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cap. 16 ao 19

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

16. Páris

Nesse momento, minha cabeça atingiu a superfície.

Que desorientador. Eu tinha certeza que estava afundando.

A corrente não puxaria pra cima. Ela estava me jogando contra as rochas; elas batiam no

centro das minhas costas asperamente, ritmadamente, expulsando a água dos meus

pulmõs. Eu cuspí um imenso volume, haviam correntes de água brotando da minha boca

e do meu nariz.

O sal queimava e meus pulmões ardiam e minha garganta estava cheia de água demais

pra me deixar respirar, e as rochas machucavam minhas costas. De alguma forma eu

fiquei parada em um só lugar, apesar das ondas ainda estarem batendo em mim. Eu não

conseguia ver nada além da água em todo lugar, alcançando o meu rosto.

"Respire!", a voz, selvagem de ansiedade, ordenou, e eu sentí uma cruel facada de dor

quando eu reconhecí a voz - porque ela não era de Edward.

Eu não consegui obedecer. A cascata de água que saía da minha boca ainda não havia

diminuido o suficiente pra me deixar respirar. A água preta, gelada enchia meu peito,

me queimando.

A rocha bateu nas minhas costas de novo, bem no meio dos meus ombros, e outra onda

de água me asfixiou quando saiu dos meus pulmões.

"Respire, Bella! Vamos!", Jacob implorou.

Pontos pretos atravessaram minha visão, ficando maiores e maiores, bloqueando a luz.

A rocha me atingiu de novo.

A rocha não era fria como a água; ela era quente na minha pele. Eu me dei conta de que

era a mão de Jacob, tentando bater a água pra fora dos meus pulmões. A barra de aço

que havia me arrastado de dentro do mar também era... quente... Minha cabeça rodou,

os pontos pretos cobriam tudo....

Então eu estava morrendo de novo? Eu não gostei disso - isso não foi tão bom quanto da

última vez. Agora estava apenas escuro, não havia nada que valesse a pena olhar aqui. O

som das ondas desapareceu na escuridão e se tornou um

 

whoosh

silencioso, uniforme

que parecia estar vindo de dentro dos meus ouvidos...

"Bella?", Jacob perguntou, a voz dele ainda estava tensa, mas não tão selvagem quanto

antes.

"Bells, querida, você pode me ouvir?"

Os conteúdos na minha cabeça se reviraram e rolaram de forma doentia, como se

tivessem se misturado com a água...

"Por quanto tempo ela esteve insconsciente?", alguém mais perguntou.

A voz que não era de Jacob me chocou, me deixou mais focada na consciencia.

Eu me dei conta de que estava rígida. Não havia nenhum sinal da corrente sobre mim -

as ondas estavam dentro da minha cabeça.

A superfície embaixo de mim era plana e estava imóvel. Ela pareceu áspera nos meus

braços nus.

"Eu não sei", Jacob informou, ainda frenético. A voz dele estava muito próxima. As

mãos dele - tão quentes que tinham que ser dele - tirou o cabelo molhado do meu rosto.

"Alguns minutos? Eu não demorei muito pra seguir ela até a praia".

O quieto

 

whoosh

dentro dos meus ouvidos não era o das ondas - era o ar se movendo

pra dentro e pra fora dos meus pulmões de novo.

Cada respiração queimava - os canais de passagem estavam parecendo em carne viva,

como se eu os tivesse esfregado com lã de aço.

Mas eu estava respirando.

E eu estava congelando. Um milhão de pequenos pedaços de gelo, afiados, estavam

passando pelo meus rosto e pelos meus braços, tornando o frio ainda pior.

"Ela está respirando. Ela vai acordar. No entanto, ela pode pegar um resfriado. Eu não

gosto da cor que ela está ficando..." Eu reconhecí a voz de Sam dessa vez.

"Você acha que tudo bem mover ela?"

"Ela não machucou as costas ou alguma outra coisa quando caiu?"

"Eu não sei".

Eles hesitaram.

Eu tentei abrir os olhos. Me levou um minuto, mas eu conseguí ver as nuvens escuras,

roxas, jorrando a chuva congelante em cima de mim. "Jake?", eu resmunguei.

O rosto de Jacob bloqueou o céu. "Oh!", ele asfixiou, o alíviou lavou sua expressão. Os

olhos dele estavm molhados com a chuva.

"Oh, Bella! Você está bem? Você consegue me ouvir? Você está machucada em algum

lugar?"

"S-só a m-minha garganta", eu gaguejei, meus lábios tremendo com o frio.

"Vamos tirar você daqui, então", Jacob disse.

Ele passou os braços por baixo de mim e me levantou sem esforço - como se estivesse

pegando uma caixa vazia. O peito dele estava nu e quente; ele curvou os ombros pra

evitar que a chuva caísse em mim.

Minha cabeça descansou no braço dele. Eu encarei a água de novo com um olhar vazio,

ela estava batendo na areia atrás dele.

"Você pegou ela?", eu ouví Sam perguntar.

"É, eu cuido dela daqui. Volte para o hospital. Eu me junto a vocês mais tarde.

Obrigado, Sam".

Minha cabeça ainda estava rolando. Nenhuma das suas palavras fez sentido no começo.

Sam não respondeu. Não houve nenhum som, e eu imaginei se ele já tinha ido embora.

A água lambia e marcava a areia atrás de nós enquanto Jacob me carregava de lá, como

se ela estivesse zangada por eu ter escapado.

Enquanto eu olhava cautelosamente, um brilho de cor chamou a atenção dos meus olhos

- um pequeno flash de fogo estava dançando na água, lá perto da baía. A imagem não

fazia sentido, e eu me perguntei o quão consciente eu realmente estava.

Minha cabeça rodava com as memórias da água preta, dançante - as memórias de estar

tão perdida que eu não conseguia encontrar o caminho pra cima ou pra baixo. Tão

perdida... mas de alguma forma Jacob...

"Como você me encontrou?", eu raspei.

"Eu estava procurando você", ele me disse. Ele estava meio que correndo no meio da

chuva, pela praia e á caminho da estrada.

"Eu segui as trilhas de pneu da sua caminhonete, e então eu te ouví gritar..." Ele tremeu.

"Porque você pulou, Bella? Você não percebeu que havia um furacão se formando aqui?

Você não podia ter me esperado?" A raiva encheu o tom dele quando o alívio foi

desaparecendo.

"Me desculpe", eu murmurei. "Foi estúpido".

"É, foi

 

muito

estúpido", ele concordou, gotas de chuva escapando levremente pelo seu

cabelo enquanto ele balançava a cabeça. "Olha, você se incomoda de deixar pra fazer as

coisas estúpidas quando eu estiver por perto? Eu não vou ser capaz de me concentrar se

eu pensar que você está pulando de penhascos na minhas costas".

"Claro", eu concordei.

"Sem problema" Eu soava como uma fumante descontrolada. Eu tentei limpar minha

garganta - e então gemí; limpar a garganta foi como enfiar uma faca lá. "O que

aconteceu hoje? Você... encontrou

 

ela?

" Foi minha vez de tremer, apesar de não estar

tão frio aqui, bem perto do corpo ridiculamente quente dele.

Jacob balançou a cabeça. Ele ainda estava mais correndo do que andando enquanto ele

andava na estrada a caminho da sua casa.

"Não. Ela escapou pela água - os sugadores de sangue tê vantagem lá.

Foi por isso que eu voltei pra casa correndo- Eu estava com medo que ela chegasse

antes de mim nadando. Você passa tanto tempo na praia..." Ele parou de falar, um

caroço na garganta.

