um traidor. Agora eu estava ainda mais preocupada com o que eu ia dizer para Jéssica.

Eu sentei no meu lugar de sempre, derrubando a minha mochila no chão com raiva".

"Bom dia, Bella", Mike disse na cadeira em frente a minha. Eu olhei pra cima pra ver um rosto estranho, quase resignado. "Como foi em Port Angeles?"

"Foi..." não tinha jeito de encontrar uma palavra que descrevesse com honestidade. "Ótimo", eu terminei insatisfeita. "Jéssica encontrou um vestido lindo".

"Ela te falou alguma coisa sobre Segunda á noite?", ele me perguntou, seus olhos estavam brilhando. Eu sorrí com o rumo que a conversa tinha tomado.

"Ela disse que se divertiu muito", eu garantí pra ele.

"Ela disse?", ele perguntou ansiosamente.

"Definitivamente".

O Sr. Mason pediu ordem na sala, pedindo que nós entregássemos os nossos trabalhos. Inglês e depois História se passaram num sopro, enquanto eu estava preocupada com o que falaria pra Jéssica e agoniada pra saber se ele realmente estaria ouvindo os pensamentos de Jess. O talento dele podia ser bem inconveniente- quando não estava salvando a minha vida.

O nevoeiro já tinha se dissolvido quase completamente no fim da segunda aula, mas o dia ainda estava escuro, cheio de nuvens pesadas. Eu sorrí para o céu.

Edward estava certo, é claro. Quando eu entrei na aula de Trigonometria, Jéssica já estava sentada, quase se embolando na cadeira de tanta agitação. Eu estava relutante quando me sentei ao lado dela, tentando me convencer de que seria melhor acabar logo com isso de uma vez por todas.

"Me conte tudo!", ela ordenou antes que eu estivesse sentada.

"O que você quer saber?" eu testei.

"O que aconteceu na noite passada".

"Ele me pagou um jantar e depois me levou pra casa".

Ela me encarou, sua expressão estava cética. "Como é que você chegou em casa tão rápido?"

"Ele dirige como um louco. Eu fiquei morrendo de medo". Eu esperava que ele estivesse ouvindo isso.

"Foi tipo um encontro - você pediu pra ele te encontrar lá?"

Eu não tinha pensado nisso. "Não- foi muito surpreendente encontrar com ele lá".

Ela fez um biquinho por causa do tom honesto da minha voz

"Mas ele foi te buscar em casa hoje?", ela perguntou.

"Sim- isso também me surpreendeu. Ele percebeu que eu estava sem casaco ontem", eu expliquei.

"Então vocês vão sair de novo?"

"Ele se ofereceu pra me levar até Seattle no Sábado porque ele acha que o meu carro não consegue chagar até lá- isso conta?"

"Conta", ela balançou a cabeça

"Bom, então, sim".

"U-A-U". Ela dividiu a palavra em três sílabas. "Edward Cullen".

"Eu sei", eu concordei. 'Uau' não conseguia descrever tudo.

"Peraí", ela levantou as duas mãos,com as palmas na minha direção como se ela estivesse parando o trânsito. "Ele já te beijou?"

"Não", eu murmurei. "Não é bem assim".

Ela pareceu desapontada. Com certeza, eu também estava.

"Você acha que Sábado...?" Ela ergueu as sobrancelhas.

"Eu realmente duvido". O tom triste da minha voz não dava pra ser disfarçado.

"Sobre o que foi que vocês conversaram?", ela me pressionou por mais informações num cochicho. A aula já havia começado mas o Sr. Varner não estava prestando a mínima atenção em nós, e nós não éramos as únicas conversando.

"Eu não sei, Jess,um monte de coisas", eu cochichei de volta. "Nós falamos um pouco sobre o trabalho de Inglês". Pouco, muito pouco. Eu acho que ele mencionou isso de passagem.

"Por favor, Bella", ela implorou. "Me dê alguns detalhes".

"Bom...tudo bem,eu te digo um. Você precisava ter visto a garçonete flertando com ele- foi até um pouco demais. Mas ele não estava prestando nem um pouco de atenção". Deixe ele pensar o que quiser disso.

"Isso é um bom sinal", ela balançou a cabeça. "Ela era bonita?"

"Muito- e provavelmente tinha dezenove ou vinte anos".

"Melhor ainda. Ele deve gostar de você".

"Eu acho que sim, mas é difícil dizer. Ele é sempre tão enigmático". Eu disse isso para o seu próprio bem, suspirando.

"Eu não sei como você tem coragem suficiente pra ficar sozinha com ele", ela falou.

"Porque?", eu estava chocada, mas ela não entendeu minha reação.

"Ele é tão...intimidante. Eu não saberia o que dizer pra ele."

Ela fez uma careta, provavelmente lembrando dessa manhã ou da noite passada, quando ele usou o poder devastador do seu olhar sobre ela.

"Eu tenho alguns proplemas com minha coerência quando estou perto dele", eu admití.

"Oh, bem. Ele é inacreditavelmente lindo". Jéssica levantou os ombros como se esse fato apagasse qualquer falha. E, na cabeça dela, provavelmente apagasse.

"Ele é mais que só isso".

"É mesmo? O que mais?"

Eu devia ter deixado pra lá. Eu esperava que ele não estivesse falando sério sobre ouvir a conversa.

"Eu não sei explicar direito...mas ele é ainda mais inacreditável por trás do rosto". Um vampiro que tentava ser bom- que corria pra cim e pra baixo salvando as pessoas pra não se tornar um monstro... Eu olhei para a frente da sala.

"E isso é possivel?"

Eu ignorei ele, fingindo que estava prestando atenção no que o Sr. Varner estava dizendo.

"Você gosta dele, então?", ela não ia desistir.

"Sim", eu disse simplesmente.

"Eu quero dizer, você gosta dele de verdade?", ele pressionou.

"Sim", eu disse de novo, corando. Eu esperava que esse detalhe não ficasse gravado na mente dela.

Ela estava cansada de respostas monosilábicas. "Quanto você gosta dele?"

"Demais", eu cochichei de volta. "Muito mais do que ele gosta de mim. Mas eu não sei como posso evitar isso". Eu suspirei, corando uma vez atrás da outra.

Então, por sorte, o Sr. Varner chamou Jéssica pra responder uma pergunta.

Ela não teve outra oportunidade de tocar no assunto, e assim que o sinal tocou, eu bolei uma tática evasiva.

"Na aula de Inglês, Mike me perguntou o que você tinha achado do passeio de Segunda", eu disse pra ele.

"Você tá brincando! O que foi que você disse?!", ela tentou recuperar o fôlego, completamente alucinada.

"Eu disse que você tinha se divertido muito- ele pareceu satisfeito".

"Me diga exatamente o que ele disse, e o que você respondeu exatamente!"

