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cap. 8 ao 11

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

8. Adrenalina

"Ok, onde é a sua embreagem?"

Eu apontei para a alavanca no lado esquerdo do guidão. Soltar o apoio foi um erro. A

moto pesada cambaleou embaixo de mim, ameaçando me jogar de lado. Eu agarrei o

guidão de novo, tentando segurar direito.

"Jacob, eu não vou ficar de pé", eu reclamei.

"Você vai quando estiver se movendo", ele prometeu. "Agora, onde está seu freio?"

"Atrás do meu pé direito".

"Errado".

Ele agarrou minha mão direita e curvou meus dedos na alavanca em cima do regulador.

"Mas você disse-"

"Esse é o freio que você quer. Não use o freio de trás agora, isso é pra depois, quando

você souber o que está fazendo".

"Isso não parece certo", eu disse suspeitosamente. "Os dois freios não são importantes?"

"Esqueça o freio de trás, tá legal? Aqui-" Ele agarrou sua mão na minha e me fez puxar

a alavanca pra baixo. "

 

Esse é o seu freio. Não esqueça". Ele apertou minha mão mais uma vez.

"Tá bom". Eu concordei.

"Regulador?"

Eu virei punho direito.

"Trocador de marcha?"

Eu batí com o meu calcanhar esquerdo.

"Muito bom. Eu acho que você aprendeu todas as partes. Agora você só tem que

começar a se mover".

"Uh-huh", eu murmurei, com medo de dizer mais. Meu estômago estava se contorcendo

de uma maneira estranha e eu achei que minha voz podia sair esganiçada. Eu estava

morta de medo. Eu tentei pensar comigo mesma que o meu medo era sem motivos. Eu

já havia sobrevivido á pior coisa possível. Em comparação com aquilo, porque alguma

coisa devia me assustar agora? Eu devia ser capaz de olhar na cara da morte e sorrir.

Meu estômago não tava acreditando.

Eu olhei para a longa extensão da estrada de terra, incomodada pela grossa névoa verde

que havia dos dois lados. A pista era arenosa e suja. Melhor que lama.

"Eu quero que você segure a embreagem", Jacob instruiu.

Eu agarrei meus dedos na embreagem.

"Agora isso é crucial, Bella", Jacob se estressou. "Não solte isso, Ok? Eu quero que

você finja que está segurando uma granada armada. O pino saiu e você está segurando o

trinco".

Eu apertei com mais força.

"Bom. Você acha que consegue dar a partida?"

"Se eu mover o meu pé, eu vou cair", eu disse pra ele através de dentes trincados, meus

dedos segurando a granada armada com força.

"Ok, eu faço isso. Não solte a embreagem".

Ele deu um passo pra trás, e de repente bateu seu pé no pedal. Houve um breve som de

alguma coisa rasgando, e a força do seu empurrão fez a moto balançar. Eu comecei a

cair de lado, mas Jake agarrou a moto antes que ela me derrubasse.

"Firme aí", ele encorajou. "Você ainda está segurando a embreagem?"

"Sim", eu disse sem fôlego.

"Segure seus

 

pés

- eu vou tentar de novo". Mas ele colocou a mão na parte de trás do

banco também, só pra ter certeza.

Foram mais quatro tentativas até que a ignição se ligasse. Eu podia sentir a roncando

embaixo de mim como um animal raivoso. Eu agarrei a embreagem até que meus dedos

doeram.

"Tente a alavanca", ele sugeriu. "Bem de leve. E não solte a embreagem".

Hesitantemente, eu girei a alavanca direita. Apesar de o movimento ter sido pequeno, a

moto rosnou embaixo de mim. Ela parecia com raiva

 

e

faminta agora. Jacob sorriu com

profunda satisfação.

"Você lembra de como colocar na primeira marcha?", ele perguntou.

"Sim"

"Bem, vá em frente e faça isso".

"Ok"

Ele esperou por alguns segundos.

"Pé esquerdo", ele lembrou.

"Eu

 

sei

", eu disse, respirando fundo.

"Você tem certeza de que quer fazer isso?", Jacob perguntou. "Você parece assustada"

"Eu estou bem", eu atirei. Eu chutei o trocador de marcha pra baixo.

"Muito bom", ele me parabenizou. "Agora,

 

bem

gentilmente, solte um pouco a

embreagem".

Ele deu um passo pra trás se distanciando da moto.

"Você quer que eu solte a granada?" eu perguntei incrédula. Não era de estranhar que

ele estivesse se afastando.

"É assim que você se move, Bella. Só faça isso pouco a pouco".

Enquanto eu começava a soltar o meu aperto, eu fiquei chocada por ser interrompida

por uma voz que não era a do garoto ao meu lado.

"Isso é descuidado e infantil e idiota, Bella", a voz aveludada fumaçou.

"Oh!", eu fiquei sem fôlego e minha mão soltou a embreagem.

A moto pulou embaixo de mim, me jogando pra frente e depois caindo no chão meio em

cima de mim. O motor rosnou e depois parou de funcionar.

"Bella?", Jacob tirou a moto de cima de mim com facilidade. "Você está ferida?"

Mas eu não estava escutando.

"Eu te avisei", a voz perfeita murmurou, clara feito cristal.

"Bella?", Jacob chacoalhou meu ombro.

"Eu estou bem", eu murmurei, confusa.

Mais que bem. A voz na minha cabeça estava de volta. Ela ainda estava ecoando nos

meus ouvidos - ecos macios, de veludo.

Minha mente correu rapidamente pelas possibilidades. Não havia nenhuma

familiaridade alí - numa estrada que nunca havia visto, fazendo uma coisa que eu nunca

havia feito - não era deja vu.

Então as alucinações devem ser desencadeadas por outra coisa... eu sentia a adrenalina

passando pelas minhas veias de novo, e aí eu pensei que tinha minha resposta.

Uma combinação de perigo e adrenalina, ou talvez só a estupidez.

Jacob estava me colocando de pé.

"Você bateu a cabeça?", ele perguntou.

"Eu acho que não", eu a balancei pra frente e pra trás, checando.

"Eu não estraguei a moto, estraguei?" Esse pensamento me preocupou.

Eu estava ansiosa pra tentar de novo, imediatamente.

Ser descuidada estava funcionando melhor do que eu esperava. Esqueça a quebra de

acordo. Talvez eu tivesse encontrado uma forma de gerar as alucinações - e isso era

muito mais importante.

"Não. Você só protelou o motor". Jacob disse, interrompendo minhas rápidas

especulações. "Você soltou a embreagem rápido demais".

Eu balancei a cabeça. "Vamos tentar de novo".

"Você tem certeza?", Jacob perguntou.

"Absoluta".

Dessa vez eu mesma tentei dar a partida. Foi complicado; eu tive que pular um pouco

pra bater no pedal com força suficiente, e toda vez que eu fazia isso, a moto tentava me

derrubar. As mãos de Jacob ficaram no guidão, prontas pra me segurar se eu caísse.

Foram várias tentativas boas, e muitas ruins, antes que o motor roncasse vindo á vida

embaixo de mim.

Me lembrando de segurar a granada, eu virei a alavanca, experimentando.

Ela roncou com o menor toque. O meu sorriso imitou o de Jacob agora.

"Vá com calma na embreagem", ele me lembrou.

"Você

 

quer

se matar então? É esse o problema?" A outra voz falou de novo, com um

tom severo.

Eu sorri com força - estava funcionando - e eu ignorei as perguntas.

Jacob não ia deixar nada sério acontecer comigo.

"Volte pra casa pra Charlie", a voz ordenou. A beleza transparente me deslumbrou. Eu

não podia deixar minha memória deixá-la ir, não importava o preço.

"Solte devagarzinho", Jacob me encorajou.

"Eu vou", eu disse. Me incomodou um pouco quando eu percebí que estava

respondendo pra eles dois.

A voz na minha cabeça rosnou contra o ronco da moto.

Tentando me concentrar desse vez, sem deixar a voz me ofuscar de novo, eu relaxei

minha mão aos poucos.

De repente, a marcha funcionou e me impulsionou pra frente.

Eu estava voando.

Havia um vento que não estava lá antes, soprando a pele do meu crânio e fazendo o meu

cabelo voar pra trás com força suficinte pra fazer parecer que alguém o estava puxando.

Eu deixei o meu estômago lá no lugar de onde eu havia saído; a adrenalina passou pelo

meu corpo, fazendo cócegas nas minhas veias.

As árvores passavam correndo por mim, parecendo uma parede borrada de verde.

Essa era só a primeira marcha, meu pé se aproximou do trocador de marcha enquanto eu

procurava por mais força.

"Não, Bella" a voz raivosa, doce como mel ordenou no meu ouvido. "Veja o que você

está fazendo!"

Isso me distraiu o suficiente da velocidade pra que eu percebesse que a estrada estava

começando numa leve curva para a esquerda, e eu ainda estava indo em frente. Jacob

não havia me ensinado a virar.

"Freios, freios", eu murmurei pra mim mesma, e eu instintivamente batí o meu pé

direito, como eu faria na minha caminhonete.

A moto ficou instavel de repente embaixo de mim, tremendo primeiro pra um lado e

depois pro outro. Eu estava sendo arrastada para a parede verde, e eu estava indo rápida

demais. Eu tentei virar o guidão para a outra direção, e a mudança repentina de peso

empurrou a moto pro chão, ainda virando na direção das árvores.

A moto caiu por cima de mim, roncando alto, me jogando no chão molhado até que eu

batí em alguma coisa que me fez parar. Eu não conseguia enxergar. Meu rosto estava

misturado com os musgos. Eu tentei levantar minha cabeça, mas havia algo me

atrapalhando.

Eu estava ofuscada e confusa. Parecia que haviam três coisas rosnando - a moto em

cima de mim, a voz na minha cabeça, e alguma outra coisa...

"Bella", Jacob gritou, e eu ouví o motor da outra moto ser desligado.

A moto já não estava mais me prendendo no chão, e eu me virei pra respirar. Todos os

rosnados ficaram silenciosos.

"Uau", eu murmurei. Eu estava vibrando de emoção. Tinha que ser isso, a receita para a

alucinação - a dose extra de adrenalina mais estupidez. Ou algo mais ou menos assim,

de qualquer forma.

"Bella", Jacob estava se abaixando perto de mim ansiosamente. "Bella, você está viva?"

"Eu estou ótima!", eu me entusiasmei. Eu flexionei meus braços e pernas. Tudo parecia

estar funcionando corretamente. "Vamos fazer de novo".

"Eu acho que não", Jacob ainda parecia preocupado. "Eu acho melhor te levar á um

hospital antes".

"Eu estou bem".

"Um, Bella? Você está com um corte enorme na sua testa, e ele está sangrando", ele me

informou.

Eu coloquei minha mão na testa. Com certeza, ela estava molhada e grudenta. Eu não

conseguia sentir o cheiro de nada além dos musgos molhados no meu rosto, e isso

impediu a náusea.

"Oh, me desculpe, Jacob". Eu segurei com força no meu ferimento, como se eu pudesse

empurrar o sangue de volta para a minha testa.

"Porque você está se desculpando por sangrar?" ele se perguntou enquanto colocava um

braço pela minha cintura e me ajudava a ficar de pé. "Vamos. Eu dirijo".

Ele levantou a mão pedindo as chaves.

"E as motos?", eu perguntei, passando elas pra ele.

Ele pensou por um segundo. "Espere aqui. E tome isso". Ele tirou sua camisa, que já

estava suja de sangue, e jogou ela pra mim. Eu a agarrei e apertei ela com força na

minha testa. Eu estava começando a sentir o cheiro do sangue; eu respirei fundo pela

minha boca e tentei me concentrar em pensar em outra coisa.

Jacob pulou na moto preta, fez ela começar a funcionar na primeira tentativa, e começou

a correr pela estrada, jogando areia e pedrinhas pra trás dele. Ele parecia atlético e

profissional enquanto ele se inclinava no guidão, com a cabeça baixa, o rosto pra frente,

seu cabelo preto brilhante voando nas suas costas cor de cobre. Meus olhos se

estreitaram com inveja. Eu tinha certeza que não ficava daquele jeito na moto.

Eu fiquei supresa de ver o quanto tinha ido longe. Eu mal podia ver Jacob á distancia

quando ele finalmente parou perto da caminhonete.

Ele jogou a moto na traseira e se enfiou no lado do motorista.

Eu realmente não me sentí nem um pouco mal quando ele forçou a minha caminhonete

com um ronco desafiador na sua pressa de voltar até mim. A minha cabeça pulsava um

pouco, e meu estômago estava inquieto, mas o corte não era sério. Os cortes na cabeça

sangram mais do que os outros. A urgência dele não era necessária.

Jacob deixou a caminhonete funcionando enquanto corria de volta pra mim, passando o

braço pela minha cintura de novo.

"Ok, vamos te colocar na caminhonete."

"Honestamente eu tô bem" eu assegurei ele enquanto ele me ajudava a entrar. "Não

fique agitado. É só um pouco de sangue".

"Só um

 

monte

de sangue", eu ouví ele murmurar enquanto voltava pra pegar a minha

moto.

"Agora, vamos pensar nisso por um segundo", eu comecei quando ele voltou. "Se você

me levar pra um pronto socorro assim, Charlie com certeza vai descobrir". Eu olhei para

a areia e para a sujeira grudadas na minha calça.

"Bella, eu acho que você precisa de pontos. Eu não vou deixar você sangrar até morrer".

"Eu não vou morrer", eu prometí. "Vamos só deixar as motos de volta antes, e depois

vamos pra miha casa pra que eu possa me livrar das provas antes de irmos pra o

hospital".

"E quanto á Charlie?"

"Ele disse que tinha que ir trabalhar hoje".

"Você tem certeza mesmo?"

"Confie em mim. Eu sangro fácil. Não é tão ruim quanto parece".

Jacob não estava feliz - a boca dele se curvou pra baixo numa careta pouco

característica - mas ele não queria me envolver em problemas. Eu olhei pra fora pela

janela, segurando a camisa arruinada dele na minha cabeça, enquanto ele me dirigia pra

Forks.

Amoto estava melhor do que eu havia sonhado. Ela serviu ao meu propósito original.

Eu havia traído - quebrado minha promessa. Eu fui desnecessáriamente descuidada. Eu

me sentia um pouco menos patética agora que as promessas haviam sido feitas e

quebradas de ambos os lados.

E eu ainda tinha descoberto a chave para as alucinações! Pelo menos, eu esperava que

sim. Eu ia testar essa teoria o mais rápido possível. Talvez eles terminassem rápido

comigo no pronto socorro, e eu pudesse tentar de novo essa noite.

Descer a estrada correndo daquele jeito tinha sido incrivel. A sensação do vento no meu

rosto, a velocidade e a liberdade... isso me lembrou de uma vida passada, voando pela

grossa floresta sem uma estrada, nas costas dele enquanto ele corria - eu parei de pensar

aí, deixando as memórias me atingirem com uma súbita agonia. Eu vacilei.

"Você ainda está bem?" Jacob checou.

"É", eu tentei parecer tão convincente quanto antes.

"Aliás", ele acrescentou. "Eu vou desconectar o seu freio de pé hoje á noite".

Em casa, a primeira coisa que eu fiz foi me olhar num espelho; eu estava grotesca.

O sangue estava secando e deixando trilhas grossas nas minhas bochechas e no meu

pescoço, se colando com o meu cabelo cheio de lama.

Eu me examinei clinicamente, fingindo que o sangue era tinta pra que ele não

incomodasse meu estômago. Eu respirei pela minha boca e fiquei bem. Eu me lavei tão

bem quanto pude. Então eu escondí minhas roupas sujas, ensanguentadas, no fundo do

cesto de roupa suja, colocando outra calça jeans e uma camisa de abotoar (que eu não

precisava passar pela minha cabeça) tão cuidadosamente quanto pude.

Eu consegui fazer isso tudo com uma só mão, e manter tudo livre de sangue.

"Se apresse", Jacob chamou.

"Tá bom, tá bom" eu gritei de volta. Depois de ter certeza de que nada mais me

encriminava, eu descí as escadas.

"Como é que eu estou?", eu perguntei pra ele.

"Melhor", ele admitiu.

"Mas parece que eu tropecei na sua garagem e batí a cabeça num martelo?"

"Claro, eu acho que sim"

"Então vamos lá".

Jacob me apressou pela porta, e insistiu em dirigir de novo. Nós já estávamos a meio

caminho do hospital quando eu me dei conta de que ele ainda estava sem camisa.

Eu fiz uma carranca me sentindo culpada. "Nós devíamos ter pego uma casaco pra

você".

"Isso teria nos denunciado", ele zombou. "Além do mais, não está frio".

"Você está brincando?" eu tremi e me inclinei pra aumentar o aquecedor.

Eu observei Jacob pra ver se ele estava só brincando pra que eu não me preocupasse

com ele, mas ele parecia confortável o suficiente.

Ele estava com um braço em cima do encosto do meu banco, apesar de eu estar me

abraçando pra me aquecer.

Jacob realmente parecia ter mais de dezesseis anos - não exatamente quarenta, mas

talvez mais velho que eu. Quil não tinha muito mais que ele no departamento dos

músculos, mas por isso Jacob dizia que era um esqueleto. Os musculos eram longos e

poucos, mas eles definitivamente existiam embaixo da pele macia. A pele dele tinha

uma cor tão bonita, que me deixou com inveja.

Jacob notou minha análise.

"O que foi?", ele perguntou de repente, envergonhado.

"Nada. É só que eu nunca tinha reparado antes. Você sabia, que é meio bonitão?"

Assim que as palavras saíram, eu me preocupei que ele desse ás palavras o significado

errado.

Mas Jacob só rolou os olhos. "Você bateu a cabeça com bastante força, não foi?"

"Eu estou falando sério".

"Bem, então, obrigado. Mais ou menos."

Eu sorrí. "Mais ou menos de nada".

Eu precisei de sete pontos pra fechar o corte na minha testa. Depois de um pouco de

anestesia local, não houve nem uma ponta de dor no procedimento. Jacob segurou

minha mão enquanto o Dr. Snow estava costurando, e eu tentei não pensar no quanto

isso era irônico.

Nós ficamos uma eternidade no hospital. Quando eu acabei, eu tive que deixar Jacob em

casa, e voltar correndo pra cozinhar o jantar de Charlie. Charlie pareceu acreditar na

minha história de ter caído na garagem de Jacob. Afinal, não era como se eu fosse capaz

de ir para no pronto socorro com ajuda nenhuma além da dos meus próprios pés.

Aquela noite não foi tão ruim quanto a primeira noite que eu ouví aquela voz em Port

Angeles. O buraco havia voltado, do jeito como sempre voltava quando eu estava longe

de Jacob, mas ele não parecia tão em carne viva nas beiradas. Eu já estava planejando o

futuro, ansiosa pelas próximas alucinações, e isso era uma distração.

Também, eu sabia que me sentiria melhor amanhã quando estivesse com Jacob de novo.

Isso fez o buraco vazio e a dor familiar um pouco mais fáceis de suportar; o alívio

estava á vista.

O pesadelo também havia perdido a sua potência. Eu estava aterrorizada pelo vazio,

como sempre, mas eu também me sentia estranhamente impaciente enquanto esperava

pelo momento de gritaria que me traria de volta á consciência. Eu sabia que o pesadelo

tinha que acabar.