"Sam voltou com você... todos os outros estão em casa também?" Eu esperava que eles

ainda não estivessem procurando por ela.

"É. Mais ou menos".

Eu tentei ler a expressão dele, pingando por causa da chuva torrencial.

As palavras que não faziam sentido antes, de repente fizeram. "Você disse... hospital.

Antes, pra Sam. Alguém está machucado? Ela lutou com vocês?" Minha voz pulou um

oitavo, soando estranha com a rouquidão.

"Não, Não. Quando nós voltamos, Em estava esperando com notícias. É Harry

Clearwater. Harry teve um ataque do coração essa manhã".

"Harry?", eu balancei minha cabeça, tentando absorver o que ele estava dizendo. "Oh,

não! O Charlie já sabe?"

"É. Ele está lá também, com meu pai".

"Harry vai ficar bem?"

Os olhos de Jacob se apertaram de novo. "Ele não parece muito bem agora".

Abruptamente, eu me sentí doente de culpa - me sentí horrivel pelo mergulho sem

cérebro do penhasco. Ninguém precisava ficar se preocupando comigo agora. Que hora

estúpida pra ser irresponsável.

"O que eu posso fazer?", eu perguntei.

Nesse momento a chuva parou. Eu não me dei conta de que já estávamos na casa de

Jacob até que ele passou pela porta. A tempestade batia no telhado.

"Você pode ficar

 

aqui

", Jacob disse enquanto me colocava no pequeno sofá. "Eu falo

sério - bem aqui. Eu vou pegar roupas secas pra você".

Eu deixei meus olhos se ajustarem á escuridão da sala enquanto Jacob ia caminhando

para o seu quarto.

Arestrita sala da frente parecia muito vazia sem Billy, quase desolada. Era

estranhamente ominoso - provavelmente porque eu sabia onde ele estava.

Jacob estava de volta em segundos. Ele jogou um pilha de algodão cinza em cima de

mim. "Isso vai ficar enorme em você, mas ainda é o melhor que arranjei. Eu, er, vou lá

pra fora pra você se trocar".

"Não vá pra lugar nenhum. Eu ainda estou muito cansada pra me mexer.

Só fique comigo".

Jacob se sentou no chão ao meu lado, com as costas no sofá. Eu me perguntei quando

foi a última vez que ele dormiu. Ele parecia tão exausto quanto eu me sentia.

Ele inclinou a cabeça numa almofada próxima á minha e bocejou. "Eu acho que posso

descansar por um minuto..."

Os olhos dele se fecharam. Eu deixei os meus se fecharem também.

Pobre Harry. Pobre Sue. Eu sabia que Charlie ficaria ao lado deles. Harry era um dos

seus melhores amigos. Apesar da negatividade com que Jake encarava as coisas, eu

esperava ferventemente que Harry saísse dessa. Pra o bem de Charlie. Por Sue e Leah e

Seth...

O sofá de Billy era próximo do aquecedor, e eu estava aquecida agora, apesar das

minhas roupas molhadas.

Meus pulmões doiam me levando mais para a inconsciência do que me mantendo

acordada.

Eu me perguntei vagamente se era errado dormir... ou eu estava me afundando com a

confusão das concussões...?

Jacob começou a roncar levemente, e o som me acalmou como uma canção de ninar. Eu

peguei no sono rapidamente.

Pela primeira vez em muito tempo, os meus sonhos foram só sonhos normais.

Só uma vaga passagem borrada nas minha lembranças passadas - visões que me

cegavam do sol brilhante de Phoenix, o rosto da minha mãe, uma casa da árvore ainda

aos pedaços, uma colcha velha, uma sala de espelhos, uma chama em cima da água

preta... eu esqueci cada uma delas quando a figura mudou.

A última figura foi a única que ficou grudada na minha cabeça. Ela era sem importância

- só um cenário num palco.

Um balcão no meio da noite, uma lua pintada no céu. Eu observei a garota na sua

camisola se inclinar na grande e falar consigo mesma.

Sem importância... mas quando eu lutei pra voltar á consciência, Julieta apareceu na

minha mente.

Jacob ainda estava adormecido; ele havia caido no chão e a respiração dele era profunda

e uniforme. A casa estava mais escura agora do que estava antes, estava escuro do lado

de fora da janela.

Eu estava rígida, mas aquecída e quase seca. A parte de dentro da minha garganta ardia

toda vez que eu respirava.

Eu ia ter que levantar - pelo menos pra pegar uma coisa pra beber.

Mas o meu corpo só queria ficar aqui deitada, pra nunca mais levantar.

Ao invés de me mover, eu pensei um pouco mais em Julieta.

Eu iamginei o que ela teria feito se Romeu tivesse abandonado ela, não porque ele foi

banido, mas porque ele havia perdido o interesse.

E se Rosalie tivesse feito ele se apaixonar de novo, e ele mudasse de idéia? E se, ao

invés de casar com Julieta, ele tivesse desaparecido?

Eu pensei em como Julieta teria se sentido.

Ela não voltaria para a sua vida antiga, não mesmo. Ela não teria nem dado a volta por

cima, disso eu tinha certeza. Mesmo se ela vivesse até estar velha e cinza, todas as vezes

que ela fechasse os olhos, seria os olhos de Romeu que ela veria por trás das suas

pálpebras. Ela teria aceitado isso, eventualmente.

Eu me perguntei se ela teria se casado com Paris, no final, só para agradar seus pais, pra

manter a paz.

Não, provavelmente não, eu decidí. Mas também, a história não falava muito sobre

Paris. Ele era só uma figura de canto - um segurador de vela, uma ameaça, uma última

opção para forçá-la a casar.

E se houvesse mais pra Paris?

E se Paris fosse amigo de Julieta? O melhor amigo dela? E se ele fosse o único a quem

ela pudesse confidenciar as coisas devastadoras sobre Romeu? A única pessoa que

poderia realmente entendê-la e fazê-la se sentir meio humana de novo? E se ele fosse

paciente e gentil? E se ele tomasse conta dela?

E se Julieta soubesse que não poderia sobreviver sem ele? E se ele realmente amasse

ela, e quisesse que ela fosse feliz?

E... se ela amasse Paris? Não como Romeu. Nada assim, é claro. Mas o suficiente pra

que ela quisesse que ele fosse feliz também?

A respiração lenta, profunda de Jacob era o único som na sala - como uma canção de

ninar cantarolada para uma criança, como o barulho de uma cadeira de balanço, como o

tique taque de um velho relógio quando você não tem nenhum outro lugar pra onde

você precisa ir... era o som do conforto.

Se Romeu realmente tivesse ido embora, pra nunca mais voltar, iria realmente importar

se ela tivesse aceitado ou não a proposta de Paris? Talvez ela tivesse que se virar com as

sobras da sua vida que foram deixadas pra trás. Talvez isso fosse o mais próximo da

felicidade que ela pudesse chegar.

Eu suspirei, e depois gemí quando o suspiro arranhou minha garganta.

Eu estava lendo essa história demais. Romeu não ia mudar de idéia.

Era por isso que as pessoas ainda lembravam o nome dele, sempre entrelaçado com o

dela: Romeu e Julieta. É por isso que era uma boa história. "Julieta é passada pra trás

por Romeu e fica com Paris" nuca teria dado certo.

Eu fechei os meus olhos e me deixei levar de novo, deixando minha mente vagar dessa

estúpida peça na qual eu não queria pensar. Ao invés disso, eu pensei na realidade -

sobre pular do penhasco e o erro estúpido que isso havia sido. E não apenas o penhasco,

mas também as motos e aquela coisa toda de ser irresponsável. E se alguma coisa

tivesse acontecido comigo? O que teria sido de Charlie?