N´s passamos o resto do tempo dissecando frases e Passamos boa parte da uala de Espanhol falando sobre as expressões de Mike. Eu não teriam me demorando tanto explicando elas, mas eu estava com medo que o assunto voltasse pra mim.

E então o sinal tocou para o almoço. Eu pulei da minha cadeira, enfiando os meus livros rapidamente dentro da bolsa, minha expressão deve ter alertado Jéssica.

"Você não vai almoçar com a gente hoje, vai?", ela advinhou.

"Eu acho que não". Eu não tinha como saber se ele não ia desaparecer convenientemente de novo.

Mas do lado de fora da sala de Espanhol, encostado na parede- parecendo mais um Deus Grego do que uma pessoa tinha o direito de parecer- Edward estava esperando por mim. Jéssica deu uma olhada, revirou os olhos e desapareceu.

"A gente se vê mais tarde, Bella". A voz dela estava cheia de significado. Eu achei que seria melhor desligar o telefone quando chegasse em casa.

"Olá", a voz dele estava divertida e irritada ao mesmo tempo. Ele estava ouvindo, era óbvio.

"Oi".

Eu não conseguí pensar em outra coisa pra dizer, e ele não disse mais nada- passando o tempo, eu imaginei- então nós ficamos quietos até a cafeteria. Caminhar com Edward pela cafeteria foi como no meu primeiro dia de aula; todo mundo estava me olhando.

Ele me guiou até a fila, ainda sem falar, apesar de os seus olhos se virarem pro meu rosto a cada segundo, com uma expressão especulativa. Parecia que a irritação estava se sobressaindo á diversão. Eu brinquei nervosamente com o zíper do meu casaco.

Ele entrou na fila e começou a encher uma bandeja com comida.

"O que você tá fazendo? Isso tudo é pra mim?"

Ele balançou a cabeça, dando um passo á frente para pagar pela comida.

"Metade é pra mim, é claro".

Eu erguí uma sobrancelha.

Ele me guiou para a mesma mesa onde havíamos nos sentado da primeira vez. De outra mesa, um grupo de alunos do último ano olhou pra nós estarrecídos enquanto nos sentávamos na frente um do outro.

Edward parecia obscuro.

"Pegue o que quiser" ele disse, empurrando a bandeja na minha direção.

"Eu estou curiosa". Eu disse enquanto pegava uma maçã, virando ela nas minhas mãos. "O que você faria se uma pessoa te desafiasse a comer alguma coisa?"

"Você está sempre curiosa". Ele brincou, balançando a cabeça. Ele olhou pra mim, prendendo o meu olhar enaquanto pegava um pedaço de pizza da bandeja, e deliberadamente deu uma mordida grande, mastigou rapidamente, e depois engoliu. Eu observei com os olhos arregalados.

"Se alguém te desafiasse a comer areia, você poderia, não poderia?", ele perguntou.

Eu torcí meu nariz. "Eu já fiz isso uma vez...num desafio. Não foi tão ruim".

Ele sorriu. "Eu acho que não estou muito surpreso". Algo acima do meu ombro pareceu chamar a atenção dele.

"Jéssica está analizando tudo que eu faço- ela vai falar com você sobre isso depois." Ele empurrou o resto da pizza pra mim. A menção do nome de Jéssica pareceu deixá-lo irritado de novo.

Eu coloquei a maçã na mesa e dei uma mordida na pizza, olhando pra longe, sabendo que ele ia começar a falar.

"Então a garçonete era bonita, não era?", ele perguntou casualmente.

"Você realmente não reparou?"

"Não. Eu não estava prestando atenção. Eu tinha muitas coisas na cabeça".

"Pobre garota", eu podia me dar ao luxo de ser generosa.

"Algo que você disse pra Jéssica...bem, me incomodou". Ele se recusava a se distrair. Sua voz estava áspera, e ele olhou por baixo dos cílios com um olhar perturbado.

"Eu não estou surpresa que você tenha ouvido algo de que não tenha gostado. Você sabe o que as pessoa dizem sobre espionar". Eu avisei.

"Eu te disse que estaria ouvindo"

"E eu te avisei que você não ia querer saber tudo o que eu pensava".

"Você avisou", ele concordou, mas sua voz ainda estava dura. "Porém, você não estava precisamente certa. Eu quero saber o que você pensa- tudo. Eu só queria que você não estivesse pensando em ...algumas coisas".

Eu fiz uma cara feia. "Isso é uma distinção".

"Mas não é isso que importa no momento".

"Então o que é?" Nós dois estávamos inclinados sobre a mesa na direção um do outro agora. Suas longas mãos estavam dobradas embaixo do queixo; eu me inclinei para a frente, minha mão direita estava ao redor do meu pescoço. Eu tinha que me lembrar que estávamos numa sala lotada, provavelmente cheia de olhos curiosos. Era fácil demais ficar presa na privacidade da nossa pequena bolha de tensão.

"Você realmente acredita que gosta de mim mais do que eu gosto de você?", ele murmurou, se inclinando pra mais perto enquanto falava, seus olhos dourados eram penetrantes. Eu tentei me lembrar de respirar. Eu tive que olhar pra outro lugar até que ela voltasse.

"Você está fazendo isso de novo", eu murmurei.

Os olhos dele ficaram grandes de supresa. "O que?"

"Me deixando deslumbrada", eu admití, tentando me concentrar enquanto olhava pra ele.

"Oh",ele fez uma careta.

"Não é sua culpa", eu suspirei. "Você não consegue evitar".

"Você vai responder a pergunta?"

Eu olhei pra baixo. "Sim".

"Sim, você vai responder; ou sim, você realmente acha isso?" Ele estava irritado de novo.

"Sim, eu realmente acho isso". Eu mantive os meus olhos na mesa, meus olhos traçavam os contornos da mesa de madeira. O silêncio se arrastou. Eu estava teimosamente decidida a não ser a primeira a falar, lutando com a vontade de dar uma espiadinha na expressão dele.

Finalmente ele falou, sua voz aveludada estava macia. "Você está errada".

Eu olhei pra cima pra ver que seus olhos estavam gentís.

"Você não tem como saber isso", eu discordei num murmúrio. Eu balancei a cabeça em dúvida, apesar das palavras dele terem balançado meu coração e de eu querer tanto acreditar nelas.

"O que te faz pensar isso?" Seus olhos da cor do topázio eram penetrantes- tentando futilmente, eu pensei, tentar a verdade diretamente da minha mente.

Eu encarei de volta, tentando pensar claramente a despeito do rosto dele, para achar alguma explicação. Eu procurei as palavras, eu podia vê-lo ficando impaciente; ficando frustrado com o meu silêncio.

Ele estava começando a ficar carrancudo. Eu levantei minha mão do pescoço, e levantei um dedo.

"Me deixe pensar", eu insistí. A expressão dele ficou mais amena, agora que ele sabia que eu estava planejando uma resposta. Eu coloquei minha mão na mesa e moví a mão esquerda para que as duas palmas ficassem juntas. Eu olhei para as minhas mãos, cruzando e descruzando os dedos, e finalmente falei.

