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cap. 20 ao 22

 

 

 

 

 

 

 

 

 

20. Volterra

Nós começamos a subir a entrada íngreme,e a estrada ficou congestionada. Quando nós

chegamos mais alto, os carros estavam muito próximos uns dos outros então Alice não

podia mais atravessar entre eles como uma insana. Nós paramos uma fila atrás de um

pequeno Peugeot.

"Alice", eu gemí. O relógio na torre parecia estar correndo mais rápido.

"É o único jeito de entrar", ela tentou me acalmar. Mas a voz dela estava muito tensa

pra confortar.

Os carros continuaram a andar pra frente, uma carro lentamente de cada vez. O sol

brilhou com força, parecendo que já estava no centro do céu.

Os carros entraram um a um na cidade. Enquanto nos aproximávamos, eu podia ver os

carros sendo estacionados de um dos lados da estrada e pessoas saindo pra fazer seu

caminho a pé. Primeiro eu achei que isso fosse só impaciencia - coisa que eu podia

entender facilmente. Mas depois nós entramos numa rua, e eu podia ver o

estacionamento cheio, do lado de fora da cidade, as multidões de pessoas entrando pelos

portões. Ninguém estava tendo permissão pra entrar de carro.

"Alice", eu sussurrei urgentemente.

"Eu sei", ela disse. O rosto dela parecia esculpido no gelo.

Não que eu estivesse olhando, e nós estavamos rastejando lentamente o suficiente pra

que eu visse, mas eu podia dizer que estava ventando muito.

As pessoas se aglomerando na direção do portão agarravam seus chapéus e tiravam os

cabelos da frente do rosto. Suas roupas estavam grudando em seus corpos. Eu também

percebí que a cor vermelha estava em todo lugar. Camisas vermelhas, chapéus

vermelhos, bandeiras vermelhas balançando como laços ao lado da ponte, balançando

com o vento - enquanto eu estava observando, uma brilhante echarpe escarlate que uma

mulher havia amarrado na cabeça foi levada numa rajada repentina. Ela balançou no ar

em cima da mulher, se movendo como se estivesse viva.

A mulher tentou alcansar, pulando no ar, mas ela continuou subindo mais alto, uma

rastro de sangue nas paredes sombrias, ansiãs.

"Bella", Alice falou rapidamente numa voz feroz, lenta.

"Eu não consigo ver aqui o que o guarda vai decidir - se isso não funcionar, você vai ter

que ir sozinha. Você vai ter que correr. Continue perguntando pelo Palazzo dei Priori, e

correndo na direção que eles te apontarem. Não se perca".

"Palazzo dei Priori, Palazzo dei Priori", eu repeti o nome de novo e de novo, tentando

decorar.

"Ou 'a torre do relógio' se eles falarem Inglês. Eu vou dar a volta e tentar encontrar um

lugar vazio atrás da cidade onde eu posso pular os muros".

Eu balancei a cabeça. "Palazzo dei Priori".

Edward vai estar embaixo da torre do relógio, ao norte da praça. La ha uma ruela

estreita na direita, e ele estará nas sombras lá. Você tem que atrair a atençaõ dele antes

que ele saia para o sol".

Eu balancei a cabeça furiosamente.

Alice estava perto do fim da fila. Um homem num uniforme azul marinho estava

direcionando a fluência do trânsito, afastando os carros do estacionamento vazio. Eles

faziam uma curva em U e tentavam encontrar uma vaga perto da estrada. E então era a

vez de Alice.

O homem uniformizado acenou preguiçosamente, sem prestar atenção. Alice acelerou,

cercando ele e indo na direção do portão. Ele gritou alguma coisa pra nós, mas

continuou no lugar, acenando freneticamente pra evitar que o próximo carro seguisse o

mal exemplo.

O homem no portão usava um uniforme combinando. Enquanto nos aproximamos dele,

as multidões de turistas passavam, enchendo as calçadas, olhando curiosamente para o

Porshe chamativo, brilhante.

O guarda pisou no meio da estrada. Alice fez um ângulo com o carro antes de pará-lo

completamente. O sol batia na minha janela, e ela estava numa sombra. Ela rapidamente

alcançou a parte de trás do banco e tirou alguma coisa de dentro da bolsa dela.

O guarda se aproximou do carro com uma expressão irritada, e deu umas batidinhas

raivosas na janela dela.

Ela abriu a janela até a metade, e eu observei ele olhar duas vezes quando viu o rosto

atrás do vidro.

"Eu lamento, apenas ônibus de excursões são permitidos na cidade hoje, senhorita", Ele

disse em Inglês, com um sotaque pesado. Ele parecia pedir desculpas, agora, como se

desejasse ter boas notícias pra dar pra uma mulher arrebatadoramente linda.

"É uma excursão", Alice disse, dando uma sorriso sedutor. Ela colocou a mão pra fora

da janela, na luz do sol. Eu congelei, até que eu percebí que ela estava usando uma luva

curtida, na altura do cotovelo.

Ele pegou a mão dela, que ainda estava levantada pela batidinha na janela, e a colocou

dentro do carro. Ela colocou alguma coisa na palma dele, e dobrou os dedos dele em

cima disso.

O rosto dele estava confuso quando ele tirou a mão e olhou para o grosso rolo de

dinheiro que ele agora segurava. A última nota era uma de mil dólares.

"Isso é uma piada?", ele murmurou.

O sorriso de Alice foi deslumbrante. "Só se você achar engraçado".

Ele olhou pra ela, com os olhos arregalados. Eu olhei nervosamente para o relógio se

mexendo. Se Edward continuasse com o seu plano, nós só tínhamos mais cinco

minutos.

"Eu estou com um tantinho assim de pressa", ela assobiou, ainda sorrindo.

O guarda piscou duas vezes, e depois enfiou o dinheiro no seu casaco. Ele deu um passo

pra longe da janela e acenou pra nós. Nenhuma das pessoas passando por nós pareceu

perceber a grande mudança. Alice dirigiu para a cidade, e nós duas suspiramos

aliviadas.

A rua era muito estreita, coberta com pedras da mesma cor enquanto as paredes de uma

cor canela que estava desaparecendo escureciam a rua com o seu tom de cor.

Paredes vermelhas decoravam as paredes, a apenas uns centímetros uma da outra,

balançando com o vento e assobiava pela estreita passagem.

Tudo estava lotado, e o trânsito dos pedestres atrapalhou o nosso progresso.

"Só um pouco mais á frente", Alice me encorajou; eu estava agarrando a maçaneta da

porta, preparada pra me jogar na rua assim que ela falasse a palavra.

Ela dirigiu fazendo rápidos avanços e dando paradas repentinas, e as pessoas na

multidão mostrvam o punho pra nós e diziam palavras raivosas que eu estava feliz por

não conseguir entender.

Ela fez uma curva num pequeno espaço que não podia estar reservado para os carros; as

pessoas chocadas tinham que se espremer nas entradas das casas enquanto passavamos

por elas. Nós encontramos outra estrada no final. Os prédios eram mais altos aqui; eles

se estendiam para a frente então nenhum sol tocava o chão - as bandeiras balançando

nas paredes dos dois lados quase se encontravam. A multidão estava maior aqui do que

nos outros lugares. Alice parou o carro. Eu já tinha aberto a porta antes que

estivéssemos completamente parados.

Ela apontou para onde a rua se alargava no caminho de uma abertura brilhante. "Alí -

nos estamos no lado sudoeste da praça. Corra diretamente até o outro lado, para a direita

da torre do relógio. Eu vou encontrar um caminho dando a volta -"

A respiração dela se prendeu de repente, e quando ela falou de novo, a voz dela era um

assibio.

 

"Eles estão em todo lugar?"

Eu congelei no lugar, mas ela me empurrou do carro. "Esqueça eles. Você tem dois

minutos. Vai, Bella, vai!", ela gritou, saindo do carro enquanto falava.

Eu não parei pra ver Alice se misturar ás sombras. Eu não parei pra fechar a porta atrás

de mim. Eu empurrei uma mulher pesada pra fora do meu caminho e continuei correndo

para a frente, a cabeça abaixada, prestando pouca atenção em outra coisa que não fosse

o caminho de pedras embaixo dos meus pés.

Saindo da rua escura, eu fiquei cega pela claridade do sol batendo na praça principal. O

vento fez barulho passando por mim, jogando meus cabelos nos meus olhos e me

cegando mais ainda. Não era de se surpreender que eu não tivesse visto a parede de

gente até que eu esbarrei nela.

Não haviam nenhum caminho, nenhuma fenda entre os corpos pressionados juntos. Eu

empurrei eles furiosamente, luatndo com as mãos que apareceram de volta.

Eu ouví exclamações de raiva e até mesmo de dor enquanto eu batalhava pra abrir meu

caminho, mas nenhuma delas em uma linguagem que eu compreendesse.

O rosto deles era um vulto de raiva e surpresa, cercados pelo vermelho sempre presente.

Uma mulher loura olhou zangada pra mim, e a echarpe vermelha amarrada no pescoço

dela parecia uma ferida grotesca. Uma criança, levantada no ombro de um homem pra

ver por cima da multidão, sorriu pra mim, os dentes dele escondidos embaixo de uma

dentadura de plástico com presas de vampiro.

A multidão passava ao meu redor, me virando na direção errada. Eu estava feliz pelo

relógio ser tão visível, ou eu nunca teria sido capaz de seguir o meu curso corretamente.

Os dois ponteiros do relógio estavam apontados pra cima para o sol impiedoso, e,

apesar de eu me jogar violentamente contra a multidão, eu sabia que era tarde demais.

Eu não estava nem no meio do caminho. Eu era uma humana estúpida e lenta, e todos

nós íamos morrer por causa disso.

Eu esperava que Alice conseguisse. Eu esperava que ela me visse das sombras escuras e

soubesse que eu havia falhado, assim ela podia voltar pra casa pra Jasper.

Eu escutei, por cima das exclamações de raiva, tentando ouvir o som da descoberta: os

cochichos, talvez os gritos, quando Edward se mostrasse para alguém.

Mas ouve um espaço entre a multidão - eu podia ver um espaço vazio á frente. Eu

empurrei urgentemente em diração a ele, sem me dar conta até que eu machuquei

minhas canelas nos tijolos, de que era uma grande fonte quadrada, que ficava no centro

da praça.

Eu estava preticamente chorando de alívio enquanto mergulhava minha perna por cima

da parede e corria pela água que ficava na altura do joelho. Ela respingava inteira em

mim no meu caminho pela fonte. Mesmo no sol, o vento era glacial, e o molhado na

verdade faziam o frio doer. Mas a fonte era muito larga; ela me ajudou a passar pelo

centro da praça e um pouco mais adiante em meros segundos.

Eu não parei quando alcancei a outra ponta - eu usei a parede baixa pra me impulsar, me

jogando em cima da multidão.

Agora eles se moviam prontamente pra me dar passagem, evitando a água gelada que

pingava das minhas roupas enquanto eu corria. Eu olhei para o relógio de novo.

Um barulho profundo, estrondoso invadiu a praça nesse momento. Ele fez as pedras

tremerem embaixo dos meus pés. As crianças choravam cobrindo os ouvidos. E eu

comecei a gritar enquanto corria.

"Edward!", eu gritei, sabendo que era inútil. A multidão falava alto demais, e minha voz

estava sem fôlego de exaustão. Mas eu não podia parar de gritar.

O relógio bateu de novo. Eu corrí por uma criança nos braços da mãe - o cabelo dele era

quase branco deslumbrante luz do sol. Um círculo homens altos, todos usando blazers

vermelhos, chamaram dando avisos quando eu esbarrei com eles. O relógio bateu de

novo.