O ataque do coração de Charlie havia de repente colocado as coisas numa nova

perspectiva pra mim. Uma perspectiva que eu não queria ver - porque se eu admitisse a

verdade nisso - isso significaria que havia mudado o meu jeito. Será que eu poderia

viver assim?

Talvez. Não seria fácil; de fato, seria uma vertente miserável ter que desistir das minhas

alucinações.

Mas eu tinha que fazer isso. E talvez eu pudesse. Se eu tivesse Jacob.

Eu não podia tomar esse decisão agora. Ia doer demais. Eu pensaria em outra coisa.

Imagens da minha tarde como dublê de filmes continuaram passando na minha cabeça

enquanto eu tentava pensar em alguma coisa agradável...

a sensação do ar enquanto eu caia, a escuridão da água, a força das correntes... o rosto

de Edward... eu fiquei presa aí por um longo tempo. As mãos quentes de Jacob,

tentando trazer a vida de volta pra mim... a chuva torrencial que caia das nuvens roxas...

o estranho fogo nas ondas...

Havia alguma coisa de familiar naquele flash de cor no topo da água.

É claro que não podia realmente ser fogo -

Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho de um carro andando na lama da

estrada lá fora. Eu ouví o carro parar do lado de fora, e as portas começando a se abrir e

se fechando.

A voz de Billy era fácil de identificar, mas ele a mantinha descaracteristicamente baixa,

então ela era apenas um murmúrio grave.

A porta se abriu, e um pouco de luz entrou. Eu pisquei, momentaneamente cega. Jake

começou a acordar, suspirando e pulando pra ficar de pé.

"Desculpa", Billy rosnou. "Nós acordamos vocês?"

Meus olhos lentamente se focaram no rosto dele, e então, quando eu conseguí ler a

expressão dele, eles se encheram de légrimas.

"Oh, não, Billy!", eu gemí.

Ele balançou a cabeça lentamente, a expressão dele estava dura de dor. Jake correu para

o seu pai e pegou uma das suas mãos. A dor fez o rosto dele ficar repentinamente

infantil - parecia estranho no topo do corpo de um homem.

Sam estava bem atrás de Billy, empurrando a cadeira dele pela porta.

A compostura que era normal nele, agora estava ausente do seu rosto agoniado.

"Eu lamento muito", eu sussurrei.

Billy acenou com a cabeça. "Será difícil pra todos".

"Onde está Charlie?"

"Seu pai ainda está no hospital com Sue. Têm muitos... arranjos a serem feitos".

Eu engolí seco.

"É melhor eu voltar pra lá", Sam murmurou, e saiu apressadamente pela porta.

Billy tirou sua mão da de Jacob e levou sua cadeira pela cozinha em direção ao seu

quarto.

Jake ficou olhando pra ele por alguns minutos, e deposi veio se sentar no chão a meu

lado de novo. Ele colocou o rosto nas mãos. Eu esfreguei o ombro dele, desejando

poder pensar em alguma coisa pra dizer.

Depois de um longo momento, Jake pegou minha mão e colocou em seu rosto.

"Como você está se sentindo? Você está bem? Eu provavelmente devia ter te levado pra

um médico ou alguma coisa assim", ele suspirou.

"Não se preocupe comigo", eu grasnei.

Ele virou a cabeça pra olhar pra mim. Os olhos dele estavam muito vermelhos. "Você

não parece muito bem".

"Eu também não me sinto muito bem, eu acho".

"Eu vou pegar a sua caminhonete e depois te levar pra casa - provavelmente é melhor

você estar em casa quando Charlie chegar".

Certo.

Eu fiquei indiferente deitada no sofá enquanto esperei por ele. Billy estava em silêncio

no quarto. Eu me sentí como uma intrusa, espiando pelas rachaduras de uma tristeza que

não era minha.

Jake não demorou muito. O ronco do motor da minha caminhonete quebrou o silêncio

antes do que eu esperava. Ele me ajudou a levantar do sofá sem falar nada, mantendo

seus braços ao redor dos meus ombros quando o ar gelado me fez tremer.

Ele foi para o lado do motorista sem pedir, e depois me puxou para o lado dele pra

manter o seu braço bem apertado ao meu redor. Eu inclinei minha cabeça no peito dele.

"Como é que você vai voltar pra casa?", eu perguntei.

"Eu não vou pra casa. Nós ainda não pegamos a sugadora de sangue, lembra?"

Meu próximo arrepio não teve nada a ver com o frio.

Depois disso a viagem foi silenciosa. O ar gelado havia me despertado. Minha mente

estava alerta, e estava trabalhando muito duro e muito rápido.

E se fosse? O que era a coisa certa a fazer?

Eu não conseguia imaginar minha vida sem Jacob agora - eu afastei a idéia de sequer ter

que pensar nisso. De alguma forma, ele havia se tornado essecial para a minha

sobreviência.

Mas deixar as coisas do jeito como estavam... isso era cruel, como Mike havia acusado?

Eu me lembrei de ter desejado que Jacob fosse meu irmão. Eu me dei conta agora que o

que eu queria era ter direitos sobre ele. Eu não me sentia muito fraternal quando ele me

abraçava assim. Só era bom - quente e confortável e familiar. Seguro. Jake era um porto

seguro.

Eu podia clamar ele. Eu tinha esse poder.

Eu teria que contar tudo a ele, eu sabia disso. Era a única forma de ser justa. Eu teria

que explicar direito, pra que assim ele soubesse que eu não estava me apegando, pra que

ele soubesse que ele era bom demais pra mim.

Ele já sabia que eu estava quebrada, essa parte não surpreenderia ele, mas ele teria que

saber a extensão disso. Eu teria que admitir que estava louca - explicar sobre as vozes

que ouvia. Ele precisar ai saber de tudo antes de tomar a decisão.

Mas, mesmo que eu reconhecesse essa necessidade, eu sabia que ele me aceitaria apesar

de tudo isso. Ele não ia nem parar pra pensar.

Eu teria que me comprometer com isso - comprometer tudo que havia restado de mim,

cada um dos pedaços quebrados. Era aúnica forma de ser justa com ele. Eu faria isso?

Eu poderia?

Seria assim tão errado fazer Jacob feliz? Mesmo que o amor que eu sentia por ele não

fosse nem um eco fraco do que eu era capaz, mesmo que o meu corações estivesse

distante, vagando e lamentando pelo meu Romeu fujão, seria assim tão errado?

Jacob aprou a caminhonete na frente da minha casa escura e desligou o motor, então

tudo ficou repentinamente silencioso. Como em tantas outras vezes, ele parecia estar em

sintonia com os meus pensamentos agora.

Ele colocou seu braço ao meu redor, me apertando contra o seu peito, me colando nele.

De novo, isso foi bom. Quase como se uma pessoa inteira de noovo.

Eu pensei que ele estaria pensando em Harry, mas depois ele falou, e o seu tom pedia

perdão.

"Me desculpe. Eu sei que você não se sente exatamente como eu me sinto, Bella. Eu

juro que não me importo. Eu estou tão feliz por você estar bem que eu podia cantar - e

isso é uma coisa que ninguém vai querer ouvir". Ele deu sua risada gutural no meu

ouvido.

Minha respiração deu um pulo, secando as paredes da minha garganta.