"Bem, tirando o óbvio, as vezes..." eu hesitei. "Eu não posso ter certeza - eu não leio mentes- mas as vezes parece que você está querendo dizer adeus,mas diz outra coisa". Foi o melhor que eu pude fazer para avaliar a angústia que suas palavras me causavam as vezes.

"É uma questão de perceptiva", ele cochichou. E então lá estava a angústia de novo, sua expressão confirmou os meus medos. "Porém, é exatamente por isso que você está errada.", ele começou a explicar, mas seus olhos reviraram. "O que você quis dizer com 'o óbvio'?"

"Bem, olhe pra mim", eu disse desnecessariamente, ele já estava olhando. "Eu sou absolutamente normal- bem, com excessão das experiências de quase-morte e de ser tão atrapalhada que eu quase chego a ser uma inválida. E olhe pra você". Eu abanei minha mão na direção da sua perfeição desconcertante.

As sobrancelhas dele se uniram por um instante, mas depois se suavizaram quando ele fez uma cara de sabe-tudo.

"Você não se vê muito claramente, sabe. Eu tenho que admitir que você estava certa sobre as experiências de quase-morte" ele sorriu obscuramente, "mas você não ouviu o que todos os seres humanos do sexo masculino nessa escola pensaram de você no seu primeiro dia".

Eu pisquei, desnorteada. "Eu não acredito..." , eu murmurei pra mim mesma.

"Confie em mim - você não tem nada de comum".

Minha vergonha foi muito maior do que o meu prazer quando eu ví o seu olhar enquanto ele dizia essas palavras. Eu rapidamente me lembrei do assunto original da discursão.

"Mas não sou eu que quero me despedir", eu apontei

"Você não vê? É isso que prova que eu estou certo. Eu me importo mais, se eu não posso fazer isso"- ele balançou a cabeça, parecendo lutar contra esse pensamento- "Se ir embora é a coisa certa a se fazer, então eu vou me machucar pra não machucar você, pra te manter a salvo".

Meus olhos faiscaram na direção dele. "E você acha que eu não faria a mesma coisa?"

"Você nunca teria que tomar essa decisão".

Abruptamente, seu humor imprevisível mudou de novo um sorriso travesso, devastador transformou o seu rosto. "É claro que manter você viva é um trabalho em período integral que requer minha presença constante".

"Ninguém tentou me matar hoje" Eu lembrei ele,feliz com o assunto mais leve. Eu não queria mais falar de despedidas. Se eu tivesse que fazer isso, eu colocaria a minha vida em perigo constante só pra mantê-lo perto... eu baní esse pensamento antes que seus olhos rápidos pudessem lê-los no meu rosto. Essa idéia definitivamente ia me meter em encrenca.

"Ainda", ele adicionou.

"Ainda", eu concordei; eu podia ter discutido, mas agora eu queria que ele estivesse preparado pra enfrentar desastres.

"Eu ainda tenho outra pergunta", seu rosto ainda estava casual.

"Manda".

"Você realmente precisa ir á Seattle esse Sábado ou só está fazendo isso pra ficar longe dos seus admiradores?"

Eu fiz uma careta quando lembrei disso. "Você sabe, eu ainda não te perdoei pelo lance com Tyler", eu avisei. "É por sua culpa que ele fica tendo essas ilusões sobre me levar para o baile de fim de ano".

"Oh, ele teria encontrado uma chance de te convidar sem a minha ajuda- eu só queria olhar a sua cara quando ele fizesse isso", ele deu uma gargalhada. Eu teria ficado com mais raiva se o sorriso não fosse tão fascinante. "Se eu tivesse te convidado, você teria me dispensado?", ele perguntou, ainda rindo pra sí mesmo.

"Provavelmente não", eu admití. "Mas eu teria ligado depois pra desmarcar- dizendo que estava doente ou que tinha torcido o tornozelo".

Ele estava confuso. "Porque você faria isso?"

Ele pareceu confuso. "Porque você faria isso?"

Eu balancei a cabeça tristemente. "Você nunca me viu na aula de Educação física, eu acho, mas se você tivesse visto você entenderia".

"Você está se referindo ao fato de que não consegue andar sobre uma superfície plana e estável sem encontrar algo em que tropeçar?"

"Obviamente".

"Isso não seria uma problema", ele disse confiante. "Tudo depende de quem conduz". Ele viu que eu estava prestes a protestar, então me cortou. "Mas você não me disse- você está resolvida a ir á Seattle ou não se incomodaria se fizessemos algo diferente?"

Contanto que o "nós" estivesse envolvido, eu não me importava muito com o resto.

"Eu estou aberta a alternativas", eu deixei. "Mas eu tenho que te pedir um favor".

Ele me olhou cauteloso, já que eu havia feito uma pergunta aberta.

"O que é?"

"Eu posso dirigir?"

Ele fez uma careta. "Porque?"

"Bem, pra começar, quando eu disse que ia a Seattle, Charlie me perguntou especificamente se eu ia sozinha, e na época, eu ia. Se ele tivesse perguntado de novo, eu provavelmente não mentiria, mas eu não acho que ele vai perguntar de novo, e deixar o meu carro emcasa só vai levantar suspeitas desnecessárias. E também, o seu jeito de dirigir me assusta."

Ele revirou os olhos. "Com todas as coisas que podiam te assustar, você se preocupa com o jeito que eu dirijo". Ele balançou a cabeça cheio de desgosto, mas então seus olhos ficaram sérios de novo.

"Porque você não contou ao seu pai que passaria o dia comigo?" Havia outro significado nessa pergunta, que eu não conseguí entender.

"Com Charlie, menos é sempre mais", eu estava resolvida sobre isso.

"Pra onde vamos afinal?"

"O clima vai estar ensolarado, então eu vou me manter londe dos olhares do público...e você pode ficar comigo se quiser". De novo, ele estava me deixando escolher.

"E você vai me mostrar o que acontece com o sol?", eu perguntei, excitada com a idéia de ver mais um dos seus segredos sendo revelados.

"Sim", ele sorriu e depois pausou. "Mas se você não quiser... ficar sozinha comigo, eu ainda preferiria que você não fosse á Seattle sozinha. Eu tremo só de pensar nos problemas que você pode encontrar numa cidade daquele tamanho".

Eu estava zangada. "Phoenix é três vezes maior- só em população. No tamanho físico..."

"Mas aparentemente", ele me interrompeu, "Você não estava marcada para morrer em Phoenix. Então eu preferiria que você ficasse perto de mim". Seus olhos estavam flamejantes daquele jeito injusto de novo.

Eu não podia discutir, nem com os olhos nem com a motivação, e era uma discursão que eu ia perder do mesmo jeito. "E acontece, que eu não me incomodo de ficar sozinha com você".

"Eu sei", ele suspirou, meditando. "Contudo, eu acho que você devia contar para o Charlie".