No outro lado dos homens de blazer, havia uma folga na multidão, um espaço entre os

passantes que andavam á toa ao meu redor. Meus olhos procuravam na estreita

passagam escura á direita do grande edifício quadrado embaixo da torre. Eu não

conseguia ver o nível da rua - ainda haviam muitas pessoas no caminho. O relógio bateu

de novo.

Agora era difícil de ver. Sem a multidão pra parar o vento, ele batia no meu rosto e fazia

meus olhos arderem. Eu não tinha certeza de que essa era a razão por baixo das minhas

lágrimas, ou se eu estava chorando de derrota quando o relógio bateu novamente.

Uma pequena família de quatro era a que estava mais próxima da entrada da ruela. Duas

garotas usavam vestidos escarlates, com laços combinando presos atrás da cabeça. O pai

não era alto. Parecia que eu podia ver alguma coisa brilhando nas sombras, bem acima

do ombro dele. Eu corrí na direção deles, tentando ver através das lágrimas. O relógio

bateu, e a garota menos colocou as mãos nos ouvidos.

A garota maior, que ficava na altura da cintura da mãe, agarrou a perna da mãe e olhou

para a escuridão atrás deles.

Enquanto eu observava, ela cutucou o cotovelo da mãe e apontou para a escuridão atrás

deles.

O relógio bateu e eu estava muito perto agora.

Eu estava perto o suficiente pra ouvir a voz aguda dela. O pai dela olhou pra mim

supreso quando eu corrí na direção deles, gritando o nome de Edward de novo e de

novo.

A garota mais velha deu uma risadinha e disse alguma coisa para a mãe, fazendo gestos

impacientes de novo na direção das sombras.

Eu me desviei do pai - ele tirou o bebê do meu caminho - e corrí na diração da brecha

luminosa atrás deles enquanto o relógio batia de novo.

"Edward, não!", mas minha voz estava perdida por causa do barulho das badaladas.

Eu podia vê-lo agora. E eu podia ver que ele não podia me ver.

Realmente era ele, nada de alucinações dessa vez. E eu me dei conta de que as minhas

alucinações eram mais falhas do que eu imaginava; elas nunca o fariam justiça.

Edward estava parado, imóvel como uma estátua, só a alguns passos do fim da ruela.

Seus olhos estavam fechados, os círculos embaixo deles eram de um roxo escuro, os

braços estavam relaxados ao lado dele, suas palmas viradas pra frente.

A expressão dele era muito tranquila, como se ele estivesse sonhando com coisas

agradáveis. A pele do seu peito de mármore estava nua - havia uma fina camada de

tecido branco sobre os seus pés. A luz refletindo da calçada da praça refletia fracamente

na pele dele.

Eu nunca havia visto nada mais lindo - mesmo estando correndo, sem fôlego e gritando,

eu podia apreciar isso. E os últimos meses não significaram nada. E eu não me

importava se ele não me queria. Eu nunca iria querer nada além dele, não importava

quanto tempo eu vivesse.

O relógio bateu, e ele deu um longo passo em direção á luz.

"Não!", eu gritei. "Edward, olhe pra mim!"

Ele não estava ouvindo. Ele estava sorrindo muito levemente. Ele ergueu o pé pra dar o

próximo passo que o colocaria diretamente na direção do sol.

Eu me choquei com ele com tanta violência que a força teria me jogado no chão se os

braços dele não tivessem me pego e me segurado.

O impacto me deixou sem fôlego e fez minha cabeça pular pra trás.

Seu olhos se abriram lentamente enquanto o relógio badalava de novo.

Ele olhou pra mim com uma surpresa silenciosa.

"Incrível", ele disse, sua voz primorosa estava maravilhada, um pouco divertida.

"Carlisle estava certo".

"Edward", eu tentei asfixiar, mas minha voz não fazia som. "Você tem que voltar para

as sombras. Você precisa se mover!"

Ele parecia contente. A mão dele alisava suavamente a minha bochecha. Ele não parecia

reparar que eu estava tentado forçá-lo pra trás. Pelo progresso que eu estava fazendo era

melhor estar empurrando uma parede. O relógio badalou de novo, mas ele não se

mexeu.

Era muito estranho, até onde eu sabia nós dois estávamos em perigo mortal. Mesmo

assim, naquele instante, eu me sentia bem. Completa. Eu podia sentir meu coração

disparado no meu peito, o sangue pulsando quente e rápido nas minhas veias de novo.

Meus pulmões estavam cheios com o doce cheiro que vinha da pele dele. Era como se

nunca houvesse existido um buraco no meu peito. Ele estava perfeito - não curado, mas

era como se ele nunca tivesse estado lá pra começar.

"Não dá pra acreditar no quanto foi rápido. Eu não sentí nada - eles foram muito bons",

ele meditou, fechando os olhos de novo e pressionando os lábios no meu cabelo. A voz

dele era como mel e veludo. "Morte, que sugou o mel da tua respiração, não teve

nenhum poder contra a tua beleza", ele murmurou, e eu reconhecí a fala dita por Romeu

na tumba.

O relógio deu sua última badalada "Você cheira exatamente igual", ele continuou.

"Então talvez isso seja o inferno. Eu não me importo. Eu fico com ele".

"Eu não estou morta", eu interrompí. "E nem você! Por favor, Edward, nós temos que

nos mover. Eles não podem estar muito longe".

Eu lutei nos braços dele, eles ergueu as sobrancelhas confuso.

"Como é isso?", ele perguntou educadamente.

"Nós não estamos mortos, ainda não! Mas nós temos que sair da luz antes que os

Volturi -"

A compreensão foi penetrando o rosto dele enquanto eu falava. Antes que eu pudesse

terminar de falar, ele de repente me arrastou da margem das sombras, me girando sem

esforço até que as minhas costas estivessem espremidas na parede de tijolos, e as costas

dele estavam viradas pra mim enquanto ele encarava a ruela. Os bralos dele se abriram,

me protegendo, na minha frente.

Eu olhei por baixo dos braços dele pra ver duas figuras escuras que se destacavam na

escuridão.

"Saudações, cavalheiros", a voz de Edward estava calma e prazeirosa, na superfície. "Eu

não acho que estarei necessitando dos seus serviços hoje. Eu agradeceria muito, no

entanto, se vocês enviassem meus agradecimentos aos seus mestres".

"Vamos levar essa conversa para um local mais apropriado?" uma voz suave sussurrou

ameaçadoramente.

"Eu não acredito que isso vá ser necessário", a voz de Edward estava mais dura agora.

"Eu conheço as suas instruções, Felix. Eu não quebrei nenhuma das regras".

"Feliz estava meramente tentando apontar a proximidade do sol", a outra sombra disse

com um tom suavizante.

Eles dois estavam ocultos em mantos cinzentos que alcançavam o chão e balançavam

com o vento. "Deixe-nos procurar um esconderijo melhor".

"Eu estarei bem atrás de vocês", Edward disse secamente. "Bella, porque você não volta

para a praça e aproveita o festival?"

"Não, traga a garota", a primeira sombra disse, de alguma forma injetando um olhar

malicioso ao seu sussurro.

"Eu acho que não" A falsa civilidade havia desaparecido. A voz de Edward era plana e

fria. O peso dele se mudou um infinitésimo, e eu percebí que ele estava se preparando

pra lutar.

"Não", eu só murmurei a palavra.

"Felix", a segunda sombra, mais razoável precaviu. "Aqui não". Ele se virou pra

Edward. "Aro simplesmente gostaria de falar com você novamente, pra saber se você

decidiu se juntar á nossa força afinal".

"Certamente", Edward concordou. "Mas a garota fica livre".

"Eu temo que isso não seja possível", a educada sombra disse pesarosamente. "Nós

temos regras a obedecer".

"Então eu temo que serei incapaz de aceitar o convite de Aro, Demetri".

"Isso está bem", Felix ronronou. Meus olhos estavam se ajustando á figura profunda, e

eu conseguia ver que Felix era muito grande, alto e tinha os ombros largos. O tamanho

dele me lembrou de Emmett.

"Aro ficará decepcionado", Demetri suspirou.

"Eu tenho certeza de que ele sobreviverá ao desapontamento" Edward replicou.

Felix e Demetri se aproximaram em direção á ponta da ruela, se separando levemente

pra que se aproximassem de Edward eplos dois lados. Eles tinham a intenção de forçálo

a entrar mais na ruela, pra evitar uma cena. Nenhuma luz refletida entrou em contato

com a pele deles; eles estavam a salvo dentro de suas mantas.

Edward não se moveu um centímetro. Ele estava usando seu corpo pra me proteger.

Abruptamente, a cabeça de Edward se virou, na direção da escuridão da ruela ventosa, e

Demetri e Felix fizeram o mesmo, em resposta a um movimento muito súbito para os

meus sentidos.

"Vamos nos comportar, sim?", uma voz alegre sugeriu. "Têm damas presentes".

Alice caminhou lentamente para o lado de Edward, sua posição casual.

Não havia nenhum sinal de tensão escondida. Ela parecia tão pequena, tão frágil. Os

pequenos braços dela se movimentavam como os de uma criança.

Mesmo assim, tanto Demetri quanto Felix ficaram rígidos, suas mantas balançando

lentamente quando uma rajada de vento passou pela ruela. O rosto de Felix se azedou.

Aparentemente, eles não gostavam de números iguais.

"Nós não estamos sozinhos", ela lembrou eles.

Demetri olhou por cima do ombro. A alguns metros dentro da praça, a pequena família,

com as garotas com os vestidos vermelhos, estavam olhando pra nós. A mãe estava

falando urgentemente com o marido, os olhos dela em nós cinco. Ela desviou o olhar

quando Demetri olhou pra ela. O homem caminhou alguns centímetros pra dentro da

praça e cutucou o ombro de um dos homens com o blazer vermelho.

Demetri balançou a cabeça. "Por favor, Edward, sejamos razoáveis", ele disse.

"Vamos", Edward concordou. "E nós vamos embora silenciosamente agora, sem que

nenhum seja o mais esperto".

Demetri suspirou de frustração. "Pelo menos vamos discutir isso mais reservadamente".

Seis homens de vermelhos se juntaram á familia agora enquanto eles nos observavam

curiosamente. Eu estava muito consciente da postura protetora de Edward na minha

frente - certa de que era isso que estava causando o alarme deles. Eu queria gritar pra

que eles corressem.

Os dentes de Edward se chocaram audivelmente. "Não".

Felix sorriu.

"Basta".

A voz era alta, cheia de pretensão, e veio de trás de nós.

Eu olhei por baixo do outro braço de Edward, pra ver uma pequena figura andando na

nossa direção. Pelo jeito que as formas se balançavam, eu podia dizer que era outro

deles. Quem mais?

No começo, eu pensei que fosse um garotinho. O recém chegado era tão pequeno como

Alice, com um cabelo fino, de um morrom pálido cortado curto. O corpo embaixo da

manta - que era mais escura, quase preta - era magro e andrógeno. Mas o rosto era

bonito demais pro ser de um garoto. O rosto de olhos grandes, lábios cheios faria um

anjo de Botticelli parecer um gárgula. Mesmo por baixo das íris vermelhas.

O tamanho dela era tão insignificante se comparado á reação que ela causou que eu

fiquei confusa. Felix e Demetri relaxaram imediatamente, saindo de suas posturas

defensívas pra se misturas novamente ás sombras das paredes muito altas.

Edward também baixou os braços e relaxou da sua posição - mas em desistência.

"Jane", ele suspirou em reconhecimento e resignação.

Alice cruzou os braços na frente do peito, sua expressão impassiva.

