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cap. 21 ao 24

 

21. Telefonema

Eu podia sentie que era cedo demais quando eu acordei de novo, e eu sabia que os meus horários do dia e da noite estavam mudando lentamente. Eu fiquei deitada na minha cama ouvindo as vozes baixinhas de Alice e Jasper na outra sala. Era muito estranho que elas fossem altas o suficiente pra eu ouvir. Eu rolei até que meus pés tocassem o chão e então me arrastei até a sala.
O relógio da TV dizia que havia acabado de passar das duas da manhã. Alice e Jasper ainda estavam sentados no sofá, Alice rabiscando de novo enquanto Jasper olhava por cima do ombro dela. Eles não olharam pra cima quando eu entrei, de tão concentrados que estavam no trabalho de Alice.
Eu engatinhei até o lado de Jasper pra espionar.
"Ela viu mais alguma coisa?", eu perguntei baixinho pra ela.
"Sim. Alguma coisa trouxe ele de volta á sala de videocassete, agora está claro".
Eu observei enquanto Alice desenhava uma sala quadrada com vigas escuras que atravessavam o teto. As paredes eram cobertas de madeiras, um pouco escuras demais, fora de moda. Um dos lados da entrada era de pedra - uma lareira de pedra cor de broze que ficava entre a entrada de duas salas. Haviam uma grande janela na parede que dava para o Sul, e uma abertura na parede do lado oeste que dava uma visão para a sala de estar.
O foco da sala por essa perspectiva, a TV e o videocassete, que ficavam equilibrados num aparedor pequeno demais, estavam no lado do corredor que ficava mais próximo do lado sul. Um sofá antigo ficava no lado contrário ao da TV, uma mesa de café redonda ficava na frente dele.
"O telefone fica aqui", eu sussurrei, apontando.
Os dois pares de olhos me encararam.
"É a casa da minha mãe".
Alice já estava fora do sofé, com o telefone na mão, discando. Eu olhei para a precisa descrição da sala familiar da minha mãe. Como não era do seu costume, Jasper escorregou pra perto de mim. Ele colocou levemente sua mão no meu ombro, e o seu contato físico pareceu fazer sua inflência calmante ser ainda mais forte.

O pânico ficou nublado, desfocado.
Os lábios de Alice estavam tremendo com a rapidez de suas palavras, o ruído baixo era impossível de decifrar. Eu não conseguia me concentrar.
"Bella", Alice disse, eu olhei pra ela entorpecida.
"Bella, Edward está vindo te buscar. Ele e Emmett e Carlisle vão te levar para algum lugar, pra te esconder por algum tempo".
"Edward está vindo?", as três palavras eram como um manto de vida, que segurava minha cabeça pra cima durante um dilúvio.
"Sim, ele está pegando o primeiro vôo para Seattle. Nós vamos encontrá-lo no aeroporto e você irá com ele".
"Mas, minha mãe... ele veio aqui pra pegar minha mãe, Alice!", a despeito de Jasper, a histeria estava borbulhando nas minhas palavras.
"Jasper e eu ficaremos até que ela esteja a salvo".
"Eu não vou vencer, Alice. Vocês não podem cuidar de todas as pessoas que eu conheço pra sempre. Ele vai achar alguém, ele vai machucar alguém que eu amo... Alice, eu não consigo-".
"Nós vamos pegá-lo, Bella", ela me assegurou.
"E se você se machucar, Alice? Você acha que vai ficar tudo bem pra mim? Você acha que ele só pode me machucar com a minha família humana?"
Alice deu um olhar cheio de significado pra Jasper. Uma pesada e profundo nuvem de legargia passou por mim e os meus olhos fecharam sem minha permissão. Minha mente lutou contra a nuvem , se dando conta do que estava acontecendo. Eu forcei meus olhos a se abrirem e me levantei, me distanciando das mãos de Jasper.
"Eu não quero voltar a dormir", eu falei.
Eu andei para o quarto e fechei a porta, bati ela na verdade, assim eu estaria livre para ficar despedaçada em privacidade. Dessa vez Alice não me seguiu. Por três horas e meia eu olhei para a parede, curvada como uma bola, me balançando. Minha mente estava dando voltas, tentando encontrar uma forma de sair desse pesadelo. Não havia escapatória, não havia como adiar. Eu só podia ver um final aparecendo sombriamente no meu futuro. A única pergunta era quantas pessoas se machucariam até que eu chegasse la´.