Na Quarta seguinte, antes que eu pudesse chegar em casa do pronto socorro, o Dr.

Gerandy ligou pra avisar o meu pai de que eu podia ter concussões e pra avisá-lo pra me

acordar a cada duas horas durante a noite pra ter certeza de que não era nada sério. Os

olhos de Charlie se estreitaram suspeitosamente com a minha explicação fraca de ter

caído de novo.

"Talvez você devesse ficar fora da garagem por um tempo, Bella", ele me sugeriu á

noite durante o jantar.

Eu entrei em pânico, com medo de que Charlie de que Charlie pudesse editar alguma

proibição á La Push, e consequentemente á minha moto.

E eu não ía desistir - eu tive a alucinação mais incrível hoje.

A alucinação da minha voz aveludada gritou comigo por quase cinco minutos antes que

eu pisasse abruptamente no freio e me lançasse naquela árvore. Eu ia aguentar qualquer

dor que fosse hoje e sem reclamar.

"Isso não aconteceu na garagem", eu protestei rapidamente. "Nós estávamos fazendo

uma caminhada e eu tropecei numa pedra".

"Desde quando você fez caminhadas?" Charlie perguntou séticamente.

"Trabalhar nos Newton vale a pena de vez em quando", eu apontei. "Passar os dias

trancada vendendo as coisas que se usa ao ar livre, eventualmente te deixa curioso".

Charlie me encarou, não convencido.

"Eu serei mais cuidadosa", eu prometi, surrupiamente cruzando meus dedos por debaixo

da mesa.

"Eu não me importo que você faça caminhadas enquanto estiver em La Push, mas fique

perto da cidade,está bem?"

"Porque?"

"Bem, nós temos recebido muitas denuncias de incêndios ultimamente. O departamento

florestal está checando, mas enquanto isso..."

"Oh, o urso gigante", eu disse compreendendo subitamente. "É, alguns dos mochileiros

que vão á Newton's também o viram. Você acha que ele é algum urso pardo que sofreu

mutação ou alguma coisa assim?"

A testa dele se enrrugou. "Tem alguma coisa. Fique perto da cidade, está bem?"

"Claro, claro", eu disse rapidamente. Ele não pareceu completamente convencido.

"Charlie está ficando desconfiado", eu reclamei pra Jacob quando o apanhei na escola

na Sexta.

"Talvez devessemos tirar uma folga nas motos" Ele viu minha expressão de objeção e

adicionou "Pelo menos por um semana ou algo assim. Você pode ficar fora do hospital

por uma semana, certo?"

"O que nós vamos fazer?", eu pressionei.

Ele sorriu alegremente. "O que você quiser".

Eu pensei nisso por um minuto- o que eu queria.

Eu odiei perder os poucos minutos de memória mais próximas que não me

machucavam- aquelas que vinham por sí próprias, sem que eu pensasse nelas

conscientemente. Se eu não podia ter a moto, eu teria que encontrar outra forma de

encontrar perigo e adrenalina, e isso requeria muito pensamento e criatividade. Não

fazer nada no meio tempo não era apelativo. E se eu ficasse deprimida de novo, mesmo

com Jake? Eu tinha que me manter ocupada.

Talvez houvesse outro jeito, outra receita... algum outro lugar.

A casa havia sido um erro, certamente. Mas a presença

 

dele

tinha que estar estampada

em algum lugar, outro lugar além de dentro de mim. Tinham que haver lugares onde ele

tinha que ser mais real entre os lugares familiares que estavam cheios de memórias

humanas.

Eu podia pensar em um lugar que podia ser real. Um lugar que sempre pertenceu a

 

ele

e

a mais ninguém. Um lugar mágico, cheio de luz. A linda clareira onde eu o havia visto

apenas uma vez na vida, faiscando com o brilho do sol e o brilho da sua pele.

Essa idéia tinha um grande potencial para a contra partida - isso podia ser

perigosamente doloroso.

O meu peito com o vazio só de pensar nisso. Era difícil de me segurar inteira, pra não

me denunciar. Mas certamente, de todos os lugares, era lá que eu podia ouvir a voz dele.

E eu já havia dito pra Charlie que estava caminhando...

"No que é que você está pensando tanto?", Jacob perguntou.

"Bem..." eu comecei lentamente. "Eu encontrei esse lugar na floresta uma vez - eu o

encontrei quando estava, umm, caminhando. Uma pequena clareira, o lugar mais lindo.

Eu não sei se conseguiria encontrá-lo sozinha de novo. E definitivamente ia requerer

algumas tentativas..."

"Nós podiamos usar um compasso e um padrão de cruzamento", Jacob disse

esperançoso pra ajudar. "Você sabe por onde começar?"

"Sim, bem abaixo do trilha no fim da um-dez. Eu fui mais na direção do sul, eu acho".

"Legal. Nós achamos". Como sempre, Jacob estava fazendo qualquer coisa que eu

quisesse. Não importava o quanto fosse estranho.

Então, Sábado á tarde, eu coloquei as minhas novas botas de caminhada - adquiridas

com o meu desconto de vinte porcento do funcionário pela primeira vez - peguei meu

novo mapa topográfico da Península Olimpica, e dirigí pra La Push.

Nós não começamos imediatamente; primeiro, Jacob se inclinou na mesa da sala de

estar- que tomava a sala inteira - e, por uns bons vinte minutos, ele desenhou uma

complicada teia numa seção do mapa enquanto eu me sentava numa cadeira da cozinha

e conversava com Billy. Billy não parecia nem um pouco preocupado com a nossa

caminhada.

Eu fiquei surpresa por Jacob ter dito pra onde estávamos indo, já que as pessoas

andavam tão preocupadas com os ataques dos ursos. Eu queria pedir a Billy pra não

contar nada pra Charlie, mas eu temí que o meu pedido causasse o efeito oposto.

"Talvez a gente veja o super urso", Jacob brincou, com os olhos no seu desenho.

Eu olhei pra Billy rapidamente, temendo que ele reagisse á moda de Charlie.

Mas Billy só sorriu pra filho. "Talvez vocês devessem levar um pote de mel, só na

dúvida".

Jake gargalhou. "Eu espero que suas botas sejam rápidas, Bella. Um pequeno pote não

vai manter o urso ocupado por muito tempo".

"Eu só tenho que ser mais rápida que você".

"Boa sorte com isso!" Jacob disse, revirando os olhos enquanto redobrava o mapa.

"Vamos lá".

"Divirtam-se" Billy rosnou, se levando na cadeira de rodas até a geladeira.

Charlie não era uma pessoa difícil de se conviver, mas parecia que pra Jacob era ainda

mais fácil.

Eu dirigí até o fim da estrada de poeira, parando perto da placa que indicava o início da

trilha. Fazia muito tempo que eu não vinha aqui, e o meu estômago reagiu

nervosamente. Isso devia ser uma coisa muito ruim. Mas tudo valeria a pena, se eu

pudesse ouvir

 

ele

.

Eu saí e olhei para a densa parede verde.

"Eu fui por aqui" eu murmurei, apontando diretamente pra frente.

"Hmm", Jake murmurou.

"O que foi?"

Ele olhou para a direção que eu havia apontado, então para a trilha demarcada, e depois

de volta.

"Eu devia ter te imaginado você como uma garota de trilhas"

"Eu não" eu sorri vazia. "Eu sou uma rebelde".

Ele sorriu, e então ele tirou o nosso mapa do bolso.

"Me dê um segundo". Ele segurou o compasso de uma forma habilidosa, girando o

mapa até que ficasse no ângulo que ele queria.

"Ok - primeira linha no cruzamento. Vamos lá".

Eu podia reparar que estava atrapalhando Jacob, mas ele não reclamou. Eu tentei não

pensar na minha última viagem por essa parte da floresta que eu fiz, com uma

companhia muito diferente.

Memórias normais ainda eram perigosas. Se eu me deixasse deslizar nelas, eu acabaria

com os braços abraçando meu peito pra me segurar junta, lutando por ar, e como era que

eu ia explicar isso pra Jacob?

Não foi tão difícil me manter focada no presente quanto eu pensei.

A floresta se parecia muito com qualquer outra parte da floresta de península, e Jacob a

enchia com outro humor.

Ele assobiava alegremente, num tom desconhecido, balançando os braços e se movendo

com facilidade no chão duro. As sombras não pareciam tão escuras como sempre. Não

com o meu sol particular do meu lado.

Jacob conferia a cada minuto, nos mantendo numa linha reta com uma das linhas que

radiavam no cruzamento. Ele parecia saber o que estava fazendo. Eu ia cumprimentá-lo,

mas me segurei. Sem dúvida ele ia querer adicionar mais alguns anos á sua já inflada.

Minha mente vagava enquanto eu andava, e eu fiquei curiosa.

Eu não tinha esquecido a conversa que tínhamos tido nos penhascos -

eu estive esperando que ele falasse nisso de novo, mas não parecia que isso ia acontecer.

"Ei... Jake?", eu perguntei hesitante.

"Sim?"

"Como estão as coisas... com Embry? Ele já voltou ao normal?"

Jacob ficou em silêncio por um instante, ainda seguindo em frente com longos passos.

Quando ele já estava uns dez passos á frente, ele parou pra esperar por mim.

"Não. Ele não está de volta ao normal". Jacob disse quando eu me aproximei dele, a

boca dele esta com os cantos inclinados pra baixo.

Ele não começou a andar de novo.

Eu imediatamente me arrependí por ter tocado no assunto.

"Ele ainda está com Sam".

"É".

Ele colocou o braço ao redor do meu ombro, e parecia tão preocupado que eu não tirei o

braço de brincadeira, como teria feito em outra situação.

"Eles ainda estão te olhando engraçado?", eu meio suspirei.

Jacob olhou para as árvores. "Ás vezes".

"E Billy?"

"Ajudando tanto quanto sempre", ele disse com uma voz azeda, raivosa, que me

perturbou.

"Nosso sofá está sempre vago", eu oferecí.

Ele sorriu, quebrando a neblina incomum. "Mas pense em que lado Charlie vai ficar,

quando Billy ligar para a polícia pra denunciar o meu sequestro".

Eu sorrí também, feliz por Jacob ter voltado ao normal.

Nós paramos quando Jacob disse que havíamos andado seis milhas, andando para o

oeste por um curto tempo, então nós seguimos por outro lado do seu cruzamento.

Tudo parecia ser exatamente igual, e eu comecei a sentir que o meu pedido havia sido

muito bobo. Eu comecei a admitir isso quando começou a escurecer, e o dia pouco

ensolarado começou a se transformar numa noite pouco estrelada, mas Jacob estava

mais confiante.

"Contanto que você tenha certeza de que estamos indo para o lugar certo...", ele olhou

pra baixo pra mim.

"Sim, eu tenho certeza".

"Então nós vamos encontrar", ele prometeu, agarrando minha mão e me puxando entre

as grossas samambaias. Do outro lado estava a caminhonete. Ele fez um gesto na

direção dela. "Confie em mim".

"Você é bom", eu admití. "Mas da próxima vez nós vamos trazer lanternas".

"A partir de agora nós vamos deixar as caminhadas para os Domingos. Eu não sabia que

você era tão lenta".

Eu puxei minha mão de volta e me empurrei para o lado do motorista enquanto ele

gargalhava com a minha reação.

"Então você está disposta a dar outra tentativa amanha" ele perguntou escorregando

para o banco do passageiro.

"Claro. A não ser que você queira vir sozinho pra que eu não te atrapalhe com a minha

lentidão".

"Eu vou sobreviver", ele me assegurou. "Se nós vamos caminhar de novo, é melhor

você vir com outros sapatos. Eu aposto que você está sentindo essas botas agora".

"Um pouco", eu confessei. Eu sentia que tinha mais dedos do que espaço pra comportálos.

"E espero que possamos ver o urso amanhã. Eu tô meio desapontado com isso".

É, eu também", eu concordei sarcasticamente

. "Talvez a gente tenha sorte amanhã e alguma coisa coma a gente".

"Ursos não querem comer gente. O nosso gosto não é tão bom". Ele riu pra mim na

cabine escura. "É claro que você

 

pode

ser uma exceção. Eu aposto que o seu gosto é

bom".

"Muito obrigada", eu disse, desviando o olhar. Ele não era a primeira pessoa a me dizer

isso".

9. Terceira Roda

O tempo estava passando muito mais rápido do que antes. Escola, trabalho e Jacob - não

necessariamente nessa ordem - criaram um padrão que eu seguia ser esforço. E Charlie

realizou seu desejo: eu não estava mais infeliz. É claro, eu não conseguia me enganar

completamente. Quando eu parava de agir, o que eu tentava não fazer com muita

frequencia, eu não conseguia ignorar minhas razões pra me comportar daquele jeito.

Eu era como uma lua perdida - meu planeta havia sido destruído em algum desastre

cataclístico, um cenário de filme desolador - que continuava, ainda assim, girando ao

redor da órbita apertada do buraco vazio deixado pra trás, ignorando as leis da

gravidade.

Eu estava melhorando com a minha moto, isso significava menos curativos pra

preocupar Charlie. Mas isso também significou que a voz na minha cabeça começou a

desaparecer, até que eu não a ouvia mais. Silenciosamente, eu entrei em pânico. Eu me

joguei na procura da clareira com uma intensidade levemente frenética. Eu torturei meu

cérebro á procura de outras atividades producentes de adrenalina.

Eu não tinha noção dos dias que se passavam - não havia motivo, já que eu tentava

viver no presente o máximo de tempo possível, sem que o passado desaparecesse, sem

que o futuro impedisse.

Então eu me surpreendí com a data quando Jacob a comentou num dos nossos dias de

dever de casa. Ele já estava me esperando quando eu parei na frente da casa dele.

"Feliz dia dos namorados", Jacob disse, sorrindo, mas baixando a cabeça enquanto me

cumprimentava.

Ele segurou uma caixa pequena, cor de rosa, segurando ela na palma.

Ela tinha formato de coração.

"Bem, eu me sinto uma idiota", eu murmurei. "Hoje é dia dos namorados?"

Jacob balançou a cabeça com falsa tristeza. "Você viaja as vezes. Sim, é catorze de

fevereiro. Então você vai ser minha namorada? Já que você não me comprou uma caixa

de cinquenta centavos de doces pra mim, isso é o mínimo que você pode fazer".

Eu comecei a me sentir desconfortável.

As palavras eram de brincadeira, mas só na superfície.

"O que exatamente isso envolve?"

"O de sempre - escrava pra toda a vida, esse tipo de coisa"

"Oh, bem, se isso é tudo...", eu peguei os doces. Mas eu estava pensando num jeito de

limpar as coisas. De novo. Elas pareciam ficar turvas com frequencia com Jacob.

"Então, o que vomos fazer amanhã? Caminhada ou pronto socorro?"

"Caminhada", eu decidi. "Você não é o único que pode ser obcessivo. Eu estou

começando a pensar que imaginei aquele lugar". Eu fiz uma carranca pra o espaço.

"Não vamos encontrar", ele me assegurou. "Motos na Sexta?", ele ofereceu.

Eu ví a chance e a agarrei antes de ter tempo pra pensar.

"Eu vou pro cinema na Sexta. Faz uma eternidade que eu estou prometendo pra os meus

amigos da escola que nós vamos sair". Mike ia ficar feliz.

Mas o rosto de Jacob caiu. Eu captei a expressão dos olhos dele antes que ele os

baixasse para olhar pro chão.

"Você vai vir também, né?", eu acrescentei rapidamente. "Eu será que vai ser chato

demais ficar com um monte de veteranos enfadonhos?" Minha chance de colocar uma

distância entre nós já era.

Eu não podia aguentar machucar Jacob; nós parecíamos estar conectados de uma forma

estranha, e a dor dele dava pontadas na minha própria. Além do mais, ter a companhia

de Jacob na minha provação - eu

 

tinha

prometido á Mike, mas realmente não me sentia

muito entusiasmada a cumprir - era tentador demais.

"Você quer que eu vá, com os seus amigos lá?"

"Sim" eu admití honestamente, sabendo que enquanto eu dizia aquelas palavras eu

estaria atirando no meu próprio pé. "Eu vou me divertir muito mais com você lá. Traga

Quil, nós vamos fazer uma festa".

"Quil vai enlouquecer. Garotas veteranas". Ele gargalhou e fechou os olhos. Eu não

mencionei Embry, e ele também não. Eu rí também.

"Eu vou tentar fazer uma boa seleção pra ele".

Eu falei sobre o assunto com Mike na aula de Inglês.

"Ei, Mike", eu disse quando a aula acabou. "Você está livre na Sexta á noite?"

Ele olhou pra cima, seus olhos azuis instantâneamente esperançosos.

"É, eu estou. Você quer sair?"

Eu dei minha resposta tomando cuidado com as palavras. "Eu estava pensando em

formar um

 

grupo" - eu enfatizei a palavra - "pra irmos ver Crosshairs

", dessa vez eu fiz

meu dever de casa - eu até lí as sinipses de alguns filmes pra ter certeza de que não seria

pega fora de guarda. Esse filme era pra ser um banho de sangue do início até o fim. Eu

não estava recuperada o suficiente pra encarar um romance. "Parece divertido?"

"Claro", ele disse, visivelmente menos ansioso.

"Legal".

Depois de um segundo, ele voltou ao seu nível normal de excitação.

"Que tal chamármos Angela e Ben? Ou Eric e Katie?"

Ele estava determinado a transformar isso numa espécie de duplo encontro,

aparentemente.

"Que tal todos?", eu sugerí. "E Jéssica, também, é claro. E Tyler e Conner, e talvez

Lauren", eu disse com malevolência. Eu

 

tinha

prometido variedade pra Quil.

"Ok", Mike murmurou, derrotado.

"E", eu continuei. "Eu tenho dois amigos de La Push que eu estou convidando. Então

parece que vamos precisar do seu carro se todos vierem".

Os olhos de Mike se estreitaram de suspeita.

"É com esses amigos que você passa todo o seu tempo estudando agora?"

"É, eles mesmos", eu respondí alegremente. "Apesar de você poder dizer que eu estou

mais tutorando - eles são do segundo ano".

"Oh", Mike disse surpreso. Depois de um segundo pensando, ele sorriu.

No fim, porém, o carro de Mike não foi necessário.

Jéssica e Lauren disseram que estavam ocupadas assim que Mike disse que eu estava

envolvida no plano. Eric e Katie já tinham planos - era o aniversário de três semanas

deles, ou alguma coisa assim.

Lauren falou com Tyler e Conner antes de Mike, então aqueles dois também estavam

ocupados. Até Quil estava de fora - ele estava de castigo por ter brigado na escola. No

fim, só Angela e Ben, e Jacob, é claro, foram capazes de ir.

O número diminuido não conseguiu apagar a animação de Mike, porém.

Isso era tudo sobre o que ele falava na sexta.

"Você tem certeza que não vai querer assistir

 

Tomorrow and Forever?

", ele perguntou

no almoço, falando da nova comédia romântica que estava no auge. "Ele teve uma

crítica melhor".

"Eu quero ver

 

Crosshairs

", eu insistí. "Eu estou a fim de ação. Podem trazer o sangue e

os intestínos!"