"Sigam-me", Jane falou de novo, a voz infantil dela era monótona.

Ela deu as costas pra nós e se enfiou silenciosamente nas sombras.

Felix fez um gesto pra nós irmos na frente, sorrindo.

Alice seguiu a pequena Jane imediatamente. Edward passou os braços na minha cintura

e me puxou pra seguirmos ela.

A ruela fazia levemente um ângulo pra baixo enquanto se estreitava. Eu olhei pra ele

com perguntas frenéticas nos meus olhos, mas ele só balançou a cabeça. Apesar de eu

não conseguir ouvir os outros atrás de nós, eu tinha certeza de que eles estavam lá.

"Bem, Alice", Edwad disse conversionalmente enquanto caminhávamos.

"Eu creio que não devo ficar surpreso por te ver aqui".

"Foi meu erro", Alice respondeu no mesmo tom. "Era meu trabalho concertar as coisas".

"O que aconteceu?", a voz dele era educada, como se ele mal estivesse interessado. Eu

imaginei que isso se devia aos ouvidos escutando atrás de nós.

"É uma longa história". Os olhos de Alice olharam pra mim e depois se desviaram. "Em

resumo, ela pulou do precipício, mas ela não estava tentando se matar. Bella anda

praticando esportes radicais ultimamente".

Eu corei e virei minha cabeça diretamente pra frente, olhando para a sombra escura que

eu nem conseguia mais enxergar. Eu podia imaginar o que ele estava ouvindo nos

pensamentos de Alice agora. Quase afogamentos, perseguições de vampiros, amigos

lobisomens...

"Hm", Edward disse curtamente, e o tom casual da voz dele havia desaparecido.

Havia uma curva larga na ruela, ainda numa descida, então eu não havia visto o fim da

rua quadrado se aproximando até que nós nos aproximamos da paredes plana, sem

janelas. A pequena chamada Jane não estava em nenhum lugar que eu pudesse ver.

Alice não hesitou, nem parou de andar enquanto se aproximava da parede de tijolos.

Então com uma graciosidade fácil, ela escorregou por um buraco aberto na rua.

Ele parecia com um ralo, aberto no ponto mais baixo da calçada. Eu não tinha reparado

até Alice desaparecer, mas a grade estava meio levantada. O buraco era pequeno, e

escuro.

Eu empaquei.

"Está tudo bem, Bella", Edward disse numa voz baixa. "Alice vai te segurar".

Eu olhei para o buraco duvidosamente. Eu imaginei que ele teria ido primeiro, se

Demetri e Felix não estivessem esperando, sorrindo silenciosamente, atrás de nós.

Eu me abaixei, colocando as pernas pra dentro do buraco apertado.

"Alice?", eu sussurrei, com a voz tremendo.

"Eu estou bem aqui, Bella", ela me assegurou. Avoz dela veio de muito longe lá

embaixo pra me encontrar.

Edward agarrou meus pulsos - as mãos dele pareciam pedras no inverno - ele me baixou

na escuridão.

"Pronta?", ele perguntou.

"Solte ela", Alice disse.

Eu fechei meus olhos pra não ver a escuridão, apertando eles aterrorizada, segurando

minha boca pra não gritar. Edward me deixou cair.

Foi silencioso e curto. O ar passou por mim só por meio segundo, e então, com um

excesso de raiva quando eu exalei, os braços de Alice me agarraram.

Eu ia ficar com marcas; os braços dela eram muito duros. Ela me colocou de pé.

Estava escurecido, mas não escuro lá embaixo. Aluz que vinha do buraco providenciava

um brilho fraco, se refletindo no chão molhado nos meus pés. A luz desapareceu por um

segundo, e depois Edward era um leve brilho, um brilho branco ao meu lado. Ele

colocou os braços ao meu redor, me segurando bem perto do lado dele, e começou a me

guiar rapidamente para a frente. Eu entrelacei meus dois braços ao redor da cintura fria

dele, e me atrapalhava e tropeçava no meu caminho pela superfície de pedras que não

era uniforme.

O barulho estridente da grade do buraco se fechando atrás de nós soou com um som

metálico.

A luz fraca das ruas se perdeu rapidamente na escuridão. O som de passos pesados

ecoou no espaço preto; eles pareciam muito largos, mas eu não podia ter certeza. Não

houve outro som além das batidas frenéticas do meu coração e dos meus pés nas pedras

molhadas - com excessão de um, quando um suspiro impaciente soou ao meu lado.

Edward me abraçava apertado. Ela passou sua mão livre na frente do seu corpo pra

segurar meu rosto também, o seu suave polegar estava traçando o cortorno dos meus

lábios. De vez em quando eu sentia o rosto dele pressionado no meu cabelo. Eu me dei

conta de que essa seria a última reunião que teriamos, e me agarrei a ele com mais

força.

Por enquanto, eu me sentí como se ele me quisesse, e isso era o sufuciente pra aplacar o

horror do túnel subterrâneo e dos vampiros que perambulavam atrás de nós. Isso

provavelmente não passava de culpa - a mesma culpa que o compeliu a vir até aqui pra

morrer quando ele achou que era culpa dele que eu tivesse me matado.

Mas eu sentí os lábios dele se pressionando silenciosamente na minha testa, e eu não me

importei com qual era a motivação. Pelomenos eu podia estar com ele de novo antes de

morrer. Isso era melhor que uma vida longa.

Eu queria poder perguntá-lo exatamente o que ia acontecer agora. Eu queria

desesperadamente saber como nós íamos morrer - como se isso fizesse diferença, como

se saber fosse uma vantagem. Mas eu não podia falar, nem um cochicho, cercados do

jeito que estávamos.

Os outros podiam ouvir tudo - cada respiração de eu dava, as batidas do meu coração.

O caminho embaixo dos nossos pés continuou a ir pra baixo, nos levando pra mais

fundo no chão, e me deixando claustrofóbica. Só a mão de Edward, alisando meu rosto,

estava me impedindo de gritar bem alto.

Eu não sabia dizer de onde a luz estava vindo, mas de repente tudo ficou cinza escuro ao

invés de preto. Nós estávamos num túnel baixo, arqueado. Longos rastros de uma

umidade cor de ébano desciam pelas paredes cinza, como se elas estivessem sangrando

tinta.

Eu estava tremendo, e pensei que fosse de medo. Não foi até meus dentes começarem a

bater que eu percebí que estava com frio. Minhas roupas ainda estavam molhadas, e a

temperatura embaixo da cidade era invernal. Assim como a pele de Edward.

Ele percebeu isso ao mesmo tempo que eu, e se soltou de mim, segurando apenas minha

mão.

"N-n-não", eu tremí, jogando meus braços ao redor dele. Eu não me importava se eu

congelasse. Quem sabia quanto tempo ainda teríamos?

As mãos geladas dele esfregaram o meu braço, tentando me manter aquecida com a

fricção.

Nós nos apressamos pelo túnel, ou pareceu que nós estávamos apressados só pra mim.

Meu preogresso lento irritou alguém - eu acho que Felix - e eu ouvia ele suspirar

profundamente de vez em quando.

No fim do túnel havia uma grade - as barras de ferro eram enferrujadas, mas tão grossas

quanto os meus braços. Uma pequena porta feita de barras mais finas, entrelaçadas,

estava aberta.

Edward se abaixou pra passar e se apressou numa sala de pedra maior, mais iluminada.

As grades se fecharam com um

 

cling

, seguido pelo barulho da maçaneta sendo trancada.

Eu estava com medo demais pra olhar atrás de mim.

Do outro lado da sala havia uma porta pesada, de madeira. Ela era muito grossa - eu

podia deizer porque, ela também, estava aberta.

Nós passamos pela porta, e eu olhei ao redor pela minha surpresa, relaxando

automaticamente.

Ao meu lado, Edward ficou tenso, a mandíbula dele se apertou.

21. Veredito

Nós estávamos num corredor claro, pouco notável.

As paredes eram de um branco apagado, o chão era de carpete industrial cinza.

Lâmpadas fluorescentes retangulares estavam espaçadas uniformemente por todo o teto.

Estava mais quente aqui, e por isso eu fiquei grata.

Esse corredor parecia muito benigno depois da escuridão grotesca das paredes do

esgoto.

Edward não parecia concordar com a minha opinião.

Ele olhava obscuramente para o fim do longo corredor, na direção da figura pequena,

com ombros pretos lá no fim, esperando no elevador.

Ele me puxou com ele, e Alice andou no meu outro lado. Aporta pesada se fechou atrás

de nós, e então houve o barulho de um ferrolho deslizando.

Jane esperou no elevador, uma mão segurando a porta aberta pra nós. A expressão dela

estava apática.

Dentro do elevador, os três vampiros que pertenciam aos Volturi ficaram mais

relaxados. Eles jogaram suas mantas pra trás, deixando o capuz cair sobre seus ombros.

Tanto Felix quanto Demetri tinham uma pele de um leve tom oliva - parecia estranho

em combinação com a sua extrema palidez.

O cabelo preto de Felix era cortado curto, mas o de Demetri tocava os seus ombros. As

iris dos dois eram vermelhas nas beiras, e iam escurecendo até que ficavam

completamente pretas na pupila. Embaixo de suas capas suas roupas eram modernas,

pálidas, e indescritíveis.

Eu me acovardei num canto, me apertando contra Edward. A mão dele ainda esfregava

o meu braço. Ele nunca tirava os olhos de Jane.

O passeio no elevador foi curto; nós entramos numa área elegante que parecia uma

recepção. As paredes eram cobertas de madeira, o chão era atapatado com uma

cobertura grossa, verde. Não haviam janelas, mas sim grandes quadros, de uma luz

brilhante que retratavam a região Toscana e que estavam pendurados em toda parte

como se fossem uma substituição.

Sofás de couro pálido estavam arrumados em grupos aconchegantes, e as mesas

brilhantes sustentavam vasos de cristal cheios de bouquês com cores vibrantes. O cheiro

flores me lembraram do funeral em Forks.

No meio da sala havia um balcão alto, de mogno polido. Eu me engasguei de pasmo

com a mulher que ficava atrás dele.

Ela era alta, com uma pele escura e olhos verdes. Ela teria sido muito bonita em

qualquer outra companhia - mas não aqui. Porque ela era exatamente tão humana quanto

eu. Eu não conseguia compreender o que uma humana estava fazendo aqui, totalmente

tranquila, cercada de vampiros.

Ela sorriu educadamente nos recebendo. "Boa tarde, Jane", ela disse.

Não havia surpresa no rosto dela quando ela viu a companhia de Jane.

Nem Edward, com o seu peito nu brilhando fracamente na luzes brancas, e nem mesmo

eu, descabelada e comparativamente horrível.

Jane acenou com a cabeça. "Gianna". Ela continuou andando na direção de uma porta

duppla que ficava na parte de atrás da sala, e nós acompanhamos.

Enquanto Félix passava pela mesa, ele piscou pra Gianna, ela deu uma risadinha.

No outro lado das portas de madeira haviam uma outra espécie de recepção. O garoto

pálido com um terno cinza perolado podia ser o gêmeo de Jane. O cabelo dele era mais

escuro, e os lábios dele não eram tão cheios, mas ele era igualmente adorável. Ele veio

nos receber. Ele sorriu, se aproximando dela. "Jane".

"Alec", ela respondeu, abraçando o garoto. Eles beijaram um ao outro nas duas

bochechas. Depois ele olhou pra nós.

"Eles te mandam buscar um e você volta com dois... e meio", ele notou, olhando pra

mim. "Bom trabalho".

Ela sorriu - o som radiante de deleite como a gargalhada de um bebê.