O único consolo, a única esperança que eu tinha, era que eu veria Edward em breve. Talvez, se eu pudesse apenas ver o rosto dele de novo, eu também poderia ver a solução que me iludia agora.
Quando o telefone tocou, eu voltei para a sala, um pouco envergonhada pelo meu comportamento. Eu esperava não ter ofendido nenhum dos dois, que eles soubessem o quanto eu estava grata pelos sacrifícios que eles estavam fazendo por minha culpa.
Alice estava atendendo ele tão rapidamente como sempre, mas o que chamou minha atenção foi que, pela primeira vez, Jasper não estava no quarto. Eu olhei para o relógio - eram cinco e meia da manhã.
"Eles estão entrando no avião", Alice me disse. "Eles vão aterrisar as nove e quarenta e cinco". Só mais algumas hora para respirar até que ele estivesse alí.
"Onde está Jasper?"
"Ele foi fazer o check-out".
"Vocês não vão ficar aqui?"
"Não, nós vamos nos relocar para algum lugar mais próximo da casa da sua mãe".
Meu estômago revirou desconfortavelmente com as palavras dela.
Mas o telefone tocou de novo, me distraindo. Ela pareceu surpresa, mas eu já estava me aproximando, pegando esperançosamente o telefone.
"Alô?", Alice perguntou. "Não, ela está bem aqui". Ela me passou o telefone. Sua mãe, ela murmurou.
"Alô?"
"Bella, Bella", era avoz da minha mãe, num tom famíliar que eu já havia ouvido milhares de vezes na minha infância, toda vez que ficava na beira da calçada ou desaparecia de vista num lugar lotado.
Era o som do pânico.
Eu suspirei. Eu já estava esperando isso, apesar de ter tentado poassar a mensagem da forma mais calma possível, levando em consideração a emergência da situação.
"Mãe, fique calma", eu disse na minha voz mais tranquilizadora, caminhando vagarosamente pra longe de Alice. Eu não tinha certeza de que conseguiria mentir convenientemente com os olhos dela grudados em mim.
"Está tudo bem, tá legal? Só me dê um minuto e eu vou explicar tudo, eu prometo".
Eu pausei, surpresa por ela ainda não ter me interrompido.
"Mãe?"

"Tome muito cuidado pra não falar nada até que eu diga". A voz que eu ouvi agora não era familiar e era inesperada. Era uma voz masculina baixa, uma voz muito agradável, genérica - o tipo de voz que você ouve no fundo de um comercial de carros luxuosos. Ele falava muito rapidamente.

"Agora, eu não preciso machucar sua mãe, então por favor, faça exatamente o que eu disser e ela vai ficar bem". Ele pausou por uma minuto enquanto eu só ouvia, muda de horror. "Isso é muito bom", ele parabenizou. "Agopra repita depois de mim, e tente parecer natural. Por favor diga, 'Não, mãe, fique onde você está'".

"Não, mãe,fique onde você está", minha voz mal passava de um sussurro.

"Eu vejo que isso vai ser bem difícil". A voz estava divertida, ainda leve e amigável. "Porque você não vai para outro lugar pra que o seu rosto não arruine tudo? Não há nenhuma razão pra sua mãe sofrer. Enquanto você está andando, por favor diga 'Mãe, por favor, me ouça'. Diga isso agora".

"Mãe, por favor, me ouça", minha voz implorou. Eu andei bem devagar para o quarto, sentindo os olhos preocupados de Alice na minhas costas. Eu fechei a porta atrás de mim, tentando pensar claramente apesar do terror que prendia meu cérebro.

"Agora, você está sozinha? Só responda sim ou não".

"Sim".

"Mas eles ainda podem te ouvir, eu tenho certeza".

