você
sabe".
Um sorriso se abriu no rosto dele do jeito como um nascer do sol nasce entre as nuvens,
e eu queria cortar minha língua. Nenhuma das palavras que eu disse era mentira, mas eu
devia ter mentido. A verdade era errada, ia machucar ele.
Eu
ia decepcioná-lo.
Um olhar estranho apareceu no rosto dele. "Eu realmente acho melhor eu ir pra casa
agora", ele disse.
Eu saí rapidamente.
"Me liga!" eu gritei enquanto ele ia embora.
Eu olhei ele ir, e ele pelo menos parecia ter o controle do carro. Eu olhei para a rua
vazia depois que ele já tinha ido embora, me sentindo um pouco doente também, mas
não era nada físico.
Como eu queria que Jacob tivesse nascido meu irmão, meu irmão de carne e sangue, pra
que assim eu tivesse direitos sobre ele sem que tivesse que tivesse que me sentir
culpada. Os céus sabem que eu nunca quis usar Jacob, mas eu não podia deixar de
interpretar a culpa que eu sentia agora como um sinal de que eu havia feito isso.
Mais ainda, eu não queria amá-lo. Uma coisa eu realmente sabia - sabia com a pontada
do meu estômago, no centro dos meus ossos, sabia isso do topo da minha cabeça até as
solas dos pés, sabia isso no meu peito vazio - o amor por uma pessoa pode ter o poder
de te destruir.
Eu estava destruída e sem reparo.
Mas eu precisava de Jacob agora, precisava dele como uma droga. Eu o havia usado
como bengala por tempo demais, e eu estava mais apegada do que havia planejado fazer
com uma pessoa de novo. Agora eu não podia suportar que ele se ferisse, e eu não podia
fazer nada pra poupá-lo, também.
Ele pensava que tempo e paciencia iam me mudar, e, apesar de saber que ele estava
completamente errado, eu também havia o deixado tentar.
Ele era meu melhor amigo. Eu sempre ia amá-lo, e isso nunca, jamais seria suficiente.
Eu fui lá pra dentro me sentar perto do telefone e roer as unhas.
"O filme já acabou?" Charlie perguntou surpreso quando me viu entrar. Ele estava no
chão, bem perto da TV. Provavelmente estava esperando um jogo.
"Mike ficou doente", eu expliquei. "O mesmo problema no estômago".
"Você está bem?"
"Eu me sinto bem agora", eu disse duvidosamente. Claramente, eu estive exposta.
Eu me inclinei no balcão da cozinha, minha mão a centímetros do telefone, e tentei
esperar pacientemente. Eu pensei no jeito estranho do rosto de Jacob antes de ele ter ido
embora, e meus dedos começaram a batucar na balcão da cozinha. Eu devia ter insistido
pra levá-lo pra casa.
Eu olhei para o relógio enquanto os minutos se passagem rapidamente. Dez. Quinze.
Mesmo quando era eu quem estava dirigindo, só levavam quinze minutos, e Jacob
dirigia mais rápido que eu. Dezoito minutos. Eu peguei o telefone e disquei.
Tocou e tocou. Talvez Billy tivesse dormido. Talvez eu tivesse ligado errado. Eu tentei
de novo.
No oitavo toque, bem quando eu estava prestes a desligar, Billy atendeu.
"Alo?", ele perguntou. A voz dele estava cautelosa, como se ele estivesse esperando
notícias ruins.
"Billy, sou eu, Bella - Jacob já chegou em casa? Ele saiu daqui a mais ou menos uns
vinte minutos".
"Ele está aqui", Billy disse sem tom.
"Era pra ele me ligar", eu estava um pouco irritada. "Ele estava ficando doente quando
foi embora, e eu fiquei preocupada".
"Ele estava... doente demais pra ligar. Ele não está se sentindo muito bem agora". Billy
parecia distante. Eu me dei conta de que ele podia querer ir ficar com Jacob.
"Me avise se eu puder ajudar em alguma coisa", eu ofereci, "Eu posso ir até aí". Eu
pensei em Billy preso em sua cadeira, e Jake tendo que se virar sozinho...
"Não, não", Billy disse rapidamente. "Nós estamos bem. Fique em sua casa".
O jeito que ele disse foi quase rude.
"Tudo bem", eu concordei
"Tchau, Bella".
A linha caiu.
"Tchau", eu murmurei.
Bem, pelo menos ele chegou em casa. Estranhamente, eu não me sentia menos
preocupada. Eu subí as escadas, temendo. Talvez eu fosse até lá amanhã antes do
trabalho pra ver como ele estava. Eu podia levar uma sopa - nós deviamos ter uma lata
de sopa em algum lugar.
Eu me dei conta de que todos os meus planos foram cancelados quando eu me acordei
mais cedo - meu relógio dizia quatro e meia - e cambaleei até o banheiro. Charlie me
achou lá meia hora depois, deitada no chão, com minha bochecha encostada na beira
fria da banheira.
Ele olhou pra mim por um longo momento.
"Doente do estômago", ele disse finalmente.
"Sim", eu gemí.
"Você precisa de alguma coisa?" ele perguntou.
"Ligue pra o Newton's pra mim, por favor", eu instruí com a voz rouca. "Diga pra eles
que eu tenho o que Mike tem, e que eu não posso ir hoje. Diga a eles que eu lamento".
"Claro, sem problemas", Charlie me assegurou.
Eu passei o resto do dia no chão do banheiro, dormindo por algumas horas com a
cabeça em cima de uma toalha. Charlie disse que ele tinha que ir trabalhar, mas eu
suspeitei que ele só queria poder ter acesso a um banheiro. Ele deixou um copo de água
ao meu lado no chão pra eu me manter hidratada.
Eu só acordei quando ele voltou pra casa. Eu podia ver que estava escuro no meu quarto
- depois do cair da noite. Ele subiu as escadas pra vir me ver.
"Ainda viva?"
"Mais ou menos", eu disse.
"Você quer alguma coisa?"
"Não, obrigada".
Ele hesitou, claramente sem saber o que fazer. "Tudo bem, então", ele disse e então
voltou para a cozinha.
Eu ouví o telefone tocar alguns minutos depois. Charlie falou com uma voz baixa por
alguns instantes e depois desligou.
"Mike se sente melhor", ele me informou.
Bem, isso era encorajador. Ele só tinha ficado doente oito horas antes de mim. Mais oito
horas.
o pensamento fez meu estômago revirar, e eu me levantei pra me inclinar na privada.
Eu peguei no sono na toalha de novo, mas quando eu me acordei eu estava na minha
cama e já estava claro no lado de fora da minha janela; Charlie deve ter me carregado
pro meu quarto - ele também havia colocado um copo de água na minha mesinha de
cabaceira pra mim. Eu me sentia ressecada. Eu o bebí, apesar de ele estar com um gosto
engraçado por ter permanecido intocado a noite inteira.
Eu me levantei lentamente, tentando não desencadear a náusea de novo. Eu estava fraca,
e minha boca estava com um gosto horrível, mas o meu estômago estava bem. Eu olhei
para o meu relógio.
As vinte e quatro horas haviam passado.
Eu não forcei, e não comí nada além de biscoitos salgados no café da manhã. Charlie
pareceu aliviado por me ver recuperada.
Assim que eu tive a certeza de que não precisaria passar o dia inteiro no chão do
banheiro de novo, eu liguei pra Jacob.
Foi Jacob que atendeu, mas quando eu ouví a saudação dele, eu sabia que ele ainda não
estava bem.
"Alo?", a voz dele estava quebrada, rachada.
"Oh, Jake", eu disse simpatizada. "Você parece horrível".
"Eu me sinto horrível", ele sussurrou.
"Eu lamento por ter feito você sair comigo. Isso é péssimo".
"Eu estou feliz por ter ido", a voz dele ainda era só um sussurro.
"Não se culpe. Isso não é culpa sua".
"Você vai melhorar logo", eu prometí. "Eu já estava bem quando acordei essa manhã".
"Você estava doente?", ele perguntou abobalhado.
"Sim, eu peguei também. Mas agora eu já estou bem".
"Isso é bom", a voz dele estava morta.
"Então você provavelmente vai ficar melhor em algumas horas", eu encorajei.
Eu mal pude ouvir a resposta dele. "Eu não acho que estou com a mesma coisa que você
teve".
"Você não está com a doença no estômago?" eu perguntei, confusa.
"Não, é outra coisa".
"O que há de errado com você?"
"Tudo", ele sussurrou. "Todas as partes de mim doem".
A dor na voz dele era quase tocável.
"O que eu posso fazer, Jake? O que eu posso levar pra você?"
"Nada. Você não pode vir aqui". Ele foi abrupto. Isso me fez lembrar de Billy na noite
passada.
"Eu já fui exposta a o que quer que você tenha", eu apontei.
Ele me ignorou. "Eu te ligo quando puder. Eu te aviso quando você puder vir aqui".
"Jacob-"
"Eu tenho que ir", ele disse com uma urgencia repentina.
"Me ligue quando estiver se sentindo melhor".
"Certo", ele concordou, e a voz dele tinha uma pontada estranha, ácida.
Ele ficou em silêncio por um minuto. Eu estava esperando que ele disesse tchau, mas
ele estava esperando também.
"Eu te vejo depois", eu finalmente disse.
"Espere que eu ligue", ele disse de novo.
"Ok... Tchau, Jacob".
"Bella", ele sussurrou meu nome, e então desligou o telefone.
10. A Clareira
Jacob não ligou.
Da primeira vez que eu liguei, Billy atendeu e disse que Jacob ainda estava na cama. Eu
fiquei curiosa, checando pra ter certeza de que Billy havia levado ele ao médico. Billy
disse que tinha, mas, por alguma razão eu não comprei isso, eu não acreditei nele. Eu
liguei de novo, várias vezes por dia, pelos dois dias seguintes, mas nem tinha ninguém
lá.
No sábado, eu decidi ir visitá-lo, que se danasse o convite. Mas a pequena casa
vermelha estava vazia. Isso me assustou - será que Jacob estava tão doente que teve que
ser internado no hospital? Eu parei no hospital no caminho de volta pra casa, mas a
enfermeira na mesa da frente me disse que nenhum Jacob ou Billy esteve lá.
Eu fiz Charlie ligar pra Harry Clearwater assim que ele chegou em casa do trabalho. Eu
esperei, ansiosa, enquanto Charlie tagarelava com o seu velho amigo; a conversa
pareceu durar uma eternidade sem que Jacob fosse mencionado. Parecia que Harry
havia estado no hospital... foi fazer algum tipo de teste no coração. A testa de Charlie
ficou toda enrugada, mas Harry fez piada com ele, mudando de assunto, até que Charlie
estava sorrindo de novo. Só aí Charlie perguntou sobre Jacob, e agora o lado dele da
conversa não me dava muito a entender, só um monte de Hmmms e Ééééé. Eu batuquei
meus dedos no balcão ao lado dele até que ele colocou a mão dele em cima da minha
pra me fazer parar.
Finalmente, Charlie desligou o telefone e se virou pra mim.
"Harry disse que houveram problemas com as linhas telefônicas, e que foi por isso que
você não conseguiu falar com eles. Billy levou Jacob para o médico de lá, e parece que
ele está com Mononucleose. Ele está muito cansado, e Billy está proibindo as visitas",
ele informou.
"Nada de visitas?", eu perguntei sem acreditar.
Charlie ergueu uma sobrancelha. "Agora não comece a ser incômoda, Bells. Billy sabe
o que é melhor pra Jake. Ele vai estar de pé em breve. Seja paciente".
Eu não quis forçar a barra. Charlie estava muito preocupado com Harry. Esse
claramente era um problema mais sério - não era certo incomodá-lo com os meus
probleminhas. Ao invés disso, eu fui lá pra cima e liguei o meu computador. Eu
encontrei um site médico on line e digitei "mononucleose" na caixinha de buscas.
A única coisa que eu sabia sobre Mononucleose era que você podia pegar beijando, que
claramente não era o caso de Jake. Eu li os sintomas rapidamente - a febre ele
definitivamente tinha, mas e quanto ao resto?