Edward não ia querer, independente do quanto ele fosse indiferente, que eu fosse tão

feliz quanto fosse possível sob essas circustâncias? Será que não havia um sentimento

de amizade suficiente da parte dele pra que ele desejasse isso pra mim? Eu acho que

sim. Ele não ia me negar isso: que eu desse só um pouco do amor que ele não quis para

o meu amigo Jacob. Afinal, não era nem de longe o mesmo tipo de amor.

Jake pressionou a sua bochecha quente no topo da minha cabeça.

Se eu virasse o meu rosto para o lado - se eu pressionasse meus lábios no ombro nu

dele... eu sabia sem duvida nenhum o que viria a seguir. Seria muito fácil. Não teriam

que haver explicações essa noite.

Mas será que eu podia fazer isso? Será que eu podia trair meu coração ausente só pra

salvar minha vida patética?

As borboletas encheram meu estômago enquanto eu pensava em virar minha cabeça.

E então, tão claramente quanto se eu estivesse em perigo imediato, a voz aveludade de

Edward cochichou no meu ouvido.

"Seja feliz", ele me disse.

Eu congelei.

Jacob me sentiu enrrijecer e me largou automaticamente, se inclinando para a porta.

espere eu queria dizer. Só um minuto. Mas eu ainda estava grudada no lugar, escutando

o eco da voz de Edward na minha cabeça.

O vento frio da tempestade envadiu a cabine da caminhonete.

"OH!", a respiração saiu de Jacob como se alguém tivesse dado um soco em seu

estômago. "Mas que merda!"

Ele bateu a porta e girou as chaves na ignição ao mesmo tempo. As mãos dele estavam

tremendo tanto que eu nem sei como foi que ele conseguiu.

"Qual é o problema?"

Ele acelerou o motor rápido demais; ele engasgou e falhou.

"Vampiro", ele cuspiu.

O sangue correu para a minha cabeça e eu me senti tonta. "Como é que você sabe?"

"Porque eu consigo cheirar. Droga!"

Os olhos de Jacob estavam selvagens, rastreando a rua escura. Ele mal parecia estar

consciente dos tremores que balançavam todo o seu corpo. "Me transformar ou dar o

fora daqui?", ele murmurou pra sí mesmo.

Ele olhou pra mim por um milésimo de segundo, olhando pros meus olhos arregalados

de horror e e rosto branco, e então rastreando a rua de novo. "Certo. Te levar daqui".

O motor cortou com um ronco. Os pneus cantaram quando ele fez a volta com a

caminhonete, se virando na direção da nossa única saída.

Os faróis passaram por cima das calçadas, iluminaram a frente da floresta escura, e

finalmente refletiram num carro parado na calçada do outro lado da minha casa.

"Pare!", eu asfixiei.

Era um carro preto - um carro que eu conhecia. Eu podia ser uma coisa muito longe de

uma apaixonada por carros, mas eu podia dizer tudo sobre aquele carro em particular.

Era uma Mercedes S55 AMG. Eu sabia quantos cavalos de força tinha e a cor do seu

interior. Eu sabia qual era a sensação do seu poderoso motor ronronando sob o capô. Eu

conhecia o rico cheiro dos bancos de couro e sabia o jeito como aqueles vidros extra

escuros n~~ao deixavam nenhuma luz do lado de fora penetrar.

Era o carro que Carlisle.

"Pare!", eu gritei de novo, mais alto dessa vez, porque Jacob estava levando a

caminhonete para o fim da rua.

"O que?!"

"Não é Victória. Pare, pare! Eu quero voltar!"

Ele pisou no freio com tanta força que eu tive que me segurar no painél.

"O que?", ele perguntou de novo, agastado. Ele me encarou com horror nos olhos.

"É o carro de Carlisle! São os Cullen. Eu sei disso".

Ele observou o meu rosto por um instante, e um violento tremor balançou o seu corpo.

"Ei, acalme-se, Jake. Está tudo bem. Nada de perigo, vê? Relaxe".

"É, calma", ele ofegou, colocando a cabeça pra baixo e fechando os olhos. Enquanto ele

se concentrava em não explodir num lobo, eu olhei pela janela de trás para o carro preto.

É só o carro de Carlisle, eu disse pra mim mesma. Não espere nada mais. Talvez Esme...

Pare bem aí, eu disse pra mim mesma. Só Carlisle. Isso era muito. Mais do que eu

jamais esperei ter de novo.

"Há um vampiro na sua coisa", Jacob disse por entre os dentes. "E você quer voltar lá?"

Eu olhei pra ele, tirando os meus olhos sem vontade da Mercedes - eu estava terrorizada

que ela fosse desaparecer se eu desviasse os olhos.

"É claro", eu disse, minha voz pasma de surpresa pela pergunta dele.

É claro que eu queria voltar pra lá.

O rosto de Jacob endureceu enquanto eu olhava pra ele, se transformando na máscara

ácida que eu achei que havia desaparecido pra sempre. Pouco antes que ele colocasse a

máscara no lugar, eu captei o espasmo de traição de resplandeceu nos olhos dele. As

mãos dele ainda estavam tremendo. Ele parecia ser dez anos mais velho que eu.

Ele respirou fundo. "Você tem certeza de que isso não é um truque?", ele perguntou

numa voz lenta, pesada.

"Não é um truque. É Carlisle. Me leve de volta!"

Um tremor escapou pelos seus ombros largos, mas os olhos dele estavam

compenetrados e sem emoção. "Não".

"Jake, está tudo bem -"

"Não. Volte você mesma, Bella", a voz dele foi um tapa - eu vacilei com o som quando

ela bateu em mim. A mandíbula dele estava se comprimindo e se soltando.

"Olha, Bella", ele disse com a mesma voz dura. "Eu não posso voltar.

Com acordo ou sem acordo, aquele lá é o inimigo".

"Não é assim -"

"Eu vou ter que contar pra Sam imediatamente. Isso muda as coisas. Nós não podemos

ficar presos nos nosso território".

"Jake, isso não é uma guerra!"

Ele não ouviu. Ele engatou a caminhonete e pulou pra fora da porta, deixando ela

ligada.

"Tchau, Bella", ele chamou por cima do ombro. "Eu realmente espero que você não

morra". Ele correu para a escuridão, tremendo tanto que o corpo dele parecia um vulto.

O remorso me deixou colada no banco por um longo segundo. O que eu havia acabado

de fazer com Jacob?

Mas o remorso não conseguiu me segurar por muito tempo.

Eu escorreguei para o outro banco e coloquei a caminhonete em marcha de novo.

Minhas mãos estavam tremendo tanto quanto as mãos de Jake haviam estado, e isso

tomou um minuto da minha concentração.

Depois eu virei cuidadosamente a caminhonete e a dirigí em direção á minha casa.

Tudo ficou muito escuro quando eu desliguei os faróis. Charlie saiu com tanta pressa

que havia esquecido de ligar as luzes da varanda. Eu sentí uma pontada de dúvida,

olhando para a casa, afundada nas sombras. Ese isso fosse um truque?

Eu olhei de volta para o carro preto, quase invisível na noite. Não. Eu conhecia aquele

carro.

Ainda assim, minhas mãos estavam tremendo mais do que antes quando eu peguei a

chave em cima da porta.

Quando eu peguei na maçaneta da porta para abrí-la, ela girou facilmente embaixo da

minha mão. Eu deixei a porta se abrir. O corredor estava preto.

Eu queria chamar com uma saudação, mas minha garganta estava seca demais. Eu não

parecia conseguir sugar o ar.

Eu dei um passo para a frente e apalpei para acender a luz.

Estava tão preto - como a água preta... Onde estava aquele interruptor?

Assim como a água preta, com aquela chama brilhando impossivelmente em cima dela.