"Sim".

"Tudo bem então", a voz de concordância continuou. "diga, 'Mãe, confie em mim'".

"Mãe, confie em mim".

"Isso está funcionando melhor do que eu esperava. Eu estava preparado para esperar, mas a sua mãe chegou antes do horário. É mais fácil assim, não é? Menos suspense, menos ansiedade pra você".

Eu esperei.

""Agora eu quero que você me ouça muito cuidadosamente. Eu vou precisar que você se afaste dos seus amigos; você acha que consegue fazer isso? Responda sim ou não".

"Não".

"Eu lamento ouvir isso. Eu esperava que você fosse um pouco mais criativa que isso. Você acha que poderia se afastar deles se a vida da sua mãe dependesse disso? Rsponda sim ou não".

De alguma forma, tinha que haver um jeito. Eu me lembrei que estavamos indo ao aeroporto. Aeroporto Sky Harbor Internacional: lotado, pessoas atrasadas...

"Sim".

"Isso é melhor. Eu tenho certeza que não será fácil, mais se eu tiver a mínima impressão de que você tem companhia, bem, isso vai ser muito ruim para a sua mãe", a voz amigável prometeu. "Você já deve nos conhecer suficientemente bem pra saber o quão rapidamente eu vou saber se você tentar trazer alguém com você. E como eu poderia lidar rapidinho com a sua mãe se esse fosse o caso. Você está me entendendo? Responda sim ou não".

"Sim", minha voz quebrou.

"Miuto bom, Bella. Agora aqui está o que você precisa fazer. Eu quero que você vá para a casa da sua mãe. Perto do telefone haverá um número. Ligue pra ele e eu te direi pra onde ir a partir daí". Eu já sabia pra onde iria, e onde isso iria acabar. Mas eu seguiria exatamente as instruções dele. "Você pode fazer isso? Responda sim ou não".

"Sim".

"Antes do meio dia, por favor, Bella. Eu não tenho o dia inteiro", ele disse educadamente.

"Onde está Phil?", eu perguntei.

"Aw, tome cuidado, Bella. Espere até que eu te peça pra falar, por favor".

Eu esperei.

"Agora, isso é importante, não deixe os seus amigos suspeitarem quando você voltar pra eles. Diga pra eles que sua mãe ligou, e que você conseguiu convencê-la a ficar longe de casa por mais algum tempo. Agora repita depois de mim 'Obrigada, mãe'. Diga agora".

"Obrigada, mãe", as lágrimas estavam chegando. Eu tentei afastá-las.

"Diga 'Eu te amo, mãe, a gente se vê logo'. Diga agora".

"Eu te amo, mãe", minha voz estava grossa. "A gente se vê logo", eu prometi.

"Adeus, Bella. Eu estou ansioso pra vê-la de novo". Ele desligou.

Eu segurei o telefone no meu ouvido. Meu corpo estava congelado de terror - eu não conseguia fazer meus dedos solta-lo.

Eu sabia que tinha que pensar, mas minha cabeça estava cheia com o som de pânico da voz da minha mãe.. Os segundos foram se passando enquanto eu lutava pra me controlar.

Lentamente, lentamente, meus pensamentos começaram a transpor a parede de tijolos que a dor havia construido. Para planejar. Eu não tinha escolhas, a não ser uma: ir para a sala espelhada e morrer. Eu não tinha garantias, nada pra dar que pudesse manter minha mãe viva. Eu só podia esperar que James se desse por satisfeito depois que James ganhasse o jogo, que derrotar Edward fosse o suficiente.

O desespero tomou conta de mim; não tinha como barganhar, não havia nada que eu pudesse oferecer ou recusar que influenciasse ele. Mas eu ainda não tinha escolha. Eu tinha que tentar.

Eu afastei o terror tão bem quanto pude. Minha decisão estava tomada. Eu não ganhava nada perdendo meu tempo agonizando por causa do desfecho. Eu tinha que pensar com clareza, porque Alice e Jasper estavam esperando por mim, e despistá-los era absolutamente essencial, e absolutamente impossível.