Nenhum horrível inchaço na garganta, sem exaustão, sem dores de cabeça, pelo menos
não até antes de ele chegar em casa depois do cinema; ele disse que se sentia
"absolutamente normal". Será que isso tudo apareceu tão rápido? O artigo fazia parecer
que os inchaços apareciam primeiro.
Eu olhei para a tela do computador e me perguntei porque, exatamente, eu estava
fazendo isso. Porque eu me sentia tão... tão suspeita, como se eu não acreditasse na
história de Billy? Porque Billy iria mentir pra Harry?
Eu estava sendo boba, provavelmente. Eu só estava preocupada, e, pra ser honesta, eu
estava com medo por não estar sendo permitida de visitar Jacob - isso me deixou
nervosa.
Eu deslizei pelo resto do artigo, procurando por mais informações. Eu parei quando
cheguei na parte que dizia que a mono podia durar mais de um mês.
Um mês? Minha boca se abriu.
Billy não podia proibir as visitas por tanto tempo. É claro que não. Jake ficaria louco se
ficasse numa cama esse tempo todo sem falar com ninguém.
Do que é que Billy estava com medo, afinal? O artigo dizia que a pessoa como Mono
devia evitar atividades físicas, mas não dizia nada sobre visitas. A doença não era tão
contagiosa.
Eu daria a Billy uma semana, eu decidí, antes de forçar a barra. Uma semana era uma
generosidade.
Uma semana era muito tempo. Na quarta, eu já não tinha certeza se sobreviveria até o
sábado.
Quando eu decidi que deixaria Billy e Jacob a sós por uma semana, eu não acreditava
realmente que Jacob fosse seguir as regras de Billy. Todos os dias quando eu voltava
pra casa da escola, eu corria pra o telefone pra checar as mensagens. Nunca havia
nenhuma.
Eu traí três vezes tentando ligar pra ele, mas as linhas telefônicas ainda não estavam
funcionando.
Eu ficava em casa por tempo demais, e sozinha demais. Sem Jacob, minha adrenalina e
minhas distrações, e tudo mais que eu havia reprimido começaram a me deixar
impaciente. Os sonhos ficaram piores de novo. Eu não conseguia mais ver o fim se
aproximando. O horrível vazio - metade do tempo na floresta, metade no tempo no mar
de grama onde a casa branca não existia mais. As vezes Sam Uley estava lá na floresta,
me olhando de novo. Eu não prestava atenção nele - não havia nenhum conforto na
presença dele; ela não fazia eu me sentir menos sozinha. Ela não me fez parar de gritar
até acordar, noite após noite.
O buraco no meu peito estava pior que nunca. Eu achava que estava começando a
controlá-lo, mas eu me pegava me curvando, dia após dia, agarrando os meus dois
lados, e sufocando por ar.
Eu não estava lidando bem com isso sozinha.
Eu fiquei aliviada além das medidas, quando me acordei de manhã - gritando, é claro - e
me lembrei de que era sábado. Hoje eu podia ligar pra Jacob.
E se as linhas telefônicas ainda não estivessem funcionando, então eu iria á La Push. De
um jeito ou de outro, hoje seria melhor do que a minha última semana de solidão.
Eu disquei, e então esperei sem elevar as minhas expectativas.
Eu fui pega fora de guarda quando Billy atendeu no segundo toque.
"Alô?"
"Oh, ei, o telefone está funcionando de novo! Oi, Billy. É Bella. Eu só estou ligando pra
saber como Jacob está. Ele já pode receber visitas? Eu estava pensando em passar por
aí-"
"Eu lamento, Bella", Billy interrompeu, e eu me perguntei se ele estava assistindo TV;
ele parecia distraído. "Ele não está aqui".
"Oh", isso me levou um segundo. "Ele stá se sentindo melhor, então?"
"É", Billy hesitou por um instante longo demais. "Acontece que no fim ele não estava
com Mononucleose. Era só algum outro vírus".
"Oh. Então... onde ele está?"
"Ele está dando a alguns amigos uma carona até Port Angeles - eu acho que eles vão
pegar uma sessão dupla ou alguma coisa assim. Ele vai ficar fora o dia inteiro".
"Bem, isso é um alívio. Eu estava tão preocupada. Eu me alegro que ele tenha se sentido
bem o suficiente pra sair". A minha voz parecia horrivelmente falsa enquanto eu
tagarelava.
Jacob estava melhor,mas não bem o suficiente pra me ligar. Ele havia saído com os
amigos. Eu estava sozinha em casa, sentindo mais falta dele a cada hora. Eu estava
sozinha, preocupada, enfadada... perfurada - e agora também estava desolada ao
descobrir que uma semana de distância não teve o mesmo efeito nele.
"Tem algo em particular que você queira?" Billy perguntou educadamente.
"Não, na verdade não".
"Bem, eu digo pra ele que você ligou", Billy prometeu. "Tchau, Bella".
Eu fiquei parada um momento com o telefone ainda na minha mão.
Jacob deve ter mudado de idéia, assim como eu temia. Ele ia seguir o meu conselho e ia
parar de perder tempo com uma pessoa que não podia retornar os seus sentimentos. Eu
senti o sangue fugindo do meu rosto.
"Há algo errado?" Charlie me perguntou enquanto descia as escadas.
"Não", eu menti desligando o telefone. "Billy disse que Jacob está se sentindo melhor.
Não era mono. Isso é bom".
"Ele está vindo aqui, ou você está indo pra lá?" Charlie perguntou ausentemente
enquanto começava a vasculhar na geladeira.
"Nenhum dos dois", eu admiti. "Ele saiu com uns amigos".
O tom da minha voz finalmente chamou a atenção de Charlie. Ele olhou pra mim com
olhos alarmados de repente, as mãos dele congelaram num pacote de queijo fatiado.
"Não é um pouco cedo demais pra almoçar?", eu perguntei tão levemente quanto pude,
tentando distraí-lo.
"Não, eu só vou empacotar alguma coisa pra levar para o rio..."
"Oh, vai pescar hoje?"
"Bem, Harry ligou... e não está chovendo" Ele estava criando uma pilha de comida no
balcão enquanto falava. De repente ele olhou pra cima de novo, como se tivesse
acabado de se dar conta de alguma coisa. "Diga, você quer que eu fique aqui com você,
já que Jake saiu?"
"Está tudo bem, pai", eu disse trabalhando pra soar diferente. "Os peixes são melhor
fisgados quando o tempo está bom".
Ele olhou pra mim, a indecisão estava clara no rosto dele. Eu sabia que ele estava se
preocupando, com medo de me deixar sozinha, no caso de eu ficar um "palerma" de
novo.
"Sério, pai. Eu acho que vou ligar pra Jéssica", eu lorotei rapidamente. Eu preferia ficar
sozinha do que com ele me vigiando o dia inteiro. "Nós temos um teste de Cálculo pra
estudar. Eu podia usar a ajuda dela". Essa parte era verdade. Mas eu teria que conseguir
me virar sozinha.
"Essa é uma boa idéia. Você tem passado tanto tempo com Jacob, seus outros amigos
devem estar pensando que você os esqueceu".
Eu sorri e balancei a cabeça como se me importasse com o que os meus outros amigos
pensavam.
Charlie começou a se virar, mas se virou de volta com uma expressão preocupada. "Ei,
você vai estudar aqui ou na casa de Jess, certo?"
"Claro, onde mais?"
"Bem, é só que eu quero que você tome o cuidado de ficar fora da floresta, como eu já
te disse antes".
Eu levei um minuto pra entender, de tão distraída que estava. "Mais problemas com o
urso?"
Charlie balançou a cabeça, fazendo uma careta. "Nós temos um mochileiro
desaparecido - os patrulheiros encontraram o acampamento dele essa manhã, mas não
havia sinal dele. Haviam algumas pegadas muito grandes de animal... é claro que eles
apareceram mais cedo, sentindo o cheiro da comida... De qualquer forma, eles estão
colocando armadilhas pra eles agora".
"Oh", eu disse vagamente. Eu não estava realmente ouvindo os avisos dele; eu estava
muito mais aborrecida com a situação com Jacob do que com a possibilidade de ser
comida por um urso.
Eu estava feliz que Charlie estava com pressa. Ele não esperou até que eu ligasse pra
Jéssica, assim eu não tive que cumprir essa promessa.
Eu passei pelas ações de pegar meus livros e colocá-los na mochila; isso provavelmente
foi demais, e se ele não estivesse com pressa de se mandar, isso poderia ter feito ele
suspeitar.
Eu estava tão ocupada parecendo ocupada que o meu dia ferozmente vazio não
realmente bateu em mim até que eu o vi indo embora. Eu só precisei olhar durante uns
dois minutos para o telefone silencioso da cozinha pra decidir que não ia passar o dia
em casa. Eu considerei minhas opções.
Eu não ia ligar pra Jéssica. Até onde eu podia dizer, Jéssica havia passado para o lado
negro.
Eu podia dirigir até La Push e pegar a minha moto - uma opção muito tentadora, se não
fosse por um pequeno problema: quem era que ia me levar para o pronto socorro se eu
precisasse ir pra lá depois?
Ou... Eu já estava com o nosso mapa e com o compasso na minha caminhonete. Eu
tinha certeza que havia entendido o processo o suficiente até agora pra não me perder.
Talvez eu pudesse eliminar duas linhas hoje, nos colocando á frente na nossa agenda pra
quando quer que Jacob resolvesse me honrar com a sua presença de novo. Eu me
recusei a pensar em quanto tempo isso poderia durar. Ou se não duraria pra sempre.
Eu senti uma leve pontada de culpa enquanto me dava conta de como Charlie se sentiria
em relação a isso, mas eu a ignorei. Eu simplesmente não podia ficar em casa hoje de
novo.
Alguns minutos depois eu estava na familiar estrada de poeira que não levava a nenhum
lugar em particular. Eu deixei as janelas abertas e dirigi o mais rápido que pude para a
saúde da minha caminhonete, tentando aproveitar o vento no meu rosto. Estava nublado,
mas quase seco - um dia muito bom, pra Forks.
Começar me levou mais tempo do que levaria pra Jacob. Depois que eu estacionei no
lugar de sempre, eu tive que passar uns bons quinze minutos estudando cuidadosamente
a pequena agulha do compasso e as marcas do mapa agora bastante usado. Quando eu
estava razoavelmente certa de que estava seguindo a linha certa na teia, eu me
embrenhei na mata.
A floresta estava cheia de vida hoje, todas as pequenas criaturas estavam aproveitando a
secura momentânea.
De alguma forma, porém, mesmo com os pássaros cantando e fazendo barulho, os
insetos zumbindo alto na minha cabeça, e até a ocasional corrida de um rato do mato
entre os arbustos, a floresta parecia mais assustadora hoje; me lembrava do meu
pesadelo mais recente. Eu sabia que era só porque eu estava sozinha, sentindo falta do
assobio livre de Jacob e do som de outro par de pés pisando no chão molhado.
A sensação de inquietude foi crescendo ficava mais forte quanto mais fundo eu me
enfiava na floresta. Respirar começou a ficar mais difícil - não por causa da exaustão,
mas sim porque eu estava tendo problemas com o estúpido buraco no meu peito de
novo. Eu apertei meus braços com força ao redor do tórax e tentei banir a dor dos meus
pensamentos. Eu quase dei a volta, mas eu odiava ter que jogar fora todo o esforço que
já havia feito.
O ritmo dos meus passos começou a entorpecer a minha mente e a minha dor. A minha
respiração ficava uniforme eventualmente, e eu estava feliz por não ter desistido. Eu
estava ficando melhor nesse negócio de caminhar pelas matas; eu podia notar que estava
mais rápida.
Eu não me dei conta de o quanto eu estava sendo eficiente. Eu achava que já havia
andado milhas e ainda nem havia começado a contá-las. E então, com um rapidez que
me desorientou, eu entrei por um arco que era feito com o tronco de duas árvores -
passando pelas samambaias que chegavam á altura do peito - passando para a clareira.