"Bem vindo de volta, Edward", Alec o saudou. "Você parece de melhor humor".

"Marginalmente", Edward concordou com uma voz plana. Eu olhei para o rosto de

Edward, e me perguntei como seria possível ele estar com um humor pior antes.

Alec gargalhou, e me examinou quando eu me colei ao lado de Edward.

"E essa é a causa de todos os seus problemas?", ele perguntou, céticamente.

Edward só sorriu, sua expressão depreciativa. Depois ele congelou.

"Dibs", Felix chamou casualmente atrás de nós.

Edward se virou, um lento rosnado se constrindo no fundo do seu peito. Felix sorriu - a

mão dele estava erguida, com a palma pra cima; ele curvou o dedo duas vezes,

convidando Edward a ir em frente.

Alice tocou o braço de Edward. "Paciêcia", ela avisou pra ele.

Eles trocaram um longo olhar, e eu desejei poder ouvir o que ela estava dizendo pra ele.

Eu imaginei que fosse alguma coisa relacionada a não enfrentar Felix, porque Edward

repirou fundo e se virou de volta pra Alec.

"Aro ficará agradado em te ver novamente", Alec disse, como se nada tivesse

acontecido.

"Não vamos deixá-lo esperando", Jane sugeriu.

Edward acenou com a cabeça uma vez.

Alec e Jane, de mãos dadas, guiaram o caminho para outro grande corredor

ornamentado - será que isso ia acabar?

Eles ignoraram as portas no final do corredor - portas inteiramente cobertas de ouro -

parando no meio do corredor e deslizando um painél para expor uma porta normal de

madeira. Não estava trancada. Alec a segurou aberta pra Jane.

Eu queria gemer quando Edward me puxou para o outro lado da porta. Era o mesmo

quadrado ansião de pedras, como a ruela, e como os esgotos. Ficou escuro e frio de

novo.

A antecâmare de pedra não era muito grande. Ela se abriu rapidamente pra uma sala

mais clara, cavernosa, perfeitamente redonda como uma enorme torre de castelo... que

provavelmente era exatamente o que ela era.

Dois andares acima, longas janelas jogavam finos retângulos de luz do sol no chão de

pedra abaixo. Não haviam luzes artificiais. Os unicos móveis na sala eram enormes

cadeiras de madeira, como tronos, que ficavam em espaços desiguais, esguichadas pelas

paredes arredondadas. Bem no meio do círculo, em um pequeno declive, havia outro

buraco. Eu me perguntei se eles usavam aquilo como saída, como o outro buraco na rua.

A sala não estava vazia. Várias pessoas estavam reunidas numa conversa que parecia

relaxada. O murmúrio de vozes baixas, suaves, eram um gentil zumbido no ar.

Enquanto eu observava, um par de mulheres pálidas com vestidos de verão param num

ponto de luz, e, como se fossem prismas, a pele delas mandaram reflexões de arco-íris

nas paredes.

Todos os rostos notáveis se viraram na nossa direção quando o nosso grupo entrou na

sala. A maioria dos imortáis estavam vestidos com calças e camisas acima de qualquer

suspeita - coisas que não se destacariam nas ruas lá em baixo.

Mas o homem que falou primeiro usava um longo robe. Ele era de um preto cor de

piche, e se arrastava no chão. Por um momento, eu pensei que o seu cabelo longo, muito

preto, fosse o capuz da sua manta.

"Jane, minha querida, você retornou!", ele falou, evidantemente deliciado. A voz dele

era só um suspiro suave.

Ela caminhou em frente, e o movimento fluia com uma graça tão surreal que eu fiquei

admirando, com a boca aberta. Mesmo Alice, que sempre se movimentava como se

estivesse dançando, não podia se comparar.

Eu fiquei ainda mais aturdida quando ele andou em frente e eu conseguí ver o rosto

dele. Não era como os rostos sobrenaturalmente bonitos que o cercavam (já que ele não

se aproximou de nós sozinho; o grupo inteiro se convergeu ao redor dele, alguns

seguindo, outros andando na frente dele de maneira alerta como se fossem guarda

costas) . Eu não conseguia decidir se o rosto dele era bonito ou não. Eu acho que as

feições dele eram perfeitas. Mas ele era tão diferente dos vampiros ao seu redor quanto

eles eram diferentes de mim. A pele dele era translucidamente branca, como pele de

cebola, e parecia igualmente delicada - era um contraste chocante com o cabelo que

cercava seu rosto. Eu me sentí estranha, com uma horrível urgência de tocar a bochecha

dele, pra ver se era mais macia que a de Edward ou Alice, ou se era porosa, como giz.

Os olhos dele eram vermelhos, assim como os das pessoas oa seu redor, mas a cor era

nebulosa, leitosa; eu me perguntei se a visão dele era afetada pela nebusosidade.

Ele deslizou pra Jane, pegou o rosto dela em suas mãos de papiro, e a beijou levemente

diretamente nos lábios, e depois deu um passou pra trás.

"Sim, Mestre", Jane sorriu; a expressão fez ela parecer uma criança angelical. "Eu o

trouxe de volta vivo, assim como você desejou".

"Ah, Jane", ele sorriu também. "Você é um conforto tão grande pra mim".

Ele virou seus olhos nebulosos na nossa direção, e o sorriso dele brilhou - se tornou

estático.

"E Alice e Bella, também!", ele se alegrou, batendo suas mãos magras uma na outra.

"Essa é uma feliz surpresa! Maravilhosa!"

Eu fiquei incarando chocada quando ele chamou nossos nomes informalmente, como se

nós fôssemos velhos amigos passando pra uma visita inesperada.

Ele se virou para o nosso acompanhante grosseiro. "Felix, seja bonzinho e diga aos

meus irmãos que nós temos companhia. Eu tenho certeza de que eles não vão querer

perder isso"

"Sim, Mestre", Felix balançou a cabeça e desapareceu pelo caminho por onde havíamos

vindo.

"Você vê, Edward?", o estranho vampiro se virou e sorriu para Edward como se fosse

um avô afetuoso dando uma bronca. "O que eu te disse? Você não está feliz que eu não

te dei o que você queria ontem?"

"Sim, Aro, eu estou", ele concordou, apertando seu braço na minha cintura.

"Eu adoro um final feliz". Aro suspirou. "Eles são tão raros. Mas eu quero a história

toda. Como isso aconteceu? Alice?", ele virou o olhar para Alice com olhos curiosos,

mistificados. "Seu irmão parecia pensar que você era infalível, mas aparentemente

houve algum erro".

"Oh, eu estou longe de ser infalível", ela deu um sorriso deslumbrante. Ela pareceu

perfeitamente tranquila, exceto por suas mãos estarem curvadas em bolas em seus

pequenos punhos. "Como você pôde ver hoje, eu causo problemas com a mesma

frequência que os concerto".

"Você é muito modesta", Aro chiou. "Eu ví algumas de suas incríveis façanhas, e eu

devo admitir que nunca observei nada como o seu talento. Maravilhoso!"

Alice deu uma olhada pra Edward. Aro não perdeu isso.

"Me desculpe, nós não fomos apropriadamente apresentados, fomos? É só que eu sinto

que já te conheço, e eu tenho a tendência de me apressar. O seu irmão nos apresentou

ontem, de uma forma peculiar. Veja, eu e o seu irmão dividimos um talento, só que eu

sou limitado de uma forma que ele não é", Aro balançou a cabeça; o tom dele estava

invejoso.

"E também exponensialmente mais poderoso" Edward adicionou secamente. Ele olhou

pra Alice enquanto ele rapidamente se explicava. "Aro precisa de contato físico pra

ouvir os pensamentos, mas ele consegue ouvir muito mais do que eu. Você sabe que eu

só posso ouvir o que se passa na sua cabeça no momento. Aro ouve cada pensamento

que a sua mente já teve".

Alice levantou as delicadas sobrancelhas, e Edward inclinou a cabeça pra ela.

Aro não perdeu isso também.

"Mas ser capaz de ouvir á distância..." Aro suspirou, fazendo um gesto na direção dos

dois, e a troca que havia acabado se passar. "Isso seria tão conveniente".

Aro olhou por cima dos ombros. Todas as outras cabeças se viraram na mesma direção,

incluindo Jane, Alec e Demetri, que estavam silenciosamente ao nosso lado.

Eu fui a mais lenta pra me virar. Felix estava de volta, e atrás dele flutuaram outros dois

homens com robes pretos. Os dois homens pareciam muito com Aro, um deles até tinha

o mesmo cabelo preto. O outro tinha um cabelo cor de neve - o mesmo tom de cor da

pele dele - que encostava nos ombros dele. Os rostos deles três tinha a mesma pele, fina

como papel.

O trio da pintura de Carlisle estava completo, exatamente o mesmo de trezentos anos

atrás quando o quadro foi pintado.

"Marcus, Caius, olhem!", Aro sussurrou. "Bella está viva afinal, e Alice está aqui com

ela! Isso não é maravilhoso?"

Nenhum dos dois parecia escolher maravilhoso como a primeira palavra que vinha na

mente deles. O homem de cabelos escuros parecia extremamente entediado, como se ele

já estivesse de saco cheio do entusiasmo de Aro. O olhar do outro estava ácido por

baixo do cabelo cor de neve.

A falta de interesse não mudou o divertimento de Aro.

"Vamos ouvir a história", Aro quase cantou na sua voz plumosa.

O vampiro ansião com o cabelo branco se afastou, deslizando na direção de um dos

tronos de madeira. O outro parou ao lado de Aro, a alcançou sua mão, a no começo eu

pensei que ele fosse segurar a mão de Aro. Mas ele só tocou a palma de Aro brevemente

e depois colocou a sua mão de lado. Aro ergueu uma sobrancelha preta.

Eu me perguntei como a sua pele de papel não se rompeu com o esforço.

Edward rosnou muito baixinho, e Alice olhou pra ele, curiosa.

"Obrigado, Marcus", Aro disse. "Isso é muito interessante".

Eu me dei conta, um segundo atrasada, de que Marcus estava deixando Aro ver seus

pensamentos.

Marcus não parecia interessado. Ele deslizou pra longe de Aro para se juntar a aquele

que só podia ser Caius, sentado contra a parede.

Dois vampiros atendentes seguiram silenciosamente atrás dele - guarda costas, como eu

havia pensado antes.

Eu podia ver que as duas mulheres com vestido de verão foram ficar ao lado de Caius

da mesma maneira. A idéia de vampiros precisando de guarda costas era extremamente

ridícula pra mim, mas talvez os vampiros ansiões fossem tão frágeis quanto a pele deles

sugeria.

Aro estava balançando a cabeça. "Incrivel", ele disse. "Absolutamente incrivel".

A expressão de Alice estava frustrada. Edward se virou pra ela e explicou de novo numa

voz rápida e baixa. "Marcus vê relacionamentos. Ele está surpreso pela intensidade do

nosso".

Aro sorriu. "Tão conveniente", ele repetiu pra sí mesmo. E então ele falou pra nós. "É

um pouco difícil surpreender Marcus, eu lhes asseguro".

Eu olhei para o rosto morto de Marcus, e acreditei nisso.

"É tão difícil de entender, mesmo agora", Aro meditou, olhando para o braço de Edward

agarrado em mim. Pra mim era difícil acompanhar a caótica linha de pensamento de

Aro. Eu lutava pra acompanhar. "Como é que você consegue ficar assim tão perto

dela?"

"Não é sem esforço", Edward respondeu calmamente.

"Mas mesmo assim - la tua cantante! Que desperdício!"

Edward gargalhou uma vez sem humor. "Eu considero isso mais como um preço".

Aro estava cético. "Um preço muito alto".