"Ok", Mike se virou, mas não antes que eu pudesse ver a expressão dele de Talvez-elaseja-

louca-mesmo.

Quando eu cheguei em casa da escola, um carro muito familiar estava estacionado na

porta da frente da minha casa. Jacob estava encostado no capô, com um sorriso enorme

iluminando seu rosto.

"Sem essa!" Eu gritei enquanto pulava pra fora da caminhonete. "Você acabou! Eu não

acredito! Você terminou o Rabbit!"

Ele brilhou. "Na noite passada. Essa é a viagem de inauguração".

"Incrível". Eu levantei a mão pra ele bater.

Ele bateu sua mão na minha, mas a deixou lá, cruzando seus dedos com os meus. "Então

eu vou poder dirigir hoje?"

"Definitivamente", eu disse, e depois suspirei.

"Qual é o problema?"

"Eu desisto - eu não consigo superar isso. Então você vence. Você é o mais velho".

Ele levantou os ombros, sem se surpreender com a minha desistência.

"É claro que eu sou".

O Suburban de Mike virou na esquina. Eu tirei minha mão da de Jacob, e ele fez uma

cara que não era pra eu ver.

"Eu me lembro desse cara", ele disse baxinho enquanto Mike estacionava do outro lado

rua. "O que pensava que você era namorada dele. Ele ainda está confuso?"

Eu erguí uma sobrancelha. "Algumas pessoas são defíceis de desencorajar".

"Ainda assim", Jacob disse pensativo. "As vezes a persistência trás lucros".

"No entanto, ás vezes é só muito irritante".

Mike saiu do seu carro e atravessou a rua.

"Oi, Bella", ele me cumprimentou, e então seus olhos se tornaram cautelosos quando ele

olhou pra Jacob. Eu olhei brevemente pra Jacob também, tentando ser objetiva.

Ele realmente não parecia nem um pouco estar no segundo ano.

Ele era tão grande - a cabeça de Mike mal alcançava os ombros dele; eu nem queria

pensar em como eu ficava ao lado dele - e então até o rosto dele parecia mais

envelhecido do que estava há um mês atrás.

"Oi, Mike! Você se lembra de Jacob Black?"

"Na verdade não", Mike estendeu sua mão.

"Velho amigo da família", ele se apresentou, com um aperto de mãos.

Eles apertaram as mãos com mais força que o necessário. Quando o aperto acabou,

Mike flexionou os dedos.

Eu ouví o telefone tocando na cozinha.

"É melhor eu ir atender - pode ser Charlie", eu disse pra eles, e corrí pra dentro.

Era Ben. Angela estava doente com um problema no estômago, ele não estava a fim de

ir sem ela. Ele se desculpou por furar com a gente.

Eu caminhei de volta lentamente para os garotos esperando. Eu realmente esperava que

Angela melhorasse logo, mas eu tinha que admitir que estava egoistamente aborrecida

por isso. Só nós três, Mike e Jacob e eu, juntos durante a noite - isso ia ser brilhante, eu

pensei com um sorriso de sarcasmo.

Nçao parecia que Jacob e Mike havia feito grandes progressos na amizade durante a

minha ausência. Eles estavam alguns metros distântes, olhando pra longe um do outro

enquanto esperavam; a expressão de Mike estava solene, mas a de Jacob estava tão

alegre como sempre.

"Ang está doente", eu disse a eles mal humorada. "Ela e Ben não estão vindo".

"Eu acho que essa doença está se espalhando. Austin e Conner também estão de cama

hoje. Talvez a gente devesse fazer isso outra hora", Mike sugeriu.

Antes que eu pudesse concordar, Jacob falou.

"Eu ainda estou a fim. Mas se você preferir ficar, Mike -"

"Não, eu vou", Mike interrompeu. "E só estava pensando em Angela e Ben. Vamos lá",

ele começou a se dirigir para o Suburban dele.

"Ei, você se importa se Jacob dirigir?", eu perguntei. "Eu disse que ele podia - ele

acabou de terminar seu carro. Ele o construiu inteiro, sozinho", eu alardiei como uma

mãe orgulhosa cujo filho é o primeiro da sala.

"Tá bom", Mike atirou.

"Ta bom então", Jacob disse, como se isso acertasse tudo. Ele parecia mais confortável

que todo mundo.

Mike se sentou no banco de trás do Rabbit com uma expressão de nojo.

Jacob estava brilhante como sempre, tagarelando sem parar até que eu me esquecí de

Mike amuado no banco de trás.

E então Mike mudou sua estratégia. Ele se inclinou pra frente, descansando o queixo no

encosto de ombros do meu banco; a bochecha dele quase tocava a minha. Eu me afastei,

ficando de costas para a janela.

"O som dessa coisa não funciona?" Mike perguntou com uma pontada de petulância,

interrompendo Jacob no meio de uma frase.

"Sim", Jacob respondeu. "Mas Bella não gosta de música".

Eu encarei Jacob, surpresa. Eu nunca tinha dito isso pra ele.

"Bella?", Mike perguntou, aborrecido.

"Ele está certo", eu respondí, ainda olhando para o perfil sereno de Jacob.

"Como é que você pode não gostar de música?", Mike quis saber.

Eu levantei os ombros. "Eu não sei. Só me irrita".

"Hmph", Mike se afastou.

Quando nós chegamos no cinema, Jacob me deu uma nota de dez dólares.

"O que é isso?", eu perguntei.

"Eu não sou velho o suficiente pra ver esse", ele me lembrou.

Eu rí alto. "Já era com as idades relativas. Billy vai me matar se eu te arrastar lá pra

dentro?"

"Não. Eu vou dizer que você estava tentando corromper minha inocência juvenil".

Eu rí silenciosamente, e Mike forçou o passo pra se aproximar de nós.

Eu quase desejei que Mike tivesse desistído de vir. Ele ainda estava solene- não era uma

grande contribuição para a festa. Mas eu também não queria acabar sozinha num

encontro com Jake. Isso não ia ajudar em nada.

O filme era exatamente o que eu esperava que fosse. Só nos créditos iniciais, quatro

pessoas explodiram e uma foi decapitada. A garota na minha frente tapou os olhos com

as mãos e escondeu o rosto no peito do namorado. Ele deu uns tapinhas no ombro dela,

e ocasionalmente estremecia também. Mike não parecia estar assistindo.

O rosto dele estava rígido enquanto ele olhava para a cortina franzida em cima da tela.

Eu me fiz confortável pra aguentar as duas horas, preferindo ver as cores e os

movimentos da tela do que ver as pessoas e os carros e as casas.

Mas então Jacob começou a rir silenciosamente.

"Que foi?", eu perguntei.

"Oh, fala sério!", ele sussurrou de volta. "O sangue daquele cara voou metros. Quão

falso você pode ser?"

Ele gargalhou de novo, enquanto um mastro de uma bandeira espatifava outro homem

numa parede de concreto.

Depois disse, eu realmente comecei a assistir o show, rindo com ele enquanto o

desfecho se tornava mais e mais ridículo. Como era que eu ia lutar com as linhas

distorcidas do nosso relacionamento quando eu gostava tanto de ficar com ele?

Tanto Jacob quanto Mike usaram os meus descansos de braço dos dois lados. As mãos

dos dois descansava levemente, com a palma virada pra cima, numa posição que não

parecia muito natural. Como armadilhas de metal pra ursos, abertas e prontas. Jacob

tinha o hábito de agarrar a minha mão sempre que tinha a oportunidade, mas alí no

escuro do cinema, com Mike olhando, isso teria um significado diferente - e eu tinha

certeza que ele sabia disso. Eu não conseguia acreditar que Mike estava pensando a

mesma coisa que Jacob, mas ele colocou a mão exatamente do mesmo jeito.

Eu cruzei meus braços com força no peito e esperei que as mãos deles ficassem

dormentes.

Mike desistiu primeiro. Lá pro meio do filme, ele puxou seu braço, e se inclinou pra

frente pra colocar a cabeça nas mãos. No começo eu pensei que ele estava reagindo á

alguma coisa que tinha visto na tela, mas depois ele gemeu.

"Mike, você está bem?", eu sussurrei.

O casal na nossa frente se virou pra olhar pra ele quando ele gemeu de novo.

Eu podia ver um brilho de suor no rosto dele com a luz fraca da tela.

Mike gemeu de novo, e saiu correndo pela porta. Eu me levantei pra seguí-lo, e Jacob

me copiou imediatamente.

"Não, fique", eu sussurrei. "Eu vou ver se ele está bem".

Jacob veio comigo do mesmo jeito.

"Você não tem que vir. Faça os seus oito dólares valerem a pena".

Eu insistí enquanto caminhava pelo corredor.

"Tudo bem. Você pode ficar com eles, Bella. Esse filme não presta". A voz dele passou

de um sussurro pra o seu tom normal enquanto saíamos da sala.

Não havia sinal de Mike no corredor, e eu fiquei feliz que Jacob tivesse vindo comigo -

ele se enfiou no banheiro masculino pra procurá-lo por mim.

Jacob voltou depois de alguns segundos.

"Oh, ele está lá, com certeza", ele disse, revirando os olhos.

"Que molenga. Você devia ter chamado por alguém com um estômago mais forte.

Alguém que rí daquilo que faz homens mais fracos vomitarem".

"Eu vou manter os olhos abertos pra alguém assim".

Nós estávamos sozinhos no corredor. As duas salas estavam com os filmes na metade, e

ele estava deserto - quieto o suficiente pra nós ouvirmos a pipoca estourando no balcão

de venda no saguão.

Jacob foi se sentar no banco coberto de veludo, dando uns tapinhas no espaço vazio ao

lado dele.

"Parecia que ele ainda ia ficar lá dentro por algum tempo", ele disse, esticando as pernas

na frente dele enquanto se preparava pra esperar.

Eu me juntei a ele com um suspiro. Ele parecia estar pensando em cruzar mais algumas

linhas. Assim, assim que eu me sentei, ele se inclinou pra colocar o braço sobre os meus

ombros.

"Jake", eu protestei, saindo de perto. Ele tioru o braço sem parecer nem um pouco

aborrecido com a pequena rejeição. Ele avançou e pegou minha mão com firmeza,

passando o outro braço na minha cintura quando eu tentei me afastar de novo. De onde

foi que ele tirou essa confiança?

"Agora, só espere um momento, Bella", ele disse com uma voz calma. "Me diga uma

coisa".

Eu fiz uma careta. Eu não queria fazer isso. Não só agora, mas nunca. Não havia mais

nada nesse ponto da minha vida que fosse mais importante que Jacob Black. Mas ele

parecia determinado a arruinar tudo.

"O que?", eu perguntei acidamente.

"Você gosta de mim, certo?"

"Você sabe que eu gosto".

"Mas do que daquele palhaço botando as tripas pra fora lá dentro?"

Ele fez um gesto para a porta do banheiro.

"Sim", eu suspirei.

"Mais que os outros caras que você conhece?" Ele estava calmo, sereno - como se

minha resposta não importasse, ou como se ele já soubesse qual ela seria.

"Mais do que as garotas também", eu apontei.

"Mas isso é tudo", ele disse, e isso não era uma pergunta.

Era difícil responder, dizer a palavra. Será que ele ficaria magoado e me evitaria? Como

eu aguentaria isso?

"Sim", eu sussurrei.

Ele sorriu pra mim. "Está tudo bem, sabe. Contanto que você goste mais de mim.

 

E

você me ache bonito - mais ou menos. Eu estou preparado pra ser irritadoramente

persistente".

"Eu não vou mudar", eu disse, a apesar de tentar fazer minha voz parecer normal, eu

podia ouvir a tristeza nela.

O rosto dele estava pensativo, não estava mais zombeteiro. "Ainda é o outro, não é?"

Eu enrolei. Engraçado como ele parecia saber que não devia dizer o nome dele -

exatamente como no carro em relação á musica.

Ele havia entendido tanta coisa sem que eu precisasse dizer.

"Você não tem que falar sobre isso", ele disse.

Eu balancei a cabeça, agradecida.

"Não fique brava comigo por estar por perto, tá legal?", Jacob deu uns tapinhos nas

costas da minha mão. "Porque eu não vou desistir. Eu tenho bastante tempo".

Eu suspirei. "Você não devia perdê-lo", eu disse, apesar de querer que ele perdesse.

Especialmente se ele estava disposto a me aceitar do jeito que eu era - bem danificada,

desse jeito.

"É isso que eu quero fazer, enquanto você ainda gostar de ficar comigo".

"Eu não consigo imaginar como eu poderia

 

não

gostar de estar com você", eu disse

honestamente.

Jacob brilhou. "Eu posso viver com isso".

"Só não espere mais", eu avisei, tentando puxar minha mão. Ele a segurou

obstinadamente.

"Isso não te incomoda de verdade, incomoda?", ele quis saber, apertando os meus

dedos.

"Não", eu suspirei. Realmente, era bom. A mão dele era muito mais quente do que a

minha; eu estava sempre com frio demais ultimamente.

"E você não se importa com o que

 

ele

pensa", Jacob apontou o polegar para a porta do

banheiro.

"Eu acho que não".

"Então qual é o problema?"

"O problema", eu disse "é que isso , pra mim, significa uma coisa diferente do que

significa pra você".

"Bem", ele apertou sua mão na minha. "Isso é problema

 

meu

não é?"

"Tudo bem", eu rosnei "Contudo, não se esqueça disso".

"Eu não vou. Agora o pino da minha granada saiu, não foi?" Ele cutucou minhas

costelas.

Eu revirei os olhos. Se ele estava com vontade de fazer piada com isso, ele podia fazer.

Ele gargalhou silenciosamente por um minuto enquanto seus dedos rosados traçavam

desenhos no lado da minha mão.

"É uma cicatriz engraçada que você tem aqui" ele disse de repente, virando minha mão

para examiná-la. "Como isso aconteceu?"

O dedo indicador da mão livre dele seguia a linha prateada que mal era visível na minha

pele pálida.

Eu dei um olhar zangado. "Você realmente espera que eu me lembre de onde todas as

minhas cicatrizes vieram?"

Eu esperei por um momento para que a memória o abrisse - o grande buraco vazio. Mas,

como acontecia frequentemente, a presença de Jacob me manteve inteira.

"É fria" ele murmurou, pressionando levemente o lugar onde James havia me cortado

com seus dentes.

E então Mike cambaleou do banheiro, seu rosto estava cinzento e coberto de suor. Ele

parecia horrível.

"Oh, Mike", eu asfixiei.

"Você se importa se formos mais cedo?", ele sussurrou.

"Não, é claro que não". Eu livrei minha mão e fui ajudar Mike a caminhar. Ele parecia

prestes a cair.

"O filme foi demais pra você?" Jacob perguntou sem se importar.

O olhar de Mike foi malevolente. "Na verdade eu nem o ví", ele murmurou. "Eu já

estava enjoado antes das luzes apagarem?"

"Porque você não disse nada?" eu repreendí enquanto nós íamos para a saída.

"Eu estava esperando que passasse", ele disse.

"Só um segundo", Jacob disse enquanto nós nos aproximamos da porta. Ele caminhou

rapidamente para o balcão de vendas.

"Será que eu posso pegar um balde de pipocas vazio?", ele pediu para a vendedora. Ela

olhou pra Mike uma vez, e então jogou um balde pra Jacob.

"Leve ele pra fora, por favor", ela implorou. Obviamente era ela que ia limpar o chão.

Eu guiei Mike para o ar frio, molhado. Ele inalou profundamente. Jacob estava bem

atrás de nós. Ele me ajudou a colocar Mike no banco de trás do carro, e o passou o balde

com uma cara séria.

"Por favor", foi tudo o que Jacob disse.

Ele abriu as janelas, deixando o ar gelado da noite entrar no carro, esperando que isso

ajudasse Mike. Eu enrolei meus braços nas minhas pernas pra me manter aquecida.

"Com frio de novo?", Jacob perguntou colocando o braço ao redor do meu ombro antes

que eu pudesse responder.

"Você não?"

Ele balançou a cabeça.

"Você deve estar com febre ou alguma coisa assim", eu rosnei. Estava congelando. Eu

toquei meus dedos na testa dele e a cabeça dele

 

estava

quente.

"Nossa, Jake - você está fervendo!"

"Eu me sinto bem". Ele levantou os ombros. "Absolutamente normal".

Eu fiz uma careta e toquei a testa dele de novo. A pele dele queimou embaixo dos meus

dedos.

"Suas mãos são como gelo", ele reclamou.

"Talvez seja eu", eu admití.

Mike gemeu no banco de trás, e vomitou no balde. Eu fiz uma careta, esperando que o

meu

 

estômago conseguisse aguentar o som e o cheiro. Jacob olhou ansiosamente por

cima do ombro pra ter certeza de que o seu carro estava intacto.

A estrada pareceu mais longa no caminho de volta.

Jacob estava quieto, pensativo. Ele deixou seu braço ao meu redor, e ele era tão quente

que o ar frio parecia agradável.

Eu olhei pelo parabrisa, consumida de culpa.

Era muito errado encorajar Jacob. Puro egoísmo. Não importava que eu tivesse tentado

me livrar da responsabilidade. Se ele achava que isso podia ser alguma coisa além de

amizade, então eu não tinha sido clara o suficiente.

Como era que eu ia explicar de uma forma que ele entendesse? Eu era uma concha

vazia.

Como uma casa abandonada - condenada - por meses eu estive completamente

inabitável. Agora eu estava um pouco melhorada. A sala da frente havia sido um pouco

concertada. Mas isso era tudo - só um pequeno pedaço.

Ele merecia mais do que isso - mais que um pedaço, mal concertado.

Nenhum investimento da parte dele podia me colocar em bom estado mais uma vez.

Mesmo assim, eu sabia que não poderia mandá-lo embora sem arrependimentos. Eu

precisava muito dele, e eu era egoísta. Talvez eu pudesse deixar o meu lado mais claro,

assim ele saberia que devia me deixar. O pensamento me fez tremer, e Jacob apertou o

braço ao meu redor.

Eu dirigí Mike com o carro dele, enquanto Jacob nos seguia atrás pra me levar pra casa.

Jacob estava quieto no caminho de volta pra minha casa, e eu me perguntei se ele estava

pensando nas mesmas coisas que eu estava. Talvez ele estivesse mudando de idéia.

"Eu me convidaria pra entrar, já que voltamos cedo", ele disse enquanto estacionava ao

lado da minha caminhonete. "Mas eu acho que você pode estar certa sobre a febre. Eu

estou começando a me sentir um pouco... estranho".

"Ah não, não você também! Você quer que eu te leve até em casa?"

"Não", ele balançou a cabeça, as sobrancelhas se juntando. "Eu ainda não estou me

sentindo mal. Só... errado. Se eu precisar, eu paro".

"Você me liga assim que chegar?", eu perguntei ansiosamente.

"Claro, claro", ele fez uma careta, olhando em frente para a escuridão e mordendo o

lábio.

Eu abri minha porta pra sair, mas ele segurou meu punho levemente e me segurou lá. Eu

reparei de novo como a pele quente dele ficava na minha.

"O que é, Jake?", eu perguntei.

"Há algo que eu quero te dizer, Bella... mas eu acho que vai parecer meio meloso".