"E porque razão eu faria isso?"

Seus olhos ficaram ferozes de repente. "Pra me dar um pequeno incentivo pra te trazer de volta".

Eu engolí seco. Mas depois de alguns segundos,minha decisão estava tomada. "Eu acho que vou me arriscar".

Ele exalou o ar com raiva, e desviou o olhar.

"Vamos falar de outra coisa", eu sugerí.

"Sobre o que você quer falar?", ele perguntou. Ele ainda estava aborrecido.

Eu dei uma olhada ao nosso redor, me certificando de que ninguém poderia nos ouvir. Enquanto passava os olhos pelo lugar, meus olhos encontraram os da irmão de Edward, Alice, que estava me observando.

Os outros estavam olhando para Edward. Eu desviei o olhar depressa, olhando pra Edward, e perguntei a primeira coisa que me passou pela cabeça.

"Porque você foi á Pedra da Cabra no último fim de semana...pra caçar? Charlie disse que não é um bom lugar porque lá tem muitos ursos".

Ele me encarou como se eu estivesse deixando passar algum detalhe óbvio.

"Ursos?" Eu engasguei e ele sorriu. "Sabe, não é temporada de ursos" e falei por fora pra esconder o meu choque.

"Se você ler cuidadosamente, as leis impedem as pessoas de caçar com armas de fogo", ele me informou.

Ele observou o meu rosto com prazer enquanto a minha ficha caía.

"Ursos?", eu repetí com dificuldade.

"Grizzly é a espécie favorita de Emmett." A sua voz ainda estava normal, mas os seus olhos estavam analizando a minha reação.

Eu tentei me recompor.

"Hmmm", eu disse comendo outro pedaço da pizza como um desculpa pra olhar pra baixo. Eu mastiguei lentamente, e bebi um gole de refrigerante sem olhar pra cima.

"Então", eu disse depois de um momento, finalmente encontrando seus olhos que agora estavam ansiosos. "Qual é o seu favorito?"

Ele ergueu uma sobrancelha e os cantos da boca dele se curvaram pra baixo, em desaprovação.

"Leão da Montanha".

"Ah", eu disse num tom de desinteresse educado, olhando para a minha lata de refrigerante.

"É claro", ele disse, com um tom que imitava o meu, "Que nós temos que tomar cuidado para não causar um grande impacto no meio-ambiente com as nossas caçadas. Nós tentamos nos manter nas áreas onde os indices predatórios são menores- indo pra tão longe quanto for necessário. Sempre têm muitos veados e alces por aqui, e eles servem, mas onde está a graça nisso?"

Ele sorriu me provocando.

"Realmente", eu murmurei mordendo outro pedaço de pizza.

"O começo da primavera é a época de ursos favorita de Emmett- eles estão saindo da hibernação, então eles estão mais irritáveis", ele sorriu se lembrando de alguma piada.

"Nada mais divertido que irritar um urso pardo", eu concordei, balançando a cabeça.

Ele sorriu silenciosamente, balançando a cabeça. "Me diga o que você realmente está pensando,por favor".

"Eu estou tentando imaginar a cena- mas não consigo", eu admití. "Como você caça um urso sem armas de fogo?"

"Oh, nós temos armas" ele mostrou seus dentes num breve sorriso ameaçador.

Eu lutei contra um arrepio antes que ele me expusesse. "Só que elas não são do tipo que se leva em consideração quando fazem as leis de proibição. Se você já viu um ataque de ursos na televisão, você deve ser capaz de imaginar Emmett caçando".

Eu não conseguí eviter o calafrio que percorreu a minha espinha. Eu olhei pela cafeteria na direção de Emmett, filiz por ele não estar olhando pra mim. Os grossos músculos que envolviam seus braços e o seu torax eram de alguma forma ainda mais ameaçadores agora.

Edward seguiu omeu olhar e deu uma gargalhada. Eu olhei pra ele enervada.

"Você é como umo um urso também?", eu perguntei em voz baixa.

"Mais como um leão, ou pelo menos é o que eles me dizem", ele disse levemente. "Talvez as nossas preferências sejam indicativos".

Eu tentei sorrir. "Talvez", eu repetí. Mas minha cabeça estava cheia de imagens contraditória que eu não conseguia agrupar. "Isso é algo que eu posso vez um dia?"

"Absolutamente não!" Seu rosto ficou ainda mais pálido que o natural, e seus olhos estavam furiosos.

Eu me inclinei pra trás, assustada e- apesar de eu nunca ser capaz de admitir pra ele- com medo da sua reação. Ele também se inclinou pra trás, cruzando os braços no peito.

"Assustador demais pra mim?" eu perguntei quando conseguí controlar minha voz de novo.

"Se o problema fosse só esse, eu te levaria lá hoje á noite", ele disse com uma voz cortante. "Você precisa de uma dose saudável de medo. Nada poderia ser mais beneficial pra você."

"Então porque?", eu pressionei, tentando ignorar a sua expressão de raiva.

Ele olhou pra mim por um longo minuto.

"Mais tarde", ele disse finalmente, se levantando com um movimento gracioso. "Nós vamos nos atrasar".

Eu olhei ao redor, alarmada de ver que ele estava certo, e a cafeteria já estava quase vazia. Quando eu estava com ele, o tempo e o espaço eram tão escorregadios que eu acabava perdendo a noção dos dois. Eu me pus de pé num pulo, pegando a minha mochila que estava atrás da cadeira.

"Mais tarde, então", eu concordei. Eu não ia me esquecer.

11. Complicações

Todo mundo olhou para gente enquanto estávamos andando para nossa mesa no laboratório. Eu notei que ele não mas havia sentado tão longe de mim quanto a mesa o permitia. Ao contrario, ele sentou um tanto perto de mim. Nossos braços quase se tocando.
Mr. Barner voltou para dentro da classe então – que precisão de tempo o cara tinha – empurrando um suporte alto de metal sobre rodas que sustentava uma pesada, antiga TV e um VHS. Uma aula de filme – a animação da atmosfera na classe era quase tocável.
Mr. Barner empurrou a fita para dentro do relutante VHS e andou até o outro lado da sala para desligar as luzes.
E então, quando a sala ficou escura, eu repentinamente fique alarmada que Edward estava sentado a menos de uma polegada de mim. Eu estava impressionada com a inesperada eletricidade que passou por mim, fascinada de que eu podia ficar mais perto dele sem correr risco do que eu ficava. Um louco impulso de estender as mãos e toca-lo, de acariciar sua perfeita face só uma vez no escuro, instantaneamente me inundou. Eu apertei meus braços com força sobre meu peito, minha mão cerrada. Eu estava perdendo minha cabeça.
Os créditos de abertura começaram, iluminando a sala com um pouco de luz. Meu olhos, com sua próprio vontade, olharam para ele. Eu sorri timidamente assim que percebi que sua postura era idêntica a minha, mãos cerradas sobre seus braços, por debaixo de seus olhos, espreitando de lado para mim. Ele sorriu de volta, seus olhos parecendo fogo, mesmo no escuro. Eu olhei para o lado antes de poder começar a respirar rápido. Era absurdamente ridículo que eu podia me sentir tão estonteada assim.