"O preço da oportunidade".

Aro sorriu. "Se eu não tivesse cheirado ela através das suas memórias, eu nunca teria

acreditado que o chamado do sangue de alguém pudesse ser tão forte. Eu mesmo nunca

sentí nada assim. A maioria de nós trocaria qualquer coisa por tal dom, e ainda assim

você..."

"Desperdiça", Edward finalizou, a voz dele estava sarcástica agora.

Aro sorriu de novo. "Ah, como eu sinto falta de meu amigo Carlisle! Você me lembra

dele - só que ele não era tão raivoso".

"Carlisle me excede em muitos outros sentidos também".

"Eu certamente nunca esperei ver Carlisle perdendo o auto-controle entre todas as

coisas, mas você consegue superá-lo".

"Dificilmente". Edward parecia impaciente. Como se ele estivesse cansado das

preliminares. Isso me deixou com mais medo; eu não conseguia deixar de imaginar o

que ele achava que viria a seguir.

"Eu estou gratificado com o sucesso dele", Aro meditou. "As suas memórias dele são

um verdadeiro presente pra mim, apesar de elas terem me deixado extenuosamente

aturdido. Eu estou surpreso de como isso... me agrada, o seu sucesso com os métodos

incomuns que ele escolheu. Eu esperava que ele fosse desistir, enfraquecer com o

tempo. Eu ridicularizei seus planos de encontrar outros que dividissem a sua visão

particular. Mesmo assim, de alguma forma, eu estou feliz por estar errado".

Edward não respondeu.

"Mas a sua resistência!", Aro suspirou. "Eu não sabia que tal força era possível. Ignorar

a sí mesmo á um chamado tão urgente, não apenas uma vez mas de novo e de novo - se

eu mesmo não tivesse sentido isso, eu nunca teria acreditado".

Edward olhou de volta para a admiração de Aro sem nenhuma expressão. Eu conhecia o

rosto dele bem o suficiente - o tempo não havia mudado isso - pra adivinhar que tinha

alguma coisa se passando por sua superfície.

Eu lutei pra manter minha respiração uniforme.

"Só de me lembrar o quanto ela é apelativa pra você...", Aro gargalhou. "Eu já fico com

sede".

Edward ficou tenso.

"Não fique perturbado", Aro o assegurou. "Eu não represento perigo pra ela. Mas eu

estou tão curioso, sobre uma coisa em particular". Ele me olhou brilhando de interesse.

"Posso?", ele perguntou ansiosamente, levantando uma mão.

"Pergunte a ela", Edward sugeriu numa voz plana.

"É claro, que rude da minha parte!", Aro exclamou. "Bella", ele se dirigia diretamente a

mim agora. "Eu estou fascinado que você é a única exceção para o impressionante

talento de Edward - é muito interessante que uma coisa assim ocorra! E eu estava

imaginando, já que os nossos talentos são similares de tantas formas, se você seria

gentil de me deixar tentar - pra ver te você é uma exceção pra mim, também?"

Meus olhos olharam pra Edward aterrorizados. Apesar da evidente educação de Aro, eu

não acreditava que realmente tivesse uma escolha. Eu estava horrorizada com o

pensamento de deixar ele me tocar, e ainda assim perceveramente intrigada pela chance

de sentir a sua estranha pele.

Edward acenou com a cabeça me encorajando - fosse porque ele tinha certeza de que

Aro não me machucaria, ou porque não havia outra escolha, eu não sabia dizer.

Eu me virei de volta pra Aro e ergui a minha mão lentamente na minha frente. Ele

estava tremendo.

Ele deslizou pra mais perto, e eu acredito que ele pretendia fazer a expressão dele ser

tranquilizadora. Mas as feições de papel dele eram estranhas demais, muito alienígenas

e assustadoras, pra tranquilizarem. O olhar no rosto dele era mais confiante do que as

suas palavras haviam sido.

Aro se aproximou, como se fosse pra apertar minha mão, e pressionou a sua pele de

aparência insubstancial na minha.

Ela era dura, mas parecia ser frágil - parecia mais xisto do que granito - e era muito

mais fria do que eu esperava.

Seus olhos fumacentos sorriam para os meus, e era impossível desviar o olhar.

Eles eram hipnóticos de uma maneira estranha, desagradável.

O rosto de Aro se modificou enquanto eu observava. A confiança desapareceu, e

primeiro se transformou em dúvida, depois em incredulidade antes que se acalmasse

numa máscara amigável.

"Muito interessante", ele disse enquanto soltava a minha mão e voltava pra trás.

Meus olhos passaram pra Edward, e, apesar do rosto dele estar composto, eu achei que

ele parecia um pouco presumido.

Aro continuou a se afastar com uma expressão pensativa. Ele ficou quieto por um

momento, seus olhos passando rapidamente por nós três. Então, abruptamente, ele

balançou a cabeça.

"A primeira", ele disse pra sí mesmo. "Eu me pergunto se ela é imune aos nossos outros

talentos... Jane, querida?"

"Não!", Edward rosnou com a palavra. Alice agarrou o braço dele com uma mão de

restrinção. Ele a sacudiu.

A pequena Jane sorriu alegremente para Aro. "Sim, Mestre?"

Edward estava realmente rosnando agora, o som rasgando e escapando de dentro dele,

ele estava olhando pra Aro com olhos violentos.

A sala inteira havia ficado imóvel, todo mundo olhando pasmo de descrença, como se

ele estivesse cometendo algum tipo de falha social grave. Eu ví Felix sorrir

rsperançosamente e dar um passo á frente. Aro olhou pra ele uma vez, e ele congelou no

lugar, o seu sorriso se transformando numa expressão mal humorada.

Depois ele falou com Jane. "Eu estava imaginando, minha querida, se Bella é imune a

você".

Eu mal podia ouvir Aro por cima dos rosnados furiosos de Edward. Ele me soltou, se

movendo pra ficar na minha frente.

Caius se moveu na minha direção, com suas acompanhantes, para observar.

Jane se virou na nossa direção com um sorriso angelical.

"Não!", Alice gritou quando Edward se lançou em cima da menininha.

Antes que eu pudesse reagir, antes que alguém pudesse se colocar entre eles, antes que

os guarda costas de Aro pudessem ficar tensos, Edward estava no chão.

Ninguém havia tocado nele, mas ele estava no chão se contorcendo com evidente

agonia, enquanto eu observava horrorizada.

Jane estava sorrindo pra ele agora, e tudo fez sentido.

O que Alice disse sobre dons formidáveis, o porque que todo mundo tratava Jane com

tanto respeito, e porque Edward havia se jogado no caminho dela antes que ela pudesse

chegar até mim.

"Pare!", eu implorei, minha voz ecoando no silêncio, eu pulei para a frente pra me

colocar no caminho deles. Alice colocou os braços ao meu redor num aperto

inquebrável e ignorou minha luta. Nenhum som escapou dos lábios de Edward enquanto

ele se contorcia no chão de pedras. Eu pensei que a minha cabeça ia explodir de dor por

ficar observando isso.

"Jane", Aro chamou ela numa voz tranquila. Ela olhou pra cima, ainda sorrindo de

prazer, os olhos dela questionando. Assim que Jane desviou o olhar, Edward ficou

imóvel.

Aro inclinou sua cabeça na minha direção.

Jane virou o seu sorriso na minha direção.

Eu nem olhei de volta pra ela. Eu observei Edward da prisão dos braços de Alice, ainda

lutando sem sucesso.

"Ele está bem", Alice cochichou com uma voz dura. Enquanto ela falava, ele se sentou,

e então saltou levemente para os pés. Os olhos dele encontraram os meus, e eles

estavam golpeados de horror. Primeiro eu pensei que o horror era pelo que ele tinha

acabado de sofrer. Mas ele olhou rapidamente pra Jane, e de volta pra mim - e o rosto

dele relaxou de alívio.

Eu olhei pra Jane também, e ela não estava mais sorrindo. Ela estava me encarando, a

sua mandíbula apertada com a intensidade da sua concentração. Eu me encolhí,

esperando pela dor.

Nada aconteceu.

Edward estava ao meu lado de novo. Ele tocou o braço de Alice, e ela me rendeu pra

ele.

Aro começou a rir. "Ha, ha, ha", ele gargalhou. "Isso é maravilhoso!".

Jane bufou de frustração, se inclinando pra frente como se ela estivesse pronta pra

atacar.

"Não fique chateada, querida", Aro disse num tom reconfortante, colocando uma mão

branca como talco no ombro dela. "Ela confunde todos nós".

O lábio superior de Jane se curvou por cima de todos os seus dentes enquanto ela

continuava a me encarar.

"Ha, ha, ha", Aro gargalhou de novo. "Você é muito corajoso, Edward, por ter

suportado em silêncio. Eu pedí pra Jane fazer isso comigo uma vez - só por

curiosidade". Ele balançou a cabeça com admiração.

Edward encarou, enojado.

"Então o que fazemos com vocês?", Aro suspirou.

Edward e Alice enrigeceram. Essa era a parte pela qual eles estavam esperando. Eu

comecei a tremer.

"Eu não acho que exista alguma chance de você ter mudado de idéia?", Aro perguntou a

Edward esperançosamente. "O seu talento seria uma grande adição para a nossa

pequena companhia".

Edward hesitou. Do canto do meu olho, eu ví Felix e Jane fazendo careta.

Edward pareceu pesar cada palavra antes de falar. "Eu... prefiro... não".

"Alice?", Aro perguntou, ainda esperançoso. "Será que você poderia estar interessada

em se juntar a nós?"

"Não, obrigada", Alice disse.

"E você, bella?", Aro ergueu as sobrancelhas.

Edward assobiou, baixinho no meu ouvido. Eu olhei pra Aro como uma página em

branco. Ele estava fazendo piada? Ou será que ele realmente estava me perguntando se

eu queria ficar para o jantar?

Foi o Caiuo de cabelo branco quem quebrou o silêncio.

"O que?", ele quis saber de Aro; a voz dele, apesar de não ser mais que um sussurro, era

plana.

"Caius, você certamente vê o potencial", Aro o repreendeu afetivamente. "Eu não vejo

um talento tão promissor desde que encontramos Jane e Alec. Você pode imaginar as

possibilidades se ela se transformar em uma de nós?"

Caius desviou o olhar com uma expressão cáustica. Os olhos de Jane brilharam de

indignação pela comparação.

Edward fumaçou ao meu lado. Eu podia ouvir o estrondo no peito dele, se

transformando em um rosnado. Eu não podia deixar que o seu temperamento acabasse o

machucando.

"Não, obrigada", eu falei numa voz que não passava de um sussurro, minha voz

quebrando de medo.

Aro suspirou. "Isso é uma pena. Tanto desperdício".

Edward assobiou. "Se juntar ou morrer, não é isso? Eu já suspeitava quando nós fomos

trazidos a essa sala. Tanto por suas leis".

O tom de voz dele me surpreendeu. Ele parecia irado, mas havia alguma coisa

deliberada na sua fala - como se ele houvesse escolhido as palavras com grande

cuidado.

"É claro que não", Aro piscou, abismado. "Nós já estávamos reunidos aqui, Edward,

esperando pelo retorno de Heidi. Não por você".

"Aro", Caius assobiou. "A lei clama por eles".

Edward olhou pra Caius. "Como é isso?", ele quis saber. Ele já devia saber o que Caius

estava pensando, mas ele parecia determinado a fazê-lo falar em voz alta.

Caius apontou um dedo esquelético pra mim. "Ela sabe demais. Você expôs os nossos

segredos". A voz dele era fina como papel, assim como a pele dele.