Era o mesmo lugar, instantaneamente eu tinha certeza. Eu nunca havia visto outra
clareira tão simétrica. Ela era perfeitamente redonda como se alguém tivesse
intencionalmente criado o círculo sem falhas, arrancando as árvores mas sem deixar
evidências dessa violência nas ondas de grama. Á leste, eu podia ouvir o rio
borbulhando silenciosamente.
O lugar não era nem um pouco tão fascinante sem a luz do sol, mas ainda era muito
bonito e sereno. Não era a época certa para as flores selvagens; o chão estava grosso
com a grama alta que balançava com a brisa leve como se fossem ondas num lago.
Era o mesmo lugar... mas não parecia que eu encontraria lá o que eu estava procurando.
A decepção foi quase tão instantânea quanto o reconhecimento.
Eu afundei onde estava, me ajoelhando lá na beira da clareira, começando a asfixiar.
De que adiantava seguir em frente? Não havia nada lá. Nada além de memórias que eu
queria ter trazido á tona quando eu quisesse, se um dia eu fosse capaz de lidar com a por
que elas trariam - a dor que me pegou agora, me deixou fria. Não havia nada de especial
nesse lugar sobre ele. Eu não tinha certeza absoluta do que esperava sentir aqui, mas a
clareira estava vazia de atmosfera, vazia de tudo, exatamente como todas as coisas.
Assim como os meus pesadelos. Minha cabeça rodopiou confusa.
Pelo menos eu tinha vindo sozinha. Eu senti uma onda de agradecimento quando me dei
conta disso. Se eu tivesse descoberto a clareira com Jacob... bem, não ia ter jeito de
disfarçar o abismo no qual eu estava enclausurada agora. Como era que eu ia explicar o
fato de estar me fazendo em pedacinhos, o jeito como eu me curvava numa bola pra
evitar que o buraco vazio me partisse em duas? Era muito melhor que eu não tivesse
uma platéia.
E eu também não teria que explicar pra ninguém porque estava com tanta pressa de ir
embora. Jacob teria presumido, depois de tanto trabalho pra encontrar esse lugar
estúpido, que eu ia querer passar mais alguns segundos lá. Mas eu já estava tentando
encontrar forças pra ficar de pé de novo, me forçando a sair daquela bola pra poder
escapar. Havia muita dor nesse lugar vazio pra eu suportar - eu ia me arrastando se
precisasse.
Que sorte que eu estava sozinha!
Sozinha. Eu repeti a palavra com grande satisfação enquanto me esforçava pra ficar de
pé apesar da dor. Precisamente nesse momento, uma figura saiu de dentro das árvores
ao norte, á uns trinta passos de distância.
Uma fascinante desordem de emoções passou por mim em um segundo. A primeira foi
surpresa; eu estava distante de qualquer trilha aqui, e não esperava companhia. Então,
enquanto meus olhos se focavam na figura imóvel, vendo a incrível rigidez, a pele
pálida, uma onda de esperança penetrante passou por mim. Eu a suprimi viciosamente,
lutando contra a agonia igualmente afiada enquanto meus olhos continuavam pra olhar o
rosto embaixo do cabelo preto, que não era o que eu estava esperando.
A próxima foi medo; esse não era o rosto pela qual eu vivia aflita, mas ele estava
suficientemente perto de mim pra que eu soubesse que aquele homem não era nenhum
mochileiro.
E finalmente, no fim, reconhecimento.
"Laurent!", eu falei com um surpreso prazer.
Era uma resposta irracional. Eu provavelmente devia ter parado no medo.
Laurent fazia parte do grupo de James quando eu o conheci. Ele não esteva envolvido
na caçada que se seguiu - a caçada na qual eu era a presa - mas isso foi só porque ele
estava com medo; eu era protegida por um grupo maior do que o dele. Teria sido
diferente se esse não fosse o caso - ele não tinha nada contra, naquela época, a idéia de
me fazer de refeição. É claro, ele devia ter mudado, porque ele foi para o Alaska pra
viver com outro grupo civilizado lá, outra família que se recusava a beber sangue de
humanos por razões éticas. Outra família como os... eu não conseguia me fazer pensar
no nome.
Sim, sentir medo faria mais sentido, mas o que eu sentia era uma dominante satisfação.
A clareira era um lugar mágico de novo. Uma magia mais negra do que a que eu estava
esperando, com certeza, mas mágica do mesmo jeito. Aqui estava a conexão que eu
buscava. A prova, mesmo que remota, de que - em algum lugar no mesmo mundo que
eu - ele existia.
Era impossível o quanto Laurent parecia exatamente o mesmo. Eu acho que era muito
bobo e humano esperar que as coisas mudassem tanto em um ano. Mas havia uma
coisa... eu não conseguia identificar o que era direito.
"Bella?", ele perguntou, parecendo mais pasmo do que eu me sentia.
"Você lembra", eu sorrí. Era ridículo que eu estivesse tão feliz porque um vampiro
lembrava meu nome.
Ele sorriu. "Eu não esperava te ver por aqui". Ele andou na minha direção, com a
expressão divertida.
"Isso não é o contrário? Eu vivo aqui. Eu pensei que você tinha ido para o Alaska".
Ele parou a uns dez passos de distância, inclinando a cabeça para o lado.
O rosto dele era o rosto mais bonito que eu via pelo que pareceu ser uma eternidade. Eu
estudei o rosto dele com um ganancioso senso estranho de alívio. Ele era uma pessoa
para a qual eu não precisava fingir - uma pessoa que já sabia de tudo que eu podia dizer.
"Você está certa", ele concordou. "Eu fui para o Alaska. Ainda assim, eu não esperava...
Quando eu encontrei a casa dos Cullen vazia, eu pensei que eles haviam se mudado".
"Oh". Eu mordi meu lábio quando o nome fez as beiras em carne viva da minha ferida
doerem. Eu levei um segundo pra me recompor. Laurent esperou com olhos curiosos.
"Eles se mudaram", eu finalmente consegui dizê-lo.
"Hmm", ele murmurou. "Eu estou surpreso que eles tenham te deixado pra trás. Você
não era uma espécie de animal de estimação deles?" os olhos dele estavam inocentes
como se não tivessem a intenção de ofender.
Eu dei um sorriso torto. "Alguma coisa assim".
"Hmm",ele disse, pensativo de novo.
Nesse exato momento, eu percebi o porque que ele parecia igual - igual demais. Depois
que Carlisle nos disse que Laurent havia ficado com a família de Tânia, eu comecei a
imaginá-lo, nas raras ocasiões em que pensava nele, com os mesmos olhos dourados
que os... Cullen - eu forcei o nome a sair, estremecendo - tinham. Que os vampiros bons
tinham.
Eu dei um passou involuntário pra trás, e os seus curiosos, olhos vermelho escuros
seguiram o meu movimento.
"Eles te visitam frequentemente?", ele perguntou, ainda casual, mas o peso dele se
inclinou na minha direção.
"Minta", a linda voz aveludada sussurrou ansiosamente na minha memória.
Eu me assustei com o som da voz dele, mas isso não devia ter me surpreendido. Eu não
estava me submetendo ao maior perigo imaginável? A moto parecia um bando de gatos
bonzinhos comparada a isso.
Eu fiz o que a voz me disse pra fazer.
"De vez em quando" eu tentei fazer minha voz ficar leve, relaxada. "O tempo parece
mais longo pra mim, eu imagino. Você sabe como eles podem ser distraídos..." eu
estava começando a tagarelar. Eu tive que me esforçar pra calar a boca.
"Hmm", ele disse de novo. "A casa cheirava como se estivesse vazia já ha algum
tempo..."
"Você precisa mentir melhor do que isso, Bella", a voz disse com urgência.
Eu tentei. "Eu vou ter que dizer a Carlisle que você esteve aqui. Ele vai ficar triste por
ter perdido a sua visita". Eu fingi estar pensando por um segundo. "Mas eu
provavelmente não devia mencionar isso pra... Edward, eu acho -" eu mal consegui
dizer o nome dele, e isso fez a minha expressão se contorcer, arruinando o meu blefe. "-
Ele tem um temperamento forte... bem, eu tenho certeza de que você lembra. Ele ainda
está nervoso com aquela coisa de James". Eu revirei os olhos e abanei displicentemente
com uma mão, como se isso fosse uma história antiga, mas havia uma pontada de
histeria na minha voz. Eu me perguntei se ele poderia reconhecer o que isso era.
"Ele está mesmo?" Laurent perguntou prazerosamente... e ceticamente.
Eu mantive minha resposta curta, pra que assim minha voz não deletasse o meu pânico.
"Mm-hmm".
Laurent deu um passo casual para o lado, olhando ao seu redor na pequena clareira. Eu
não deixei de reparar que o seu passou o trouxe pra mais perto de mim. Na minha
cabeça, a voz respondeu com um rosnado baixo.
"Então como estão as coisas em Denali? Carlisle disse que você tinha ido ficar com
Tânia?" minha voz estava alta demais.
A questão fez ele parar. "Eu gosto muito de Tânia", ele meditou. "E da sua irmã Irina
ainda mais... eu nunca havia ficado tanto tempo em um só lugar, e eu aproveitei as
vantagens, as novidades de tudo. Mas as restrições eram difíceis... Eu estou surpreso
que eles tenham conseguido agüentar por tanto tempo", ele sorriu pra mim
conspiradoramente. "As vezes eu trapaceio".
Eu não consegui engolir. Os meus pés começaram a ir pra trás, mas eu fiquei congelada
quando seus olhos vermelhos olharam pra baixo pra captar o movimento.
"Oh", eu disse com uma voz fraca. "Jasper tem problemas com isso também".
"Não se mova", a voz sussurrou. Eu tentei fazer o que ele instruía. Era muito difícil; o
instinto de me mandar era quase incontrolável.
"Mesmo?" Laurent pareceu interessado. "Foi por isso que eles foram embora?"
"Não" eu respondi honestamente. "Jasper é mais cuidadoso em casa".
"Sim", Laurent concordou. "Eu sou também".
O passo á frente que ele deu agora foi de propósito.
"Victória encontrou você?" eu perguntei, sem fôlego, desesperada pra distraí-lo. Essa
foi a primeira pergunta que me veio á mente, e eu me arrependi de ter dito as palavras
assim que ela saíram. Victória - que havia me caçado com James, e depois desaparecido
- não era alguém em quem eu queria pensar nesse momento em particular.
Mas a pergunta parou ele.
"Sim", ele disse, hesitando no passo. "Na verdade eu vim aqui como um favor pra ela".
Ele fez uma cara. "Ela não vai ficar feliz com isso".
"Com o que?", eu disse ansiosamente, o convidando a continuar. Ele estava olhando
para as árvores, pra longe de mim. Eu tomei vantagem na distração dele, dando um
passo furtivo pra trás.
Ele olhou de volta pra mim e sorriu - a expressão fez ele parecer um anjo de cabelos
pretos.
"Eu matar você", ele respondeu com um ronronar sedutor.
Eu vacilei em outro passo pra trás. O rosnado frenético na minha cabeça tornava difícil
escutar.
"Ela queria salvar essa parte pra si própria", ele continuou, alegremente.
"Ela está meio... aborrecida com você, Bella?"
"Comigo?", eu esguichei.
Ele balançou a cabeça e gargalhou. "Eu sei, aprece um pouco atrasado pra mim
também. Mas James era o parceiro dela, e o seu Edward o matou".
Mesmo aí, á beira da morte, o nome dele rasgou as paredes não cicatrizadas da minha
ferida como se a estivesse serrando.
Laurent não estava consciente da minha reação. "Ela achou mais apropriado matar você
do que Edward - um troco justo, parceiro por parceiro. Ela me pediu pra ficar de olho na
terra deles, por assim dizer. Eu não podia imaginar que seria tão fácil te pegar. Então
talvez o plano dela falhe - aparentemente não era a vingança que ela havia imaginado, já
que você não deve ser tão importante pra ele já que ele te deixou aqui desprotegida".
Outro golpe, outra lágrima no meu peito.