Aquela chama não podia ser fogo, mas então o que...?

Meus dedos traçaram a parede, ainda procurando, ainda tremendo -

De repente, algo que Jacob me disse essa tarde ecoou na minha cabeça, finalmente

caindo a ficha...

Ela escapou pela água, ele havia dito. Os sugadores de sangue têm a vontagem lá. Foi

por isso que eu vim correndo pra casa - eu estava com medo de que ela chegasse

primeiro nadando.

Minha mão congelou na sua procura, meu corpo inteiro congelou no lugar, enquanto eu

me dava conta do porque eu reconhecia a estranha cor laranja na água.

O cabelo de Victória, voando selvagemente com o vento, da cor do fogo...

Ela esteve lá. Bem lá no cais comigo e Jacob. Se Sam não estivesse lá, se fôssemos só

nós dois...? Eu não conseguia respirar ou me mexer.

A luz se acendeu, apesar da minha mão congelada ainda não ter encontrado o

interruptor.

Os meus piscaram com a luz repentina, e viram que havia alguém lá, esperando por

mim.

17. Visitante.

Desnaturalmente rígida e branca, com grandes olhos pretos fixados em mim, a minha

visitante me esperava perfeitamente imóvel no centro da sala, linda além da imaginação.

Meus joelhos tremeram por um segundo, e eu quase caí. Depois eu me joguei em cima

dela.

"Alice, oh, Alice!", eu chorei, enquanto me chocava com ela.

Eu havia me esquecido quanto ela era

 

dura

; era como correr precipitadamente pra cima

de uma parede de cimento.

"Bella?", havia uma estranha mistura de alívio e confusão na voz dela.

Eu prendí meus braços ao redor dela, lutando pra inalar o máximo do cheiro da sua pele

que fosse possível. Não era mais nada - nada floral ou condimentado, cítrico ou

almíscar. Nenhum perfume no mundo poderia se comparar. Minha memória não fazia

justiça.

Eu não reparei quando os suspiros se transformaram em algo mais - eu só percebí que

os suspiros haviam se transformado em soluços quando Alice me arrastou para o sofá da

sala de estar e me colocou no colo. Era como estar curvada numa pedra fria, mas uma

pedra que contornava confortavelmente o formato do meu corpo. Ela esfregou as

minhas costas num ritmo gentíl, esperando que eu me controlasse.

"Me... desculpe", eu tagarelei. "Eu só estou... tão feliz... de ver você!"

"Tudo bem, Bella. Está tudo bem".

"Sim", eu uivei. A, pela primeira vez, parecia estar mesmo.

Alice suspirou. "Eu havia me esquecido de como você era exuberante", ela disse, e o

tom dela era de desaprovação.

Eu olhei pra ela por entre os meus olhos mareados. O pescoço de Alice estava apertado,

se afastando de mim, os lábio dela estavam apertados firmemente. Os olhos dela

estavam, pretos como piche.

"Oh", eu arquejei, quando me dei conta do problema. Ela estava com sede. E eu era

apetitosa. Já fazia um tempo que eu não pensava nesse tipo de coisa. "Desculpa".

"É minha própria. Já faz algum tempo que eu estou sem caçar. Eu não devia me deixar

ficar com tanta sede. Mas eu estava com pressa hoje". O olhar que ela direcionou pra

mim foi resplandecente.

"Falando nisso, será que você poderia me explicar como é que você está viva?"

Isso me chamou a atenção e fez os soluços pararem. Eu me dei conta do que havia

acontecido imediatamente, e porque Alice estava aqui.

Eu engolí fazendo barulho. "Você me viu cair".

"Não", ela discordou, com os olhos se apertando. "Eu ví você pular".

Eu torcí meus lábios e tentei encontrar uma explicação pra isso que não soasse maluca.

Alice balançou a cabeça. "Eu disse pra ele que isso ia acontecer, mas ele não acreditou

em mim. 'Bella prometeu'". A voz dela imitou tão perfeitamente que eu congelei

chocada enquanto a dor arrasava o meu tórax." 'E não fique olhando para o futuro dela,

também'", ela continuou citando ele. " 'Nós já causamos estragos o suficiente'".

"Só porque eu não procuro, isso não quer dizer que eu não vejo", ela continuou. "Eu não

estava espionando você, eu juro, Bella. É só que eu já estou ligada á você... quando eu

te ví pulando, eu nem pensei, eu simplesmente peguei um avião. Eu sabia que podia ser

tarde demais, mas eu não podia ficar sem fazer nada. E depois eu cheguei aqui,

pensando se eu podia ajudar Charlie de alguma forma, e você aparece". Ela balançou a

cabeça, dessa vez com confusão. A voz dela estava tensa. "Eu ví você cair na água e eu

esperei e esperei pra que você voltasse, mas você não voltou. O que aconteceu? E como

você pode fazer isso com Charlie? Você parou pra pensar no que isso faria com ele? E

com o meu irmão? Você não faz idéia do que Edward -"

Eu cortei ela nessa hora, assim que ela disse o nome dele. Eu deixaria ela continuar,

mesmo depois que ela percebesse o mal entendido no qual ela havia se metido, só pra

ouvir o tom perfeito da voz dela. Mas era hora de interromper.

"Alice, eu não estava cometendo suicídio".

Ela me olhou duvidosamente. "Você está dizendo que não pulou de um penhasco?"

"Não, mas...", eu fiz uma careta. "Foi apenas com propósitos recreatórios".

A expressão dela endureceu.

"Eu havia visto alguns dos amigos de Jake mergulhando dos penhascos", eu insistí.

"Pareceu que era... divertido, e eu estava aborrecida..."

Ela esperou.

"Eu não pensei que a tempestade fosse afetar as correntes. Na verdade, eu nem pensei

muito na água".

Alice não acreditou. Eu podia ver que ela ainda pensava que eu estava tentando me

matar. Eu decidí mudar de direção. "Então se você me viu entrar, como é que você não

viu Jacob?"

Ela deixou a cabeça cair pro lado, distraída.

Eu continuei. "É verdade que eu provavelmente teria me afogado se Jacob não tivesse

pulado atrás de mim. Bem, tá legal, não tem nenhum provavelmente aí. Mas ele pulou, e

ele me tirou de lá, e eu acho que ele me guiou de volta para a costa, apesar de eu estar

meio por fora nessa parte. Não pode ter se passado nem um minuto de quando eu estava

lá em baixo até que ele me puxou. Como é possível que você não tenha visto isso?"

Ela fez uma carranca de perplexidade. "Alguém tirou você de lá?"

"Sim. Jacob me salvou".

Eu observei curiosamente enquanto uma enigmática extensão de emoções passava pelo

rosto dela. Alguma coisa estava incomodando ela - a sua visão imperfeita?

Mas eu não tinha certeza. Então ela deliberadamente se inclinou e cheirou meu ombro.

Eu congelei.

"Não seja ridícula", ela murmurou, me cheirando um pouco mais.

"O que você tá fazendo?"

Ela ignorou minha pergunta. "Quem era que estava lá fora com você agora mesmo?

Pareceu que vocês estavam discutindo".

"Jacob Black. Ele é... meio que meu melhor amigo, eu acho. Pelo menos, ele era..." Eu

pensei no rosto enraivecido, traído de Jacob, e me perguntei o que ele era pra mim

agora.

Alice balançou a cabeça, parecendo preocupada.

"O que foi?"

"Eu não sei", ela disse. "Eu não sei o que isso significa".

"Bem, pelo menos, eu não estou morta".