Eu estava subitamente aliviada por Jasper não estar lá. Se ele estivesse aqui pra sentir a minha angústia nos últimos cinco minutos, como era que eu ia evitar as suspeitas deles? Eu afastei o medo, a ansiedade, tentei sufocá-los. Eu não podia me dar ao luxo de sentí-los. Eu não sabia quando ele voltaria.

Eu me concentrei na minha fuga. Eu tinha que rezar pra que a familiaridade com o aeroporto funcionasse a meu favor. D e alguma forma, eu tinha que manter Alice longe...

Eu sabia que Alice estaria na outra sala esperando por mim, curiosa. Mas eu tinha que lidar com mais uma coisa em particular, antes que Jasper voltasse.

Eu tinha que aceitar o fato de que não veria Edward novamente, nem uma imagem do seu rosto pra levar comigo para a sala dos espelhos. Eu ai magoá-lo, e não podia dizer adeus. Eu deixei as ondas de tortura me lavarem por algum tempo, seguir seu caminho por um tempo.

Então eu afastei elas também, e fui enfrentar Alice.

A única expressão que eu consegui controlar foi um olhar bobo, morto. Eu ví o alarme dela e não esperei que ela perguntasse. Eu só tinha um script, e agora não consegui improvisar.

"Minha mãe estava preocupada, ela queria voltar voltar pra casa. Mas está tudo bem, eu convencí ela a ficar longe". Minha voz estava sem sem vida.

"Nós vamos cuidar pra que ela fique bem, Bella, não se preocupe".

Eu me virei; eu não podia permitir que ela visse meu rosto agora.

Meu olho caiu sobre uma folha vazia com o emblema do hotel em cima da mesa. Eu fui até ela, um plano se formando. Havia um envelope lá, também. Isso era bom.

"Alice", eu perguntei lentamente, sem me virar, mantendo o nível da minha voz. "Se eu escrever uma carta para a minha mãe, você entregaria pra ela? Deixar na casa, eu quero dizer".

"Claro, Bella", a voz dela era cuidadosa. Ela podia me ver perdendo o controle. Eu tinha que controlar melhor as minhas emoções.

Eu fui para o meu quarto de novo, e me ajoelhei na mesinha de cabeceira para escrever.

"Edward", eu escrevi. Minha mão estava tremendo, a letra quase não era legível.

Eu te amo. Eu lamento muito. Ele está com a minha mãe. Eu sei que isso pode não funcionar. Eu lamento muito, muito.

Não fique com raiva de Alice e Jasper. Se eu conseguir me afastar deles vai ser um milagre. Agradeça eles por mim. Especialmente Alice, por favor.

E por favor, por favor, não vá atrás dele. É isso que ele quer. Eu acho. Eu não vou conseguir aguentar se alguém se machucar por minha causa, especialmente você. Por favor, isso é a única coisa que eu posso te pedir agora. Por mim.

Eu te amo. Me perdoe.

Bella

.

Eu dobrei a carta cuidadosamente, e a coloquei no envelope. Eventualmente ele irai encontrá-la. Eu esperava que ele pudesse entender, e me escutar, só dessa vez.

Então eu cuidadosamente fechei meu coração.