Eu suspirei. Isso ia ser que nem no cinema. "Vá em frente".

"É só que, eu sei que você provavelmente está muito infeliz. Eu, talvez isso não ajude

em nada, mas eu quero que você saiba que eu vou estar sempre aqui. Eu nunca vou te

decepcionar - eu prometo que você pode sempre contar comigo. Uau, isso parece

meloso. Mas você sabe disso, não sabe? Que eu nunca, jamais machucaria você?"

"É, Jake, eu sei disso. E eu já estou contando com você, provavelmente mais do que

você

 

sabe".

Um sorriso se abriu no rosto dele do jeito como um nascer do sol nasce entre as nuvens,

e eu queria cortar minha língua. Nenhuma das palavras que eu disse era mentira, mas eu

devia ter mentido. A verdade era errada, ia machucar ele.

 

Eu

ia decepcioná-lo.

Um olhar estranho apareceu no rosto dele. "Eu realmente acho melhor eu ir pra casa

agora", ele disse.

Eu saí rapidamente.

"Me liga!" eu gritei enquanto ele ia embora.

Eu olhei ele ir, e ele pelo menos parecia ter o controle do carro. Eu olhei para a rua

vazia depois que ele já tinha ido embora, me sentindo um pouco doente também, mas

não era nada físico.

Como eu queria que Jacob tivesse nascido meu irmão, meu irmão de carne e sangue, pra

que assim eu tivesse direitos sobre ele sem que tivesse que tivesse que me sentir

culpada. Os céus sabem que eu nunca quis usar Jacob, mas eu não podia deixar de

interpretar a culpa que eu sentia agora como um sinal de que eu havia feito isso.

Mais ainda, eu não queria amá-lo. Uma coisa eu realmente sabia - sabia com a pontada

do meu estômago, no centro dos meus ossos, sabia isso do topo da minha cabeça até as

solas dos pés, sabia isso no meu peito vazio - o amor por uma pessoa pode ter o poder

de te destruir.

Eu estava destruída e sem reparo.

Mas eu precisava de Jacob agora, precisava dele como uma droga. Eu o havia usado

como bengala por tempo demais, e eu estava mais apegada do que havia planejado fazer

com uma pessoa de novo. Agora eu não podia suportar que ele se ferisse, e eu não podia

fazer nada pra poupá-lo, também.

Ele pensava que tempo e paciencia iam me mudar, e, apesar de saber que ele estava

completamente errado, eu também havia o deixado tentar.

Ele era meu melhor amigo. Eu sempre ia amá-lo, e isso nunca, jamais seria suficiente.

Eu fui lá pra dentro me sentar perto do telefone e roer as unhas.

"O filme já acabou?" Charlie perguntou surpreso quando me viu entrar. Ele estava no

chão, bem perto da TV. Provavelmente estava esperando um jogo.

"Mike ficou doente", eu expliquei. "O mesmo problema no estômago".

"Você está bem?"

"Eu me sinto bem agora", eu disse duvidosamente. Claramente, eu estive exposta.

Eu me inclinei no balcão da cozinha, minha mão a centímetros do telefone, e tentei

esperar pacientemente. Eu pensei no jeito estranho do rosto de Jacob antes de ele ter ido

embora, e meus dedos começaram a batucar na balcão da cozinha. Eu devia ter insistido

pra levá-lo pra casa.

Eu olhei para o relógio enquanto os minutos se passagem rapidamente. Dez. Quinze.

Mesmo quando era eu quem estava dirigindo, só levavam quinze minutos, e Jacob

dirigia mais rápido que eu. Dezoito minutos. Eu peguei o telefone e disquei.

Tocou e tocou. Talvez Billy tivesse dormido. Talvez eu tivesse ligado errado. Eu tentei

de novo.

No oitavo toque, bem quando eu estava prestes a desligar, Billy atendeu.

"Alo?", ele perguntou. A voz dele estava cautelosa, como se ele estivesse esperando

notícias ruins.

"Billy, sou eu, Bella - Jacob já chegou em casa? Ele saiu daqui a mais ou menos uns

vinte minutos".

"Ele está aqui", Billy disse sem tom.

"Era pra ele me ligar", eu estava um pouco irritada. "Ele estava ficando doente quando

foi embora, e eu fiquei preocupada".

"Ele estava... doente demais pra ligar. Ele não está se sentindo muito bem agora". Billy

parecia distante. Eu me dei conta de que ele podia querer ir ficar com Jacob.

"Me avise se eu puder ajudar em alguma coisa", eu ofereci, "Eu posso ir até aí". Eu

pensei em Billy preso em sua cadeira, e Jake tendo que se virar sozinho...

"Não, não", Billy disse rapidamente. "Nós estamos bem. Fique em sua casa".

O jeito que ele disse foi quase rude.

"Tudo bem", eu concordei

"Tchau, Bella".

A linha caiu.

"Tchau", eu murmurei.

Bem, pelo menos ele chegou em casa. Estranhamente, eu não me sentia menos

preocupada. Eu subí as escadas, temendo. Talvez eu fosse até lá amanhã antes do

trabalho pra ver como ele estava. Eu podia levar uma sopa - nós deviamos ter uma lata

de sopa em algum lugar.

Eu me dei conta de que todos os meus planos foram cancelados quando eu me acordei

mais cedo - meu relógio dizia quatro e meia - e cambaleei até o banheiro. Charlie me

achou lá meia hora depois, deitada no chão, com minha bochecha encostada na beira

fria da banheira.

Ele olhou pra mim por um longo momento.

"Doente do estômago", ele disse finalmente.

"Sim", eu gemí.

"Você precisa de alguma coisa?" ele perguntou.

"Ligue pra o Newton's pra mim, por favor", eu instruí com a voz rouca. "Diga pra eles

que eu tenho o que Mike tem, e que eu não posso ir hoje. Diga a eles que eu lamento".

"Claro, sem problemas", Charlie me assegurou.

Eu passei o resto do dia no chão do banheiro, dormindo por algumas horas com a

cabeça em cima de uma toalha. Charlie disse que ele tinha que ir trabalhar, mas eu

suspeitei que ele só queria poder ter acesso a um banheiro. Ele deixou um copo de água

ao meu lado no chão pra eu me manter hidratada.

Eu só acordei quando ele voltou pra casa. Eu podia ver que estava escuro no meu quarto

- depois do cair da noite. Ele subiu as escadas pra vir me ver.

"Ainda viva?"

"Mais ou menos", eu disse.

"Você quer alguma coisa?"

"Não, obrigada".

Ele hesitou, claramente sem saber o que fazer. "Tudo bem, então", ele disse e então

voltou para a cozinha.

Eu ouví o telefone tocar alguns minutos depois. Charlie falou com uma voz baixa por

alguns instantes e depois desligou.

"Mike se sente melhor", ele me informou.

Bem, isso era encorajador. Ele só tinha ficado doente oito horas antes de mim. Mais oito

horas.

o pensamento fez meu estômago revirar, e eu me levantei pra me inclinar na privada.

Eu peguei no sono na toalha de novo, mas quando eu me acordei eu estava na minha

cama e já estava claro no lado de fora da minha janela; Charlie deve ter me carregado

pro meu quarto - ele também havia colocado um copo de água na minha mesinha de

cabaceira pra mim. Eu me sentia ressecada. Eu o bebí, apesar de ele estar com um gosto

engraçado por ter permanecido intocado a noite inteira.

Eu me levantei lentamente, tentando não desencadear a náusea de novo. Eu estava fraca,

e minha boca estava com um gosto horrível, mas o meu estômago estava bem. Eu olhei

para o meu relógio.

As vinte e quatro horas haviam passado.

Eu não forcei, e não comí nada além de biscoitos salgados no café da manhã. Charlie

pareceu aliviado por me ver recuperada.

Assim que eu tive a certeza de que não precisaria passar o dia inteiro no chão do

banheiro de novo, eu liguei pra Jacob.

Foi Jacob que atendeu, mas quando eu ouví a saudação dele, eu sabia que ele ainda não

estava bem.

"Alo?", a voz dele estava quebrada, rachada.

"Oh, Jake", eu disse simpatizada. "Você parece horrível".

"Eu me sinto horrível", ele sussurrou.

"Eu lamento por ter feito você sair comigo. Isso é péssimo".

"Eu estou feliz por ter ido", a voz dele ainda era só um sussurro.

"Não se culpe. Isso não é culpa sua".

"Você vai melhorar logo", eu prometí. "Eu já estava bem quando acordei essa manhã".

"Você estava doente?", ele perguntou abobalhado.

"Sim, eu peguei também. Mas agora eu já estou bem".

"Isso é bom", a voz dele estava morta.

"Então você provavelmente vai ficar melhor em algumas horas", eu encorajei.

Eu mal pude ouvir a resposta dele. "Eu não acho que estou com a mesma coisa que você

teve".

"Você não está com a doença no estômago?" eu perguntei, confusa.

"Não, é outra coisa".

"O que há de errado com você?"

"Tudo", ele sussurrou. "Todas as partes de mim doem".

A dor na voz dele era quase tocável.

"O que eu posso fazer, Jake? O que eu posso levar pra você?"

"Nada. Você não pode vir aqui". Ele foi abrupto. Isso me fez lembrar de Billy na noite

passada.

"Eu já fui exposta a o que quer que você tenha", eu apontei.

Ele me ignorou. "Eu te ligo quando puder. Eu te aviso quando você puder vir aqui".

"Jacob-"

"Eu tenho que ir", ele disse com uma urgencia repentina.

"Me ligue quando estiver se sentindo melhor".

"Certo", ele concordou, e a voz dele tinha uma pontada estranha, ácida.

Ele ficou em silêncio por um minuto. Eu estava esperando que ele disesse tchau, mas

ele estava esperando também.

"Eu te vejo depois", eu finalmente disse.

"Espere que eu ligue", ele disse de novo.

"Ok... Tchau, Jacob".

"Bella", ele sussurrou meu nome, e então desligou o telefone.

10. A Clareira

Jacob não ligou.

Da primeira vez que eu liguei, Billy atendeu e disse que Jacob ainda estava na cama. Eu

fiquei curiosa, checando pra ter certeza de que Billy havia levado ele ao médico. Billy

disse que tinha, mas, por alguma razão eu não comprei isso, eu não acreditei nele. Eu

liguei de novo, várias vezes por dia, pelos dois dias seguintes, mas nem tinha ninguém

lá.

No sábado, eu decidi ir visitá-lo, que se danasse o convite. Mas a pequena casa

vermelha estava vazia. Isso me assustou - será que Jacob estava tão doente que teve que

ser internado no hospital? Eu parei no hospital no caminho de volta pra casa, mas a

enfermeira na mesa da frente me disse que nenhum Jacob ou Billy esteve lá.

Eu fiz Charlie ligar pra Harry Clearwater assim que ele chegou em casa do trabalho. Eu

esperei, ansiosa, enquanto Charlie tagarelava com o seu velho amigo; a conversa

pareceu durar uma eternidade sem que Jacob fosse mencionado. Parecia que Harry

havia estado no hospital... foi fazer algum tipo de teste no coração. A testa de Charlie

ficou toda enrugada, mas Harry fez piada com ele, mudando de assunto, até que Charlie

estava sorrindo de novo. Só aí Charlie perguntou sobre Jacob, e agora o lado dele da

conversa não me dava muito a entender, só um monte de Hmmms e Ééééé. Eu batuquei

meus dedos no balcão ao lado dele até que ele colocou a mão dele em cima da minha

pra me fazer parar.

Finalmente, Charlie desligou o telefone e se virou pra mim.

"Harry disse que houveram problemas com as linhas telefônicas, e que foi por isso que

você não conseguiu falar com eles. Billy levou Jacob para o médico de lá, e parece que

ele está com Mononucleose. Ele está muito cansado, e Billy está proibindo as visitas",

ele informou.

"Nada de visitas?", eu perguntei sem acreditar.

Charlie ergueu uma sobrancelha. "Agora não comece a ser incômoda, Bells. Billy sabe

o que é melhor pra Jake. Ele vai estar de pé em breve. Seja paciente".

Eu não quis forçar a barra. Charlie estava muito preocupado com Harry. Esse

claramente era um problema mais sério - não era certo incomodá-lo com os meus

probleminhas. Ao invés disso, eu fui lá pra cima e liguei o meu computador. Eu

encontrei um site médico on line e digitei "mononucleose" na caixinha de buscas.

A única coisa que eu sabia sobre Mononucleose era que você podia pegar beijando, que

claramente não era o caso de Jake. Eu li os sintomas rapidamente - a febre ele

definitivamente tinha, mas e quanto ao resto?

Nenhum horrível inchaço na garganta, sem exaustão, sem dores de cabeça, pelo menos

não até antes de ele chegar em casa depois do cinema; ele disse que se sentia

"absolutamente normal". Será que isso tudo apareceu tão rápido? O artigo fazia parecer

que os inchaços apareciam primeiro.

Eu olhei para a tela do computador e me perguntei porque, exatamente, eu estava

fazendo isso. Porque eu me sentia tão... tão suspeita, como se eu não acreditasse na

história de Billy? Porque Billy iria mentir pra Harry?

Eu estava sendo boba, provavelmente. Eu só estava preocupada, e, pra ser honesta, eu

estava com medo por não estar sendo permitida de visitar Jacob - isso me deixou

nervosa.

Eu deslizei pelo resto do artigo, procurando por mais informações. Eu parei quando

cheguei na parte que dizia que a mono podia durar mais de um mês.

Um mês? Minha boca se abriu.

Billy não podia proibir as visitas por tanto tempo. É claro que não. Jake ficaria louco se

ficasse numa cama esse tempo todo sem falar com ninguém.

Do que é que Billy estava com medo, afinal? O artigo dizia que a pessoa como Mono

devia evitar atividades físicas, mas não dizia nada sobre visitas. A doença não era tão

contagiosa.

Eu daria a Billy uma semana, eu decidí, antes de forçar a barra. Uma semana era uma

generosidade.

Uma semana era muito tempo. Na quarta, eu já não tinha certeza se sobreviveria até o

sábado.

Quando eu decidi que deixaria Billy e Jacob a sós por uma semana, eu não acreditava

realmente que Jacob fosse seguir as regras de Billy. Todos os dias quando eu voltava

pra casa da escola, eu corria pra o telefone pra checar as mensagens. Nunca havia

nenhuma.

Eu traí três vezes tentando ligar pra ele, mas as linhas telefônicas ainda não estavam

funcionando.

Eu ficava em casa por tempo demais, e sozinha demais. Sem Jacob, minha adrenalina e

minhas distrações, e tudo mais que eu havia reprimido começaram a me deixar

impaciente. Os sonhos ficaram piores de novo. Eu não conseguia mais ver o fim se

aproximando. O horrível vazio - metade do tempo na floresta, metade no tempo no mar

de grama onde a casa branca não existia mais. As vezes Sam Uley estava lá na floresta,

me olhando de novo. Eu não prestava atenção nele - não havia nenhum conforto na

presença dele; ela não fazia eu me sentir menos sozinha. Ela não me fez parar de gritar

até acordar, noite após noite.

O buraco no meu peito estava pior que nunca. Eu achava que estava começando a

controlá-lo, mas eu me pegava me curvando, dia após dia, agarrando os meus dois

lados, e sufocando por ar.

Eu não estava lidando bem com isso sozinha.

Eu fiquei aliviada além das medidas, quando me acordei de manhã - gritando, é claro - e

me lembrei de que era sábado. Hoje eu podia ligar pra Jacob.

E se as linhas telefônicas ainda não estivessem funcionando, então eu iria á La Push. De

um jeito ou de outro, hoje seria melhor do que a minha última semana de solidão.

Eu disquei, e então esperei sem elevar as minhas expectativas.

Eu fui pega fora de guarda quando Billy atendeu no segundo toque.

"Alô?"

"Oh, ei, o telefone está funcionando de novo! Oi, Billy. É Bella. Eu só estou ligando pra

saber como Jacob está. Ele já pode receber visitas? Eu estava pensando em passar por

aí-"

"Eu lamento, Bella", Billy interrompeu, e eu me perguntei se ele estava assistindo TV;

ele parecia distraído. "Ele não está aqui".

"Oh", isso me levou um segundo. "Ele stá se sentindo melhor, então?"

"É", Billy hesitou por um instante longo demais. "Acontece que no fim ele não estava

com Mononucleose. Era só algum outro vírus".

"Oh. Então... onde ele está?"

"Ele está dando a alguns amigos uma carona até Port Angeles - eu acho que eles vão

pegar uma sessão dupla ou alguma coisa assim. Ele vai ficar fora o dia inteiro".

"Bem, isso é um alívio. Eu estava tão preocupada. Eu me alegro que ele tenha se sentido

bem o suficiente pra sair". A minha voz parecia horrivelmente falsa enquanto eu

tagarelava.

Jacob estava melhor,mas não bem o suficiente pra me ligar. Ele havia saído com os

amigos. Eu estava sozinha em casa, sentindo mais falta dele a cada hora. Eu estava

sozinha, preocupada, enfadada... perfurada - e agora também estava desolada ao

descobrir que uma semana de distância não teve o mesmo efeito nele.

"Tem algo em particular que você queira?" Billy perguntou educadamente.

"Não, na verdade não".

"Bem, eu digo pra ele que você ligou", Billy prometeu. "Tchau, Bella".

Eu fiquei parada um momento com o telefone ainda na minha mão.

Jacob deve ter mudado de idéia, assim como eu temia. Ele ia seguir o meu conselho e ia

parar de perder tempo com uma pessoa que não podia retornar os seus sentimentos. Eu

senti o sangue fugindo do meu rosto.

"Há algo errado?" Charlie me perguntou enquanto descia as escadas.

"Não", eu menti desligando o telefone. "Billy disse que Jacob está se sentindo melhor.

Não era mono. Isso é bom".

"Ele está vindo aqui, ou você está indo pra lá?" Charlie perguntou ausentemente

enquanto começava a vasculhar na geladeira.

"Nenhum dos dois", eu admiti. "Ele saiu com uns amigos".

O tom da minha voz finalmente chamou a atenção de Charlie. Ele olhou pra mim com

olhos alarmados de repente, as mãos dele congelaram num pacote de queijo fatiado.

"Não é um pouco cedo demais pra almoçar?", eu perguntei tão levemente quanto pude,

tentando distraí-lo.

"Não, eu só vou empacotar alguma coisa pra levar para o rio..."

"Oh, vai pescar hoje?"

"Bem, Harry ligou... e não está chovendo" Ele estava criando uma pilha de comida no

balcão enquanto falava. De repente ele olhou pra cima de novo, como se tivesse

acabado de se dar conta de alguma coisa. "Diga, você quer que eu fique aqui com você,

já que Jake saiu?"

"Está tudo bem, pai", eu disse trabalhando pra soar diferente. "Os peixes são melhor

fisgados quando o tempo está bom".

Ele olhou pra mim, a indecisão estava clara no rosto dele. Eu sabia que ele estava se

preocupando, com medo de me deixar sozinha, no caso de eu ficar um "palerma" de

novo.