Ela rolou os olhos. "Ele foi um tonto de achar que você poderia sobreviver sozinha. Eu

nunca ví alguém tão propenso á idiotices que ameaçam a vida".

"Eu sobreviví", eu apontei.

Ela estava pensando em outra coisa.

"Então, se as correntes eram demais pra você, como é que esse Jacob conseguiu?"

"Jacob é... forte".

Ela ouviu a relutância na minha voz, e as sobrancelhas dela se levantaram.

Eu mordisquei o meu lábio por um segundo. Isso era um segredo, ou não? E se fosse,

com quem era aminha maior aliança? Jacob ou Alice?

Era difícil demais guardar segredos, eu decidí. Jacob sabia de tudo, porque Alice

também não?

"Veja, bem, ele é... meio que um lobisomem", eu adimití com pressa.

"Os Quileutes se transformam em lobisomens quando têm vampiros por perto. Eles

conhecem Carlisle desde muito tempo atrás. Você já estava com Carlisle naquela

época?"

Alice olhou pra mim por um momento, e depois se recuperou, piscando rapidamente.

"Bem, eu acho que isso explica o cheiro", ela murmurou.

"Mas será que isso explica o que eu não ví?", ela fez uma careta, a sua testa de

porcelana se enrrugando.

"O cheiro?", eu repetí.

"O seu cheiro é horrível", ela disse ausentemente, ainda fazendo careta. "Um

lobisomem? Você tem certeza disso?"

"Muita certeza", eu prometí, estremecendo enquanto me lembrava de Paul e Jacob

brigando na estrada. "Eu acho que você não estava com Carlisle da outra vez que

apareceram lobisomens aqui em Forks?"

"Não. Eu ainda não havia encontrado ele". Alice ainda estava perdida em pensamentos.

De repente, seus olhos se arregalaram, e ela se virou pra mim com uma expressão

chocada. "O seu melhor amigo é um lobisomem".

Eu balancei a cabeça timidamente.

"A quanto tempo isso está acontecendo?"

"Não muito tempo", eu disse, minha voz ainda soando defensiva. "Ele só se tornou um

lobisomem a algumas semanas".

Ela me encarou. "Um lobisomem jovem?? Pior ainda! Edward estava certo - você é um

imã de perigo. Não era pra você se manter longe de problemas?"

"Não há nada errado com lobisomens", eu rosnei, picada pelo tom crítico dela.

"Até eles perderem a cabeça", ela balançou a cabeça asperamente de um lado para o

outro.

"Só você mesmo, Bella. Qualquer outra pessoa ficaria tranquila quando os vampiros

deixassem a cidade. Mas você tinha que começar a se meter com os primeiros monstros

que encontrasse".

Eu não queria discutir com Alice - eu ainda estava tremendo de felicidade por ela estar

realmente, verdadeiramente aqui, por poder tocar sua pele de mármore e ouvir sua voz -

mas ela havia entendido tudo errado.

"Não, Alice. Os vampiros não deixaram a cidade de verdade - pelo menos, não todos.

Esse é o problema todo. Se não fossem pelos lobisomens, Victória já teriam me pegado

a essa hora. Bom, eu acho que, se não fosse por Jake e seus amigos Laurent já teriam

me pegado antes dela, então..."

"Victória?", ela chiou. "Laurent?"

Eu balancei a cabeça, um pouco alarmada pela expressão nos olhos pretos dela. Eu

apontei pro meu peito. "Imã de perigo, lembra?"

Ela balançou a cabeça de novo. "Me conte tudo - comece no início".

Eu contei tudo desde o início, pulando a parte das motos e das vozes, mas contando

todo o resto pra ela até a desventura de hoje.

Alice não gostou da minha explicação sobre estar enfadada e pular de penhascos, então

eu me apressei pra contar sobre a estranha chama que eu havia visto na água e o que eu

achava que isso significava. Os olhos dela se apertaram até ficarem como linhas nessa

parte. Era estranho ver ela parecer tão... perigosa - como uma vampira. Eu engolí seco e

contei o resto da história sobre Harry.

Ela ouviu a minha história sem interromper. Ocasionalmente ela balançava a cabeça, e

as rugas na testa dela ficavam tão profundas que pareciam permanentes na sua pele de

mármore. Ela não falou, e finalmente, eu fiquei quieta, atingida de novo pelo pesar

emprestado da morte de Harry. Eu pensei em Charlie; ele devia estar voltando pra casa

logo. Em que condições ele estaria?

"A nossa partida não fez bem nenhum, não foi?" Alice murmurou.

Eu rí uma vez - era um som levemente histérico. "No entanto, não havia necessitade,

não é? Na é como se vocês tivessem ido embora pra me beneficiar".

Alice olhou zangada para o chão por um momento. "Bem... eu acho que agí

impulssivamente hoje. Eu provavelmente não devia ter me intrometido".

Eu podia sentir o sangue sendo drenado do meu rosto. Meu estômago foi derrubado.

"Alice, não vá", eu cochichei. Meus dedos prenderam o colarinho da blusa dela e eu

comecei a hiperventilar. "Por favor não me deixe".

Os olhos dela se abriram mais ainda. "Tudo bem", ela disse, anunciando cada palavra

com uma lenta precisão. "Eu não vou a lugar algum essa noite. Respire fundo".

Eu tentei obedecer, apesar de não saber exatamente como localizar os meus pulmões.

Ela observou meu rosto enquanto eu me concentrava em respirar. Ela esperou até que eu

estivesse mais calma pra comentar.

"Você está horrível, Bella".

"Eu quase me afoguei hoje", eu lembrei ela.

"É mais profundo que isso. Você está uma bagunça".

Eu vacilei. "Olha, eu estou fazendo o que posso".

"O que você quer dizer?"

"Isso não foi muito fácil. Eu estou trabalhando nisso".

Alice fez uma carranca. "Eu disse pra ele", ela disse pra sí mesma.

"Alice", eu suspirei. "O que você achou que fosse encontrar? Quer dizer, além de mim

morta? Você esperava me encontrar dando piruetas e assobiando melodias? Você me

conhece melhor do que isso".

"Eu conheço. Mas eu tinha esperanças".

"Então eu acho que eu não sou a única no mercado dos idiotas".

O telefone tocou.

"Deve ser Charlie", eu disse, ficando de pé. Eu agarrei a mão de pedra de Alice e

arrastei ela até a cozinha comigo. Eu não ia deixar ela sair da minha vista.

"Charlie?", eu atendí o telefone.

"Não, sou eu", Jacob disse.

"Jake!"

Alice estudou a minha expressão.

"Só tendo certeza de que você ainda está viva", Jacob disse ácidamente.

"Eu estou bem. Eu te disse que não era -"

"É. Entendí. Tchau"

Jacob desligou na minha cara.

Eu suspirei e deixei minha cabeça cair pra trás, olhando para o teto. "Isso vai ser um

problema".

Alice apertou minha mão. "Eles não estão felizes por eu estar aqui".

"Não exatamente. Mas não é da conta deles, afinal".

Alice colocou o braço ao meu redor. "Então o que faremos agora?", ela meditou. Ela

pareceu falar consigo mesma por um momento. "Coisas a fazer. Ajeitar as coisas".

"Que coisas a fazer?"

O rosto dela estava cuidadoso de repente. "Eu não tenho certeza... eu preciso ver

Carlisle".

Ela iria embora tão rápido? Meus estômago revirou.

"Você poderia ficar?", eu implorei. "Por favor? Só por um pouco de tempo. Eu sentí

tanto a sua falta". Minha voz se quebrou.