22. Esconde - esconde

Levou muito menos tempo do que eu espera - todo o terror, o desespero, a dor do meu coração partido. Os minutos estavam se passando mais devagar do que o normal. Jasper ainda não tinha voltado quando eu retornei para Alice. Eu estava com medo de ficar no mesmo quarto com ela, com medo que ela adivinhasse... e com medo de me esconder dela pela mesma razão.
Eu teria pensado que estava longe da possibilidade de me surpreender, meus pensamentos estavam torturados e desestabilizados, mas eu fiquei surpresa quando ví Alice se inclinar na mesa, agarrando a borda com as duas mãos.
"Alice?"
Ela não reagiu quando eu chamei o nome dela, mas a cabeça dela estava se balançando lentamente de um lado para o outro, e eu ví o rosto dela. Seus olhos estavam vazios, ofuscados... Meus pensamentos viajaram para a minha mãe. Eu já estava atrasada?
Eu corri para o lado dela, me lançando automaticamente pra pegar na mão dela.
"Alice!", a voz de Jasper cortou, e então ele estava atrás dela, as mãos dele sobre as mãos dela, fazendo elas soltarem a borda da mesa. Do outro lado da sala, a porta estava se fechando com um click baixinho.
"O que foi?", ele quis saber.
Ela desviou o rosto de mim e o colocou no peito dele. "Bella", ela disse.
A cabeça dela se virou pra mim, os olhos dela se prendendo aos meus, a expressão deles ainda estava estranhamente vazia. Eu me dei conta na hora de que ela não estava falando comigo, ela estava respondendo á pergunta de Jasper.
"O que você viu?", eu disse - e não havia pergunta nenhuma no tom vazio, sem importância da minha voz.
Jasper olhou pra mim asperamente. Eu mantive a expressão vazia e esperei. Os olhos dele estavam confusos enquanto passavam rapidamente do rosto de Alice para o meu, sentindo o caos... eu imagino que tenha sido pelo que Alice havia acabado de ver.
Eu senti uma atmosfera tranquila pousar ao meu redor. Eu a recebí bem, usando ela pra manter os meus sentimentos em disciplina, sobre controle.
Alice, também se recuperou.

"Nada, de verdade", ela respondeu finalmente, a voz dela incrivelmente calma e convincente. "Só o mesmo quarto de antes".

Ela finalmente olhou pra mim, sua expressão estava suave e reservada.

"Você queria tomar o café da manhã?"

"Não, eu vou comer no aeroporto". Eu estava muito calma também. Eu fui para o banheiro pra tomar um banho. Quase como se eu estivesse desenvolvendo o estranho poder de Jasper, eu podia sentir o desespero - bem dissimulado - selvagem de Alice para que eu saisse da sala, para estar sozinha com Jasper. Assim ela poderia dizer a ele que os dois estavam fazendo alguma coisa errada, que eles iam falhar...

Eu me aprontei metodicamente, me concentrando em cada pequena tarefa. Eu deixei meu cabelo solto, se torcendo, cobrindo meu rosto.

O sentimento de paz que Jasper criou funcionou e me ajudou a pensar com clareza. Me ajudou a planejar. Eu procurei na minha bolsa até que encontrei minha meia cheia de dinheiro. Eu coloquei tudo que havia nela no meu bolso.

Eu estava ansiosa para chegar ao aeroporto,e feliz quando nós saímos por volta das sete. Dessa vez eu me sentei sozinha no fundo do carro escuro. Alice estava inclinada na porta, seu rosto estava virado pra Jasper, mas por trás dos óculos escuros, seus olhos se viravam pra mim a cada segundo.

"Alice?", eu perguntei indiferente.

Ela estava sendo cautelosa. "Sim?"

"Como isso funciona? As coisas que você vê?", eu olhei pra fora pela janela, e minha voz soou aborrecida. "Edward disse que não era definitivo... que as coisas mudam?"

Dizer o nome dele era mais difícil do que eu pensei. Deve ter sido isso que alertou Jasper, porque um flash de serenidade invadiu o carro.

"Sim... as coisas mudam", ela murmurou - esperançosamente, eu esperava. "Algumas coisas são mais certas que outras...como o clima.

As pessoas são mais difíceis. Eu só vejo os caminhos onde as pessoas estão quando elas ainda estão neles. Somente elas podem mudar suas mentes - tomar uma decisão, não importa o quanto ela seja pequena - muda todo o futuro".

Eu balancei a cabeça pensativamente. "Então você não conseguiu ver James em Phoenix até que ele decidiu vir pra cá".

"Sim", ela respondeu, cautelosa de novo.

E ela não tinha me visto na sala dos espelhos com James até que eu decidí ir encontrá-lo lá. Eu tentei não pensar no que mais ela havia visto. Eu tentei não fazer o meu pânico deixar Jasper ainda mais suspeito. De qualquer forma, eles iam estar me observando ainda mais cuidadosamente depois da visão de Alice. Isso ia ser impossível.