"Sério, pai. Eu acho que vou ligar pra Jéssica", eu lorotei rapidamente. Eu preferia ficar

sozinha do que com ele me vigiando o dia inteiro. "Nós temos um teste de Cálculo pra

estudar. Eu podia usar a ajuda dela". Essa parte era verdade. Mas eu teria que conseguir

me virar sozinha.

"Essa é uma boa idéia. Você tem passado tanto tempo com Jacob, seus outros amigos

devem estar pensando que você os esqueceu".

Eu sorri e balancei a cabeça como se me importasse com o que os meus outros amigos

pensavam.

Charlie começou a se virar, mas se virou de volta com uma expressão preocupada. "Ei,

você vai estudar aqui ou na casa de Jess, certo?"

"Claro, onde mais?"

"Bem, é só que eu quero que você tome o cuidado de ficar fora da floresta, como eu já

te disse antes".

Eu levei um minuto pra entender, de tão distraída que estava. "Mais problemas com o

urso?"

Charlie balançou a cabeça, fazendo uma careta. "Nós temos um mochileiro

desaparecido - os patrulheiros encontraram o acampamento dele essa manhã, mas não

havia sinal dele. Haviam algumas pegadas muito grandes de animal... é claro que eles

apareceram mais cedo, sentindo o cheiro da comida... De qualquer forma, eles estão

colocando armadilhas pra eles agora".

"Oh", eu disse vagamente. Eu não estava realmente ouvindo os avisos dele; eu estava

muito mais aborrecida com a situação com Jacob do que com a possibilidade de ser

comida por um urso.

Eu estava feliz que Charlie estava com pressa. Ele não esperou até que eu ligasse pra

Jéssica, assim eu não tive que cumprir essa promessa.

Eu passei pelas ações de pegar meus livros e colocá-los na mochila; isso provavelmente

foi demais, e se ele não estivesse com pressa de se mandar, isso poderia ter feito ele

suspeitar.

Eu estava tão ocupada parecendo ocupada que o meu dia ferozmente vazio não

realmente bateu em mim até que eu o vi indo embora. Eu só precisei olhar durante uns

dois minutos para o telefone silencioso da cozinha pra decidir que não ia passar o dia

em casa. Eu considerei minhas opções.

Eu não ia ligar pra Jéssica. Até onde eu podia dizer, Jéssica havia passado para o lado

negro.

Eu podia dirigir até La Push e pegar a minha moto - uma opção muito tentadora, se não

fosse por um pequeno problema: quem era que ia me levar para o pronto socorro se eu

precisasse ir pra lá depois?

Ou... Eu já estava com o nosso mapa e com o compasso na minha caminhonete. Eu

tinha certeza que havia entendido o processo o suficiente até agora pra não me perder.

Talvez eu pudesse eliminar duas linhas hoje, nos colocando á frente na nossa agenda pra

quando quer que Jacob resolvesse me honrar com a sua presença de novo. Eu me

recusei a pensar em quanto tempo isso poderia durar. Ou se não duraria pra sempre.

Eu senti uma leve pontada de culpa enquanto me dava conta de como Charlie se sentiria

em relação a isso, mas eu a ignorei. Eu simplesmente não podia ficar em casa hoje de

novo.

Alguns minutos depois eu estava na familiar estrada de poeira que não levava a nenhum

lugar em particular. Eu deixei as janelas abertas e dirigi o mais rápido que pude para a

saúde da minha caminhonete, tentando aproveitar o vento no meu rosto. Estava nublado,

mas quase seco - um dia muito bom, pra Forks.

Começar me levou mais tempo do que levaria pra Jacob. Depois que eu estacionei no

lugar de sempre, eu tive que passar uns bons quinze minutos estudando cuidadosamente

a pequena agulha do compasso e as marcas do mapa agora bastante usado. Quando eu

estava razoavelmente certa de que estava seguindo a linha certa na teia, eu me

embrenhei na mata.

A floresta estava cheia de vida hoje, todas as pequenas criaturas estavam aproveitando a

secura momentânea.

De alguma forma, porém, mesmo com os pássaros cantando e fazendo barulho, os

insetos zumbindo alto na minha cabeça, e até a ocasional corrida de um rato do mato

entre os arbustos, a floresta parecia mais assustadora hoje; me lembrava do meu

pesadelo mais recente. Eu sabia que era só porque eu estava sozinha, sentindo falta do

assobio livre de Jacob e do som de outro par de pés pisando no chão molhado.

A sensação de inquietude foi crescendo ficava mais forte quanto mais fundo eu me

enfiava na floresta. Respirar começou a ficar mais difícil - não por causa da exaustão,

mas sim porque eu estava tendo problemas com o estúpido buraco no meu peito de

novo. Eu apertei meus braços com força ao redor do tórax e tentei banir a dor dos meus

pensamentos. Eu quase dei a volta, mas eu odiava ter que jogar fora todo o esforço que

já havia feito.

O ritmo dos meus passos começou a entorpecer a minha mente e a minha dor. A minha

respiração ficava uniforme eventualmente, e eu estava feliz por não ter desistido. Eu

estava ficando melhor nesse negócio de caminhar pelas matas; eu podia notar que estava

mais rápida.

Eu não me dei conta de o quanto eu estava sendo eficiente. Eu achava que já havia

andado milhas e ainda nem havia começado a contá-las. E então, com um rapidez que

me desorientou, eu entrei por um arco que era feito com o tronco de duas árvores -

passando pelas samambaias que chegavam á altura do peito - passando para a clareira.

Era o mesmo lugar, instantaneamente eu tinha certeza. Eu nunca havia visto outra

clareira tão simétrica. Ela era perfeitamente redonda como se alguém tivesse

intencionalmente criado o círculo sem falhas, arrancando as árvores mas sem deixar

evidências dessa violência nas ondas de grama. Á leste, eu podia ouvir o rio

borbulhando silenciosamente.

O lugar não era nem um pouco tão fascinante sem a luz do sol, mas ainda era muito

bonito e sereno. Não era a época certa para as flores selvagens; o chão estava grosso

com a grama alta que balançava com a brisa leve como se fossem ondas num lago.

Era o mesmo lugar... mas não parecia que eu encontraria lá o que eu estava procurando.

A decepção foi quase tão instantânea quanto o reconhecimento.

Eu afundei onde estava, me ajoelhando lá na beira da clareira, começando a asfixiar.

De que adiantava seguir em frente? Não havia nada lá. Nada além de memórias que eu

queria ter trazido á tona quando eu quisesse, se um dia eu fosse capaz de lidar com a por

que elas trariam - a dor que me pegou agora, me deixou fria. Não havia nada de especial

nesse lugar sobre ele. Eu não tinha certeza absoluta do que esperava sentir aqui, mas a

clareira estava vazia de atmosfera, vazia de tudo, exatamente como todas as coisas.

Assim como os meus pesadelos. Minha cabeça rodopiou confusa.

Pelo menos eu tinha vindo sozinha. Eu senti uma onda de agradecimento quando me dei

conta disso. Se eu tivesse descoberto a clareira com Jacob... bem, não ia ter jeito de

disfarçar o abismo no qual eu estava enclausurada agora. Como era que eu ia explicar o

fato de estar me fazendo em pedacinhos, o jeito como eu me curvava numa bola pra

evitar que o buraco vazio me partisse em duas? Era muito melhor que eu não tivesse

uma platéia.

E eu também não teria que explicar pra ninguém porque estava com tanta pressa de ir

embora. Jacob teria presumido, depois de tanto trabalho pra encontrar esse lugar

estúpido, que eu ia querer passar mais alguns segundos lá. Mas eu já estava tentando

encontrar forças pra ficar de pé de novo, me forçando a sair daquela bola pra poder

escapar. Havia muita dor nesse lugar vazio pra eu suportar - eu ia me arrastando se

precisasse.

Que sorte que eu estava sozinha!

Sozinha. Eu repeti a palavra com grande satisfação enquanto me esforçava pra ficar de

pé apesar da dor. Precisamente nesse momento, uma figura saiu de dentro das árvores

ao norte, á uns trinta passos de distância.

Uma fascinante desordem de emoções passou por mim em um segundo. A primeira foi

surpresa; eu estava distante de qualquer trilha aqui, e não esperava companhia. Então,

enquanto meus olhos se focavam na figura imóvel, vendo a incrível rigidez, a pele

pálida, uma onda de esperança penetrante passou por mim. Eu a suprimi viciosamente,

lutando contra a agonia igualmente afiada enquanto meus olhos continuavam pra olhar o

rosto embaixo do cabelo preto, que não era o que eu estava esperando.

A próxima foi medo; esse não era o rosto pela qual eu vivia aflita, mas ele estava

suficientemente perto de mim pra que eu soubesse que aquele homem não era nenhum

mochileiro.

E finalmente, no fim, reconhecimento.

"Laurent!", eu falei com um surpreso prazer.

Era uma resposta irracional. Eu provavelmente devia ter parado no medo.

Laurent fazia parte do grupo de James quando eu o conheci. Ele não esteva envolvido

na caçada que se seguiu - a caçada na qual eu era a presa - mas isso foi só porque ele

estava com medo; eu era protegida por um grupo maior do que o dele. Teria sido

diferente se esse não fosse o caso - ele não tinha nada contra, naquela época, a idéia de

me fazer de refeição. É claro, ele devia ter mudado, porque ele foi para o Alaska pra

viver com outro grupo civilizado lá, outra família que se recusava a beber sangue de

humanos por razões éticas. Outra família como os... eu não conseguia me fazer pensar

no nome.

Sim, sentir medo faria mais sentido, mas o que eu sentia era uma dominante satisfação.

A clareira era um lugar mágico de novo. Uma magia mais negra do que a que eu estava

esperando, com certeza, mas mágica do mesmo jeito. Aqui estava a conexão que eu

buscava. A prova, mesmo que remota, de que - em algum lugar no mesmo mundo que

eu - ele existia.

Era impossível o quanto Laurent parecia exatamente o mesmo. Eu acho que era muito

bobo e humano esperar que as coisas mudassem tanto em um ano. Mas havia uma

coisa... eu não conseguia identificar o que era direito.

"Bella?", ele perguntou, parecendo mais pasmo do que eu me sentia.

"Você lembra", eu sorrí. Era ridículo que eu estivesse tão feliz porque um vampiro

lembrava meu nome.

Ele sorriu. "Eu não esperava te ver por aqui". Ele andou na minha direção, com a

expressão divertida.

"Isso não é o contrário? Eu vivo aqui. Eu pensei que você tinha ido para o Alaska".

Ele parou a uns dez passos de distância, inclinando a cabeça para o lado.

O rosto dele era o rosto mais bonito que eu via pelo que pareceu ser uma eternidade. Eu

estudei o rosto dele com um ganancioso senso estranho de alívio. Ele era uma pessoa

para a qual eu não precisava fingir - uma pessoa que já sabia de tudo que eu podia dizer.

"Você está certa", ele concordou. "Eu fui para o Alaska. Ainda assim, eu não esperava...

Quando eu encontrei a casa dos Cullen vazia, eu pensei que eles haviam se mudado".

"Oh". Eu mordi meu lábio quando o nome fez as beiras em carne viva da minha ferida

doerem. Eu levei um segundo pra me recompor. Laurent esperou com olhos curiosos.

"Eles se mudaram", eu finalmente consegui dizê-lo.

"Hmm", ele murmurou. "Eu estou surpreso que eles tenham te deixado pra trás. Você

não era uma espécie de animal de estimação deles?" os olhos dele estavam inocentes

como se não tivessem a intenção de ofender.

Eu dei um sorriso torto. "Alguma coisa assim".

"Hmm",ele disse, pensativo de novo.

Nesse exato momento, eu percebi o porque que ele parecia igual - igual demais. Depois

que Carlisle nos disse que Laurent havia ficado com a família de Tânia, eu comecei a

imaginá-lo, nas raras ocasiões em que pensava nele, com os mesmos olhos dourados

que os... Cullen - eu forcei o nome a sair, estremecendo - tinham. Que os vampiros bons

tinham.

Eu dei um passou involuntário pra trás, e os seus curiosos, olhos vermelho escuros

seguiram o meu movimento.

"Eles te visitam frequentemente?", ele perguntou, ainda casual, mas o peso dele se

inclinou na minha direção.

"Minta", a linda voz aveludada sussurrou ansiosamente na minha memória.

Eu me assustei com o som da voz dele, mas isso não devia ter me surpreendido. Eu não

estava me submetendo ao maior perigo imaginável? A moto parecia um bando de gatos

bonzinhos comparada a isso.

Eu fiz o que a voz me disse pra fazer.

"De vez em quando" eu tentei fazer minha voz ficar leve, relaxada. "O tempo parece

mais longo pra mim, eu imagino. Você sabe como eles podem ser distraídos..." eu

estava começando a tagarelar. Eu tive que me esforçar pra calar a boca.

"Hmm", ele disse de novo. "A casa cheirava como se estivesse vazia já ha algum

tempo..."

"Você precisa mentir melhor do que isso, Bella", a voz disse com urgência.

Eu tentei. "Eu vou ter que dizer a Carlisle que você esteve aqui. Ele vai ficar triste por

ter perdido a sua visita". Eu fingi estar pensando por um segundo. "Mas eu

provavelmente não devia mencionar isso pra... Edward, eu acho -" eu mal consegui

dizer o nome dele, e isso fez a minha expressão se contorcer, arruinando o meu blefe. "-

Ele tem um temperamento forte... bem, eu tenho certeza de que você lembra. Ele ainda

está nervoso com aquela coisa de James". Eu revirei os olhos e abanei displicentemente

com uma mão, como se isso fosse uma história antiga, mas havia uma pontada de

histeria na minha voz. Eu me perguntei se ele poderia reconhecer o que isso era.

"Ele está mesmo?" Laurent perguntou prazerosamente... e ceticamente.

Eu mantive minha resposta curta, pra que assim minha voz não deletasse o meu pânico.

"Mm-hmm".

Laurent deu um passo casual para o lado, olhando ao seu redor na pequena clareira. Eu

não deixei de reparar que o seu passou o trouxe pra mais perto de mim. Na minha

cabeça, a voz respondeu com um rosnado baixo.

"Então como estão as coisas em Denali? Carlisle disse que você tinha ido ficar com

Tânia?" minha voz estava alta demais.

A questão fez ele parar. "Eu gosto muito de Tânia", ele meditou. "E da sua irmã Irina

ainda mais... eu nunca havia ficado tanto tempo em um só lugar, e eu aproveitei as

vantagens, as novidades de tudo. Mas as restrições eram difíceis... Eu estou surpreso

que eles tenham conseguido agüentar por tanto tempo", ele sorriu pra mim

conspiradoramente. "As vezes eu trapaceio".

Eu não consegui engolir. Os meus pés começaram a ir pra trás, mas eu fiquei congelada

quando seus olhos vermelhos olharam pra baixo pra captar o movimento.

"Oh", eu disse com uma voz fraca. "Jasper tem problemas com isso também".

"Não se mova", a voz sussurrou. Eu tentei fazer o que ele instruía. Era muito difícil; o

instinto de me mandar era quase incontrolável.

"Mesmo?" Laurent pareceu interessado. "Foi por isso que eles foram embora?"

"Não" eu respondi honestamente. "Jasper é mais cuidadoso em casa".

"Sim", Laurent concordou. "Eu sou também".

O passo á frente que ele deu agora foi de propósito.

"Victória encontrou você?" eu perguntei, sem fôlego, desesperada pra distraí-lo. Essa

foi a primeira pergunta que me veio á mente, e eu me arrependi de ter dito as palavras

assim que ela saíram. Victória - que havia me caçado com James, e depois desaparecido

- não era alguém em quem eu queria pensar nesse momento em particular.

Mas a pergunta parou ele.

"Sim", ele disse, hesitando no passo. "Na verdade eu vim aqui como um favor pra ela".

Ele fez uma cara. "Ela não vai ficar feliz com isso".

"Com o que?", eu disse ansiosamente, o convidando a continuar. Ele estava olhando

para as árvores, pra longe de mim. Eu tomei vantagem na distração dele, dando um

passo furtivo pra trás.

Ele olhou de volta pra mim e sorriu - a expressão fez ele parecer um anjo de cabelos

pretos.

"Eu matar você", ele respondeu com um ronronar sedutor.

Eu vacilei em outro passo pra trás. O rosnado frenético na minha cabeça tornava difícil

escutar.

"Ela queria salvar essa parte pra si própria", ele continuou, alegremente.

"Ela está meio... aborrecida com você, Bella?"

"Comigo?", eu esguichei.

Ele balançou a cabeça e gargalhou. "Eu sei, aprece um pouco atrasado pra mim

também. Mas James era o parceiro dela, e o seu Edward o matou".

Mesmo aí, á beira da morte, o nome dele rasgou as paredes não cicatrizadas da minha

ferida como se a estivesse serrando.

Laurent não estava consciente da minha reação. "Ela achou mais apropriado matar você

do que Edward - um troco justo, parceiro por parceiro. Ela me pediu pra ficar de olho na

terra deles, por assim dizer. Eu não podia imaginar que seria tão fácil te pegar. Então

talvez o plano dela falhe - aparentemente não era a vingança que ela havia imaginado, já

que você não deve ser tão importante pra ele já que ele te deixou aqui desprotegida".

Outro golpe, outra lágrima no meu peito.

O peso de Laurent se moveu levemente, e eu dei outro passo pra trás.

Ele fez uma careta. "Eu acho que ela vai ficar zangada, do mesmo jeito".

"Então porque não esperar por ela?", eu gaguejei.

Um sorriso maquiavélico transformou o rosto dele. "Bem, você me pegou num mal

momento, Bella. Eu não vim pra esse lugar por causa da missão de Victória - eu estava

caçando. Eu estou com muita sede, e o seu cheiro é... simplesmente de dar água na

boca".

Laurent olhou para mim com aprovação, como se ele estivesse falando sério quando me

cumprimentou.

"Ameace ele", a linda voz da ilusão ordenou, a voz dele estava desorientada de medo.

"Ele vai saber que foi você", eu sussurrei obedientemente. "Você não vai se safar

dessa".

"E porque não?" o sorriso de Laurent cresceu. Ele olhou ao redor para a pequena

abertura das árvores. "O cheiro vai ser lavado na próxima chuva. Ninguém vai encontrar

seu corpo - você simplesmente terá desaparecido, como tantos, tantos outros humanos.

Não vão haver motivos pra Edward pensar em mim, se ele se importar o suficiente pra

investigar. Não é nada pessoal, Bella, eu te asseguro. Só sede".

"Implore", minha alucinação me implorou.

"Por favor", eu asfixiei.

Laurent balançou a cabeça, seu rosto estava gentil. "Veja dessa forma, Bella. Você tem

muita sorte que fui eu quem te encontrou".

"Eu tenho?", eu murmurei, arriscando outro passo pra trás.

Laurent seguiu, leve e gracioso.

"Sim", ele me assegurou. "Eu serei bem rápido. Você não vai sentir nada, eu prometo.

Oh, eu vou mentir pra Victória sobre isso mais tarde, naturalmente, só pra aplacar ela.

Mas se você soubesse o que ela tinha planejado pra você, Bella..." ele balançou a cabeça

com um movimento lento, quase com desgosto. "Eu juro que você estaria me

agradecendo".

Eu olhei pra ele horrorizada.