As horas pareciam muito longas. Eu não conseguia me concentrar no filme - eu não sabia nem ao menos sobre qual assunto ele era. Eu tentei, sem sucesso, relaxar, mas a corrente elétrica que parecia vir de algum lugar do corpo dele nunca diminuia. Ocasionalmente eu me permitia olhar rapidamente na direção dele, mas ele também parecia nunca relaxar. O desejo predominante de tocá-lo também parecia nunca murchar, e eu pressionei meus punhos seguramente contra minhas costelas até que meus dedos estavissem doendo do esforço.

Eu suspirei de alívio quando Mr. Banner acendeu novamente as luzes no fim da aula, e eu estiquei meus braços em frente a mim, flexionando meus dedos rígidos. Edwad riu ao meu lado.

"Bem, aquilo foi interessante," ele murmurou. Sua voz estava sombria e seus olhos eu cautelosos.

"Hmmm," era tudo que eu conseguia responder.

"Devemos?" ele perguntou, levantando sem estabilidade.

Eu quase gemi. Hora do ginásio. Eu continuei com cuidado, preocupada se meu equilíbrio poderia ter sido afetado pela estranha nova força entre nós.

Ele me acompanhou para minha próxima aula em silêncio e parou na porta; eu virei pra dizer tchau. O rosto dele me encarou - sua expressão estava despedaçada, quase dolorida, e tão cruelmente bonita que a vontade de tocá-lo incendiou-se mais forte do que antes. Meu adeus parou na minha garganta.

Ele levantou sua mão, hesistante, uma luta enfurecendo-se em seus olhos, e então rapidamente roçou um pedaço da minha bochecha com a ponta de seus dedos. Sua pele estava gelada como sempre, mas o rastro que seus dedos deixaram em minha pele era alarmantemente quente - como se eu tivesse sido queimada, mas eu ainda não sentia a dor disso.

Ele se virou sem uma palavra e caminhou rapidamente para longe de mim.

Eu andei para dentro do ginásio, tonta e hesitante.

Eu fui até o armário do vestiário, vagamente havia outras pessoas me rodeando. Na realidade não estava muito cheio até agora, eu estava segurando uma raquete. Isso não era pesado, mas sentir que era perigoso na minha mão. Eu podia ver algumas crianças da outra turma olhavam-me furtivamente. O treinador Clapp ordenou que nos formássemos times. Piedosamente algum vestígio de cavalheirismo ainda sobrevivia em Mike; ele veio pra o meu lado.

"Você quer entrar no time?"

"Obrigada Mike. Sabe que não precisa fazer isso, você sabe disso". Eu fiz uma careta de desculpa.

"Não se preocupe. Eu vou ficar longe do seu caminho". Ele sorriu, às vezes é fácil ser como o Mike.

Eu não ia bajular de maneira nenhuma, para acerta-me com a minha raquete e vê o ombro de Mike balançar igualmente.

Eu passei o resto do tempo no canto de trás do quadra, segurando a raquete a salvo atrás das minhas costas.

Apesar de ter sido limitado por mim, Mike era muito bom, ele ganhou três jogos de quatro sozinho. Ele me deu um não merecido gesto de parabéns quando o técnico finalmente assobiou acabando a aula.

"Então," ele disse enquanto nós andávamos para fora da quadra.

"Então o que?"

"Você e Cullen, hm?" ele perguntou, seu tom era rebelde. Meu anterior sentimento de afeição desapareceu.

"Isso não é da sua conta, Mike," Eu avisei, internamente amaldiçoando Jessica diretamente para as ardentes chamas de Hades.

"Eu não gosto disso," ele murmurou de qualquer forma.

"Você não tem que gostar," eu rangi os dentes.

"Ele olha pra você como... como se você fosse algo pra comer," ele continuou, me ignorando.

Eu abafei a histeria que ameaçava explodir, mas um pequeno riso amarelo conseguiu sair apesar de meus esforços. Ele olhou com raiva pra mim. Eu virei e escapei para a sala dos armários.

Eu me troquei rapidamente, alguma coisa mais estranha do que borboletas se atacando afobadamente contra as paredes do meu estômago, minha discussão com Mike já em uma memória distante. Eu estava pensando se Edward estaria me esperando, ou se eu deveria encontrá-lo no carro dele.

E se a família dele estivesse lá? Eu senti uma onda de terror verdadeiro. Eles sabiam que eu sabia? Eu deveria saber que eles sabiam que eu sabia, ou não?

Enquanto eu saia da quadra, eu tinha acabado de decidir de andar para casa sem nem ao menos olhar para o estacionamento. Mas meus temores eram desnecessários. Edward estava me esperando, apoiado casualmente contra a parede do ginásio, seu rosto de tirar o fôlego agora tranquilo. Enquanto eu andava para o lado dele, eu senti um peculiar sentimento de alívio.

"Oi", eu respirei, dando um enorme sorriso.

"Olá", seu sorriso de resposta foi brilhante. "Como foi a aula?"

Meu rosto caiu um pouquinho. "Bem", eu mentí.

"Mesmo?", ele não estava convencido. Seus olhos viraram rapidamente me olhando por cima do ombro e se estreitaram. Eu olhei pra trás e ví Mike de costas enquanto ele ia embora.

"O que foi?", eu quis saber.

Os olhos dele reencontraram os meus, ainda estreitos. "Newton está começando a me irritar".

"Você estava ouvindo de novo?", o horror me abateu. Todos os traços do meu bom humor desapareceram.

"Como está a sua cabeça?", ele perguntou inocentemente.

"Você é inacreditável!", eu me virei, caminhando a passos largos na direção do estacionamento, apesar de ainda não estar conseguindo andar direito nesse momento.

Ele me acompanhou facilmente.

"Foi você quem mencionou que eu nunca havia te visto na aula de Educação física- eu fiquei curioso". Ele não parecia estar arrependido, então eu ignorei ele.

Nós caminhamos em silêncio- um silêncio furioso, e envergonhado da minha parte- para o carro dele. Mas eu tive que parar á alguns passos de distância- uma multidão de pessoas, todos garotos, estavam cercando ele.

Então eu percebí que eles não estavam cercando o Volvo, na verdade eles estavam cercando o conversível vermelho de Rosalie, cheios de luxúria nos olhos. Nenhum deles sequer olhou pra Edward quando ele passou para abrir a porta dele, eu também entrei rapidamente no carro, também passando despercebida.

"Ostentação", ele cochichou.

"Que carro é esse?", eu perguntei.

"Um M3"

"Eu não falo essa língua".

"É uma BMW", ele revirou os olhos, sem olhar pra mim, tentando dar a ré sem atropelar os entusiamados por carros.