O peso de Laurent se moveu levemente, e eu dei outro passo pra trás.
Ele fez uma careta. "Eu acho que ela vai ficar zangada, do mesmo jeito".
"Então porque não esperar por ela?", eu gaguejei.
Um sorriso maquiavélico transformou o rosto dele. "Bem, você me pegou num mal
momento, Bella. Eu não vim pra esse lugar por causa da missão de Victória - eu estava
caçando. Eu estou com muita sede, e o seu cheiro é... simplesmente de dar água na
boca".
Laurent olhou para mim com aprovação, como se ele estivesse falando sério quando me
cumprimentou.
"Ameace ele", a linda voz da ilusão ordenou, a voz dele estava desorientada de medo.
"Ele vai saber que foi você", eu sussurrei obedientemente. "Você não vai se safar
dessa".
"E porque não?" o sorriso de Laurent cresceu. Ele olhou ao redor para a pequena
abertura das árvores. "O cheiro vai ser lavado na próxima chuva. Ninguém vai encontrar
seu corpo - você simplesmente terá desaparecido, como tantos, tantos outros humanos.
Não vão haver motivos pra Edward pensar em mim, se ele se importar o suficiente pra
investigar. Não é nada pessoal, Bella, eu te asseguro. Só sede".
"Implore", minha alucinação me implorou.
"Por favor", eu asfixiei.
Laurent balançou a cabeça, seu rosto estava gentil. "Veja dessa forma, Bella. Você tem
muita sorte que fui eu quem te encontrou".
"Eu tenho?", eu murmurei, arriscando outro passo pra trás.
Laurent seguiu, leve e gracioso.
"Sim", ele me assegurou. "Eu serei bem rápido. Você não vai sentir nada, eu prometo.
Oh, eu vou mentir pra Victória sobre isso mais tarde, naturalmente, só pra aplacar ela.
Mas se você soubesse o que ela tinha planejado pra você, Bella..." ele balançou a cabeça
com um movimento lento, quase com desgosto. "Eu juro que você estaria me
agradecendo".
Eu olhei pra ele horrorizada.
Ele fungou a brisa que soprava o meu cabelo na direção dele. "De dar água na boca",
ele repetiu, inalando profundamente.
Eu fiquei tensa pra sair dali, meus olhos piscando enquanto eu tentava me afastar, e o
som do rosnado enfurecido de Edward ecoava no fundo da minha cabeça. O nome dele
escapou pelas paredes que eu havia construído pra pará-lo. Edward, Edward, Edward.
Eu ia morrer. Não devia importar se eu pensasse nele agora. Edward, eu te amo.
Pelos meus olhos apertados, eu ví Laurent parar no meio do ato de inalar e virar a
cabeça rapidamente para a esquerda. Eu estava com medo de tirar os olhos dele, de
seguir a direção do seu olhar, apesar de que ele já não precisava mais de nenhum truque
ou nenhum distração pra me pegar.
Eu estava muito surpresa pra me sentir aliviada quando ele começou a se afastar de
mim.
"Eu não acredito nisso", ele disse, a voz dele estava tão baixa que eu quase não a ouvia.
Então eu tive que olhar. Meus olhos vasculharam a clareira, procurando pela distração
que havia estendido a minha vida em mais alguns segundos.
No início eu não ví nada, e o meu olhar voltou pra Laurent. Ele estava se afastando com
mais velocidade agora, os olhos dele fixos na floresta.
Então eu vi; uma enorme figura preta saiu das árvores, quieta como uma sombra, e
perseguiu de propósito na direção do vampiro. Era enorme - alto como uma casa, só que
mais grosso, muito mais musculoso. O longo focinho fez uma careta, revelando uma
longa fileira de dentes afiados como adagas. Um horrível rosnado saiu pelos seus
dentes, rompendo pela clareira como o barulho de um trovão prolongado.
O urso. Só que aquilo não era um urso de jeito nenhum. Mesmo assim, aquele enorme
monstro preta tinha que ser a criatura que andava causando o alarme. De longe,
qualquer um presumiria se tratar de um urso. O que mais poderia ter uma estrutura tão
vasta, tão poderosa?
Eu desejei ter sido sortuda o suficiente pra vê-lo de longe. Ao invés disso, ele
caminhava silenciosamente na grama a menos de dez pés de onde eu estava.
"Não se mexa nenhum centímetro", a voz de Edward sussurrou.
Eu olhei para a criatura monstruosa, minha mente borbulhando enquanto eu pensava
num nome pra dar pra ela. Havia uma aparência canina bastante distinta no formato
dele, no jeito como se mexia. Eu só podia pensar numa possibilidade, travada de horror
como estava. Eu nunca tinha imaginado que um lobo podia ficar tão grande.
Outro rosnado saiu da sua garganta, e eu me encolhi com o som.
Laurent estava tentando voltar para a beira onde ficavam as árvores, e, por baixo do
terror que me congelava, a confusão passou por mim.
Porque Laurent estava fugindo? Com certeza,o lobo era de um tamanho monstruoso,
mas era só um animal. Por que razão um vampiro teria medo de um animal? E Laurent
estava com medo. Os olhos dele estavam esbugalhados de horror, como os meus.
Como se isso respondesse a minha pergunta, de repente o lobo do tamanho de um
elefante não estava mais sozinho. Saindo dos dois lados da clareira, outras duas bestas
gigantes se arrastaram pra dentro da clareira. Uma era de um cinza escuro, o outro
marrom, mas nenhum era tão grande quanto o primeiro. O lobo cinza saiu das árvores a
apenas alguns centímetros de mim, com os olhos grudados em Laurent.
Antes mesmo que eu pudesse reagir, mais dois outros lobos os seguiram, alinhados
como um V, como gansos voando para o sul. Isso significava que o ultimo monstro
marrom que entrou na clareira estava perto o suficiente pra eu tocá-lo.
Eu dei um suspiro involuntário e pulei pra trás - que foi a coisa mais estúpida que eu
podia ter feito. Eu congelei de novo, esperando que os lobos se virassem pra mim, a
presa muito mais fraca e vulnerável. Eu desejei brevemente que Laurent começasse a
destruir o grupo de lobos - isso devia ser fácil pra ele. Eu achei que, entre as duas
escolhas á minha frente, ser comida por lobos era certamente a pior opção.
O lobo mais próximo de mim, o marrom avermelhado, virou a cabeça levemente com o
som do meu suspiro.
Os olhos do lobo eram escuros, quase pretos. Ele olhou pra mim uma fração de
segundo, seus olhos profundos pareceram inteligentes demais pra um animal selvagem.
Ele me encarou, eu pensei em Jacob de repente- de novo, com gratidão. Pelo menos eu
tinha vindo aqui sozinha, pra essa clareira encantada cheia de monstros negros. Pelo
menos Jacob não ia morrem também. Pelo menos eu não carregaria a morte dele nas
costas.
Então outro rosnado baixo do líder fez a cabeça do lobo se virar, na direção de Laurent.
Laurent estava olhando pra o monstruoso bando de lobos monstruosos com um
inexplicável olhar de choque e medo. Primeiro eu não consegui entender. Mas eu fiquei
atordoada quando, sem nenhum aviso, ele se virou e desapareceu entre as árvores.
Ele fugiu.
Os lobos foram atrás dele em um segundo, se espalhando pela grama com passadas
poderosas, rosnando e fazer estalos tão altos que eu levantei minhas mãos
instintivamente pra cobrir meus ouvidos. O som desapareceu com surpreendente
velocidade assim que eles desapareceram na mata.
E então eu estava sozinha de novo.
Meus joelhos tremerem embaixo de mim, e eu caí em cima das minhas mãos, soluços se
construindo na minha garganta.
Eu sabia que tinha que ir embora, e tinha que ir agora. Por quanto tempo os lobos iam
caçar Laurent antes de voltarem por mim? Ou Laurent ia se virar contra eles? Seria ele
quem voltaria me procurando?
Porém, primeiramente eu não conseguia me mexer; meus braços e pernas estavam
tremendo, e eu não sabia como voltar a ficar de pá.
Minha mente não conseguia superar o medo, o horror ou a confusão. Eu não entendia o
que havia acabado de testemunhar.
Um vampiro não devia fugir de cachorros crescidos daquele jeito. Que mal os dentes
dele poderiam fazer á sua pele de granito?
E os lobos devem ter dado á Laurent um longo espaço. Mesmo que o tamanho
extraordinário deles os tenha ensinado a não temer nada, ainda não faziam nenhum
sentido que eles o perseguissem. Eu duvidava que a pele de mármore gelado dele
cheirasse como comida. Porque eles iam passar alguma coisa com sangue morno e fraca
como eu pra perseguir Laurent?
Eu não conseguia entender o sentido disso.
Uma brisa fria passou pela clareira, balançando a grama como se alguma coisa estivesse
em cima dela.
Eu fiquei de pé, me afastando mesmo que o vento estivesse passando por mim sem me
causar danos. Tremendo de pânico, eu me virei e corri em linha reta entre as árvores.
As horas seguintes foram de agonia. Me levou um tempo três vezes maior pra escapar
das árvores do que eu tinha levado pra chegar até a clareira.
No início eu não prestei atenção em pra onde estava indo, já que eu estava só focada na
minha fuga. Na hora que eu recompus o suficiente pra me lembrar do compasso, eu já
estava no meio da floresta não familiar e ameaçadora.
Minhas mãos estavam tremendo tão violentamente que eu tive que o colocar no chão
lamacento pra poder usá-lo direito. A cada minuto eu parava pra colocar o compasso no
chão e checar se eu ainda estava indo para o Nordeste, escutando - quando os sons não
estavam sendo escondidos pelos meus passos frenéticos - os baixos sons de coisas que
eu não via se movendo entre as folhas.
O chamado de uns pássaros me fizeram pular pra trás e cair num monte de jovens
madeiras derrubadas, arranhando meus braços e sujando meu cabelo com seiva. A
pressa repentina de um esquilo me fez tão alto que meus ouvidos chegaram a doer.
Finalmente eu encontrei uma abertura nas árvores á frente. Eu entrei na estrada e
caminhei uma milha ou algo assim pra chegar onde eu havia deixado a minha
caminhonete. Mesmo exausta como eu estava, eu ainda corrí até encontrá-la. Até a hora
que eu me joguei dentro do carro, eu já estava soluçando de novo.
Eu rapidamente joguei as duas coisas que estava segurando no chão antes que cavar no
meu bolso pra encontrar minhas chaves. O ronco do motor foi reconfortante e são. Ele
me ajudou a afastar as lágrimas enquanto eu corria o mais rápido que a minha
caminhonete permitia na estrada principal.
Eu estava mais calma, mas ainda estava um desastre quando cheguei em casa. A viatura
de Charlie estava na garagem - eu não tinha me dado conta do quanto era tarde. O céu já
estava cinzento.
"Bella?" Charlie perguntou quando eu batí a porta atrás de mim e rapidamente tranquei
com a chave.
"É, sou eu". Minha voz não estava uniforme.
"Onde você estava?", ele trovejou, aparecendo pela porta da cozinha com uma cara
suspeita.
Eu hesitei. Ele provavelmente havia ligado para os Stanley. Era melhor eu contar a
verdade.
"Eu fiz uma caminhada", eu admiti.
Os olhos dele se apertaram. "O que aconteceu com a casa de Jéssica?"
"Eu não estava a fim de estudar Cálculo hoje"
Charlie cruzou os braços no peito. "Eu pensei que havia te pedido pra ficar fora da
floresta".
"É, eu sei. Não se preocupe, eu não vou fazer de novo", eu tremi.
Charlie pareceu realmente olhar pra mim pelo primeira vez.
Eu me lembrei que havia passado algum tempo no chão da floresta hoje; eu devia estar
uma bagunça.
"O que aconteceu?", Charlie quis saber.
De novo, eu decidi que a verdade, ou pelo menos parte dela, era a melhor opção. Eu
estava nervosa demais pra fingir que havia passado um dia comum com a fauna e a
flora.