Ele fungou a brisa que soprava o meu cabelo na direção dele. "De dar água na boca",

ele repetiu, inalando profundamente.

Eu fiquei tensa pra sair dali, meus olhos piscando enquanto eu tentava me afastar, e o

som do rosnado enfurecido de Edward ecoava no fundo da minha cabeça. O nome dele

escapou pelas paredes que eu havia construído pra pará-lo. Edward, Edward, Edward.

Eu ia morrer. Não devia importar se eu pensasse nele agora. Edward, eu te amo.

Pelos meus olhos apertados, eu ví Laurent parar no meio do ato de inalar e virar a

cabeça rapidamente para a esquerda. Eu estava com medo de tirar os olhos dele, de

seguir a direção do seu olhar, apesar de que ele já não precisava mais de nenhum truque

ou nenhum distração pra me pegar.

Eu estava muito surpresa pra me sentir aliviada quando ele começou a se afastar de

mim.

"Eu não acredito nisso", ele disse, a voz dele estava tão baixa que eu quase não a ouvia.

Então eu tive que olhar. Meus olhos vasculharam a clareira, procurando pela distração

que havia estendido a minha vida em mais alguns segundos.

No início eu não ví nada, e o meu olhar voltou pra Laurent. Ele estava se afastando com

mais velocidade agora, os olhos dele fixos na floresta.

Então eu vi; uma enorme figura preta saiu das árvores, quieta como uma sombra, e

perseguiu de propósito na direção do vampiro. Era enorme - alto como uma casa, só que

mais grosso, muito mais musculoso. O longo focinho fez uma careta, revelando uma

longa fileira de dentes afiados como adagas. Um horrível rosnado saiu pelos seus

dentes, rompendo pela clareira como o barulho de um trovão prolongado.

O urso. Só que aquilo não era um urso de jeito nenhum. Mesmo assim, aquele enorme

monstro preta tinha que ser a criatura que andava causando o alarme. De longe,

qualquer um presumiria se tratar de um urso. O que mais poderia ter uma estrutura tão

vasta, tão poderosa?

Eu desejei ter sido sortuda o suficiente pra vê-lo de longe. Ao invés disso, ele

caminhava silenciosamente na grama a menos de dez pés de onde eu estava.

"Não se mexa nenhum centímetro", a voz de Edward sussurrou.

Eu olhei para a criatura monstruosa, minha mente borbulhando enquanto eu pensava

num nome pra dar pra ela. Havia uma aparência canina bastante distinta no formato

dele, no jeito como se mexia. Eu só podia pensar numa possibilidade, travada de horror

como estava. Eu nunca tinha imaginado que um lobo podia ficar tão grande.

Outro rosnado saiu da sua garganta, e eu me encolhi com o som.

Laurent estava tentando voltar para a beira onde ficavam as árvores, e, por baixo do

terror que me congelava, a confusão passou por mim.

Porque Laurent estava fugindo? Com certeza,o lobo era de um tamanho monstruoso,

mas era só um animal. Por que razão um vampiro teria medo de um animal? E Laurent

estava com medo. Os olhos dele estavam esbugalhados de horror, como os meus.

Como se isso respondesse a minha pergunta, de repente o lobo do tamanho de um

elefante não estava mais sozinho. Saindo dos dois lados da clareira, outras duas bestas

gigantes se arrastaram pra dentro da clareira. Uma era de um cinza escuro, o outro

marrom, mas nenhum era tão grande quanto o primeiro. O lobo cinza saiu das árvores a

apenas alguns centímetros de mim, com os olhos grudados em Laurent.

Antes mesmo que eu pudesse reagir, mais dois outros lobos os seguiram, alinhados

como um V, como gansos voando para o sul. Isso significava que o ultimo monstro

marrom que entrou na clareira estava perto o suficiente pra eu tocá-lo.

Eu dei um suspiro involuntário e pulei pra trás - que foi a coisa mais estúpida que eu

podia ter feito. Eu congelei de novo, esperando que os lobos se virassem pra mim, a

presa muito mais fraca e vulnerável. Eu desejei brevemente que Laurent começasse a

destruir o grupo de lobos - isso devia ser fácil pra ele. Eu achei que, entre as duas

escolhas á minha frente, ser comida por lobos era certamente a pior opção.

O lobo mais próximo de mim, o marrom avermelhado, virou a cabeça levemente com o

som do meu suspiro.

Os olhos do lobo eram escuros, quase pretos. Ele olhou pra mim uma fração de

segundo, seus olhos profundos pareceram inteligentes demais pra um animal selvagem.

Ele me encarou, eu pensei em Jacob de repente- de novo, com gratidão. Pelo menos eu

tinha vindo aqui sozinha, pra essa clareira encantada cheia de monstros negros. Pelo

menos Jacob não ia morrem também. Pelo menos eu não carregaria a morte dele nas

costas.

Então outro rosnado baixo do líder fez a cabeça do lobo se virar, na direção de Laurent.

Laurent estava olhando pra o monstruoso bando de lobos monstruosos com um

inexplicável olhar de choque e medo. Primeiro eu não consegui entender. Mas eu fiquei

atordoada quando, sem nenhum aviso, ele se virou e desapareceu entre as árvores.

Ele fugiu.

Os lobos foram atrás dele em um segundo, se espalhando pela grama com passadas

poderosas, rosnando e fazer estalos tão altos que eu levantei minhas mãos

instintivamente pra cobrir meus ouvidos. O som desapareceu com surpreendente

velocidade assim que eles desapareceram na mata.

E então eu estava sozinha de novo.

Meus joelhos tremerem embaixo de mim, e eu caí em cima das minhas mãos, soluços se

construindo na minha garganta.

Eu sabia que tinha que ir embora, e tinha que ir agora. Por quanto tempo os lobos iam

caçar Laurent antes de voltarem por mim? Ou Laurent ia se virar contra eles? Seria ele

quem voltaria me procurando?

Porém, primeiramente eu não conseguia me mexer; meus braços e pernas estavam

tremendo, e eu não sabia como voltar a ficar de pá.

Minha mente não conseguia superar o medo, o horror ou a confusão. Eu não entendia o

que havia acabado de testemunhar.

Um vampiro não devia fugir de cachorros crescidos daquele jeito. Que mal os dentes

dele poderiam fazer á sua pele de granito?

E os lobos devem ter dado á Laurent um longo espaço. Mesmo que o tamanho

extraordinário deles os tenha ensinado a não temer nada, ainda não faziam nenhum

sentido que eles o perseguissem. Eu duvidava que a pele de mármore gelado dele

cheirasse como comida. Porque eles iam passar alguma coisa com sangue morno e fraca

como eu pra perseguir Laurent?

Eu não conseguia entender o sentido disso.

Uma brisa fria passou pela clareira, balançando a grama como se alguma coisa estivesse

em cima dela.

Eu fiquei de pé, me afastando mesmo que o vento estivesse passando por mim sem me

causar danos. Tremendo de pânico, eu me virei e corri em linha reta entre as árvores.

As horas seguintes foram de agonia. Me levou um tempo três vezes maior pra escapar

das árvores do que eu tinha levado pra chegar até a clareira.

No início eu não prestei atenção em pra onde estava indo, já que eu estava só focada na

minha fuga. Na hora que eu recompus o suficiente pra me lembrar do compasso, eu já

estava no meio da floresta não familiar e ameaçadora.

Minhas mãos estavam tremendo tão violentamente que eu tive que o colocar no chão

lamacento pra poder usá-lo direito. A cada minuto eu parava pra colocar o compasso no

chão e checar se eu ainda estava indo para o Nordeste, escutando - quando os sons não

estavam sendo escondidos pelos meus passos frenéticos - os baixos sons de coisas que

eu não via se movendo entre as folhas.

O chamado de uns pássaros me fizeram pular pra trás e cair num monte de jovens

madeiras derrubadas, arranhando meus braços e sujando meu cabelo com seiva. A

pressa repentina de um esquilo me fez tão alto que meus ouvidos chegaram a doer.

Finalmente eu encontrei uma abertura nas árvores á frente. Eu entrei na estrada e

caminhei uma milha ou algo assim pra chegar onde eu havia deixado a minha

caminhonete. Mesmo exausta como eu estava, eu ainda corrí até encontrá-la. Até a hora

que eu me joguei dentro do carro, eu já estava soluçando de novo.

Eu rapidamente joguei as duas coisas que estava segurando no chão antes que cavar no

meu bolso pra encontrar minhas chaves. O ronco do motor foi reconfortante e são. Ele

me ajudou a afastar as lágrimas enquanto eu corria o mais rápido que a minha

caminhonete permitia na estrada principal.

Eu estava mais calma, mas ainda estava um desastre quando cheguei em casa. A viatura

de Charlie estava na garagem - eu não tinha me dado conta do quanto era tarde. O céu já

estava cinzento.

"Bella?" Charlie perguntou quando eu batí a porta atrás de mim e rapidamente tranquei

com a chave.

"É, sou eu". Minha voz não estava uniforme.

"Onde você estava?", ele trovejou, aparecendo pela porta da cozinha com uma cara

suspeita.

Eu hesitei. Ele provavelmente havia ligado para os Stanley. Era melhor eu contar a

verdade.

"Eu fiz uma caminhada", eu admiti.

Os olhos dele se apertaram. "O que aconteceu com a casa de Jéssica?"

"Eu não estava a fim de estudar Cálculo hoje"

Charlie cruzou os braços no peito. "Eu pensei que havia te pedido pra ficar fora da

floresta".

"É, eu sei. Não se preocupe, eu não vou fazer de novo", eu tremi.

Charlie pareceu realmente olhar pra mim pelo primeira vez.

Eu me lembrei que havia passado algum tempo no chão da floresta hoje; eu devia estar

uma bagunça.

"O que aconteceu?", Charlie quis saber.

De novo, eu decidi que a verdade, ou pelo menos parte dela, era a melhor opção. Eu

estava nervosa demais pra fingir que havia passado um dia comum com a fauna e a

flora.

"eu vi o urso". Eu tentei dizer isso calmamente, mas minha voz estava alta e tremendo.

"No entanto, não é um urso - é alguma espécie de lobo. E haviam cinco deles. Um

grande e preto, e um cinza, um marrom avermelhado..."

Os olhos de Charlie cresceram de horror. Ele veio rapidamente pra cima de mim e

segurou a parte de cima dos meus braços.

"Você está bem?"

Minha cabeça balançou com um fraco aceno.

"Me conte o que aconteceu".

"Eles não prestaram muita atenção em mim. Mas depois que eles foram embora, eu fugí

e caí muito no chão".

Ele soltou os meus ombros e passou os braços ao meu redor. Por um longo momento ele

não disse nada.

"Lobos", ele murmurou.

"O que?"

"Os patrulheiros disseram que eram pegadas diferentes das de ursos - mas lobos não

ficam tão grandes..."

"Esses eram enormes".

"Quantos você disse que viu?"

"Cinco".

Charlie balançou a cabeça, fazendo uma careta de ansiedade. Ele finalmente falou num

tom que não permitia nenhuma discussão.

"Chega de caminhadas".

"Sem problemas", eu prometí ferventemente.

Charlie ligou para a delegacia pra contar o que eu havia visto. Eu menti um pouco sobre

o local exato onde tinha visto os lobos - dizendo que havia estado na trilha que levava

ao norte. Eu não queria que o meu pai soubesse o quanto eu havia entrado na floresta

sem que ele quisesse, e, mais importante, eu não queria ninguém mais andando por onde

Laurent ainda podia estar procurando por mim. Esse pensamento me deixou enjoada.

"Você está com fome?", ele perguntou quando desligou o telefone.

Eu balancei a cabeça, apesar de que eu devia estar faminta. Eu não tinha comido nada o

dia inteiro.

"Só cansada", eu disse pra ele. Eu me virei para as escadas.

"Ei", Charlie disse numa voz repentinamente suspeita de novo. "Você não disse que

Jacob tinha saído durante o dia inteiro?"

"Foi o que Billy disse", eu falei, confusa pela pergunta dele.

Ele estudou a minha expressão por um minuto e pareceu satisfeito com o que encontrou

lá.

"Huh"

"Porque?", eu quis saber. Parecia que ele estava querendo dizer que eu estive mentindo

pra ele essa manhã. Sobre algo mais do que estar estudando com Jéssica.

"Bem, é só que quando eu fiz buscar Harry, eu ví Jacob na frente de uma loja de lá com

uns amigos. Eu acenei pra ele, mas ele... bem, acho que ele não me viu. Eu acho que ele

estava discutindo com os amigos. Ele parecia estranho, como se alguma coisa estivesse

aborrecendo ele. E... diferente. É como se você pudesse ver o garoto enquanto ele

cresce! Ele está maior a cada vez que eu o vejo".

"Billy disse que Jake e os amigos tinham ido ao cinema em Port Angeles. Eles

provavelmente estavam esperando alguém encontrá-los lá".

"Oh", Charlie balançou a cabeça e voltou para a cozinha.

Eu fiquei no corredor, pensando em Jacob discutindo com os amigos. Eu me perguntei

se ele havia confrontado Embry sobre o assunto com Sam. Talvez esse fosse o motivo

pelo qual ele me ignorou hoje - se isso significava que ele teria a oportunidade de

acertar as coisas com Embry, eu ficava feliz.

Eu parei pra ver se a casa estava trancada de novo antes de subir. Era uma coisa idiota

de se fazer. Que diferença uma porta ia fazer para os monstros que eu vi hoje? Eu

imaginei que a maçaneta só ia atrasar os lobos, já que eles não tinham polegares.

E se Laurent viesse...

Ou... Victoria.

Eu deitei na minha cama, mas eu estava tremendo demais pra pensar em dormir. Eu me

curvei e virei uma bola embaixo da minha colcha, e encarei os horríveis fatos.

não havia nada que eu pudesse fazer. Não haviam precauções que eu pudesse tomar.

Não havia lugar onde eu pudesse me esconder. Não havia ninguém que pudesse me

ajudar.

Eu me dei conta, com uma sensação de náusea no meu estômago, que a situação ainda

era pior que isso. Porque todos esses fatos se aplicavam a Charlie também. Meu pai,

dormindo a um quarto de distância de mim, era só o centro do coração do alvo que

estava centrado em mim. O meu cheiro os levariam até lá, eu estando lá ou não.

Os tremores me balançaram até que os meus dentes estavam se batendo.

Pra me acalmar, eu fantasiei o impossível: eu imaginei os grandes lobos pegando

Laurent nas matas e massacrando o indestrutível imortal do jeito como eles fariam a

uma pessoa normal. Apesar do absurdo da visão, a idéia me confortou.

Se os lobos pegassem ele, então ele não poderiam contar a Victoria que eu estava

sozinha. Se ele não voltasse, talvez ela pensasse que os Cullen ainda estavam me

protegendo. Se apenas os lobos pudessem derrotá-lo...

Meus vampiros bons não voltariam nunca mais; como era bom pensar que o outro tipo

também poderia desaparecer.

Eu fechei meus olhos com força e esperei pra ficar inconsciente - quase ansiosa que o

meu pesadelo começasse. Era melhor do que aquele lindo rosto pálido que sorria pra

mim por tás das minhas pálpebras.

Na minha imaginação, os olhos de Victória eram pretos por causa da sede, brilhantes

com a antecipação, e os lábios dela se curvavam pra trás mostrando os dentes dela com

prazer. O cabelo vermelho dela era brilhante como fogo; ele se espalhava caóticamente

ao redor do seu rosto selvagem.

As palavras de Laurent se repetiram na minha cabeça. Se você soubesse o que ela

planejou pra você...

Eu pressionei meu punho na boca pra não gritar.

11. Culto

Toda vez que eu abria os olhos para a luz da manhã e me dava conta de que havia

sobrevivido á outra noite eu me surpreendia. Depois que o efeito da surpresa passava,

meu coração começava a correr e as minhas palmas ficavam suadas; eu não conseguia

realmente respirar até que me levantava e me certificava de que Charlie havia

sobrevivido também.

Eu podia dizer que ele estava preocupado - me vendo pular com qualquer som mais alto,

ou observando o meu rosto ficar branco por algum motivo que ele não podia ver. Pelas

perguntas que ele fazia de vez em quando, ele parecia culpar a longa ausência de Jake

pela minha mudança.

O terror que geralmente nublava os meus pensamentos geralmente me distraía do fato

de que outra semana havia passado, e Jacob ainda não havia me ligado.

Mas quando eu era capaz de me concentrar na minha vida normal - se é que minha vida

era normal - isso me aborrecia.

Eu sentia falta dele horrivelmente.

Eu já estava mal o suficiente por estar sozinha antes de estar loucamente assustada.

Agora, mais do que nunca, eu sentia falta do seu sorriso livre e das suas risadas

afetuoso. Eu precisava sentia a sanidade da sua garagem e das mãos quentes dele nos

meus dedos frios.

Eu meio que esperei que ele me ligasse na segunda. Se tivesse havido algum progresso

com Embry, ele não ia querer falar sobre isso comigo? Eu queria acreditar que era

preocupação com o amigo que estava ocupando o seu tempo, e não que ele

simplesmente havia desistido de mim.

Eu liguei pra ele na terça, mas ninguem atendeu. As linhas telefônicas estavam com

problemas? Ou será que Billy havia instalado um identificador de chamadas?

Na quarta eu ligava a cada meia hora até as onze da noite, desesperada pra ouvir a voz

cálida de Jacob.

Na quinta eu sentei na minha caminhonete na frente de casa - com as portas travadas -

chaves na mão, por uma sólida hora. Eu estava discutindo comigo mesma, tentando

justificar uma rápida viagem á La Push, mas eu não consegui fazer isso.

Eu sabia que Laurent já devia ter voltado pra Victoria agora.

Se eu fosse á La Push, eu estaria correndo o risco de levá-los até lá. E se eles me

pegassem quando Jake estivesse por perto? Mesmo que isso me machucasse muito, eu

sabia que era melhor pra Jacob que ele estivesse me evitando. Mais seguro pra ele.

Ja era ruim o suficiente que eu não conseguisse pensar numa forma de salvar Charlie. A

noite era a hora mais provável pra que eles viessem procurar por mim, e o que era que

eu diria pra manter Charlie fora de casa? Se eu contasse a verdade pra ele, ele ia me

trancar numa sala pra loucos em algum lugar. Eu teria suportado isso - até dado as boas

vindas - se isso pudesse mantê-lo a salvo.

Mas Victória ainda viria á sua casa primeiro, procurando por mim. Talvez, se ela me

encontrasse aqui, isso seria suficiente pra ela.

Talvez ela simplesmente fosse embora quando tivesse acabado comigo.

Então eu não podia fugir. E mesmo se eu pudesse, pra onde eu iria?

Para a casa de Renée? Eu tremí com a idéia de jogar minhas sombras letais sobre a

segurança da casa da minha mãe, seu mundo ensolarado.

Eu nunca a colocaria num risco como esse.

A preocupação estava cavando um buraco no meu estômago. Em breve eu teria buracos

que se combinavam.

Naquela noite, Charlie me fez outro favor e ligou pra Harry pra saber se os Black

estavam fora da cidade.

Harry falou que Billy estava comparecendo ás reuniões do concelho nas quartas a noite,

e que nunca havia mencionado nada sobre sair da cidade.