Eu balancei a cabeça- esse nome eu conhecia.

Ele suspirou. "Você vai me perdoar se eu pedir desculpa?"

"Talvez...se você estiver falando sério. E se você prometer que não vai fazer de novo", eu insistí.

Seus olhos de repente estavam astutos. "E se eu estiver falando sério, e se eu deixar você dirigir Sábado?"

Ele analisou as minhas condições.

Eu considerei, e decisí que provavelmente era o melhor que eu podia conseguir. "Fechado", eu concordei.

"Então eu sinto muito por ter te aborrecido". Seus olhos arderam de sinceridade por um momento- brincando com o ritmo do meu coração - e depois ficaram divertidos. "E eu vou estar na porta da sua casa assim de o Sábado começar a brilhar".

"Umm, não ajuda muito na minha situação com Charlie se um Volvo ficar inexplicavelmente largado na entrada".

Seu sorriso estava condescendente. "Eu não pretendia levar o carro".

"Como-"

Ele me cortou. "Não se preocupe com isso. Eu vou estar lá, sem carro."

Eu deixei pra lá. Eu tinha uma pergunta mais importante.

"Isso já é mais tarde?", eu perguntei significantemente

Ele fez uma careta. "Eu acho que isso é mais tarde".

Eu mantive minha expressão educada enquanto esperava.

Ele parou o carro. Eu olhei pra cima, surpresa- é claro que já estávamos na casa de Charlie, parados atrás da caminhonete. Quando eu olhei de volta pra ele, ele estava me encarando, me medindo com os olhos.

"E você ainda quer saber porque não pode me ver enquanto eu estou caçando?". Ele pareceu solene, mas eu pensei estar vendo um traço de humor no fundo dos seus olhos.

"Bem", eu esclarecí. "Eu estava pensando mais na sua reação".

"Eu te assustei?" Sim, definitivamente havia humor alí.

"Não", eu mentí, mas ele não acreditou.

"Eu me desculpo por ter te assustado", ele persistiu com um leve sorriso, mas então todos os sinais de brincadeira desapareceram.

"Foi por causa do pensamento de você estar lá...enquanto nós caçamos". Sua mandíbula se apertou.

"Isso seria ruim?"

Ele falou por entre os dentes. "Extremamente".

"Porque...?"

Ele respirou fundo e olhou pelo para-brisa para as nuvens grossas que rolavam no céu, tão baixas que pareciam estar ao alcance do toque.

"Quando estamos caçando", ele falou devagar, sem vontade. "Nós nos entregamos aos nossos sentidos...perdemos o controle sobre nossas mentes. Especialmente o olfato. Se você estivesse em qualquer lugar perto de mim quando eu estivesse descontrolado desse jeito..." Ele balançou a cabeça, ainda olhando sombriamente para as nuvens.

Eu mantive minha expressão firmemente controlada, esperando a rápida olhada que ele logo me daria pra analisar minha reação. Minha expressão não me traiu.

Mas os nossos olhsres ficaram presos, o silêncio ficou mais profundo- e mudou. As fagulhas que eletricidade que eu havia sentido essa tarde começaram a reaparecer enquanto ele olhava impiedosamente para os meus olhos. Eu só percebí que não estava respirando quando minha cabeça começou a ficar pesada. Quando eu soltei o ar, quebrando o gelo, ele fechou os olhos.

"Bella, eu acho que você devia entrar". Sua voz estava áspera, seus olhos nas nuvens de novo.

Eu abrí a porta, a brisa gelada que entrou no carro ajudou a clarear minha cabeça. Com medo de cair no meu estado de deslumbramento, eu saí cuidadosamente do carro e fechei a porta sem olhar pra trás. O ruído da janela automática se abrindo fez eu me virar.

"Oh, Bella?", ele me chamou, a voz mais uniforme. Ele se inclinou na direção da janela aberta com um fraco sorriso nos lábios.

"Sim?"

"Amanhã é minha vez."

"Sua vez de que?"

Seu sorriso aumentou, fazendo os dentes brilharem. "Fazer as perguntas".

E então ele foi embora, o carro correndo rua abaixo e virando na esquina antes que eu pudesse realinhar meus pensamentos. Eu sorrí enquanto caminhava pra dentro de casa. Estava claro que ele planejava me ver no dia seguinte, se não antes.

Naquela noite, Edward foi o ator principal dos meus sonhos, como sempre. No entanto, o clima do meu inconsciente havia mudado. Eu estava cheia com a mesma eletricidade que havia sentido durante a tarde, e me virava e me enrolava sem parar, acordando várias vezes.

Foi só nas primeiras horas da manhã que eu caí num sono exausto, sem sonhos.

Quando eu acordei ainda estava cansada, mas afiada. Eu coloquei meu casaco marrom e minha calça jeans, e suspirei sonhando com blusas de alcinhas e shorts.

O café da manhã foi exatamente o evento quieto que eu esperava que fosse. Charlie fritou ovos pra ele; eu comí uma tigela de cereais. Eu imaginei se ele tinha esquecido sobre esse Sábado. Ele respondeu a pergunta que eu não fiz enquanto levantava pra colocar o seu prato na pia.

"Sobre esse Sábado..." ele começou, andando pela cozinha e ligando a torneira.

Eu gelei. "Sim ,pai?"

"Você ainda está pretendendo ir á Seattle?", ele perguntou.

"Esse é o plano", eu fiz uma careta, desejando que ele não tivesse tocado no assunto pra eu não ter que inventar meias verdades.

Ele espremeu um pouco de detergente no prato dele e o esfregou com uma escova. "Você tem certeza que não voltar a tempo para o baile?"

"Eu não vou ao baile ,pai", eu esclarecí.

" Ninguém te convidou?", ele perguntou, tentando esconder a sua preocupação com o prato.

Eu comecei a andar no campo minado. "É uma escolha das garotas".

"Oh", ele meditou enquanto secava o prato.

Eu sentí simpatia por ele. Deve ser difícil, ser uma pai; convivendo com o medo de que sua filha encontre um garoto de quem ela goste, mas também se preocupando por ela não encontrar.

Eu imaginei o quanto seria horrível se Charlie soubesse de quem eu gostava.

Charlie foi embora nessa hora, com um aceno de adeus, e eu subí pra escovar meus dentes e pegar meus livros. Quando eu ouví a viatura ir embora, eu só tive que esperar alguns segundos para ir espiar pela janela. O carro prateado já estava lá, esperando no espaço de Charlie na entrada.

Eu desci correndo a escada e saí, imaginando quanto tempo essa rotina bizarra ainda duraria. Eu não queria que acabasse nunca.

Ele esperou dentro do carro, parecendo nem ter me visto enquanto eu fechava a porta atrás de mim sem me incomodar em trancar com a chave. Eu caminhei para o carro parando timidamente antes de abrir a porta e entrar.

Ele estava sorrindo, relaxado- e como sempre, o sorriso era lindo e perfeito demais pra explicar.