"Se você acha que é uma boa idéia", os olhos dela não estavam felizes.

"Eu acho. Você podia ficar aqui - Charlie ia adorar".

"Eu tenho uma casa, Bella"

Eu balancei a cabeça, desapontada mas resignada. Ela hesitou, me estudando.

"Bem, eu preciso pegar uma mala de roupas, pelo menos".

Eu joguei meus braços ao redor dela. "Alice, você é a melhor!"

"E eu acho que preciso caçar. Imediatamente." ela acrescentou numa voz tensa.

"Oops". Eu dei um passo pra trás.

"Será que você pode ficar fora de problemas por uma hora?" ela perguntou céticamente.

Então, antes que eu pudesse responder, ela levantou um dedo e fechou os olhos. O rosto

dela ficou suave e vazio por alguns instantes.

E então ela abriu os olhos e respondeu a sua própria pergunta. "Sim, você vai ficar bem.

Essa noite, pelo menos", ela fez uma careta. Mesmo fazendo caras, ela parecia um anjo.

"Você vai voltar?" eu perguntei com uma voz pequena.

"Eu prometo - uma hora".

Eu olhei para o relógio em cima da mesa da cozinha. Ela sorriu e se inclinou

rapidamente pra me dar um beijo na bochecha. Então ela foi embora.

Eu respirei fundo. Alice ia voltar. De repente eu me sentí muito melhor. Eu também

tinha muitas coisas pra fazer pra me manter ocupada enquanto esperava.

Um banho era definitivamente a primeira coisa na agenda.

Eu cheirei meus ombros enquanto tirava a roupa, mas eu não conseguí sentir o cheiro de

nada além da salmoura e das algas do oceano. Eu me perguntei o que Alice quis dizer

quando disse que eu estava cheirando mal.

Quando eu estava limpa, eu voltei para a cozinha.

Eu não vai nenhum sinal de que Charlie havia comido recentemente, e ele

provavelmente estaria com fome quando voltasse. Eu sussurrava pra mim mesma

enquanto me movia pela cozinha.

Enquanto a caçarola de quinta girava no microondas, eu forrei o sofá com lençóis e

coloquei um travesseiro velho. Alice não precisaria dele, mas Charlie precisaria vê-lo.

Eu fui cuidadosa pra não olhar para o relógio. Não havia motivo pra começar a entrar

em pânico; Alice havia prometido.

Eu me apressei pra terminar meu jantar, sem sentir o gosto dele - só sentindo a dor

enquanto ele escorregava pela minha garganta arranhada.

Eu estava com mais sede; eu devo ter bebido meio galão de água até a hora que eu

terminei. Todo o sal no meu sistema havia me deixado desidratada.

Eu fui tentar assistir TV enquanto esperava.

Alice já estava lá, sentada na cama improvisada. Os olhos dela eram líquidos como

whisky. Ela sorriu e deu um tapinha no travesseiro.

"Obrigada".

"Você chegou cedo", eu disse, estimulada.

Eu me sentei ao lado dela e inclinei minha cabeça no seu ombro. Ela colocou seus

braços frios ao meu redor e suspirou.

"Bella. O que nós vamos fazer com você?"

"Eu não sei", eu admití. "Eu realmente estive tentando como pude".

"Eu acredito em você"

Eu fiquei em silêncio.

"Ele - ele...", eu respirei fundo. Era mais difícil dizer o nome dele em voz alto, mesmo

sendo capaz de pensar nele agora. "Edward sabe que você está aqui?", eu não conseguí

deixar de perguntar.

Era a minha dor, afinal de contas. Eu ia lidar com ela depois que Alice fosse embora, eu

prometí a mim mesma, e me sentí mal com o pensamento.

"Não".

Só havia uma forma disso ser verdade. "Ele não está com Carlisle e Esme?"

"Ele entra em contato de mês em mês".

"Oh", ele ainda deve estar aproveitando as distrações dele. Eu foquei minha curiosidade

num tópico mais seguro. "Você disse que voou pra cá... De onde você veio?"

"Eu estava em Denali. Visitando a família de Tânia".

"Jasper está aqui? Ele veio com você?"

Ela balançou a cabeça.

"Ele não aprovou minha interrupção. Nós prometemos..." Ela parou, e então o tom dela

mudou. "E você acha que Charlie não vai se incomodar por eu estar aqui?", ela

perguntou, parecendo preocupada.

"Charlie acha você maravilhosa, Alice".

Certo o suficiente, alguns segundos depois eu ouví a viatura estacionando na garagem.

Eu me levantei num pulo e corrí para a porta.

Charlie se arrastava lentamente pela calçada, os olhos dele estavam no chão e os ombros

dele estavam caídos. Eu caminhei para a frente pra encontrá-lo; ele não havia me visto

até que eu o abracei pela cintura. Ele me abraçou de volta impetuosamente.

"Eu lamento por Harry, pai"

"Eu vou sentir muita falta dele", Charlie murmurou.

"Como está Sue?"

"Ela parece confusa, como se ela ainda não tivesse se dado conta. Sam está ficando com

ela..." o volume da voz dele estava desaparecendo e reaparecendo. "Pobres daquelas

crianças. Leah só é um ano mais velha que você, e Seth só tem catorze..." Ele balançou

a cabeça.

Ele continuou com o braço apertado ao meu redor enquanto voltamos a andar para a

porta

"Umm, pai?" eu achei que seria melhor avisá-lo. "Você nunca vai adivinhar quem está

aqui".

Ele olhou pra mim com o rosto vazio. A cabeça dele virou, e ele espiou a Mercedes do

outro lado da rua, a luz da varanda refletida na brilhante pintura preta.

Antes que ele pudesse reagir, Alice estava na porta.

"Oi, Charlie", ela disse numa voz subjulgada. "Eu lamento por ter vindo numa hora tão

ruim".

"Alice Cullen?", ele olhou para a pequena figura na frente dele como se duvidasse do

que os seus olhos estavam dizendo. "Alice, é você?"

"Sou eu", ela confirmou. "Eu estava na vizinhança".

"Carlisle está...?"

"Não, eu estou sozinha".

Tanto eu quanto Alice sabíamos que ele não estava querendo saber de Carlisle. O braço

dele se apertou no meu ombro.

"Ela pode ficar aqui, não pode?", eu implorei. "Eu já pedi pra ela".

"Mas é claro", Charlie disse mecanicamente. "Nós adoraríamos recebê-la, Alice"

"Obrigada, Charlie. Eu sei que é uma hora horrível".

"Não, está tudo bem, mesmo. Eu vou estar muito ocupado fazendo o que puder pela

família de Harry; vai ser bom pra Bella ter um pouco de companhia".

"Tem jantar na mesa, pai", eu disse pra ele.

"Obrigado, Bells". Ele me apertou mais uma vez antes de se arrastar para a cozinha.

Alice voltou para o sofá, e eu seguí ela. Dessa vez, foi ela que me colocou no seu

ombro.

"Você parece cansada".

"É", eu concordei e levantei os ombros. "Experiências de quase morte fazem isso

comigo... Então, o que Carlisle acha de você ter vindo pra cá?"

"Ele não sabe. Ele e Esme estavam numa viagem de caça. Eu terei notícia dele dentro de

alguns dias, quando ele voltar".

"Mas você não vai contar pra ele... quando ele aparecer de novo?", eu perguntei. Ela

sabia que eu não falava de Carlisle agora.

"Não. Ela ia arrancar minha cabeça fora", ela disse severamente.

Eu rí uma vez, e depois suspirei.