Charlie me avisou pra não ficar pensando em loucuras - Jacob me ligaria quando tivesse

a oportunidade.

Sexta de tarde, enquanto eu dirigia pra casa da escola, uma coisa me bateu do nada.

Eu não estava prestando atenção na estrada familiar, deixando o som do motor paralisar

meus medos e silenciar meus medos, quando o meu subcosciente me deu o veredito no

qual ele já devia estar trabalhando a algum tempo sem o meu conhecimento.

Assim que eu pensei nisso, eu me sentí muito estúpida por não ter visto isso mais cedo.

Claro. Eu tinha muitas coisas na cabeça - vampiros obsecados por vingança, lobos

mutantes gigantes, um buraco crescente no meu peito - mas quando eu conferi as

evidências, era embaraçosamente óbvio.

Jacob me evitando. Charlie dizendo que ele parecia estranho, chateado... As respostas

vagas, que não ofereciam ajuda de Billy.

Santa mãe, eu sabia exatamente o que havia de errado com Jacob.

Era Sam Uley. Até os meus pesadelos estiveram tentando me dizer isso. Sam havia

pego Jacob.

O que quer que estivesse acontecendo com os garotos da reserva havia saído e

capturado o meu amigo. Ele foi puxado para o culto de Sam.

Ele não havia desistido de mim, eu me dei conta com uma onde de sentimentos.

Eu deixei minha caminhonete parada na frente da minha casa. O que eu devia fazer? Eu

pesei os perigos um contra o outro.

Se eu fosse procurar por Jacob, eu arriscava a chance de que Victória ou Laurent me

encontrassem com ele.

Se eu não fosse até ele, Sam o puxaria ainda mais pra dentro daquela luta, para aquela

gangue compulsíva. Talvez fosse tarde demais se eu não agisse logo.

Já havia se passado uma semana, e nenhum vampiro havia vindo procurar por mim

ainda. Uma semana era tempo mais que suficiente pra eles terem voltado, então talvez

eu não fosse uma prioridade.

Era mais provável, como eu já havia decidido antes, que eles viessem procurar por mim

á noite. As chances de eles me seguirem até La Push eram muito mais baixas do que as

minhas chances de perder Jacob pra Sam.

Valia a pena o perigo de me embranhar naquelas pistas cercadas de floresta. Essa não

seria uma visita qualquer pra ver como estavam as coisas. Essa era uma missão de

resgate. Eu ia falar com Jacob- sequestrar ele se fosse preciso.

Uma vez eu já ví um programa no canal PBS sobre como desprogramar as lavagens

cerebrais. Tinha que haver algum tipo de cura.

Eu decidí que era melhor ligar pra Charlie antes. Talvez o que quer que estivesse

acontecendo em La Push fosse uma coisa na qual a polícil devia estar envolvida.

Eu corrí pra dentro, na minha pressa de seguir o meu caminho.

Charlie mesmo atendeu o telefone da delegacia.

"Chefe Swan"

"Pai, é Bella"

"O que há de errado?"

Eu não pude discutir com a suposição dele dessa vez. Minha voz estava tremendo.

"Eu estou preocupada com Jacob".

"Porque?", ele perguntou surpreso com o inesperado assunto.

"Eu acho... eu acho que tem alguma coisa errada acontecendo na reserva. Jacob me

contou sobre uma coisa estranha que anda acontecendo com os garotos da idade dele.

Agora ele está agindo da mesma forma, e eu estou preocupada".

"Que tipo de coisa?" Ele usou o seu tom profissional, policial. Isso era bom; ele estava

me levando a sério.

"Primeiro ele estava assustado, e depois ele estava me evitando, e agora... eu estou com

medo que ele esteja fazendo parte de uma gangue bizarra que há por lá, a gangue de

Sam. A gangue de Sam Uley".

"Sam Uley?" Charlie repetiu, surpreso de novo.

"Sim".

A voz de Charlie estava mais relaxada quando ele respondeu. "Eu acho que você

entendeu errado, Bells. Sam Uley é um ótimo garoto. Bem, ele é um ótimo homem

agora. Um bom filho. Você devia ouvir Billy falando sobre ele. Ele realmente está

fazendo maravilhas com a juventude de lá da reserva. Foi ele quem -" Charlie parou na

metade da frase, e eu tive a sensação de que ele ia se referir á aquela noite que eu me

perdí na floresta. Eu mudei de assunto rapidamente.

"Pai, não é bem assim. Jacob estava com medo dele".

"Você falou com Billy sobre isso?" Ele estava tentando me amaciar agora. Eu havia

perdido ele no momento que mencionei Sam.

"Billy não está preocupado".

"Bem, Bella, então eu tenho certeza de que está tudo bem. Jacob é um garoto;

provavelmente ele só está se divertindo. Eu tenho certeza de que ele está bem. Afinal de

contas, ele não pode passar todos os minutos do dia conversando com você".

"Isso não é sobre mim", eu insistí, mas a batalha já estava perdida.

"Eu não acho que você precise se preocupar com isso. Deixe Billy tomar conta de

Jacob".

"Charlie...", minha voz estava começando a soar patética.

"Bella, eu tenho muitas coisas pra fazer agora. Dois turistas desapareceram na trilha

perto do lago", havia uma pontada de ansiosidade crescente. "O problema com esse lobo

já está saindo do controle".

Eu fiquei momentâneamente distraída - abismada, na verdade - com a notícia dele.

Havia jeito de aqueles lobos terem saído ganhando de uma batalha com Laurent...

"Você tem certeza de que foi isso que aconteceu com eles?", eu perguntei.

"Eu temo que sim, querida. Haviam -" Ele hesitou. "Haviam algumas marcas de novo,

e... um pouco de sangue dessa vez".

"Oh!" Então não deve ter havido um confronto. Laurent deve ter simplesmente

despistado os lobos, mas porque? O que eu havia visto na clareira só ficava mais e mais

estranho - mais impossível de entender.

"Olha, eu realmente tenha que ir. Não se preocupe com Jake, Bella. Eu tenho certeza de

que não é nada".

"Tá", eu disse curtamente, frustrada pelas palavras dele que me lembraram da crise mais

urgente no momento. "Tchau", eu desliguei.

Eu olhei para o telefone por um momento. Que diabos, eu decidí.

Billy atendeu depois de dois toques.

"Alo?"

"Oi, Billy", eu quase rosnei. Eu tentei falar mais amigavelmente quando continuei.

"Será que eu podsso falar com Jacob, por favor?"

"Jake não está aqui".

Que surpresa. "Você sabe onde ele está?"

"Ele saiu com os amigos", a voz de Billy era cuidadosa.

"Ah, é? Alguém que eu conheça? Quil?" eu podia dizer que as palavras não estavam

saindo tão casualmente quanto eu havia planejado.

"Não", Billy disse devagar. "Eu não acho que ele esteja com Quil hoje".

Eu sabia que não devia mencionar o nome de Sam.

"Embry?" eu perguntei

Billy pareceu mais feliz ao responder essa. "É, ele está com Embry".

Isso era o suficiente pra mim. Embry era um deles.

"Bem, peça pra ele me ligar assim que ele chegar, está bem?"

"Claro, claro. Sem problema". Click

"A gente se vê em breve, Billy", eu murmurei para o telefone mudo.

Eu dirigi pra La Push determinada a esperar. Eu ia ficar sentada na frente da casa dele a

noite inteira se precisasse. Eu faltaria a escola.

O garoto ia ter que voltar alguma hora, e quando ele voltasse, ele ia ter que falar

comigo.

Minha mente estava tão preocupada que a viagem que eu estava com tanto medo de

fazer só durou alguns segundos.

Antes do que eu esperava, a floresta começou a diminuir, e eu sabia que em breve eu

seria capaz de ver as primeiras pequenas casas da reserva.

Caminhando, no lado esquerdo da estrada, havia um garoto alto com um boné de

baseball.

Minha respiração ficou presa por um momento na minha garganta, esperançosa que a

sorte estivesse comigo pela primeira vez, e que eu tivesse cruzado o caminho de Jacob

sem maiores dificuldades. Mas esse garoto era largo demais, e o cabelo era curto

embaixo do boné.

Mesmo estando atrás dele, eu tinha certeza de que era Quil, apesar de ele estar maior do

que da última vez que eu o vi. O que era que esses garotos Quileute tinham? Será que

eles estavam sendo alimentados com algum tipo de hormônio expermental de

crescimento?

Eu atravessei para o lado errado da estrada pra me aproximar dele.

Ele olhou pra cima quando o ronco da minha caminhonete se aproximou.

A expressão de Quil me assustou mais do que me surpreendeu. O rosto dele estava

apático, pensativo, a testa dele estava enrrugada de preocupação.

"Oh, oi, Bella", ele me cumprimentou sem vontade.

"Oi, Quil... Você está bem?"

Ele me encarou sombrio. "Bem".

"Eu posso te dar um carona pra algum lugar?", eu oferecí.

"Claro, eu acho", ele murmurou. Ele se arrastou pela frente da caminhonete e abriu a

porta do passageiro pra entrar.

"Pra onde?"

"Minha casa é para o lado norte, lá atrás das lojas", ele me disse.

"Você viu Jacob hoje?" A pergunta escapou quase antes que ele tivesse terminado de

falar.

Eu olhei pra Quil ansiosamente, esperando pela sua resposta. Ele olhou pra fora pelo

parabrisa por um instante antes de responder.

"De longe", ele disse finalmente.

"De longe?" eu repetí.

"Eu tentei seguir eles - ele estava com Embry". A voz dele estava baixa, difícil de ouvir

com o barulho do motor. Eu me inclinei mais pra perto. "Eu sei que eles me viram. Mas

eles se viraram e desapareceram no meio das árvores. Eu não acho que eles estavam

sozinhos - eu acho que Sam e o bando dele deve ter estado com eles.

"Eu estive enfiado na floresta por mais de uma hora, gritando por eles. Eu tinha acabado

de chegar na estrada quando você apareceu".

"Então Sam pegou ele". As palavras sairam um pouco distorcídas- meus dentes estavam

trincados.

Quil me encarou. "Você sabe sobre isso?"

Eu balancei a cabeça. "Jacob contou pra mim... antes".

"Antes", Quil repetiu e suspirou.

"Jacob está tão mal quando os outros agora?"

"Nunca sai de perto de Sam" Quil virou a cabeça pra o lado e cuspiu pela janela aberta.

"E antes disso - ele já evitava as pessoas? Ele estava agindo estranho?"

A voz dele estava baixa e áspera. "Não por tanto tempo quanto os outros. Talvez um

dia. E aí Sam pegou ele".

"O que você acha que é? Drogas ou alguma coisa assim?"

"Eu não consigo imaginar Jacob e Embry se envolvendo numa coisa assim... mas o que

é que eu sei? O que mais pode ser? E porque as outras pessoas não estão preocupadas?"

Ele balançou a cabeça, e o medo aparecia nos olhos dele agora.

"Jacob não queria fazer parte desse... culto. Eu não entendo o que poderia ter feito ele

mudar". Ele me encarou, o rosto dele estava assustado. "Eu não quero ser o próximo"

Os meus olhos imitaram o medo dos dele. Essa era a segunda vez que eu ouvia aquilo

ser descrevido como um culto. Eu tremi. "Os seus pais são de alguma ajuda?"

Ele fez uma careta. "Certo. Meu avô faz parte do concelho com o pai de Jacob. Até

onde ele está informado, Sam Uley é a melhor coisa que já aconteceu pra esse lugar".

Nós olhamos um pro outro por um momento prolongado. Nós estávamos em La Push

agora, e minha caminhonete mal andava na estrada vazia. Eu podia ver a única loja da

vila não muito distante á frente.

"Eu vou sair agora", Quil disse. "Minha casa é bem alí". Ele fez um gesto para um

pequeno retângulo de madeira atrás da loja. Eu parei perto da calçada e ele desceu.

"Eu vou esperar por Jacob", eu disse pra ele com uma voz dura.

"Boa sorte", ele bateu a porta e caminhou em frente na estrada, a cabeça caída pra

frente, os ombros baixos.

O rosto de Quil me assombrou enquanto eu fazia uma curva em U e voltava para a casa

dos Black. Ele estava morrendo de medo de ser o próximo. O que estava acontecendo

aqui?

Eu parei na frente da casa de Jacob, desligando o motor e abrindo as janelas. Era um dia

mormacento, sem brisa. Eu coloquei os meus pés no painel e me preparei pra esperar.

Um movimento me chamou a atençao pela minha visão periférica e eu vi Billy olhando

pra mim pela janela com uma expressão confusa.

Eu acenei uma vez e dei um sorriso duro, mas fiquei onde eu estava.

Os olhos dele se estreitaram; ele deixou a cortina cobrir o vidro.

Eu estava preparada pra esperar o tempo que fosse, mas eu desejei ter alguma coisa pra

fazer. Eu peguei uma caneta no fundo da minha mochila, e um velho teste. Eu comecei

a fazer desenhos no fundo do papel.

Eu só tive tempo de desenhar uma fileira de diamantes quando houve uma batida aguda

na janela da minha porta.

Eu pulei, olhando pra cima, esperando Billy.

"O que você está fazendo aqui, Bella?", Jacob rosnou.

Eu encarei ele pasma de surpresa.

Jacob tinha mudado radicalmente nas ultimas semanas em que eu não o vi. A primeira

coisa na qual eu reparei foi o seu cabelo - o lindo cabelo dele tinha ido todo embora, foi

cortado curto, cobrindo a cabeça dele com um cabelo acetinado de uma cor que parecia

ser tinta preta.

As maçãs do rosto dele pareciam ter endurecido subitamente, se apertado... envelhecido.

O pescoço e os ombros dele estava diferentes também, de alguma forma, estavam

grossos demais.

As mãos dele, onde elas estavam agarradas na janela, pareciam enormes, com os

tendões e as veias ainda mais proeminentes embaixo da pele cor de cobre.

Mas diferenças físicas eram insignificantes.

Foi a expressão do rosto dele que o tornou praticamente irreconhecível. O sorriso

aberto, amigável, havia desaparecido como o cabelo, a calidez dos olhos dele havia sido

substituído por um ressentimento que era instantaneamente pertubador. Havia uma

obscuridade em Jacob agora.

Como se o meu Sol tivesse emplodido.

"Jacob?", eu sussurrei.

Ele me encarou, seus olhos tensos e raivosos.

Eu me dei conta de que não estávamos sozinhos. Atrás dele haviam quatro outros; todos

altos e com peles cor de cobre, com cabelos pretos cortados como os de Jacob. Eles

podiam ser irmãos - eu nem conseguia identificar Embry no grupo. A semelhança só se

intesificava pelo mesmo olhar de hostilidade em todos os pares de olhos.

Todos os pares menos um. O mais velho por muitos anos, Sam estava bem atrás, com o

rosto sereno e seguro. Eu tive que engolir o ódio que me subia a garganta. Eu queria

acabar com ele. Não, eu queria fazer mais que isso. Mais do que qualquer coisa, eu

queria ser cruel e mortal, uam pessoa com a qual ninguém ousaria se meter. Alguém que

assustaria até o bobão do Sam Uley.

Eu queria ser uma vampira.

O desejo violento me pegou de surpresa e me deixou sem ar. Esse era o mais proibido

de todos os desejos - mesmo quando eu só o queria pra propósitos maléficos como esse,

pra ganhar vantagem sobre o inimigo - porque ele era o desejo mais doloroso. Esse era

um futuro perdido pra sempre pra mim, ele nunca nem sequer esteve ao meu alcance.

Eu lutei pra ganhar controle sobre mim mesma enquanto o buraco do meu peito doía.

"O que você quer?", Jacob quis saber, a expressão dele estava ficando mais ressentida

enquanto observava as emoções passando pelo meu rosto.

"Eu quero falar com você", eu disse com uma voz fraca. Eu tentei me focar, mas eu

ainda estava lutando contra oa tabus do meu sonho.

"Vá em frente", ele assobiou por entre os dentes. O olhar dele era violento. Eu nunca

havia visto ele olhar pra ninguém daquele jeito, muito menos pra mim .

Isso me machucou com uma intensidade surpreendente - uma dor física, uma dor na

minha cabeça.

"Sozinha!", eu assobiei e minha voz saiu mais forte.

Eu olhei pra trás dele, e eu sabia pra onde os olhos dele iriam. Todos se viraram pra ver

a reação de Sam.

Sam balançou a cabeça uma vez, seu rosto despreocupado. Ele fez um breve comentário

numa linguagem líquida, não familiar - eu só tinha certeza de que não era Francês nem

Espanhol, mas eu imaginei que fosse a língua dos Quileute. Ele se virou e caminhou

para a casa de Jacob. Os outros - Paul, Jared e Embry, eu presumí, seguiram ele.

"Ok", Jacob disse um pouco menos furioso quando os outros tinham ido embora. O

rosto dele estava um pouco mais calmo, mas também mais desesperançado. A boca dele

parecia permanentemente curvada pra baixo.

Eu respirei fundo. "Você sabe o que eu quero saber".

Ele não respondeu. Ele só olhou pra mim acidamente.

Eu encarei de volta e o silêncio se prolongou. A dor no rosto dele me deixou enervada.

Eu sentí um caroço começando a aparecer na minha garganta.

"Nós podemos conversar?", eu perguntei enquanto ainda conseguia falar.

Ele não respondeu de nenhum jeito; o rosto dele não mudou.

Eu saí do carro, sentindo olhos que eu não podia ver nas janelas atrás de mim, e eu

comecei a andar na direção das árvores ao norte. Meu pé fazia barulho na grama

molhada e na lama ao lado da pista,e, como esse era o único som, no início eu achei que

ele não estava me seguindo.Mas quando eu olhei ao meu redor, ele estava ao meu lado,

os pés dele de alguma forma faziam muito menos barulho do que os meus.

Eu me sentí melhor no esconderijo das árvores, onde não era possível que Sam estivesse

nos observando. Enquanto caminhávamos, eu lutei pra encontrar a coisa certa pra dizer,

mas eu não pensei em nada. Eu só ficava cada vez mais e mais com raiva por Jacob ter

sido puxado para aquilo... e por Billy ter permitido isso... e por Sam estar passando por

aquilo tudo tão calmamente e seguro...

Jacob de repente aumentou o passo, ficando na minha frente com facilidade com suas

pernas longas, e então ele se virou pra me encarar, se plantando na minha frente pra que

eu tivesse que parar também.

Eu me distraí com a graciosidade do seu movimento. Jacob era quase tão desengonçado

quanto eu por causa do seu crescimento sem fim. Quando foi que isso mudou?

Mas Jacob não me deu tempo de pensar nisso.

"Vamos acabar logo com isso", ele disse com uma voz dura, ríspida.

Eu esperei. Ele sabia o que eu queria.

"Não é o que você está pensando". A voz dele estava repentinamente cautelosa. "Não

era o que eu pensava - eu estava totalmente errado".

"Então o que é?"

Ele estudou o meu rosto por um longo momento, especulando. A raiva nunca

abandonou completamente os seus olhos. "Eu não posso te contar", ele disse.

Minha mandíbula se comprimiu, e eu falei por entre os dentes. "Eu pensei que fôssemos

amigos".