"Bom dia", sua voz estava aveludada. "Como você está hoje?" Seus olhos examinaram meu rosto, como se a pergunta fosse algo mais que um simples gesto de educação.

"Bem ,obrigada". Eu estava sempre bem- muito mais que bem- quando estava perto dele.

Seus olhos se demoraram nos círculos embaixo dos meus olhos. "Você parece cansada".

"Eu não conseguí dormir", eu confessei, automaticamente jogando um pouco de cabelo por cima dos ombros para cobrir um pouco do rosto.

"Eu também não", ele brincou enquanto ligava o motor. Eu estava me acostumando com o ronco suave. Eu tinha certeza que o ronco da minha camonhonete ia me assustar quando eu fosse dirigí-la de novo.

Eu sorrí. "Eu acho que está tudo bem. Eu só dormí um pouco mais que você".

"Eu aposto que sim".

"Então,o que você fez na noite passada?", eu perguntei.

Ele deu uma gargalhada. "Sem chance. Hoje é meu dia de fazer as perguntas".

"As, é mesmo. O que você quer saber?", minha testa se enrugou. Eu não conseguia imaginar alguma coisa sobre mim que pudesse ser interessante pra ele.

"Qual é a sua cor favorita?", ele perguntou, o seu rosto estava sério.

Eu revirei os olhos. "Muda todo dia".

"Qual é a sua cor favorita hoje?" Ele ainda estava solene.

"Provavelmente marrom". Eu tinha a tendência de me vestir de acordo com o meu humor.

Ele deu um sopro, a expressão séria desapareceu. "Marrom?", ele perguntou cético.

"Claro, marrom é morno. Eu sinto falta do marrom. Tudo que era pra ser marrom- troncos de árvore, pedras, terra- está coberto de verde aqui", eu reclamei.

Ele pareceu fascinado com o meu pequeno discurso. Ele pensou por um momento, olhando nos meus olhos.

"Você está certa", ele decidiu, sério de novo. "Marrom é morno". Ele se aproximou rapidamente, mas de certa forma ainda hesitante, pra colocar o meu cabelo de volta atrás do ombro.

A essa hora já estávamos na escola. Ele se virou pra mim enquanto colocava o carro na vaga do estacionamento.

"Qual é a música que está tocando no seu CD palyer nesse momento?", ele me perguntou, seu rosto estava tão sombrio como se ele estivesse me perguntando um segredo mortal.

Eu me dei conta de que não havia removido o CD que Phil havia me dado. Quando eu disse o nome da banda, ele deu um sorriso torto, uma expressão peculiar nos olhos. Ele abriu um compartimento embaixo do CD pçayer do carro dele, puxou um dos mais de trinta CD's que haviam lá dentro, e me entregou.

"De Debussy pra isso?", ele ergueu uma sobrancelha.

Era o mesmo CD. Eu examinei a capa familiar, mantendo meus olhos virados pra baixo.

Nós continuamos assim o dia inteiro. Enquanto ele me acompanhava para a aula de Inglês, quando ele foi me buscar na aula de Espanhol, durante todo o almoço, ele me questionava incessantemente sobre cada detalhe insignificante da minha existência.

Filmes que eu gostava e que detestava, os poucos lugares que eu conhecia e os muitos que gostaria de conhecer, e livros- inúmeros livros.

Eu não me lembrava da última vez que havia falado tanto. Mais de uma vez, eu me sentí envergonhada,certamente eu estava aborrecendo ele. Mas a expressão de extrema concentração, e as perguntas inacabáveis, me forçavam a continuar.

A maioria das perguntas eram fáceis de responder, somente algumas me fizeram corar com muita facilidade.

Como quando ele me perguntou qual era a minha pedra preciosa favorita, e eu respondí que era o topázio sem pensar. Ele fazia tantas perguntas tão depressa que eu me sentia como se estivesse fazendo um daqueles testes psiquiátricos onde você tem que responder com a primeira palavra que vier na sua cabeça. Eu tinha certeza que ele continuaria seguindo a mesma linha de pensamento que ele estava seguinto antes, se eu não tivesse ruborisado.

Meu rosto ficou vermelho porque, até pouco tempo atrás, minha pedra preciosa favorita era o Ônix. Era impossível olhar pra os seus olhos da cor do Topázio, e não entender o motivo da troca. E, naturalmente, ele não ia descansar enquanto eu não admitisse porque estava envergonhada.

"Me diga", ele finalmente ordenou depois que a persuasão não deu certo- não deu certo porque eu mantive meus olhos seguramente longe do rosto dele.

"É a cor dos seus olhos hoje", eu suspirei, me rendendo, olhando para as minhas mãos enquanto brincava com uma mecha do meu cabelo.

"Eu acho que se você tivesse me feito essa pergunta a duas semanas atrás eu teria dito que era o Ônix". Eu estava dando mais informações do que era necessário na minha honestidade sem vontade, e eu estava preocupada em trazer a tona aquela raiva que sempre aparecia quando eu demonstrava o quanto estava obsecada por ele.

Mas sua pausa foi muito curta.

"Que tipo de flor você prefere?", ele atirou.

Eu suspirei aliviada, e ele continuou com a psicanálise.

Biologia foi uma colplicação de novo. Edward continuou com o seu questionário até o Sr. Banner entrar na sala, trazendo o equipamento audio visual com ele. Enquanto o professor se aproximava do interruptor de luz, eu percebí Edward afastar a cadeira dele da minha. Isso não ajudou. Assim que a sala estava escura, houve a mesma fagulha de eletricidade, a mesma vontade irresistível de invadir o pequeno espaço entre nó e tocar a sua pele fria, como ontem.

Eu me inclinei para a frente na mesa, descansando o meu queixo nos braços dobrados, meus dedos escondidos estavam agarrando a borda da mesa, enquanto eu tentava lutar com a vontade irracional que me tirava do sério. Eu não olhei pra ele, com medo de que se ele estivesse olhando pra mim, eu tivesse ainda mais dificuldades de me controlar. Eu sinceramente tentei me concentrar no filme, mas no fim eu não tinha a menor ideia do que eu tinha acabado de ver. Eu suspirei aliviada de novo quando o Sr. Banner ligou as luzes, e finalmente olhei pra Edward;

Ele estava olhando pra mim com olhos ambivalentes.

Ele se levantou em silêncio e ficou em pé, esperando por mim. Nós andamos para a minha aula de Educação física em silêncio, como ontem. E, também como ontem, ele tocou o meu rosto sem dizer nada- dessa vez com as costas da sua mão fria, alisando o espaço da minha têmpora até a minha mandíbula- antes de se virar e ir embora.

A aula de Educação física passou rapidamente,enquantou eu observava Mike dar um show solo no Badminton. Ele não falou comigo hoje, seja por causa da minha expressão vazia ou porque ele ainda estava com raiva por causa da nossa discursão de ontem. Em algum lugar, no fundo da minha mente, eu estava me sentindo mal com isso. Mas eu não conseguí me concentrar nele.