"eu vi o urso". Eu tentei dizer isso calmamente, mas minha voz estava alta e tremendo.
"No entanto, não é um urso - é alguma espécie de lobo. E haviam cinco deles. Um
grande e preto, e um cinza, um marrom avermelhado..."
Os olhos de Charlie cresceram de horror. Ele veio rapidamente pra cima de mim e
segurou a parte de cima dos meus braços.
"Você está bem?"
Minha cabeça balançou com um fraco aceno.
"Me conte o que aconteceu".
"Eles não prestaram muita atenção em mim. Mas depois que eles foram embora, eu fugí
e caí muito no chão".
Ele soltou os meus ombros e passou os braços ao meu redor. Por um longo momento ele
não disse nada.
"Lobos", ele murmurou.
"O que?"
"Os patrulheiros disseram que eram pegadas diferentes das de ursos - mas lobos não
ficam tão grandes..."
"Esses eram enormes".
"Quantos você disse que viu?"
"Cinco".
Charlie balançou a cabeça, fazendo uma careta de ansiedade. Ele finalmente falou num
tom que não permitia nenhuma discussão.
"Chega de caminhadas".
"Sem problemas", eu prometí ferventemente.
Charlie ligou para a delegacia pra contar o que eu havia visto. Eu menti um pouco sobre
o local exato onde tinha visto os lobos - dizendo que havia estado na trilha que levava
ao norte. Eu não queria que o meu pai soubesse o quanto eu havia entrado na floresta
sem que ele quisesse, e, mais importante, eu não queria ninguém mais andando por onde
Laurent ainda podia estar procurando por mim. Esse pensamento me deixou enjoada.
"Você está com fome?", ele perguntou quando desligou o telefone.
Eu balancei a cabeça, apesar de que eu devia estar faminta. Eu não tinha comido nada o
dia inteiro.
"Só cansada", eu disse pra ele. Eu me virei para as escadas.
"Ei", Charlie disse numa voz repentinamente suspeita de novo. "Você não disse que
Jacob tinha saído durante o dia inteiro?"
"Foi o que Billy disse", eu falei, confusa pela pergunta dele.
Ele estudou a minha expressão por um minuto e pareceu satisfeito com o que encontrou
lá.
"Huh"
"Porque?", eu quis saber. Parecia que ele estava querendo dizer que eu estive mentindo
pra ele essa manhã. Sobre algo mais do que estar estudando com Jéssica.
"Bem, é só que quando eu fiz buscar Harry, eu ví Jacob na frente de uma loja de lá com
uns amigos. Eu acenei pra ele, mas ele... bem, acho que ele não me viu. Eu acho que ele
estava discutindo com os amigos. Ele parecia estranho, como se alguma coisa estivesse
aborrecendo ele. E... diferente. É como se você pudesse ver o garoto enquanto ele
cresce! Ele está maior a cada vez que eu o vejo".
"Billy disse que Jake e os amigos tinham ido ao cinema em Port Angeles. Eles
provavelmente estavam esperando alguém encontrá-los lá".
"Oh", Charlie balançou a cabeça e voltou para a cozinha.
Eu fiquei no corredor, pensando em Jacob discutindo com os amigos. Eu me perguntei
se ele havia confrontado Embry sobre o assunto com Sam. Talvez esse fosse o motivo
pelo qual ele me ignorou hoje - se isso significava que ele teria a oportunidade de
acertar as coisas com Embry, eu ficava feliz.
Eu parei pra ver se a casa estava trancada de novo antes de subir. Era uma coisa idiota
de se fazer. Que diferença uma porta ia fazer para os monstros que eu vi hoje? Eu
imaginei que a maçaneta só ia atrasar os lobos, já que eles não tinham polegares.
E se Laurent viesse...
Ou... Victoria.
Eu deitei na minha cama, mas eu estava tremendo demais pra pensar em dormir. Eu me
curvei e virei uma bola embaixo da minha colcha, e encarei os horríveis fatos.
não havia nada que eu pudesse fazer. Não haviam precauções que eu pudesse tomar.
Não havia lugar onde eu pudesse me esconder. Não havia ninguém que pudesse me
ajudar.
Eu me dei conta, com uma sensação de náusea no meu estômago, que a situação ainda
era pior que isso. Porque todos esses fatos se aplicavam a Charlie também. Meu pai,
dormindo a um quarto de distância de mim, era só o centro do coração do alvo que
estava centrado em mim. O meu cheiro os levariam até lá, eu estando lá ou não.
Os tremores me balançaram até que os meus dentes estavam se batendo.
Pra me acalmar, eu fantasiei o impossível: eu imaginei os grandes lobos pegando
Laurent nas matas e massacrando o indestrutível imortal do jeito como eles fariam a
uma pessoa normal. Apesar do absurdo da visão, a idéia me confortou.
Se os lobos pegassem ele, então ele não poderiam contar a Victoria que eu estava
sozinha. Se ele não voltasse, talvez ela pensasse que os Cullen ainda estavam me
protegendo. Se apenas os lobos pudessem derrotá-lo...
Meus vampiros bons não voltariam nunca mais; como era bom pensar que o outro tipo
também poderia desaparecer.
Eu fechei meus olhos com força e esperei pra ficar inconsciente - quase ansiosa que o
meu pesadelo começasse. Era melhor do que aquele lindo rosto pálido que sorria pra
mim por tás das minhas pálpebras.
Na minha imaginação, os olhos de Victória eram pretos por causa da sede, brilhantes
com a antecipação, e os lábios dela se curvavam pra trás mostrando os dentes dela com
prazer. O cabelo vermelho dela era brilhante como fogo; ele se espalhava caóticamente
ao redor do seu rosto selvagem.
As palavras de Laurent se repetiram na minha cabeça. Se você soubesse o que ela
planejou pra você...
Eu pressionei meu punho na boca pra não gritar.
11. Culto
Toda vez que eu abria os olhos para a luz da manhã e me dava conta de que havia
sobrevivido á outra noite eu me surpreendia. Depois que o efeito da surpresa passava,
meu coração começava a correr e as minhas palmas ficavam suadas; eu não conseguia
realmente respirar até que me levantava e me certificava de que Charlie havia
sobrevivido também.
Eu podia dizer que ele estava preocupado - me vendo pular com qualquer som mais alto,
ou observando o meu rosto ficar branco por algum motivo que ele não podia ver. Pelas
perguntas que ele fazia de vez em quando, ele parecia culpar a longa ausência de Jake
pela minha mudança.
O terror que geralmente nublava os meus pensamentos geralmente me distraía do fato
de que outra semana havia passado, e Jacob ainda não havia me ligado.
Mas quando eu era capaz de me concentrar na minha vida normal - se é que minha vida
era normal - isso me aborrecia.
Eu sentia falta dele horrivelmente.
Eu já estava mal o suficiente por estar sozinha antes de estar loucamente assustada.
Agora, mais do que nunca, eu sentia falta do seu sorriso livre e das suas risadas
afetuoso. Eu precisava sentia a sanidade da sua garagem e das mãos quentes dele nos
meus dedos frios.
Eu meio que esperei que ele me ligasse na segunda. Se tivesse havido algum progresso
com Embry, ele não ia querer falar sobre isso comigo? Eu queria acreditar que era
preocupação com o amigo que estava ocupando o seu tempo, e não que ele
simplesmente havia desistido de mim.
Eu liguei pra ele na terça, mas ninguem atendeu. As linhas telefônicas estavam com
problemas? Ou será que Billy havia instalado um identificador de chamadas?
Na quarta eu ligava a cada meia hora até as onze da noite, desesperada pra ouvir a voz
cálida de Jacob.
Na quinta eu sentei na minha caminhonete na frente de casa - com as portas travadas -
chaves na mão, por uma sólida hora. Eu estava discutindo comigo mesma, tentando
justificar uma rápida viagem á La Push, mas eu não consegui fazer isso.
Eu sabia que Laurent já devia ter voltado pra Victoria agora.
Se eu fosse á La Push, eu estaria correndo o risco de levá-los até lá. E se eles me
pegassem quando Jake estivesse por perto? Mesmo que isso me machucasse muito, eu
sabia que era melhor pra Jacob que ele estivesse me evitando. Mais seguro pra ele.
Ja era ruim o suficiente que eu não conseguisse pensar numa forma de salvar Charlie. A
noite era a hora mais provável pra que eles viessem procurar por mim, e o que era que
eu diria pra manter Charlie fora de casa? Se eu contasse a verdade pra ele, ele ia me
trancar numa sala pra loucos em algum lugar. Eu teria suportado isso - até dado as boas
vindas - se isso pudesse mantê-lo a salvo.
Mas Victória ainda viria á sua casa primeiro, procurando por mim. Talvez, se ela me
encontrasse aqui, isso seria suficiente pra ela.
Talvez ela simplesmente fosse embora quando tivesse acabado comigo.
Então eu não podia fugir. E mesmo se eu pudesse, pra onde eu iria?
Para a casa de Renée? Eu tremí com a idéia de jogar minhas sombras letais sobre a
segurança da casa da minha mãe, seu mundo ensolarado.
Eu nunca a colocaria num risco como esse.
A preocupação estava cavando um buraco no meu estômago. Em breve eu teria buracos
que se combinavam.
Naquela noite, Charlie me fez outro favor e ligou pra Harry pra saber se os Black
estavam fora da cidade.
Harry falou que Billy estava comparecendo ás reuniões do concelho nas quartas a noite,
e que nunca havia mencionado nada sobre sair da cidade.
Charlie me avisou pra não ficar pensando em loucuras - Jacob me ligaria quando tivesse
a oportunidade.
Sexta de tarde, enquanto eu dirigia pra casa da escola, uma coisa me bateu do nada.
Eu não estava prestando atenção na estrada familiar, deixando o som do motor paralisar
meus medos e silenciar meus medos, quando o meu subcosciente me deu o veredito no
qual ele já devia estar trabalhando a algum tempo sem o meu conhecimento.
Assim que eu pensei nisso, eu me sentí muito estúpida por não ter visto isso mais cedo.
Claro. Eu tinha muitas coisas na cabeça - vampiros obsecados por vingança, lobos
mutantes gigantes, um buraco crescente no meu peito - mas quando eu conferi as
evidências, era embaraçosamente óbvio.
Jacob me evitando. Charlie dizendo que ele parecia estranho, chateado... As respostas
vagas, que não ofereciam ajuda de Billy.
Santa mãe, eu sabia exatamente o que havia de errado com Jacob.
Era Sam Uley. Até os meus pesadelos estiveram tentando me dizer isso. Sam havia
pego Jacob.
O que quer que estivesse acontecendo com os garotos da reserva havia saído e
capturado o meu amigo. Ele foi puxado para o culto de Sam.
Ele não havia desistido de mim, eu me dei conta com uma onde de sentimentos.
Eu deixei minha caminhonete parada na frente da minha casa. O que eu devia fazer? Eu
pesei os perigos um contra o outro.
Se eu fosse procurar por Jacob, eu arriscava a chance de que Victória ou Laurent me
encontrassem com ele.
Se eu não fosse até ele, Sam o puxaria ainda mais pra dentro daquela luta, para aquela
gangue compulsíva. Talvez fosse tarde demais se eu não agisse logo.
Já havia se passado uma semana, e nenhum vampiro havia vindo procurar por mim
ainda. Uma semana era tempo mais que suficiente pra eles terem voltado, então talvez
eu não fosse uma prioridade.
Era mais provável, como eu já havia decidido antes, que eles viessem procurar por mim
á noite. As chances de eles me seguirem até La Push eram muito mais baixas do que as
minhas chances de perder Jacob pra Sam.
Valia a pena o perigo de me embranhar naquelas pistas cercadas de floresta. Essa não
seria uma visita qualquer pra ver como estavam as coisas. Essa era uma missão de
resgate. Eu ia falar com Jacob- sequestrar ele se fosse preciso.
Uma vez eu já ví um programa no canal PBS sobre como desprogramar as lavagens
cerebrais. Tinha que haver algum tipo de cura.