"Tem alguns humanos nessa sua piadinha aqui, também", Edward lembrou ele, eu

pensei na recepcionista bonita lá embaixo.

O rosto de Caius se transformou em outra expressão. Era pra ele estar sorrindo.

"Sim", ele concordou. "Mas quando eles já não forem mais úteis para nós, eles vão

servir pra nos sustentar. Esse não é o seu plano pra essa aí. Se ela trair o nosso segredo,

você estaria preparado pra destruí-la? Eu acho que não", ele fez escárnio.

"Eu não iria -", eu comecei, ainda cochichando. Caius me silenciou com um olhar

gelado.

"Você também não tem a intenção de torná-la uma de nós", Caius continuou. "Portanto,

ela é uma vulnerabilidade. Apesar disso ser verdade, por isso, só a vida dela deve ser

penalizada. Vocês podem ir embora se quiserem".

Edward mostrou os dentes.

"Foi isso que eu pensei", Caius disse, agradado com alguma coisa. Felix se inclinou

para a frente, ansioso.

"A não ser..." Aro interrompeu. Ele não parecia contente com o rumo que a conversa

havia tomado. "A não ser que você tenha a intenção de dá-la a imortalidade".

Edward torceu os lábios, hesitando por um momento antes de responder. "E se eu

tiver?"

Aro sorriu, feliz de novo. "Ora, então você pode ir pra casa e dar as minhas lembranças

ao meu amigo Carlisle". A expressão dele se tornou mais hesitante. "Mas eu temo que

você tenha que ser sincero".

Aro ergueu a mão na frente dele.

Caius, que havia começado e fazer caretas furiosas, relaxou.

Os lábios de Edward se pressionaram até se tornarem uma linha estreita. Ele me olhou

nos olhos, e eu olhei de volta.

"Seja sincero", eu sussurrei. "Por favor".

Ele realmente achava essa uma idéia tão abominável? Será que ele preferiria morrer a

me mudar? Eu me sentia como se tivesse sido chutada no estômago.

Edward olhou para a minha expressão torturada.

E então Alice se separou de nós, e foi na direção de Aro. Nós nos viramos pra olhá-la.

A mão dela estava erguida como a dele.

Ela não disse nada, e Aro mandou seus ansiosos guardas embora com um gesto quando

eles se aproximaram pra bloquear a aproximação dela. Aro se encontrou com ela no

meio do caminho, e pegou a mão dela com um brilho ansioso, aquisitivo, nos olhos.

Ele inclinou sua cabeça na direção de suas mãos juntas, seus olhos se fechando

enquanto ele se concentrava. Alice estava imóvel, o rosto dela vazio. Eu ouví os dentes

de Edward se fechando.

Ninguém se mexeu. Aro parecia estar congelado em cima da mão de Alice. Os segundos

se passaram e eu fiquei mais e mais estressada, me perguntando quanto tempo se

passaria antes que houvesse se passado tempo demais. Antes que isso significasse que

havia alguma coisa errada - mais do que já havia.

Outro momento de agonia se passou, e então a voz de Aro quebrou o silêncio.

"Ha, ha, ha", ele riu, a cabeça dele ainda inclinada para a frente. Ele olhou pra cima

lentamente, seus olhos estavam brilhando de excitação. "Isso foi fascinante!"

Alice sorriu secamente. "Eu fico feliz que você tenha gostado".

"Ver as coisas que você viu - especialmente aquelas que ainda não aconteceram!", ele

balaçou a cabeça maravilhado.

"Mas que irão", ela o lembrou, com a voz calma.

"Sim, sim, isso já está bem determinado. Certamente não há nenhum problema".

Caius pareceu um pouco desapontado - um sentimento que ele parecia compartilhar com

Felix e Jane.

"Aro", Caius reclamou.

"Querido Caius", Aro sorriu. "Não tema. Pense nas possibilidades! Eles não se juntam a

nós hoje, mas nós podemos sempre esperar pelo futuro. Imagine a alegria que a pequena

Alice traria para a nossa casa... Além do mais, eu estou tão terrívelmente curioso pra ver

como Bella se sai!"

Aro pareceu convencido. Ele não se dava conta de como as visões de Alice podiam ser

subjetivas. Será que ele não via que ela podia estar convencida a me transformar hoje, e

mudar de idéia amanhã? Um milhão de pequenas decisões, dela e de tantos outros

também - as de Edward - podiam alterar o caminho dela, e com isso, alterar o futuro.

E será que realmente fazia diferença o que Alice queria, será que faria tanta diferença se

eu me tornasse uma vampira, já que a idéia era tão repulsiva para Edward? Se a morte

era, pra ele, uma alternativa melhor do que me ter por perto pra sempre, uma chatice

imortal?

Aterrorizada como eu estava, eu sentí vontade de me afundar na depressão, de me

afogar nela..

"Então estamos livres pra ir agora?" Edward perguntou com uma voz unifome.

"Sim, sim", Aro disse, absolutamente agradado. "Mas por favor, visitem de novo. Isso

foi absolutamente fascinante".

"E nós também visitaremos vocês", Caius prometeu, os olhos dele ficaram meio

fechados de repente como se fossem pálpebras pesadas de um lagarto. "Pra ter certeza

de que você fará o que promete. Se eu fosse você, eu não demoraria muito. Nós não

damos segunda chance".

A mandíbula de Edward se apertou forte, mas ele acenou com a cabeça uma vez.

Caius sorriu e deslizou para onde Marcus continuava sentado, sem se mexer e

desinteressado.

Felix gemeu.

"Ah, Felix", Aro sorriu, divertido. "Heidi estará aqui a qualquer momento. Paciência".

"Hmm". A voz de Edward tinha um som diferente. "Nesse caso, é melhor irmos logo do

que deixar pra depois".

"Sim", Aro concordou. "Essa é uma boa idéia. Acidentes podem acontecer. Por favor

esperem aqui até anoitecer, se vocês não se importarem".

"É claro", Edward concordou, enquanto eu me contorcia com a idéia de esperar até o dia

terminar pra poder escapar.

"E aqui", Aro adicionou, fazendo um gesto pra Felix com um dedo. Felix se aproximou

imediatamente, e Aro tirou a manta cinza que o enorme vampiro usava, tirando-a de

seus ombros. Ele passou ela pra Edward. "Pegue isso. Você parece um pouco suspeito".

Edward colocou a longa manta, deixando o capuz abaixado.

Aro suspirou. "Combina com você".

Edward gargalhou, mas parou de repente, olhando por cima do ombro. "Obrigado, Aro.

Nós esperaremos lá embaixo".

"Adeus, jovens amigos", Aro disse, com os olhos brilhantes enquanto olhava na mesma

direção.

"Vamos", Edward disse, urgente agora.

Demetri fez um gesto para que o seguíssemos, e depois nós guiou pelo caminho de onde

viemos, a única saída pelo que parecia.

Edward me puxou rapidamente ao lado dele. Alice estava perto pelo meu outro lado, o

rosto dela estava duro.

"Não fomos rápidos o suficiente", ela murmurou.

Eu olhei pra ela, assustada, mas ela só pareceu pesarosa. Foi aí que eu ouví vozes

tagarelando - vozes altas, ásperas - vindas da antecâmara.

"Isso não é normal", a voz grossa de um homem estrondou.

"É tão medieval", um esguicho desagradável, uma voz feminina se fez ouvir no fundo.

Uma grande multidão estava passando pela porta, enchendo a câmara menor. Demetri

fez um gesto para que dessemos espaço. Nós nos pressionamos na parede fria pra deixálos

passar.

Um casal na frente, Americanos pelo jeito deles, olharam ao redor com olhos

avaliadores.

"Bem vindos, visitantes! Bem vindos á Volterra!", eu podia ouvia a voz de Aro cantar

de dentro da grande sala redonda.

O resto deles, talvez quarenta ou mais, entraram depois do casal. Alguns estudavam

panfletos como turistas. Alguns deles até tiravam fotos. Outros pareciam confusos,

como se a história que os guiou até alí já não fizesse sentido.

Eu notei em uma mulher pequena, escura, em particular. Ela tinha um rosário ao redor

do pescoço, e ela segurava a cruz com força em uma das mãos. Ela caminhava mais

devagar do que os outros, tocando alguém de vez em quando pra fazer perguntas em

uma língua desconhecida. Ninguém parecia entendê-la, e a voz dela começou a parecer

mais cheia de pânico.

Edward puxou meu rosto para o peito dele, mas já era tarde demais. Eu já tinha

entendido.

Assim que a menor brecha apareceu, Edward me puxou rapidamente para a porta. Eu

podia sentir a expressão horrorizada no meu rosto, e as lágrimas começando a se

aglomerar nos meus olhos.

O corredor ornamentado com ouro estava quieto, vazio exceto por uma linda mulher,

parecida com uma estátua. Ela olhou curiosamente pra mim, em particular.

"Bem vinda ao lar, Heidi" Demetri a saudou atrás de nós.

Heidi sorriu ausentemente. Ela me lembrava de Rosalie, apesar delas duas não se

parecerem em nada - era só que a beleza dela, também, era excepcional, inesquecível.

Eu não parecia ser capaz de desviar a vista.

Ela estava vestida para enfatizar a sua beleza. Suas penas incrivelmente longas,

escurecidas com meias, estavam expostas pela mais curta das mini-saias. O top dela

tinha mangas longas e colarinho alto, mas era extremamente justo, e feito de vinil

vermelho. Seu longo cabelo cor de mogno era lustroso, e os olhos dela eram de um

estranho tom violeta - a cor devia ser resultado de lentes de contato azuis com os olhos

vermelhos.

"Demetri", ela respondeu com uma voz sedosa, seus olhos passando rapidamente entre o

meu rosto e a manta cinza de Edward.

"Boa pesca", Demetri a cumprimentou, e eu finalmente compreendi a roupa chamativa

que ela usava... ela não era só a pescadora, mas era também a isca.

"Obrigada", ela mostrou um sorriso formidável. "Você não vem?"

"Em um minuto. Guarde alguns pra mim".

Heidi balançou a cabeça e passou pela porta com uma última olhada curiosa pra mim.

Edward começou a andar num ritmo que me fez correr pra acompanhar.

Nós ainda não haviamos conseguido alcançar a porta ornamentada no fim do corredor

quando a gritaria começou.

22. Vôo

Demetri nos deixou na alegre recepção opulenta, onde a mulhaer chamada Gianna ainda

estava no seu posto atrás do balcão polido. Uma música brilhante, inofensiva saía dos

auto falantes.

"Não deixem até que esteja escuro", ele nos advertiu.

Edward balançou a cabeça, e Demetri se apressou pra ir embora.

Gianna não pareceu nem um pouco surpresa com a mudança, apesar dela ter olhado

para a manta emprestada de Edward com astuta especulação.

"Você está bem?", Edward perguntou por baixo do fôlego, baixo demais para a mulher

humana ouvir. A voz dele estava dura - se veludo puder ser duro - com ansiedade.

Ainda estressado pela nossa situação, eu imaginei.

"É melhor você sentar ela antes que ela caia", Alice disse. "Ela está caíndo aos

pedaços".

Foi só aí que eu me dei conta de que estava tremendo, tremendo muito, meu corpo

inteiro estava vibrando até que os meus dentes começaram a bater e a sala começou a

balançar e parecer um borrão na frente dos meus olhos. Por um louco segundo, eu me

perguntei se era assim que Jacob se sentia quando estava prestes a explodir em um

vampiro.

Eu ouví um som que não fazia sentido, um estranho contraponto, rasgante, diferente da

música que outrora estava tão alegre. Distraida pelos tremores, eu não sabia dizaer de

onde ele estava vindo.