Nós chegamos no aeroporto. A sorte estava comigo, ou talvez fosse somente pontos de desvantagem. O avião de Edward estava aterrisando no terminal quatro, o maior terminal, onde a maioria dos vôos desembarcava - então não era uma grande surpresa que o dele fosse aterrisar lá. Mas esse era o terminal que eu precisava: o maior o mais confuso. E havia uma porta no nível três que podia ser a minha única chance.

Nós paramos no quarto andar da enorme garagem. Eu guiei o caminho, por conhecer melhor o trajeto do que eles. Nós pegamos o elevador até o nível três, onde os passageiros desembarcavam. Alice e Jasper ficaram um longo tempo no balcão procurando os vôos que haviam chegado. Eu ouvia eles discutindo os prós e contras de Nova York, Atlanta, Chicago. Lugares que eu nunca havia visitado. E nunca visitaria.

Eu esperei pela minha oportunidade, impaciente, sem conseguir fazer meu pé parar de se mexer.

Nós nos sentamos numa longa fileira de cadeiras perto dos detectores de metal, Jasper e Alice estavam fingindo observar as pessoas, mas na cerdade estavam observando a mim. Cada centímetro que eu me mexia na cadeira era acompanhado por olhares nos cantos dos olhos deles. Eu não tinha esperanças. Será que eu deveria correr? Eles ousariam me deter fisicamente nesse local público? Ou eles simplesmente me seguiriam?

Eu puxei o envelope sem lacre da minha bolsa e o coloquei em cima da bolsa de couro preto de Alice. Ela olhou pra mim.

"Minha carta", eu disse.

Ela afirmou com a cabeça e o colocou embaixo da bolsa. Ele a encontraria rápido o suficiente.

Os minutos foram se passando e o momento da chegada de Edward se aproximava. Era impressionante como cada célula do meu corpo parecia saber que ele estava chegando, e ansiava pela sua chegada.

Isso dificultou as coisas. Eu me peguei tentando inventar desculpas pra ficar, pra vê-lo antes e depois escapar. Mas eu sabia que isso era impossível se eu queria ter alguma chance de escapar.

Várias vezes Alice se ofereceu pra ir pegar meu café da manhã comigo. Depois, eu disse pra ela, ainda não.

Eu olhei para o painel de vôos, observando enquanto vôos após vôos chegavam no horário. O vôo de Seattle se aproximava a cada segundo do topo do painél.

E então, quando eu só tinha meia hora para escapar, os números mudaram. O vôo dele estava dez minutos adiantado. Eu não tinha mais tempo.

"Eu acho que vou comer agora", eu disse rapidamente.

Alice ficou de pé. "Eu vou com você".

"Você se importa se Jasper vier?", eu perguntei. "Eu estou me sentindo um pouco...", eu não terminei a frase. Meus olhos já estavam selvagens o suficiente pra convencê-los do que eu não precisei dizer.

Jasper ficou de pé. Os olhos de Alice estavam confusos, mas - eu ví aliviada - não suspeitos. Ela deve estar atribuindo a visão dela á alguma manobra do perseguidor, e não a uma traição minha.

Jasper caminhou silenciosamente ao meu lado, sua mão na curva das minhas costas, como se ele estivesse me guiando. Eu fingi um pouco de interesse pelos poucos restaurantes do aeroporto, minha cabeça estava procurando aquilo que eu realmente queria. E lá estava ele, virando o corredor, fora da visão aguda de Alice: o banheiro feminino do terceiro nível.

"Você se importa?", eu perguntei a Jasper enquanto passavamos. "Só vai demorar um momentinho".

"Eu vou ficar aqui", ele disse.

Assim que a porta se fechou atrás de mim, eu já estava correndo. Eu me lembrei da outra vez que me perdi nesse banheiro, porque ele tem duas saídas.