Eu decidí que era melhor ligar pra Charlie antes. Talvez o que quer que estivesse
acontecendo em La Push fosse uma coisa na qual a polícil devia estar envolvida.
Eu corrí pra dentro, na minha pressa de seguir o meu caminho.
Charlie mesmo atendeu o telefone da delegacia.
"Chefe Swan"
"Pai, é Bella"
"O que há de errado?"
Eu não pude discutir com a suposição dele dessa vez. Minha voz estava tremendo.
"Eu estou preocupada com Jacob".
"Porque?", ele perguntou surpreso com o inesperado assunto.
"Eu acho... eu acho que tem alguma coisa errada acontecendo na reserva. Jacob me
contou sobre uma coisa estranha que anda acontecendo com os garotos da idade dele.
Agora ele está agindo da mesma forma, e eu estou preocupada".
"Que tipo de coisa?" Ele usou o seu tom profissional, policial. Isso era bom; ele estava
me levando a sério.
"Primeiro ele estava assustado, e depois ele estava me evitando, e agora... eu estou com
medo que ele esteja fazendo parte de uma gangue bizarra que há por lá, a gangue de
Sam. A gangue de Sam Uley".
"Sam Uley?" Charlie repetiu, surpreso de novo.
"Sim".
A voz de Charlie estava mais relaxada quando ele respondeu. "Eu acho que você
entendeu errado, Bells. Sam Uley é um ótimo garoto. Bem, ele é um ótimo homem
agora. Um bom filho. Você devia ouvir Billy falando sobre ele. Ele realmente está
fazendo maravilhas com a juventude de lá da reserva. Foi ele quem -" Charlie parou na
metade da frase, e eu tive a sensação de que ele ia se referir á aquela noite que eu me
perdí na floresta. Eu mudei de assunto rapidamente.
"Pai, não é bem assim. Jacob estava com medo dele".
"Você falou com Billy sobre isso?" Ele estava tentando me amaciar agora. Eu havia
perdido ele no momento que mencionei Sam.
"Billy não está preocupado".
"Bem, Bella, então eu tenho certeza de que está tudo bem. Jacob é um garoto;
provavelmente ele só está se divertindo. Eu tenho certeza de que ele está bem. Afinal de
contas, ele não pode passar todos os minutos do dia conversando com você".
"Isso não é sobre mim", eu insistí, mas a batalha já estava perdida.
"Eu não acho que você precise se preocupar com isso. Deixe Billy tomar conta de
Jacob".
"Charlie...", minha voz estava começando a soar patética.
"Bella, eu tenho muitas coisas pra fazer agora. Dois turistas desapareceram na trilha
perto do lago", havia uma pontada de ansiosidade crescente. "O problema com esse lobo
já está saindo do controle".
Eu fiquei momentâneamente distraída - abismada, na verdade - com a notícia dele.
Havia jeito de aqueles lobos terem saído ganhando de uma batalha com Laurent...
"Você tem certeza de que foi isso que aconteceu com eles?", eu perguntei.
"Eu temo que sim, querida. Haviam -" Ele hesitou. "Haviam algumas marcas de novo,
e... um pouco de sangue dessa vez".
"Oh!" Então não deve ter havido um confronto. Laurent deve ter simplesmente
despistado os lobos, mas porque? O que eu havia visto na clareira só ficava mais e mais
estranho - mais impossível de entender.
"Olha, eu realmente tenha que ir. Não se preocupe com Jake, Bella. Eu tenho certeza de
que não é nada".
"Tá", eu disse curtamente, frustrada pelas palavras dele que me lembraram da crise mais
urgente no momento. "Tchau", eu desliguei.
Eu olhei para o telefone por um momento. Que diabos, eu decidí.
Billy atendeu depois de dois toques.
"Alo?"
"Oi, Billy", eu quase rosnei. Eu tentei falar mais amigavelmente quando continuei.
"Será que eu podsso falar com Jacob, por favor?"
"Jake não está aqui".
Que surpresa. "Você sabe onde ele está?"
"Ele saiu com os amigos", a voz de Billy era cuidadosa.
"Ah, é? Alguém que eu conheça? Quil?" eu podia dizer que as palavras não estavam
saindo tão casualmente quanto eu havia planejado.
"Não", Billy disse devagar. "Eu não acho que ele esteja com Quil hoje".
Eu sabia que não devia mencionar o nome de Sam.
"Embry?" eu perguntei
Billy pareceu mais feliz ao responder essa. "É, ele está com Embry".
Isso era o suficiente pra mim. Embry era um deles.
"Bem, peça pra ele me ligar assim que ele chegar, está bem?"
"Claro, claro. Sem problema". Click
"A gente se vê em breve, Billy", eu murmurei para o telefone mudo.
Eu dirigi pra La Push determinada a esperar. Eu ia ficar sentada na frente da casa dele a
noite inteira se precisasse. Eu faltaria a escola.
O garoto ia ter que voltar alguma hora, e quando ele voltasse, ele ia ter que falar
comigo.
Minha mente estava tão preocupada que a viagem que eu estava com tanto medo de
fazer só durou alguns segundos.
Antes do que eu esperava, a floresta começou a diminuir, e eu sabia que em breve eu
seria capaz de ver as primeiras pequenas casas da reserva.
Caminhando, no lado esquerdo da estrada, havia um garoto alto com um boné de
baseball.
Minha respiração ficou presa por um momento na minha garganta, esperançosa que a
sorte estivesse comigo pela primeira vez, e que eu tivesse cruzado o caminho de Jacob
sem maiores dificuldades. Mas esse garoto era largo demais, e o cabelo era curto
embaixo do boné.
Mesmo estando atrás dele, eu tinha certeza de que era Quil, apesar de ele estar maior do
que da última vez que eu o vi. O que era que esses garotos Quileute tinham? Será que
eles estavam sendo alimentados com algum tipo de hormônio expermental de
crescimento?
Eu atravessei para o lado errado da estrada pra me aproximar dele.
Ele olhou pra cima quando o ronco da minha caminhonete se aproximou.
A expressão de Quil me assustou mais do que me surpreendeu. O rosto dele estava
apático, pensativo, a testa dele estava enrrugada de preocupação.
"Oh, oi, Bella", ele me cumprimentou sem vontade.
"Oi, Quil... Você está bem?"
Ele me encarou sombrio. "Bem".
"Eu posso te dar um carona pra algum lugar?", eu oferecí.
"Claro, eu acho", ele murmurou. Ele se arrastou pela frente da caminhonete e abriu a
porta do passageiro pra entrar.
"Pra onde?"
"Minha casa é para o lado norte, lá atrás das lojas", ele me disse.
"Você viu Jacob hoje?" A pergunta escapou quase antes que ele tivesse terminado de
falar.
Eu olhei pra Quil ansiosamente, esperando pela sua resposta. Ele olhou pra fora pelo
parabrisa por um instante antes de responder.
"De longe", ele disse finalmente.
"De longe?" eu repetí.
"Eu tentei seguir eles - ele estava com Embry". A voz dele estava baixa, difícil de ouvir
com o barulho do motor. Eu me inclinei mais pra perto. "Eu sei que eles me viram. Mas
eles se viraram e desapareceram no meio das árvores. Eu não acho que eles estavam
sozinhos - eu acho que Sam e o bando dele deve ter estado com eles.
"Eu estive enfiado na floresta por mais de uma hora, gritando por eles. Eu tinha acabado
de chegar na estrada quando você apareceu".
"Então Sam pegou ele". As palavras sairam um pouco distorcídas- meus dentes estavam
trincados.
Quil me encarou. "Você sabe sobre isso?"
Eu balancei a cabeça. "Jacob contou pra mim... antes".
"Antes", Quil repetiu e suspirou.
"Jacob está tão mal quando os outros agora?"
"Nunca sai de perto de Sam" Quil virou a cabeça pra o lado e cuspiu pela janela aberta.
"E antes disso - ele já evitava as pessoas? Ele estava agindo estranho?"
A voz dele estava baixa e áspera. "Não por tanto tempo quanto os outros. Talvez um
dia. E aí Sam pegou ele".
"O que você acha que é? Drogas ou alguma coisa assim?"
"Eu não consigo imaginar Jacob e Embry se envolvendo numa coisa assim... mas o que
é que eu sei? O que mais pode ser? E porque as outras pessoas não estão preocupadas?"
Ele balançou a cabeça, e o medo aparecia nos olhos dele agora.
"Jacob não queria fazer parte desse... culto. Eu não entendo o que poderia ter feito ele
mudar". Ele me encarou, o rosto dele estava assustado. "Eu não quero ser o próximo"
Os meus olhos imitaram o medo dos dele. Essa era a segunda vez que eu ouvia aquilo
ser descrevido como um culto. Eu tremi. "Os seus pais são de alguma ajuda?"
Ele fez uma careta. "Certo. Meu avô faz parte do concelho com o pai de Jacob. Até
onde ele está informado, Sam Uley é a melhor coisa que já aconteceu pra esse lugar".
Nós olhamos um pro outro por um momento prolongado. Nós estávamos em La Push
agora, e minha caminhonete mal andava na estrada vazia. Eu podia ver a única loja da
vila não muito distante á frente.
"Eu vou sair agora", Quil disse. "Minha casa é bem alí". Ele fez um gesto para um
pequeno retângulo de madeira atrás da loja. Eu parei perto da calçada e ele desceu.
"Eu vou esperar por Jacob", eu disse pra ele com uma voz dura.
"Boa sorte", ele bateu a porta e caminhou em frente na estrada, a cabeça caída pra
frente, os ombros baixos.
O rosto de Quil me assombrou enquanto eu fazia uma curva em U e voltava para a casa
dos Black. Ele estava morrendo de medo de ser o próximo. O que estava acontecendo
aqui?
Eu parei na frente da casa de Jacob, desligando o motor e abrindo as janelas. Era um dia
mormacento, sem brisa. Eu coloquei os meus pés no painel e me preparei pra esperar.
Um movimento me chamou a atençao pela minha visão periférica e eu vi Billy olhando
pra mim pela janela com uma expressão confusa.
Eu acenei uma vez e dei um sorriso duro, mas fiquei onde eu estava.
Os olhos dele se estreitaram; ele deixou a cortina cobrir o vidro.
Eu estava preparada pra esperar o tempo que fosse, mas eu desejei ter alguma coisa pra
fazer. Eu peguei uma caneta no fundo da minha mochila, e um velho teste. Eu comecei
a fazer desenhos no fundo do papel.
Eu só tive tempo de desenhar uma fileira de diamantes quando houve uma batida aguda
na janela da minha porta.
Eu pulei, olhando pra cima, esperando Billy.
"O que você está fazendo aqui, Bella?", Jacob rosnou.
Eu encarei ele pasma de surpresa.
Jacob tinha mudado radicalmente nas ultimas semanas em que eu não o vi. A primeira
coisa na qual eu reparei foi o seu cabelo - o lindo cabelo dele tinha ido todo embora, foi
cortado curto, cobrindo a cabeça dele com um cabelo acetinado de uma cor que parecia
ser tinta preta.
As maçãs do rosto dele pareciam ter endurecido subitamente, se apertado... envelhecido.
O pescoço e os ombros dele estava diferentes também, de alguma forma, estavam
grossos demais.
As mãos dele, onde elas estavam agarradas na janela, pareciam enormes, com os
tendões e as veias ainda mais proeminentes embaixo da pele cor de cobre.
Mas diferenças físicas eram insignificantes.
Foi a expressão do rosto dele que o tornou praticamente irreconhecível. O sorriso
aberto, amigável, havia desaparecido como o cabelo, a calidez dos olhos dele havia sido
substituído por um ressentimento que era instantaneamente pertubador. Havia uma
obscuridade em Jacob agora.
Como se o meu Sol tivesse emplodido.
"Jacob?", eu sussurrei.
Ele me encarou, seus olhos tensos e raivosos.
Eu me dei conta de que não estávamos sozinhos. Atrás dele haviam quatro outros; todos
altos e com peles cor de cobre, com cabelos pretos cortados como os de Jacob. Eles
podiam ser irmãos - eu nem conseguia identificar Embry no grupo. A semelhança só se
intesificava pelo mesmo olhar de hostilidade em todos os pares de olhos.