"Shh, Bella, shh", Edward disse enquanto me colocava no sofá mais distante da curiosa

humana no balcão.

"Eu acho que ela está ficando histérica. Talvez você devesse dar um tapa nela", Alice

sugeriu.

Edward deu uma olhada frenética pra ela.

Foi aí que eu entendí. Oh. O barulho era eu. O som rasgante estava vindo do meu peito.

Era isso que estava me fazendo tremer.

"Está tudo bem, você está a salvo, está tudo bem", ele cantava de novo e de novo.

Ele me colocou no colo e passou a manta grossa por cima de mim, me protegendo da

sua pele fria.

Eu sabia que era estupidez reagir assim. Quem sabia quanto tempo eu ainda teria nessa

situação? Ele estava a salvo, e eu estava a salvo, e ele podia me deixar assim que nós

estivessemos livre.

Ter os meus olhos tão cheios de lágrimas que eu não podia nem enxergar o rosto dele

era um desperdício - uma insanidade.

Mas, atrás dos meus olhos, minhas lágrimas não conseguiam lavar a imagem, eu ainda

podia ver o rosto cheio de pânico da pequena mulher com o rosário.

"Todas aquelas pessoas", eu solucei.

"Eu sei", ele cochichou.

"É tão horrível".

"Sim, é sim. Eu queria que você não tivesse que ter visto aquilo".

Eu descansei minha cabeça no seu peito gelado, usando a manta grossa pra limpar meus

olhos. Eu respirei fundo algumas vezes, pra me acalmar.

"Há alguma coisa que eu possa pegar pra vocês?", uma voz perguntou educadamente.

Era Gianna se inclinando por cima do ombro de Edward que era de preocupação e ainda

profissional e destacado ao mesmo tempo. Ela não parecia estar incomodada com o fato

de que estava a poucos centímetros de um vampiro hostíl. Ou ela era completamente

inconsciente, ou muito boa em seu trabalho.

"Não", Edward respondeu friamente.

Ela balançou a cabeça, sorriu pra mim, e depois desapareceu.

Eu esperei até que ela saísse da área de escuta. "Ela sabe o que está acontecendo por

aqui?" Eu quis saber, minha voz esta baixa e rouca. Eu estava me controlando, minha

respiração saindo uniformemente.

"Sim. Ela sabe de tudo", Edward me disse.

"Ela sabe que eles vão matá-la um dia?"

"Ela sabe que é uma possibilidade", ele disse.

Isso me surpreendeu.

O rosto de Edward era difícil de ler. "Ela está esperando que eles decidam ficar com

ela".

Eu sentí o sangue fugir do meu rosto. "Ela quer ser um deles?"

Ele acenou com a cabeça uma vez, seus olhos afiados no meu rosto, observando minha

reação.

Eu levantei os ombros. "Como é que ela pode querer isso?" Eu sussurrei, mais pra mim

mesma do que realmente procurando por uma resposta. "Como é que ela pode ver

aquelas pessoas enchendo aquela sala odiosa e querer ser parte disso?"

Edward não respondeu. A expressão dele se torceu em resposta a alguma coisa que eu

havia dito.

Eu olhei para o seu rosto perfeito demais, tentando entender a mudança, e de repente me

caiu a ficha de que eu estava realmente aqui, nos braços de Edward, mesmo que por

pouco tempo, e nós não estávamos - nesse exato momento - prestes a sermos mortos.

"Oh, Edward", eu chorei, e já estava soluçando de novo. Era uma reação estúpida. As

lágrimas eram grossas demais pra que eu pudesse ver o rosto dele de novo, e isso era

imperdoável. Eu só tinha até o pôr do sol com certeza. Como um conto de fadas de

novo, com fim da linha onde a magia acabava.

"Qual é o problema?", ele perguntou, ainda ansioso, esfregando as minhas costas com

palmadinhas gentís.

Eu passei meus braços ao redor do pescoço dele - qual era a pior coisa que ele podia

fazer? Só me afastar - e me abracei mais perto dele. "É realmente doentio da minha

parte estar feliz agora?" Eu perguntei. Minha voz se quebrou duas vezes.

Ele não me afastou. Ele me agarrou apertado no seu peito duro e gelado, tão apertado

que era difícil respirar, mesmo com os meus pulmões seguramente intactos.

"Eu sei o que você quer dizer", ele sussurrou. "Mas nós temos muitas razões pra

estarmos felizes. Pra começar, estamos vivos".

"Sim", eu concordei. "Essa é uma boa".

"E juntos", ele respirou. O hálito dele era tão doce que fez minha cabeça girar.

Eu só balancei a cabeça, certa de que ele não considerava essa consideração como eu.

"E, com alguma sorte, ainda estaremos vivos amanhã".

"Espero que sim", eu disse com dificuldade.

"As chances são muito boas", Alice me assegurou. Ela esteve tão quieta, que eu quase

me esquecí da presença dela. "Eu vou ver Jasper em menos de vinte e quatro horas", ela

adicionou com um tom satisfeito.

Alice sortuda. Ela podia confiar em seu futuro.

Eu não conseguí manter meus olhos longe dos olhos de Edward por muito tempo. Eu

olhei pra ele, querendo mais do que tudo que o futuro nunca acontecesse. Que esse

momento durasse pra sempre, ou, se não pudesse, que eu parasse de existir quando esse

momento não existisse.

Edward olhou de volta pra mim, seus olhos escuros estavam suaves, e foi fácil fingir

que ele se sentia do mesmo jeito. Então foi isso que eu fiz. Eu fingí, pra tornar o

momento mais doce.

As pontas dos dedos dele traçaram os círculos embaixo dos meus olhos. "Você parece

tão cansada".

"Você parece com sede", eu cochichei de volta, estudando as manchas roxas embaixo

das suas íris pretas.

Ele levantou os ombros. "Não é nada".

"Você tem certeza? Eu posso ir me sentar com Alice", eu oferecí, sem vontade; eu

preferia que ele me matasse agora do que me mover um centímetro de onde eu estava.

"Não seja ridícula". Ele suspirou; seu hálito doce acariciou meu rosto. "Eu nunca tive

mais controle dessa parte da minha natureza do que agora".

Eu tinha um milhão de perguntas pra ele. Uma delas fez cócegas nos meus lábios agora,

mas eu segurei a minha língua. Eu não queria arruinar o momento, mesmo imperfeito

como era, aqui nessa sala que me deixava doente, embaixo dos olhos de uma aprendiz

de monstro.

Aqui nos braços dele, era tão fácil fantasiar que ele me queria. Eu não queria pensar nas

motivações dele agora - se ele estava agindo assim pra me manter calma enquanto ainda

estavamos correndo perigo, ou se ele só se sentia culpado por estarmos onde estávamos

e aliviado qua não era responsável pela minha morte. Talvez o tempo separados fosse o

suficiente pra que eu não o aborecesse no momento. Mas isso não importava. Eu estava

muito mais feliz fingindo.

Eu fiquei quieta nos braços dele, re-memorizando o seu rosto, fingindo...

Ele olhava para o meu rosto como se estivesse fazendo o mesmo, enquanto ele e Alice

discutiam como voltar pra casa. As vozes deles eram tão rápidas e baixas que eu sabia

que Gianna não conseguia entender. Eu mesma perdí a metade. No entanto, parecia que

haviam mais roubos envolvidos. Eu me perguntei se o Porshe amarelo chamativo já

havia voltado para o seu dono.

"Que conversa foi aquelas sobre cantores?", Alice perguntou uma hora.

"La tua cantante", Edward disse. A voz dele fez as palavras parecerem música.

"Sim, isso", Alice disse, e eu me concentrei por um momento. Eu havia me perguntado

sobre isso também, naquela hora.

Eu sentí Edward levantar os ombros os meu redor. "Eles têm um nome pra as pessoas

que cheiram como a Bella cheira pra mim. Eles a chamam de minha cantora - porque o

sangue dela canta pra mim".

Alice sorriu.

Eu estava cansada o suficiente pra dormir, mas eu lutei contra a inconsciência. Eu não ia

perder nem um segundo do tempo que tinha com ele. De vez em quando, enquanto ele

falava com Alice, ele se inclinava de repente e me beijava - seus lábios gelados e

macios passavam no meus cabelo, na minha testa, a ponta do meu nariz.

E cada vez era como se um choque eletrico estivesse passando no meu coração há muito

adormecido. Os sons das batidas dele pareciam encher a sala inteira.

Era o paraíso - bem no meio do inferno.

Eu perdí completamente a noção do tempo. Então quando os braços de Edward se

apertaram ao meu redor, e ele e Alice olharam para o fim da sala com olhos cautelosos,

eu entrei em pânico. Eu me apertei no peito de Edward enquanto Alec - seus olhos de

uma cor rubi vívida agora, mas ainda impecável com o seu terno cinza claro apesar da

refeição da tarde - passou pela porta dupla.

Eram boas notícias.

"Vocês estão livres pra ir agora", Alec nos disse, o tom dele era tão cálido que se

poderia pensar que eramos todos amigos de longa data. "Nós os pedimos que não se

demorem na cidade".

Edward não inventou nenhuma resposta educada; a voz dele era fria como gelo. "Isso

não será um problema".

Alec sorriu, balançou a cabeça, e desapareceu novamente.

"Sigam o corredor direito ao redor da esquina para chegarem no primeiro pavimento de

elevadores", Gianna nos disse enquanto Edward me ajudava a ficar de pé. "O sanguão é

dois andares abaixo, e é a saída para a rua. Adeus, agora", ela adicionou

prazerozamente. Eu me perguntei se a competência dela seria o suficiente pra salvá-la.

Alice deu uma olhada obscura pra ela.

Eu estava aliviada por haver outra saída; eu não tinha certeza de que podia aguentar

outro passeio pelos subterrâneos.

Nós deixamos pelo saguão luxuoso. Eu fui a única que olhou de volta para o castelo

medieval que abrigava aquela faxada elaborada de lugar de negócios de onde eu não

conseguia ver a torre, motivo pelo qual eu fiquei agradecida.

A festa ainda estava com força total nas ruas. As luzes das ruas ainda estavam se

acendendo enquanto nós andavamos rapidamente pelas apertadas ruas lotadas.

O céu lá em cima estava de uma cor cinza sombria que estava desaparecendo, mas os

prédios na rua ficavam tão próximos um do outro que pareciam estar mais escuro.

A festa também estava mais escura. A longa e esvoaçante manta e Edward não se

destacava muito do que devia ser mais uma noite normal em Volterra. Haviam outras

mantas de cetin preto agora, e os dentes de plástico com as presas que eu ví na criança

de preaça essa tarde pareciam ser muito populares com os adultos.

"Ridículo", Edward murmurou uma vez.

Eu não reparei quando Alice desapareceu do meu lado. Eu olhei pra ela pra fazer uma

pergunta, e ela tinha sumido.

"Onde está Alice?", eu perguntei em pânico.

"Ela foi recuperar as suas bolsas de onde ela as escondeu hoje de manhã"

Eu havia esquecido que tinha acesso a uma escova de dentes. Isso abrilhantou o meu

humor consideravelmente.

"Ela está roubando um carro também, não está?", eu adivinhei.

Ele abriu um sorriso. "Não até estarmos do lado de fora".

Pareceu demorar muito tempo até chegarmos na entrada. Edward podia ver que eu

estava exausta; ele colocou seu braço ao redor da minha cintura e carregou a maior parte

do meu peso enquanto caminhávamos.

Eu tremí quando ele me puxou pelo arco de pedras pretas. O enorme portão antigo

acima era como a porta de uma gaiola, ameaçando cair sobre nós, nos trancar do lado de

dentro.