Do lado de fora das portas, eu tinha que correr uma curta distância até os elevadores, e se Jasper ficasse onde ele disse que ficaria, ele jamais poderia me ver. Eu não olhei pra trás enquanto corria. Essa era a minha única chance, e mesmo que ele me visse, eu tinha que continuar correndo. As pessoas me olharam,mas eu ignorei elas. Virando na esquina, os elevadres estavam me esperando, eu corri em frente, jogando minha mão nas portas que estavam se fechando de um elevador que estava descendo. Dentro, eu me espremi entre os passageiros irritados, e chequei pra ter certeza de que haviam apertado o botão para o nível um. Ele já estava aceso e as portas se fecharam.

Assim que a porta se abriu eu já estava fora de novo, e ouvi o som de murmúrios aborrecidos atrás de mim. Eu me controlei enquanto passava pelos guardas nos carroséis de bagagem, mas comecei a correr de novo quando as portas da saída começaram a aparecer.

Eu não tinha como saber se Jasper já estava procurando por mim.

Se ele estivesse sentindo o meu cheiro, eu só tinha alguns segundos. Eu pulei pra fora pelas portas automáticas, quase me chocando com os vidros porque elas se abriram devagar demais.

Não havia nenhum taxí á vista na longa curva lotada.

Eu não tinha tempo. Alice e Jasper não demoraria a se dar conta que eu tinha ido embora, se é que já não haviam percebido. Eles me achariam num piscar de olhos.

Um transporte público para o Hyatt estava fechando as portas a alguns metros de distância atrás de mim.

"Espere!", eu chamei, correndo, acenando para o motorista.

"Esse é o transporte para o Hyatt", o motorista disse confuso enquanto abria as portas.

"Sim", eu gritei, "é pra lá que eu estou indo". Eu subí os degraus correndo.

Ele olhou curioso para as minhas poucas bagagens, mas então levantou os ombros, sem se importar o suficiente pra perguntar.

A maioria dos bancos estava vazia. Eu me sentei tão longe dos viajantes quanto foi possível, e olhei pra fora da janela enquanto primeiro a calçada, depois o aeroporto iam se afastando.

Eu não pude deixar de imaginar Edward, onde ele iria ficar na pista quando descobrisse até onde o meu cheiro ia. Eu não choraria ainda, eu disse pra mim mesma. Eu ainda tinha um grande caminho a percorrer.

Minha sorte continuou. Na frente do Hyatt, um casal de aparecia cansada estava tirando a última mala deles da mala de um táxi. Eu pulei pra fora do transporte e corri para o táxi, deslizando no banco atrás do motorista. O casal cansado e o motorista do transporte público olharam pra mim surpresos.

Eu disse o endereço da minha mãe ao surpreso motorista de táxi. "Eu preciso chegar aí o mais rápido possível".

"Isso é em Scottsdale", ele reclamou.

Eu joguei quatro notas de vinte no banco.

"Isso vai ser suficiente?"

"Claro, garota, sem problemas."

Eu me encostei no banco, cruzando meus braços no colo. A cidade familiar cmeçou a passar correndo por mim, mas eu não olhava para a janela.

Eu disse para mim mesma para manter o controle. Eu estava determinada a não estragar as coisas a esse ponto, agora que o meu plano estava completamente sucedido. Não havia motivo pra mergulhar em mais medo, mais ansiedade. Minha tarefa estava passada, agora eu só tinha que cumpri-la.

Então, ao invés de entrar em pânico, eu fechei meus olhos e passei os vinte minutos da viagem com Edward. Eu imaginei que tinha ficado no aeroporto pra me encontrar com Edward. Eu visualizei como eu ficaria na ponta dos pés, pra ver o seu rosto mais rápido. Como ele se moveria rapidamente, graciosamente entre as pessoas que nos separavam. E então eu correria para fechar os metros restantes entre nós - descuidada, como sempre - e eu estaria nos seus braços de mármore, finalmente a salvo.

Eu me perguntei pra onde nós teríamos ido. Pra algum lugar á Norte, pra que ele pudesse sair durante o dia. Ou talvez algum lugar muito remoto, para que pudéssemos sair juntos no sol de novo. Eu imaginei ele numa costa, sua pele brilhando como o mar. Não importaria quanto tempo nós tivéssemos que nos esconder.