Todos os pares menos um. O mais velho por muitos anos, Sam estava bem atrás, com o
rosto sereno e seguro. Eu tive que engolir o ódio que me subia a garganta. Eu queria
acabar com ele. Não, eu queria fazer mais que isso. Mais do que qualquer coisa, eu
queria ser cruel e mortal, uam pessoa com a qual ninguém ousaria se meter. Alguém que
assustaria até o bobão do Sam Uley.
Eu queria ser uma vampira.
O desejo violento me pegou de surpresa e me deixou sem ar. Esse era o mais proibido
de todos os desejos - mesmo quando eu só o queria pra propósitos maléficos como esse,
pra ganhar vantagem sobre o inimigo - porque ele era o desejo mais doloroso. Esse era
um futuro perdido pra sempre pra mim, ele nunca nem sequer esteve ao meu alcance.
Eu lutei pra ganhar controle sobre mim mesma enquanto o buraco do meu peito doía.
"O que você quer?", Jacob quis saber, a expressão dele estava ficando mais ressentida
enquanto observava as emoções passando pelo meu rosto.
"Eu quero falar com você", eu disse com uma voz fraca. Eu tentei me focar, mas eu
ainda estava lutando contra oa tabus do meu sonho.
"Vá em frente", ele assobiou por entre os dentes. O olhar dele era violento. Eu nunca
havia visto ele olhar pra ninguém daquele jeito, muito menos pra mim .
Isso me machucou com uma intensidade surpreendente - uma dor física, uma dor na
minha cabeça.
"Sozinha!", eu assobiei e minha voz saiu mais forte.
Eu olhei pra trás dele, e eu sabia pra onde os olhos dele iriam. Todos se viraram pra ver
a reação de Sam.
Sam balançou a cabeça uma vez, seu rosto despreocupado. Ele fez um breve comentário
numa linguagem líquida, não familiar - eu só tinha certeza de que não era Francês nem
Espanhol, mas eu imaginei que fosse a língua dos Quileute. Ele se virou e caminhou
para a casa de Jacob. Os outros - Paul, Jared e Embry, eu presumí, seguiram ele.
"Ok", Jacob disse um pouco menos furioso quando os outros tinham ido embora. O
rosto dele estava um pouco mais calmo, mas também mais desesperançado. A boca dele
parecia permanentemente curvada pra baixo.
Eu respirei fundo. "Você sabe o que eu quero saber".
Ele não respondeu. Ele só olhou pra mim acidamente.
Eu encarei de volta e o silêncio se prolongou. A dor no rosto dele me deixou enervada.
Eu sentí um caroço começando a aparecer na minha garganta.
"Nós podemos conversar?", eu perguntei enquanto ainda conseguia falar.
Ele não respondeu de nenhum jeito; o rosto dele não mudou.
Eu saí do carro, sentindo olhos que eu não podia ver nas janelas atrás de mim, e eu
comecei a andar na direção das árvores ao norte. Meu pé fazia barulho na grama
molhada e na lama ao lado da pista,e, como esse era o único som, no início eu achei que
ele não estava me seguindo.Mas quando eu olhei ao meu redor, ele estava ao meu lado,
os pés dele de alguma forma faziam muito menos barulho do que os meus.
Eu me sentí melhor no esconderijo das árvores, onde não era possível que Sam estivesse
nos observando. Enquanto caminhávamos, eu lutei pra encontrar a coisa certa pra dizer,
mas eu não pensei em nada. Eu só ficava cada vez mais e mais com raiva por Jacob ter
sido puxado para aquilo... e por Billy ter permitido isso... e por Sam estar passando por
aquilo tudo tão calmamente e seguro...
Jacob de repente aumentou o passo, ficando na minha frente com facilidade com suas
pernas longas, e então ele se virou pra me encarar, se plantando na minha frente pra que
eu tivesse que parar também.
Eu me distraí com a graciosidade do seu movimento. Jacob era quase tão desengonçado
quanto eu por causa do seu crescimento sem fim. Quando foi que isso mudou?
Mas Jacob não me deu tempo de pensar nisso.
"Vamos acabar logo com isso", ele disse com uma voz dura, ríspida.
Eu esperei. Ele sabia o que eu queria.
"Não é o que você está pensando". A voz dele estava repentinamente cautelosa. "Não
era o que eu pensava - eu estava totalmente errado".
"Então o que é?"
Ele estudou o meu rosto por um longo momento, especulando. A raiva nunca
abandonou completamente os seus olhos. "Eu não posso te contar", ele disse.
Minha mandíbula se comprimiu, e eu falei por entre os dentes. "Eu pensei que fôssemos
amigos".
"Nós éramos", houve uma pequena ênfase no tempo passado.
"Mas você não precisa mais de amigos", eu disse acidamente. "Você tem Sam. Isso é
legal - você sempre gostou tanto dele".
"Eu não o entendia antes".
"E agora você vui a luz. Aleluia".
"Não é como eu pensava que era. Isso não é culpa de Sam. Ele está me ajudando como
pode". A voz dele se tornou frágil e ele olhou por cima da minha cabeça, passando por
mim, a raiva queimando nos olhos dele.
"Ele está te ajudando", eu repetí duvidosamente. "Naturalmente"
Mas Jacob não parecia estar escutando. Ele estava respirando profundamente, de
propósito, tentando se acalmar. Ele estava com tanta raiva que as mãos dele estavam
tremendo.
"Jacob, por favor", eu sussurrei. "Você não vai me contar o que aconteceu? Talvez eu
possa ajudar".
"Ninguém pode me ajudar agora". As palavras eram um gemido baixo; a voz dele se
partiu.
"O que ele fez com você?", eu quis saber, as lágrimas se aglomeraram nos meus olhos.
Eu tentei tocá-lo, como já tinha feito antes, me movendo para a frente com os braços
abertos.
Dessa fez ele se afastou, segurando as mãos pra cima num gesto de defesa. "Não me
toque", ele sussurrou.
"Sam está olhando?", eu cochichei. As lágrimas estúpidas haviam escapado pelos cantos
dos meus olhos. Eu as afastei com as costas da minha mão, e cruzei meus braços no
peito.
"Pare de culpar Sam". As palavras sairas rápidas, como um reflexo.
As mãos dele se levantaram pra mexer no cabelo que não estava mais lá, e então cairam
nos seus lados.
"Então quem é que eu devo culpar?" eu retorqui.
Ele deu um meio sorriso; era uma coisa vazia, torta.
"Você não quer ouvir isso".
"Não quero é o diabo!" eu disparei. "Eu quero saber, e eu quero saber agora".
"Você está errada", ele disparou de volta.
"Não ouse dizer que eu estou errada - não fui eu quem sofreu uma lavagem cerebral!
Me diga agora de quem é a culpa, se ela não é do seu precioso Sam!"
"Você pediu por isso", ele rosnou pra mim, seus olhos brilhavam duramente. "Se você
quer culpar alguém, porque você não aponta o dedo para aqueles bebedores de sangue
nojentos, fedorentos que você ama tanto?"
Minha boca se abriu e minha respiração saiu com um som parecido com
whooshing. Eu fiquei congelada no lugar, esfaqueada com as palavras dele. A dor
atravessou meu corpo de uma forma já conhecida, o buraco denteado se abriu me
rasgando por dentro, mas em segundo lugar, houve a música de fundo dos meus
pensamentos caóticos. Eu nãopodia acreditar que havia o ouvido corretamente. Não
havia nenhum traço de indecisão no rosto dele. Só fúria.
Minha boca ainda estava escancarada.
"Eu te disse que você não ia querer ouvir", ele disse.
"Eu não entendo o que você quer dizer", eu cochichei.
Ele ergueu uma sobrancelha em descrença. "Eu acho que você entende exatamente o
que eu quero dizer. Você não vai me fazer dizer, vai? Eu não gosto de te machucar".
"Eu não entendo o que você quer dizer", eu disse mecanicamente.
"Os Cullen", ele disse lentamente, sublinhando a palavra, estudando meu rosto enquanto
ele falava isso.
"Eu ví isso - eu posso ver nos seus olhos o que acontece com você quando eu digo o
nome deles".
Eu balancei minha cabeça pra frente e pra trás negando, tentando limpá-la ao mesmo
tempo. Como era que ele sabia disso? E como era que isso tinha alguma coisa a ver com
o culto de Sam? Essa era uma gangue de odiadores de vampiros? Qual era a necessidade
de se formar uma sociedade como essa se já não existiam mais vampiros em Forks?
Porque Jacob começaria a acreditar nas histórias sobre os Cullen agora, justo quando as
evidencias haviam ido embora, pra nunca mais voltar?
Eu levei um segundo pra pensar na resposta correta. "Não me diga que você começou a
acreditar nas histórias sem sentido de Billy agora", eu disse com uma fraca tentativa de
ser divertida.
"Ele sabe mais do que eu pensava".
"Jacob, fale sério".
Ele me encarou, os olhos críticos.
"Colocando as superstições de lado", eu disse rapidamente. "Eu ainda não vejo porque
você está acusando... os Cullen"- estremecimento - "por isso. Eles foram embora a mais
de meio ano. Como é que você pode culpar eles pelo que Sam está fazendo agora?"
"Sam não está fazendo nada, Bella. E eu sei que eles foram embora. Mas as vezes... as
coisas acontecem em cadeia, e então é tarde demais".
"O que aconteceu em cadeia? O que é tarde demais? Do que você os está culpando?"
Ele olhou de repente direto pra o meu rosto, a fúria dele estava brilhando nos olhos.
"Por existir", ele assobiou.
Eu fiquei surpresa e destraída quando as palavras de aviso na voz de Edward vieram de
novo, quando eu nem estava assustada.
"Quieta agora, Bella. Não force ele", Edward me precaviu no meu ouvido.
Desde que o nome de Edward havia escapado pelas paredes que eu construí
cuidadosamente pra prendê-lo, eu não fui mais capaz de prendê-lo novamente. Não me
machucava agora - não durante os preciosos segundos que eu podia ouvir a voz dele.
Jacob estava esfumaçando na minha frente, tremendo de raiva.
Eu não entendí porque as alucinações de Edward haviam aparecido inesperadamente na
minha cabeça
Não havia adrenalina, não havia perigo.
"Dê uma chance pra ele se acalmar", a voz de Edward insistiu.
Eu balancei a minha cabeça confusa. "Você está sendo ridículo", eu disse para os dois.
"Tá", Jacob respondeu, respirando profundamente de novo. "Eu não vou discutir com
você. De qualquer forma não importa, o estrago está feito".
"Que estrago?"
Ele não se mexeu enquanto eu gritava as palavras no rosto dele.
"Vamos voltar. Não há mais nada a dizer".
Eu asfixiei. "Há tudo mais a dizer! Você não me disse nada ainda!"
Ele caminhou passando por mim, voltando para a direção da casa.
"Eu esbarrei em Quil hoje", eu gritei atrás dele.
Ele parou no meio de um passo, mas não se virou.
"Você se lembra do seu amigo, Quil? Pois é, ele está morto de medo".
Jacob se virou pra me encarar. A expressão dele estava dolorida.
"Quil", foi tudo o que ele disse.
"Ele está preocupado com você também. Ele está ficando louco".
Jacob olhou por cima de mim com olhos desesperados.
Eu o aticei mais ainda. "Ele está com medo de ser o próximo".
Jacob se segurou numa árvore pra ter apoio, o rosto dele ficando de um estranho tom
verde embaixo da superfície marrom avermelhada.
"Ele não será o próximo", Jacob murmurou pra sí mesmo. "Ele não pode ser. Está
acabado agora. Isso não devia estar acontecendo. Porque? Porque?". O punho dele se
chocou na árvore. Não era uma árvore grande, mais fina e só um pouco mais alta que
Jacob. Mas eu ainda fiquei surpresa quando o tronco cedeu e caiu com o golpe dele.