Ele me guiou em direção a um carro escuro, esperando numa piscina de sombras á

direita do portão que estava com o motor ligado.

Para a minha surpresa, ele escorregou no banco de trás comigo, ao invés de insistir em

dirigir.

Alice estava apologética. "Me desculpem". Ela fez um gesto vago em direção do painél.

"Não havia muita escolha".

"Está tudo bem, Alice". Ele sorriu. "Eles não podiam ser todos carros de emergência

Turbos".

Ela suspirou. "Eu posso ter que adquirir um daqueles legalmente. Foi fabuloso".

"Eu vou te dar um no natal", Edward prometeu.

Alice se virou brilhando pra ele, e isso me preocupou, já que ela já estava descendo a

curvinha da colina á toda velocidade ao mesmo tempo.

"Amarelo", ela disse pra ele.

Edward me manteve apertada nos braços dele. Dentro da manta cinza, eu estava

aquecida e confortável. Mais que confortável.

"Você pode dormir agora, Bella", ele murmurou. "já acabou".

Eu sabia que ele estava se referindo ao perigo, ao pesadelo na cidade antiga, mas eu

ainda tive que engolir seco antes de poder responder.

"Eu não quero dormir. Eu não estou cansada". Só a segunda parte era mentira. Eu não ia

fechar meus olhos. O carro só estava fracamente iluminado pelos controles no painél,

mas isso era o suficiente pra eu poder ver o rosto dele.

Ele pressionou seus lábios no côncavo embaixo da minha orelha. "Tente", ele

encorajou.

Eu balancei minha cabeça.

Ele suspirou. "Você ainda é só uma teimosa".

Eu era teimosa; eu lutei com as minha pálpebras pesadas, e ganhei.

A estrada escura foi a parte mais difícil; as luzes claras do aeroporto de Florença

facilitaram as coisas, enquanto eu tive a chance de escovar os meus dentes e de trocar de

roupa e colocar uma limpa; Alice havia trazido roupas pra Edward também, e ele deixou

a manta escura em uma pilha de lixo em um corredor.

A viagem até Roma foi tão curta que a fadiga nem teve uma chance de tomar conta de

mim. Eu sabia que a viagem de Roma para Atlanta seria um problema inteiramente

diferente, então eu pedí á comissária de bordo que me trouxesse uma Coca.

"Bella", Edward disse desaprovando. Ele sabia que tinha baixa tolerância á cafeina.

Alice estava atrás de nós. Eu podia ouvir ela murmurando com Jasper no telefone.

"Eu não quero dormir", eu lembrei ele. Eu dei a ele uma desculpa na qual ele acreditou

porque era verdade.

"Se eu fechar meus olhos agora, eu vou ver coisas que não quero ver. Eu vou ter

pesadelos".

Ele não discutiu comigo depois disso.

Seria uma boa hora pra conversar, pra pegar as respostas que eu precisava - precisava

mas não realmente queria; eu já estava me desesperando com o pensamento do que teria

que ouvir. Nós tínhamos um bom tempo pra não sermos interrompídos, e ele não

escaparia de mim num avião - bem, pelo menos, não facilmente. Ninguém nos ouviria

exceto Alice; estava tarde e a maioria dos passageiros estava apagando as luzes e

pedindo por travesseiros em vozes murmuradas. Conversar me manteria longe da

exaustão.

Mas, perseveramente, eu mordí minha língua pra conter o meu dilúvio de perguntas. O

meu bom senso provavelmente era provindo da exaustão, mas eu esperei que adiando a

conversa, eu podia ter direito a passar mais algumas horas com ele mais tarde - fazer

isso durar por mais uma noite, ao estilo Scheherazade.

Então eu continuei bebendo o meu refrigerante, e resistindo á minha vontade de piscar.

Edward parecia perfeitamente contente em me segurar em seus braços, os dedos dele

traçando o meu rosto de novo e de novo. Eu toquei o seu rosto também.

Eu não conseguia evitar, apesar de eu estar com medo de que isso pudesse me machucar

depois, quando eu estivesse sozinha de novo. Ele continuou a beijar o meu cabelo,

minha testa, meus pulsos... mas nunca meus lábios, e isso era bom. Afinal, de quantas

outras formas um coração podia ser maltratado e ainda esperar continuar batendo? Eu

havia vivido muitas coisas que podiam ter acabado comigo nesses últimos dias, mas

isso não me fez sentir mais forte. Ao invés disso, eu me sentia horrivelmente frágil,

como se um palavra pudesse me fazer em pedaços.

Edward não falou. Talvez ele estivesse esperando que eu fosse dormir. Talvez ele não

tivesse nada pra dizer.

Eu ganhei a briga contra as minhas pálpebras pesadas. Eu estava acordada quando

chegamos no Aeroporto em Atlanta, e eu tinha até começado a ver o sol nascendo entre

as nuvens em Seattle antes de Edward fechar a janela. Eu estava orgulhosa de mim

mesma. Eu não havia perdido nenhum minuto.

Nem Alice nem Edward ficaram surpresos com a recepção que estava nos esperando

por nós no aeroporto Sea-Tac, mas eu fui pega de surpresa. Jasper foi o primeiro que eu

ví, mas ele não me viu. Seus olhos foram só pra Alice. Ela foi rapidamente para o lado

dele; eles não se abraçaram como os outros casais se encontrando lá. Eles só olharam

para o rosto um do outro, e mesmo assim, de alguma forma, o momento era tão

particular que eu ainda sentí a necessidade de desviar o olhar.

Carlisle e Esme esperavam num canto quieto longe da fila dos detectores de metal, na

sempre de uma grossa pilastra.

Esme veio em minha direção, me abraçando impetuosamente, mas ainda estranhamente,

porque Edward também estava com os braços ao meu redor.

"Muito obrigada", ela disse no meu ouvido.

Então ela jogou os braços ao redor de Edward, e ela parecia que estaria chorando se isso

fosse possível.

"Você nunca vai me fazer passar por isso de novo", ela quase rosnou.

Edward sorriu, arrependido. "Desculpa, mãe".

"Obrigado, Bella", Carlisle disse. "Nós ficamos te devendo".

"Dificilmente", eu murmurei. A falta de sono da noite era de repente dominante. Minha

cabeça parecia estar desconectada do meu corpo.

"Ela está morta em cima dos pés", Esme repreendeu Edward. "Vamos levá-la pra casa".

Sem ter muita certeza de que ir pra casa era o que eu queria nesse momento, eu tropecei,

meio cega, pelo aeroporto, com Edward me arrastando de um lado e Esme do outro. Eu

não sabia se Alice e Jasper estavam atrás de nós, e eu estava exausta demais pra olhar.

Eu acho que já estava adormecida, apesar de ainda estar caminhando, quando nós

chegamos no carro.

A surpresa de ver Emmett e Rosalie se encostando no sedan preto embaixo das luzes

fracas da garagem me acordou um pouco. Edward enrigeceu.

"Não", Esme sussurrou. "Ela se sente péssima".

"Ela devia", Edward disse, sem fazer nenhuma tentativa de manter a voz baixa.

"Não é culpa dela", eu disse, minhas palavras saíram grogues com a exaustão.

"Deixe ela se desculpar", Esme implorou. "Nós vamos com Alice e Jasper".

Edward encarou a vampira loira absolutamente adorável esperando por nós.

"Por favor, Edward", eu disse. Eu não queria andar com Rosalie mais do que ele parecia

querer, mas eu já havia causado discordia suficiente na família dele.

Ele suspirou, e me guiou em direção ao carro.

Emmett e Rosalie foram para o banco da frente sem falar nada, enquanto Edward me

colocava no de trás de novo. Eu sabia que não seria mais capaz de lutar contra as

minhas pálpebras, e eu inclinei minha cabeça no peito dele desistindo, deixando elas se

fecharem. Eu sentí o carro sendo ligado.

"Edward", Rosalie começou.

"Eu sei", o tom brusco de Edward não era generoso.

"Bella?", Rosalie perguntou suavemente.

Minhas pálpebras de abriram com o choque. Era a primeira vez que ela falava

diretamente comigo.

"Sim, Rosalie?", eu perguntei, hesitante.

"Eu lamento muito mesmo, Bella. Eu me sinto horrível com cada parte disso, e muito

agradecida que você tenha sido corajosa o suficiente pra ir salvar o meu irmão depois do

que eu fiz. Por favor me diga que vai me perdoar".

As palavras soaram estranhas, abafadas por causa da vergonha dela, mas elas pareceram

sinceras.

"É claro, Rosalie", eu murmurei, me agarrando a qualquer chance de fazer ela me odiar

um pouco menos. "Não é culpa sua de jeito nenhum. Fui eu quem pulou da droga do

precipício. É claro que eu te perdôo".

As palavras saíram como se eu estivesse de boca cheia.

"Isso não conta até que ela esteja consciente, Rose", Emmett gargalhou.

"Eu estou consciente", eu disse; só que isso só soou como um suspiro pré fabricado.

"Deixem ela dormir", Edward insistiu, mas a voz dele estava um pouco mais cálida.

Tudo ficou quieto nesse hora, exceto pelo barulho gentil do motor. Eu devo ter caído no

sono, porque só pareceram ter se passado segundos quando a porta se abriu e Edward

estava me carregando do carro. Meus olhos não se abriam. Primeiro eu pensei que ainda

estávamos no aeroporto.

E depois eu ouví Charlie.

"Bella", ele gritou de uma certa distância.

"Charlie", eu murmurei tentando sair da letargia.

"Shh", Edward sussurrou. "Está tudo bem; você está em casa e a salvo. Só durma".

"Eu não posso acreditar que você tem a cara de pau de aparecer aqui", Charlie gritou pra

Edward, a voz dele muito mais próxima agora.

"Para com isso, pai", eu gemi. Ele não me ouviu.

"Qual é o problema com ela?", Charlie quis saber.

"Ela só está muito cansada, Charlie", Edward assegurou baixinho. "Por favor deixe ela

descansar".

"Não me diga o que fazer!", Charlie gritou. "Dê ela pra mim. Tire suas mãos dela!"

Edward tentou me passar pra Charlie, mas eu me agarrei a ele com os dedos trincados,

tenazes. Eu podia sentir meu pai puxando meu braço.

"Sai dessa, pai", eu disse com mais volume. Eu conseguí abrir as minha pálpebras o

suficiente pra olhar pra Charlie nos os olhos turvos. "Fique bravo comigo".

Nós estávamos na frente da minha casa. A porta da frente estava aberta. A nuvem que

pairava em cima das nossas cabeças estava grossa demais pra eu poder adivinhar que

horas eram.

"Você pode apostar que eu vou ficar", Charlie prometeu. "Vá pra dentro".

"Tá. Me ponha no chão", eu suspirei.

Edward me colocou de pé. Eu podia ver que estava de pé, mas não conseguia sentir as

minhas pernas. Eu andei em frente mesmo assim, até que a calçada começou a se

aproximar do meu rosto. Os braços de Edward me agarraram antes que eu atingisse o

concreto.

"Só me deixe levá-la até lá em cima", Edward disse. "Depois eu vou embora".

"Não", eu chorei entrando em pânico. Eu ainda não tinha conseguido as minhas

respostas.

Ele tinha que ficar pelo menos mais um pouco, não tinha?

"Eu não vou estar longe", Edward prometeu, sussurrando no meu ouvido pra que

Charlie não tivesse a esperança de ouvir.

Eu não ouví Charlie responder, mas Edward me levou até em casa. Meus olhos abertos

só aguentaram até quando ele chegou na escada.

A última coisa que eu sentí foram os dedos frios de Edward soltando meus dedos da

camisa dele.

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