"Nós éramos", houve uma pequena ênfase no tempo passado.

"Mas você não precisa mais de amigos", eu disse acidamente. "Você tem Sam. Isso é

legal - você sempre gostou tanto dele".

"Eu não o entendia antes".

"E agora você vui a luz. Aleluia".

"Não é como eu pensava que era. Isso não é culpa de Sam. Ele está me ajudando como

pode". A voz dele se tornou frágil e ele olhou por cima da minha cabeça, passando por

mim, a raiva queimando nos olhos dele.

"Ele está te ajudando", eu repetí duvidosamente. "Naturalmente"

Mas Jacob não parecia estar escutando. Ele estava respirando profundamente, de

propósito, tentando se acalmar. Ele estava com tanta raiva que as mãos dele estavam

tremendo.

"Jacob, por favor", eu sussurrei. "Você não vai me contar o que aconteceu? Talvez eu

possa ajudar".

"Ninguém pode me ajudar agora". As palavras eram um gemido baixo; a voz dele se

partiu.

"O que ele fez com você?", eu quis saber, as lágrimas se aglomeraram nos meus olhos.

Eu tentei tocá-lo, como já tinha feito antes, me movendo para a frente com os braços

abertos.

Dessa fez ele se afastou, segurando as mãos pra cima num gesto de defesa. "Não me

toque", ele sussurrou.

"Sam está olhando?", eu cochichei. As lágrimas estúpidas haviam escapado pelos cantos

dos meus olhos. Eu as afastei com as costas da minha mão, e cruzei meus braços no

peito.

"Pare de culpar Sam". As palavras sairas rápidas, como um reflexo.

As mãos dele se levantaram pra mexer no cabelo que não estava mais lá, e então cairam

nos seus lados.

"Então quem é que eu devo culpar?" eu retorqui.

Ele deu um meio sorriso; era uma coisa vazia, torta.

"Você não quer ouvir isso".

"Não quero é o diabo!" eu disparei. "Eu quero saber, e eu quero saber agora".

"Você está errada", ele disparou de volta.

"Não ouse dizer que eu estou errada - não fui eu quem sofreu uma lavagem cerebral!

Me diga agora de quem é a culpa, se ela não é do seu precioso Sam!"

"Você pediu por isso", ele rosnou pra mim, seus olhos brilhavam duramente. "Se você

quer culpar alguém, porque você não aponta o dedo para aqueles bebedores de sangue

nojentos, fedorentos que você ama tanto?"

Minha boca se abriu e minha respiração saiu com um som parecido com

whooshing. Eu fiquei congelada no lugar, esfaqueada com as palavras dele. A dor

atravessou meu corpo de uma forma já conhecida, o buraco denteado se abriu me

rasgando por dentro, mas em segundo lugar, houve a música de fundo dos meus

pensamentos caóticos. Eu nãopodia acreditar que havia o ouvido corretamente. Não

havia nenhum traço de indecisão no rosto dele. Só fúria.

Minha boca ainda estava escancarada.

"Eu te disse que você não ia querer ouvir", ele disse.

"Eu não entendo o que você quer dizer", eu cochichei.

Ele ergueu uma sobrancelha em descrença. "Eu acho que você entende exatamente o

que eu quero dizer. Você não vai me fazer dizer, vai? Eu não gosto de te machucar".

"Eu não entendo o que você quer dizer", eu disse mecanicamente.

"Os Cullen", ele disse lentamente, sublinhando a palavra, estudando meu rosto enquanto

ele falava isso.

"Eu ví isso - eu posso ver nos seus olhos o que acontece com você quando eu digo o

nome deles".

Eu balancei minha cabeça pra frente e pra trás negando, tentando limpá-la ao mesmo

tempo. Como era que ele sabia disso? E como era que isso tinha alguma coisa a ver com

o culto de Sam? Essa era uma gangue de odiadores de vampiros? Qual era a necessidade

de se formar uma sociedade como essa se já não existiam mais vampiros em Forks?

Porque Jacob começaria a acreditar nas histórias sobre os Cullen agora, justo quando as

evidencias haviam ido embora, pra nunca mais voltar?

Eu levei um segundo pra pensar na resposta correta. "Não me diga que você começou a

acreditar nas histórias sem sentido de Billy agora", eu disse com uma fraca tentativa de

ser divertida.

"Ele sabe mais do que eu pensava".

"Jacob, fale sério".

Ele me encarou, os olhos críticos.

"Colocando as superstições de lado", eu disse rapidamente. "Eu ainda não vejo porque

você está acusando... os Cullen"- estremecimento - "por isso. Eles foram embora a mais

de meio ano. Como é que você pode culpar eles pelo que Sam está fazendo agora?"

"Sam não está fazendo nada, Bella. E eu sei que eles foram embora. Mas as vezes... as

coisas acontecem em cadeia, e então é tarde demais".

"O que aconteceu em cadeia? O que é tarde demais? Do que você os está culpando?"

Ele olhou de repente direto pra o meu rosto, a fúria dele estava brilhando nos olhos.

"Por existir", ele assobiou.

Eu fiquei surpresa e destraída quando as palavras de aviso na voz de Edward vieram de

novo, quando eu nem estava assustada.

"Quieta agora, Bella. Não force ele", Edward me precaviu no meu ouvido.

Desde que o nome de Edward havia escapado pelas paredes que eu construí

cuidadosamente pra prendê-lo, eu não fui mais capaz de prendê-lo novamente. Não me

machucava agora - não durante os preciosos segundos que eu podia ouvir a voz dele.

Jacob estava esfumaçando na minha frente, tremendo de raiva.

Eu não entendí porque as alucinações de Edward haviam aparecido inesperadamente na

minha cabeça

Não havia adrenalina, não havia perigo.

"Dê uma chance pra ele se acalmar", a voz de Edward insistiu.

Eu balancei a minha cabeça confusa. "Você está sendo ridículo", eu disse para os dois.

"Tá", Jacob respondeu, respirando profundamente de novo. "Eu não vou discutir com

você. De qualquer forma não importa, o estrago está feito".

"Que estrago?"

Ele não se mexeu enquanto eu gritava as palavras no rosto dele.

"Vamos voltar. Não há mais nada a dizer".

Eu asfixiei. "Há tudo mais a dizer! Você não me disse nada ainda!"

Ele caminhou passando por mim, voltando para a direção da casa.

"Eu esbarrei em Quil hoje", eu gritei atrás dele.

Ele parou no meio de um passo, mas não se virou.

"Você se lembra do seu amigo, Quil? Pois é, ele está morto de medo".

Jacob se virou pra me encarar. A expressão dele estava dolorida.

"Quil", foi tudo o que ele disse.

"Ele está preocupado com você também. Ele está ficando louco".

Jacob olhou por cima de mim com olhos desesperados.

Eu o aticei mais ainda. "Ele está com medo de ser o próximo".

Jacob se segurou numa árvore pra ter apoio, o rosto dele ficando de um estranho tom

verde embaixo da superfície marrom avermelhada.

"Ele não será o próximo", Jacob murmurou pra sí mesmo. "Ele não pode ser. Está

acabado agora. Isso não devia estar acontecendo. Porque? Porque?". O punho dele se

chocou na árvore. Não era uma árvore grande, mais fina e só um pouco mais alta que

Jacob. Mas eu ainda fiquei surpresa quando o tronco cedeu e caiu com o golpe dele.

Jacob olhou para o ponto afiado, quebrado que havia sofrido o choque e rapidamente

ficou horrorizado.

"Eu tenho que ir". Ele se virou e foi embora tão rapidamente que eu tive que correr para

acompanhar.

"Voltar pra Sam!"

"Essa é uma forma de ver as coisas", parecia que ele estava falando sério. Ele estava

murmurando e olhando em frente.

Eu o segui até a caminhonete. "Espere!", eu chamei quando ele se virou na direção da

casa.

Ele se virou pra me encarar de novo, e eu ví que as mãos dele estavam tremendo de

novo

"Vá pra casa, Bella. Eu não posso mais andar com você".

Essa dor boba, inconsequente era incrivelmente poderosa.

As lágrimas apareceram de novo. "Você está... terminando comigo?" As palavras eram

todas erradas, mas elas eram as melhores nas quais eu conseguia pensar para frasear o

que eu queria perguntar. Afinal, o que eu e Jake tínhamos era mais que um romance de

escola. Era mais forte.

Ele comprimiu uma risada ácida. "Dificilmente. Se esse fosse o caso eu diria 'Vamos ser

amigos'. Mas eu nunca poderia dizer isso".

"Jacob... porque? Sam não te deixa ter outros amigos? Por favor, Jake. Você prometeu.

Eu preciso de você!"

O significante vazio que havia na minha vida antes - antes de Jacob trazer um pouco de

razãopra dentro dela - voltou e me confrontou.

A solidão apertou minha garganta.

"Eu lamento, Bella", Jacob disse cada palavra distintamente com uma voz fria que não

pertencia a ele.

Eu não acreditava que era mesmo isso que Jacob queria dizer. Parecia que havia algo

mais tentando ser dito através de seus olhos raivosos, mas eu não conseguia entender a

mensagem.

Talvez isso não tivesse nada a ver com Sam. Talvez isso não tivesse nada a ver com os

Cullen. Talvez ele só estivessem tentando se salvar dessa situação sem esperança.

Talvez eu devesse dizer que ele fizesse isso, se isso era o melhor pra ele. Eu devia fazer

isso. Era o certo.

Mas eu ouvi minha voz escapando num sussurro.

"Eu lamento que eu não pude... antes... Eu queria poder mudar o que eu sinto por você,

Jacob". Eu estava desesperada, tentando alcançar, esticando a verdade até que ela quase

se tornou uma mentira. "Talvez... talvez eu mudasse", eu sussurrei. "Talvez se você me

desse algum tempo... só não desista de mim agora, Jake. Eu não vou suportar".

O rosto dele passou de raiva para agonia num segundo. Uma mão tremendo se

aproximou de mim.

"Não. Não pense assim, Bella, por favor. Não se culpe, não pense que é sua culpa. Isso é

tudo minha culpa. Eu juro, não tem nada a ver com você".

"Não é você, sou eu", eu sussurrei. "É outra"

"Eu falo sério, Bella. Eu não estou..." ele relutou, sua voz ficando ainda mais rouca

enquanto ele lutava pra controlar suas emoções. Seus olhos estavam torturados. "Eu já

não sou mais bom o suficiente pra ser seu amigo, ou nada mais. Eu não sou mais quem

era antes. Eu não sou bom".

"O que?", eu encarei ele, confusa e apática. "O que você está dizendo? Você é muito

melhor do que eu, Jake. Você é bom! Quem disse que você não é? Sam? Ele é um

mentiroso, Jacob! Não deixe que ele te diga isso!" de repente eu estava gritando de

novo.

O rosto de Jacob ficou duro e vazio. "Ninguém me disse nada. Eu sei o que sou".

"Você é meu amigo, é isso que você é! Jake - não!"

Ele estava dando as costas pra mim.

"Eu lamento, Bella", ele disse de novo; desse vez era um murmúrio partido. Ele se virou

e quase correu para a casa.

Eu fiquei incapacitada de me mover de onde eu estava. Eu olhei para a pequena casa;

ela perecia muito pequena para os quatro garotos grandes e os dois homens ainda

maiores.

Não houve reação do lado de dentro. Nenhuma flutuação nas beiras da cortina, nenhum

som de vozes eu de movimento. Ela parecia vazia.

A chuva começou em chuviscos, fazendo cócegas onde tocavam a minha pele. Eu não

conseguia tirar os meus olhos da casa. Jacob voltaria. Ele tinha que voltar.

A chuva aumentou, o vento também. As gotas já não caiam mais de cima; elas vinham

num ângulo que vinha do oeste. Eu sentia o cheiro da brisa que vinha do mar. Meu

cabelo batia no meu rosto, grudando nos lugares molhados e fazendo cócegas nos meus

cílios. Eu esperei.

Finalmente a porta se abrui, eu dei um passo pra frente aliviada.

Billy rodou a sua cadeira pra frente até a entrada da porta. Eu não via ninguém atrás

dele.

"Charlie acabou de ligar, Bella. Eu disse pra ele que você estava voltando pra casa". Os

olhos dele estavam cheios de piedade.

De alguma forma a piedade foi o fim pra mim. Eu não comentei. Eu só me virei como

um robô e entrei na minha caminhonete.

Eu tinha deixado as janelas abertas e os bancos estavam escorregadios e molhados. Eu

não me importei. Eu já estava ensopada.

Não tão ruim, não tão ruim! minha mente tentou me confortar.

Era verdade. Isso não era tão ruim. Esse não era o fim do mundo, não novamente. Isso

era só o fim do pequeno pedaço que havia sido deixado pra trás. Só isso.

Não é tão ruim, eu concordei, e então acrescentei Mas é ruim o suficiente.

Eu achei que Jake estava curando o buraco dentro de mim - ou pelo menos juntando as

partes, evitando que isso me machucasse tanto.

Eu estava errada. Ele só estava cavando seu próprio buraco, então agora eu estava

esburacada como queijo suísso. Eu me perguntei porque não me espatifava em pedaços.

Charlie estava esperando por mim na porta. Enquanto eu parava o carro, ele veio me

encontrar.

"Billy ligou. Ele disse que você estava brigando com Jake - ele disse que você estava

brava", ele explicou enquanto abria a porta pra mim.

Então ele olhou pra mim. Uma espécie de reconhecimento horrorizado se registrou no

rosto dele. Eu tentei sentir meu rosto de dentro pra fora, pra saber o que ele estava

vendo. Meu rosto parecia vazio e frio, e eu me dei conta do que isso lembrava ele.

"Não foi exatamente isso que aconteceu", eu murmurei.

Charlie colocou seu braço ao meu redor e me ajudou a sair do carro. Ele não comentou

as minhas roupas ensopadas.

"Então o que aconteceu?", ele perguntou quando estavamos do lado de dentro. Ele

puxou a manta que ficava atrás do sofá enquanto falava e a colocou nos meus ombros.

Eu me dei conta de que ainda estava tremendo.

Minha voz estava sem vida. "Sam Uley disse que eu e Jacob não podemos mais ser

amigos".

Charlie me deu uma olhada estranha. "Quem te disse isso?"

"Jacob", eu disse, apesar de ter sido exatamente isso o que ele disse. Ainda era verdade.

As sobrancelhas de Charlie se juntaram. "Você realmente acha que tem alguma coisa

errada com aquele garoto Uley?".

"Eu sei que tem. Porém, Jacob não quis me falar sobre isso".

Eu podia ouvir a água das minhas roupas pingando no chão e fazendo barulho na

madeira. "Eu vou trocar de roupa".

Charlie estava perdido em seus pensamentos. "Ok", ele disse ausentemente.

Eu resolví tomar um banho antes porque estava com frio, mas a água quente não

pareceu afetar a temperatura do meu corpo. Eu ainda estava congelando quando desistí e

desliguei a água. No silêncio repentino, eu podia ouvir Charlie falando com alguém lá

embaixo. Eu me cobrí com uma toalha e saí do banheiro.

A voz de Charlie estava raivosa. "Eu não vou acreditar nisso. Isso não faz o mínimo

sentido".

Tudo ficou quieto aí, e eu me dei conta de que ele estava no telefone. Um minuto se

passou.

"Não culpe Bella por isso!" Charlie gritou de repente.

Eu pulei. Quando ele falou de novo, sua voz estava cuidadosa e mais baixa. "Bella

deixou muito claro o tempo inteiro que ela e Jacob era apenas amigos... Bem, se era

isso, então porque você não disse isso antes? Não, Billy, eu acho que ela está certa

nisso... Porque eu conheço a minha filha, e se ela diz que Jacob estava assustado antes -

", ele parou no meio da frase, e quando recomeçou estava quase gritando de novo.

"O que você quer dizer com eu não conheço minha filha tão bem quanto penso que

conheço!" Ele escutou por um breve segundo, e a resposta dele foi quase baixa demais

pra que eu ouvisse. "Se você pensa que eu vou fazer ela se lembrar daquilo, é melhor

você pensar de novo. Ela está apenas começando a lidar com aquilo, e em grande parte

por causa de Jacob, eu acho. Se o que quer que Jacob estava fazendo com esse tal de

Sam vai fazer ela voltar pra a aquela depressão, então Jacob terá que responder por isso.

Você é meu amigo, Billy, mas isso é machucar a minha família".

Houve outra pausa pra Billy responder.

"Você entendeu direito - se esses garotos colocarem um dedo fora da linha eu vou saber.

Nós estarmos mantendo um olho na situação, você pode ter certeza". Ele não era mais

Charlie; ele era o Chefe Swan agora.

"Tá. É. Tchau" O telefone bateu no receptor.

Eu andei na ponta dos pés rapidamente até o meu quarto. Charlie estava murmurando

com raiva na cozinha.

Então Billy ia me culpar. Eu estava incentivando Jacob e ele finalmente ficou de saco

cheio.

Era estranho, pois eu mesma temia isso, mas depois da última coisa que Jacob disse essa

tarde, eu não acreditava mais nisso. Havia muito mais envolvido nisso do que uma

paixonite não correspondida, e me surpreendia que Billy disesse que se tratava disso.

Isso me fez pensar que qualquer que fosse o segredo que ele estava escondendo, era

muito maior do que eu imaginava. Pelo menos Charlie estava do meu lado agora.

Eu coloquei o meu pijama e me arrastei para a cama. A cama parecia tão escura no

momento que eu me deixei trapacear. O buraco - buracos agora - já estava doendo,

então porque não? Eu coloquei pra fora - não a memória verdadeira que me machucaria

demais, mas a memória falsa da voz de Edward na minha cabeça essa tarde - e a toquei

de novo e de novo na minha cabeça, até que eu peguei no sono com lágrimas descendo

calmamente pelo meu rosto vazio.

Havia um sonho novo essa noite. A chuva estava caindo e Jacob estava aindando

silenciosamente ao meu lado, mas embaixo dos meus pés, o chão parecia estar cheio de

gravetos de quebrando.

Mas ele não era o meu Jacob; ele era um novo, ácido e gracioso. A graciosidade do seu

caminhado me lembrou de outra pessoa, e, enquanto eu observava, o rosto dele

começou a mudar. A pele cor de cobre foi embora, deixando o seu rosto pálido como

papel. Os olhos dele ficaram dourados, depois vermelhos, depois dourados de novo. O

cabelo dele mudava com a brisa, ficando cor de bronze quando o vento o tocava. O

rosto dele ficou tão lindo que fez meu coração disparar. Eu tentei me aproximar dele,

mas ele deu um passo pra trás, erguendo a mão como um escudo. E então Edward

desapareceu.

Eu não tinha certeza, quando me acordei na escuridão, se eu estava começando a chorar,

ou se estive chorando durante o sonho e simplesmente continuava agora.

Eu olhei para o meu teto escuro.

Eu podia sentir que esse era o meio da noite - eu ainda estava meio adormecida, talvez

fosse mais que a metade.

Eu fechei meus olhos cautelosamente e rezei por um sono sem sonhos.

Foi aí que eu escutei o barulho que deve ter me acordado no começo.

Alguma coisa afiada arranhou o vidro da minha janela com um barulho agudo e alto,

como unhas na janela.

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