Jacob olhou para o ponto afiado, quebrado que havia sofrido o choque e rapidamente
ficou horrorizado.
"Eu tenho que ir". Ele se virou e foi embora tão rapidamente que eu tive que correr para
acompanhar.
"Voltar pra Sam!"
"Essa é uma forma de ver as coisas", parecia que ele estava falando sério. Ele estava
murmurando e olhando em frente.
Eu o segui até a caminhonete. "Espere!", eu chamei quando ele se virou na direção da
casa.
Ele se virou pra me encarar de novo, e eu ví que as mãos dele estavam tremendo de
novo
"Vá pra casa, Bella. Eu não posso mais andar com você".
Essa dor boba, inconsequente era incrivelmente poderosa.
As lágrimas apareceram de novo. "Você está... terminando comigo?" As palavras eram
todas erradas, mas elas eram as melhores nas quais eu conseguia pensar para frasear o
que eu queria perguntar. Afinal, o que eu e Jake tínhamos era mais que um romance de
escola. Era mais forte.
Ele comprimiu uma risada ácida. "Dificilmente. Se esse fosse o caso eu diria 'Vamos ser
amigos'. Mas eu nunca poderia dizer isso".
"Jacob... porque? Sam não te deixa ter outros amigos? Por favor, Jake. Você prometeu.
Eu preciso de você!"
O significante vazio que havia na minha vida antes - antes de Jacob trazer um pouco de
razãopra dentro dela - voltou e me confrontou.
A solidão apertou minha garganta.
"Eu lamento, Bella", Jacob disse cada palavra distintamente com uma voz fria que não
pertencia a ele.
Eu não acreditava que era mesmo isso que Jacob queria dizer. Parecia que havia algo
mais tentando ser dito através de seus olhos raivosos, mas eu não conseguia entender a
mensagem.
Talvez isso não tivesse nada a ver com Sam. Talvez isso não tivesse nada a ver com os
Cullen. Talvez ele só estivessem tentando se salvar dessa situação sem esperança.
Talvez eu devesse dizer que ele fizesse isso, se isso era o melhor pra ele. Eu devia fazer
isso. Era o certo.
Mas eu ouvi minha voz escapando num sussurro.
"Eu lamento que eu não pude... antes... Eu queria poder mudar o que eu sinto por você,
Jacob". Eu estava desesperada, tentando alcançar, esticando a verdade até que ela quase
se tornou uma mentira. "Talvez... talvez eu mudasse", eu sussurrei. "Talvez se você me
desse algum tempo... só não desista de mim agora, Jake. Eu não vou suportar".
O rosto dele passou de raiva para agonia num segundo. Uma mão tremendo se
aproximou de mim.
"Não. Não pense assim, Bella, por favor. Não se culpe, não pense que é sua culpa. Isso é
tudo minha culpa. Eu juro, não tem nada a ver com você".
"Não é você, sou eu", eu sussurrei. "É outra"
"Eu falo sério, Bella. Eu não estou..." ele relutou, sua voz ficando ainda mais rouca
enquanto ele lutava pra controlar suas emoções. Seus olhos estavam torturados. "Eu já
não sou mais bom o suficiente pra ser seu amigo, ou nada mais. Eu não sou mais quem
era antes. Eu não sou bom".
"O que?", eu encarei ele, confusa e apática. "O que você está dizendo? Você é muito
melhor do que eu, Jake. Você é bom! Quem disse que você não é? Sam? Ele é um
mentiroso, Jacob! Não deixe que ele te diga isso!" de repente eu estava gritando de
novo.
O rosto de Jacob ficou duro e vazio. "Ninguém me disse nada. Eu sei o que sou".
"Você é meu amigo, é isso que você é! Jake - não!"
Ele estava dando as costas pra mim.
"Eu lamento, Bella", ele disse de novo; desse vez era um murmúrio partido. Ele se virou
e quase correu para a casa.
Eu fiquei incapacitada de me mover de onde eu estava. Eu olhei para a pequena casa;
ela perecia muito pequena para os quatro garotos grandes e os dois homens ainda
maiores.
Não houve reação do lado de dentro. Nenhuma flutuação nas beiras da cortina, nenhum
som de vozes eu de movimento. Ela parecia vazia.
A chuva começou em chuviscos, fazendo cócegas onde tocavam a minha pele. Eu não
conseguia tirar os meus olhos da casa. Jacob voltaria. Ele tinha que voltar.
A chuva aumentou, o vento também. As gotas já não caiam mais de cima; elas vinham
num ângulo que vinha do oeste. Eu sentia o cheiro da brisa que vinha do mar. Meu
cabelo batia no meu rosto, grudando nos lugares molhados e fazendo cócegas nos meus
cílios. Eu esperei.
Finalmente a porta se abrui, eu dei um passo pra frente aliviada.
Billy rodou a sua cadeira pra frente até a entrada da porta. Eu não via ninguém atrás
dele.
"Charlie acabou de ligar, Bella. Eu disse pra ele que você estava voltando pra casa". Os
olhos dele estavam cheios de piedade.
De alguma forma a piedade foi o fim pra mim. Eu não comentei. Eu só me virei como
um robô e entrei na minha caminhonete.
Eu tinha deixado as janelas abertas e os bancos estavam escorregadios e molhados. Eu
não me importei. Eu já estava ensopada.
Não tão ruim, não tão ruim! minha mente tentou me confortar.
Era verdade. Isso não era tão ruim. Esse não era o fim do mundo, não novamente. Isso
era só o fim do pequeno pedaço que havia sido deixado pra trás. Só isso.
Não é tão ruim, eu concordei, e então acrescentei Mas é ruim o suficiente.
Eu achei que Jake estava curando o buraco dentro de mim - ou pelo menos juntando as
partes, evitando que isso me machucasse tanto.
Eu estava errada. Ele só estava cavando seu próprio buraco, então agora eu estava
esburacada como queijo suísso. Eu me perguntei porque não me espatifava em pedaços.
Charlie estava esperando por mim na porta. Enquanto eu parava o carro, ele veio me
encontrar.
"Billy ligou. Ele disse que você estava brigando com Jake - ele disse que você estava
brava", ele explicou enquanto abria a porta pra mim.
Então ele olhou pra mim. Uma espécie de reconhecimento horrorizado se registrou no
rosto dele. Eu tentei sentir meu rosto de dentro pra fora, pra saber o que ele estava
vendo. Meu rosto parecia vazio e frio, e eu me dei conta do que isso lembrava ele.
"Não foi exatamente isso que aconteceu", eu murmurei.
Charlie colocou seu braço ao meu redor e me ajudou a sair do carro. Ele não comentou
as minhas roupas ensopadas.
"Então o que aconteceu?", ele perguntou quando estavamos do lado de dentro. Ele
puxou a manta que ficava atrás do sofá enquanto falava e a colocou nos meus ombros.
Eu me dei conta de que ainda estava tremendo.
Minha voz estava sem vida. "Sam Uley disse que eu e Jacob não podemos mais ser
amigos".
Charlie me deu uma olhada estranha. "Quem te disse isso?"
"Jacob", eu disse, apesar de ter sido exatamente isso o que ele disse. Ainda era verdade.
As sobrancelhas de Charlie se juntaram. "Você realmente acha que tem alguma coisa
errada com aquele garoto Uley?".
"Eu sei que tem. Porém, Jacob não quis me falar sobre isso".
Eu podia ouvir a água das minhas roupas pingando no chão e fazendo barulho na
madeira. "Eu vou trocar de roupa".
Charlie estava perdido em seus pensamentos. "Ok", ele disse ausentemente.
Eu resolví tomar um banho antes porque estava com frio, mas a água quente não
pareceu afetar a temperatura do meu corpo. Eu ainda estava congelando quando desistí e
desliguei a água. No silêncio repentino, eu podia ouvir Charlie falando com alguém lá
embaixo. Eu me cobrí com uma toalha e saí do banheiro.
A voz de Charlie estava raivosa. "Eu não vou acreditar nisso. Isso não faz o mínimo
sentido".
Tudo ficou quieto aí, e eu me dei conta de que ele estava no telefone. Um minuto se
passou.
"Não culpe Bella por isso!" Charlie gritou de repente.
Eu pulei. Quando ele falou de novo, sua voz estava cuidadosa e mais baixa. "Bella
deixou muito claro o tempo inteiro que ela e Jacob era apenas amigos... Bem, se era
isso, então porque você não disse isso antes? Não, Billy, eu acho que ela está certa
nisso... Porque eu conheço a minha filha, e se ela diz que Jacob estava assustado antes -
", ele parou no meio da frase, e quando recomeçou estava quase gritando de novo.
"O que você quer dizer com eu não conheço minha filha tão bem quanto penso que
conheço!" Ele escutou por um breve segundo, e a resposta dele foi quase baixa demais
pra que eu ouvisse. "Se você pensa que eu vou fazer ela se lembrar daquilo, é melhor
você pensar de novo. Ela está apenas começando a lidar com aquilo, e em grande parte
por causa de Jacob, eu acho. Se o que quer que Jacob estava fazendo com esse tal de
Sam vai fazer ela voltar pra a aquela depressão, então Jacob terá que responder por isso.
Você é meu amigo, Billy, mas isso é machucar a minha família".
Houve outra pausa pra Billy responder.
"Você entendeu direito - se esses garotos colocarem um dedo fora da linha eu vou saber.
Nós estarmos mantendo um olho na situação, você pode ter certeza". Ele não era mais
Charlie; ele era o Chefe Swan agora.
"Tá. É. Tchau" O telefone bateu no receptor.
Eu andei na ponta dos pés rapidamente até o meu quarto. Charlie estava murmurando
com raiva na cozinha.
Então Billy ia me culpar. Eu estava incentivando Jacob e ele finalmente ficou de saco
cheio.
Era estranho, pois eu mesma temia isso, mas depois da última coisa que Jacob disse essa
tarde, eu não acreditava mais nisso. Havia muito mais envolvido nisso do que uma
paixonite não correspondida, e me surpreendia que Billy disesse que se tratava disso.
Isso me fez pensar que qualquer que fosse o segredo que ele estava escondendo, era
muito maior do que eu imaginava. Pelo menos Charlie estava do meu lado agora.
Eu coloquei o meu pijama e me arrastei para a cama. A cama parecia tão escura no
momento que eu me deixei trapacear. O buraco - buracos agora - já estava doendo,
então porque não? Eu coloquei pra fora - não a memória verdadeira que me machucaria
demais, mas a memória falsa da voz de Edward na minha cabeça essa tarde - e a toquei
de novo e de novo na minha cabeça, até que eu peguei no sono com lágrimas descendo
calmamente pelo meu rosto vazio.
Havia um sonho novo essa noite. A chuva estava caindo e Jacob estava aindando
silenciosamente ao meu lado, mas embaixo dos meus pés, o chão parecia estar cheio de
gravetos de quebrando.
Mas ele não era o meu Jacob; ele era um novo, ácido e gracioso. A graciosidade do seu
caminhado me lembrou de outra pessoa, e, enquanto eu observava, o rosto dele
começou a mudar. A pele cor de cobre foi embora, deixando o seu rosto pálido como
papel. Os olhos dele ficaram dourados, depois vermelhos, depois dourados de novo. O
cabelo dele mudava com a brisa, ficando cor de bronze quando o vento o tocava. O
rosto dele ficou tão lindo que fez meu coração disparar. Eu tentei me aproximar dele,
mas ele deu um passo pra trás, erguendo a mão como um escudo. E então Edward
desapareceu.
Eu não tinha certeza, quando me acordei na escuridão, se eu estava começando a chorar,
ou se estive chorando durante o sonho e simplesmente continuava agora.
Eu olhei para o meu teto escuro.
Eu podia sentir que esse era o meio da noite - eu ainda estava meio adormecida, talvez
fosse mais que a metade.
Eu fechei meus olhos cautelosamente e rezei por um sono sem sonhos.
Foi aí que eu escutei o barulho que deve ter me acordado no começo.
Alguma coisa afiada arranhou o vidro da minha janela com um barulho agudo e alto,
como unhas na janela.