Eu me apressei pra me trocar depois, doente de ansiedade, sabendo que , quanto mais rápido eu me movesse, mais rápido eu estaria com Edward. A pressão me deixou mais desastrada do que o normal, mas eventualmente eu saí, sentindo o mesmo alívio quando ví ele lá, um largo sorriso automaticamente aparecendo no meu rosto. Ele sorriu em resposta antes de continuar com as perguntas.

Suas perguntas eram diferentaes agora, porém, não tão fáceis de responder. Ele quis saber do que eu sentia falta em casa, insistindo pra que eu descrevesse as coisas que não eram familiares pra ele. Nós ficamos sentados na frente da casa de Charlie por horas, enquanto o céu escurecia e a chuva se transformava num dilúvio de repente.

Eu tentei descrever coisas impossíveis de descrever, como o cheiro do creosoto- amargo, um pouco residuoso, mas agradável mesmo assim- o som alto, agudo das cigarras em Julho, a esterilidade emplumada das árvores, a até o tamanho do céu, com sua extensão azul e branca de horizonte á horizonte, poucas vezes interrompido por montanhas baixas cheias de rochas vulcânicas. O mais difícil de explicar foi porque eu achava bonito- justificar a beleza que não dependia de uma vegetação escassa, espinhosa que as vezes parecia meio morta.

Uma beleza que tinha mais á ver com o formato da terra que ficava exposta,com as bacias superficais entre os vales que ficavam entre as colinas escarpadas, e a forma que elas emolduravam o sol. Eu me ví tendo que usar as mãos enquanto explicava isso pra ele.

Suas perguntas quietas, tentadoras, me fizeram falar livremente, esquecendo, na luz escassa, de me sentir envergonhada por estar monopolizando a conversa. Finalmente, quando eu havia terminada de descrever o meu quarto bagunçado em casa, ele parou ao invés de fazer outra pergunta.

"Você já acabou?", eu perguntei aliviada.

"Nem perto- mas o seu pai vai chegar logo em casa".

"Charlie!", eu finalmente lembrei de sua existência, e suspirei.

Eu olhei para o céu escurecido pela chuva, mas não demonstrei estar sentindo nada.

"Que horas são?", eu me perguntei me voz alta enquanto olhava para o relógio. Eu me surpreendí com a hora- Charlie deveria estar chagando em casa agora.

"É o crepúsculo", Edward murmurou, olhando para o horizonte obscurecido pelas nuvens. Sua voz estava pensativa, como se sua mente estivesse em um lugar distante. Eu olhei pra ele enquanto ele olhava pelo para brisa sem estar enxergando nada.

Eu ainda estava olhando quando ele de repente virou seu olhar para mim.

"É a hora mais segura do dia pra nós", ele disse, respondendo uma pergunta que eu não fiz, mas que estava nos meus olhos. "A hora mais fácil. Mas, também mais difícil, de certa forma...o fim de outro dia, o retorno da noite. A escuridão é tão imprevisível, você não acha?", ele perguntou, sorrindo tristemente.

"Eu gosto da noite. Sem a escuridão não poderiamos ver as estrelas.", eu fiz uma careta. "Não que elas apareçam muito por aqui".

Ele sorriu, o humor abruptamente mais leve.

"Charlie vai chagar em alguns minutos. Então, a não ser que você queira dizer pra ele que estará comigo no Sábado...", ele ergueu uma sobrancelha.

"Obrigada, mas não, obrigada", eu peguei meus livros, me dando conta de que o meu corpo estava rígido pela posição que eu estive sentada por tanto tempo.

"Amanhã é minha vez, então?"

"Cetamente não!", seu rosto estava com uma expressão de ultraje divertida. "Eu disse que ainda não tinha acabado, não disse?"

"O que é que ainda falta?"

"Você vai saber amanhã". Ele se inclinou na minha frente para abrir a porta pra mim, e essa proximidade repentina fez meu coração palpitar loucamente.

Mas a mão dele congelou na maçaneta.

"Isso não é bom", ele murmurou.

"O que foi?", eu estava surpresa de ver que sua mandíbula estava apertada, seus olhos perturbados.

Ele olhou pra mim por um breve segundo. "Mais complicações", ele disse aborrecido.

Ele abriu a porta com um movimento rápido, e então se afastou, quase ultrajado, rapidamente pra longe de mim.

O flash dos faróis na chuva chamaram minha atenção enquanto um carro virava na curva, a apenas alguns metros de nós nos encarando.

"Charlie está na esquina", ele avisou, olhando pelo retrovisor para outro veículo.

Eu saí rapidamente, a despeito da minha confusão e curiosidade. A chuva estava mais forte enquanto batia no meu casaco.

Eu tentei distiguir as duas sombras que estavam no banco da frente do outro carro, mas estava muito escuro. Eu podia ver Edward iluminado pelo brilho dos faróis do outro carro; ele ainda estava olhando para a frente, seu olhar estava travado em algo ou alguém que eu não podia ver.

Sua expressão era um estranho misto de frustração e desafio.

Então ele ligou o motor, e os pneus resoaram no asfalto molhado. Dentro de segundos o Volvo já estava fora de vista.

"Ei, Bella", chamou uma voz rouca, familiar que vinha do banco do motorista do pequeno carro preto.

"Jacob?", eu perguntei andando pela chuva. Só então, a viatura de Charlie virou na esquina, os faróis dele iluminando os ocupantes do carro na minha frente.

Jacob já estava saindo do carro. Seu sorriso largo e brilhante era visível mesmo na escuridão.

No banco do passageiro havia um homem muito mais mais velho, um homem pesado, com um rosto memorável- um rosto que se transbordava, as bochechas estavam pressionados nos ombros com rugas na pele ruiva, como um casaco velho de couro. E os olhos surpreendentemente familiares, olhos pretos que pareciam ao mesmo tempo jovens demais e velhos demais para aquele rosto largo.
Era o pai de Jacob, Billy Black. Eu o reconhecí imediatamente, mesmo depois de cinco anos e tendo esquecido do nome dele no meu primeiro dia aqui. Ele estava me encarando, estudando meu rosto, então eu sorri tentadoramente pra ele. Seus olhos estavam arregalados, como se de susto ou de medo,as narinas estavam infladas. Meu sorriso desapareceu.
Outra complição, Edward disse.
Billy ainda estava me encarando com olhos intensos, ansiosos. Eu gemí por dentro. Será que Billy reconheceu Edward tão facilmente?
Será que ele realmente poderia acreditar nas lendas impossíveis que o filho dele havia me contado?
A resposta estava clara nos olhos de Billy. Sim. Sim, ele podia.

Criar uma Loja online Grátis  -  Criar um Site Grátis Fantástico  -  Criar uma Loja Virtual Grátis  -  Criar um Site Grátis Profissional