Eu não queria dormir. Eu queria ficar acordada a noite toda conversando com Alice. E

pra mim não fazia sentido estar cansada, tendo cochilado no sofá de Jacob o dia inteiro.

Mas me afogar realmente tinha exigido muito de mim, e meus olhos não conseguiam

ficar abertos. Eu descansei minha cabeça no seu ombro de pedra, e me deixei levar por

um esquecimento que eu nunca havia esperado.

Eu acordei cedo, de um sono profundo e sem sonhos, me sentindo bem descansada, mas

rígida.

Eu estava no sofá, enfiada embaixo dos lençóis que havia colocado pra Alice, e eu podia

ouvir ela e Charlie conversando na cozinha. Parecia que Charlie estava cozinhando o

café da manhã pra ela.

"Foi muito ruim, Charlie?" Alice perguntou suavemente, e no início eu pensei que eles

estivessem falando sobre os Clearwater.

Charlie suspirou. "Muito ruim".

"Me fale sobre isso. Eu quero saber exatamente o que aconteceu depois que nós fomos

embora".

Houve uma pausa enquanto uma porta do armário era aberta e fechada e enquanto um

botão do fogão era desligado. Eu esperei, temerosa.

"Eu nunca me sentí mais inútil", Charlie começou lentamente.

"Eu não sabia o que fazer. Naquela primeira semana - eu pensei que teria que

hospitalizar ela. Ela não comia e não bebia nada, ela não se movia. Dr. Gerandy estava

soltando palavras como 'catatônico', mas eu não deixei que ele visse ela. Eu estava com

medo que isso assustasse ela".

"Mas ela superou isso?"

"Eu pedí pra Renée vir pegá-la pra levá-la para a Flórida. Eu só não queria ter que... se

ela tivesse que ir para um hospital ou coisa assim. Eu esperava que estar com a mãe

fosse ajudá-la. Mas quando começamos a fazer as malas dela, ela se acordou com uma

vingança. Eu nunca ví a Bella pirar daquele jeito. Bella nunca teve acessos de raiva,

mas, rapaz, ela estava furiosa. Ela jogou as roupas dela pra todo lugar e gritava que nós

não podíamos forçá-la a ir embora - e depois ela finalmente começou a chorar. Eu

pensei que esse fosse o fim de tudo. Eu não discutí quando ela insistiu em ficar aqui... e

no início ela não parecia estar melhorando..."

Charlie parou. Era difícil estar escutando isso, sabendo quanta dor eu havia causado pra

ele.

"Mas?", Alice incitou.

"Ela voltou pra escola e pro trabalho, ela comia e dormia e fazia o dever de casa. Ela

respondia quando alguém a fazia uma pergunta direta. Mas ela estava... vazia. Os olhos

dela estavam apagados. Havia um monte de coisas pequenas - ela não ouvia mais

música. Ela não lia; ela não estaria na sala se a TV estivesse ligada, não que ela já

assistisse muito antes. Eu finalmente entendí - ela estava evitando tudu que a fizesse se

lembrar... dele.

"Nós mal podíamos conversar; eu estava sempre tão preocupado em dizer alguma coisa

que aborrecesse ela - as menores coisas faziam ela vacilar - e ela nunca era voluntária

pra nada. Ela só respondia uma coisa se eu perguntasse.

"Ela estava sozinha o tempo inteiro. Ela não retornava as ligações dos amigos, depois de

um tempo, eles pararam de ligar.

"Era sempre a noite dos mortos vivos por aqui. Eu ainda ouço ela gritando no sono..."

Eu quase podia ver ele tremendo.

Eu estremecí, também, me lembrando. E então eu suspirei. Eu não havia conseguido

enganá-lo, nem por um segundo.

"Eu lamento, Charlie", Alice disse, a voz mal humorada.

"Não é sua culpa", o jeito que ele disse isso deixou bem claro que ele responsabilizava

outra pessoa. "Você sempre foi uma boa amiga pra ela".

"No entanto, ela parece melhor agora".

"É. Desde que ela começou a andar com Jacob Black, eu tenho reparado uma grande

melhora. Ela está com cor nas bochechas quando volta pra casa, um pouco de luz nos

olhos. Ela está mais feliz". Ele parou e a voz dele estava diferente quando ele voltou a

falar.

"Ele é um ano mais novo que ela mais ou menos, masi eu acho que tem mais alguma

coisa acontecendo, ou pelo menos está nesse caminho". Charlie disse isso num tom que

era quase agressivo. Era um aviso, não pra Alice, mas pra que ela passasse. "Jake é

velho para a idade dele", ele continuou, ainda parecendo defensivo. "Ele tem tomado

conta do pai fisicamente do mesmo jeito que Bella cuida da mãe emocionalmente. Isso

amadureceu ele. Ele é um garoto bonito também - puxou ao lado da mãe. Ele é bom pra

Bella, sabe". Charlie insistiu.

"Então é bom que ela tenha ele", Alice concordou.

Charlie suspirou uma quantidade de ar, mudando rapido demais a sua opinião sobre o

assumto. "Ok, talvez eu esteja apressando as coisas. Eu não sei... mesmo com Jacob, de

vez em quando, eu vejo alguma coisa nos olhos dela, e eu me pergunto se por acaso eu

tem noção da verdadeira dor pela ela está passando. Não é normal, Alice, e isso... isso

me assusta. Não é nem um pouco normal. Não é como se alguém tivesse... deixado ela,

mas como se alguém tivesse morrido". A voz dele falhou.

Isso era como se alguém tivesse morrido- como se eu tivesse morrido. Porque isso foi

mais do que apenas perder o mais verdadeiro dos amores, como se isso não fosse

suficiente pra matar alguém. Mas também isso era perder um futuro inteiro, uma família

inteira - toda a vida que eu havia escolhido.

Charlie continuou no seu tom desesperançado. "Eu não sei se ela um dia vai superar isso

- eu não sei se faz parte da natureza dela se curar de uma coisa assim. Ela sempre foi

uma coisinha tão constante.

Ela não esquece as coisas, muda de idéia".

"Ela é uma em um milhão", Alice concordou com a voz seca.

"E Alice..." Charlie hesitou. "Agora, você sabe a afeição que eu sinto por você, e eu

posso dizer que ela está feliz em te ver, mas... eu estou um pouco preocupado com o que

a sua visita vai fazer com ela".

"Eu também, Charlie, eu também. Eu não teria vindo se eu tivesse idéia. Me desculpe".

"Não se desculpe, querida. Quem sabe? Talvez seja bom pra ela".

"Eu espero que você esteja certo".

Houve uma longa pausa enquanto garfos arranhavam os pratos e Charlie mastigava. Eu

me perguntei onde Alice estava escondendo a comida.

"Alice, eu preciso te perguntar uma coisa", Charlie disse estranhamente.

Alice estava calma. "Vá em frente".

"Ele não vai voltar pra visitar também, vai?", eu podia ouvir a raiva suprimida na voz de

Charlie.

Alice falou num tom macio, tranquilizador. "Ele nem sabe que eu estou aqui. Da última

vez que eu falei com ele, ele estava na América do Sul".

Eu enrigecí quando ouví essa nova informação, e escutei com mais vontade.

"Pelo menos, isso é alguma coisa", Charlie bufou. "Bem , eu espero que ele esteja se

divertindo".

Pela primeira vez, a voz de Alice parecia estar um pouco dura. "Eu não tiraria

conclusões precipitadas, Charlie". Eu sabia como os olhos dela brilhavam quando ela

usava esse tom.

Uma cadeira se afastou da mesa, se arrastando com muito barulho no chão da cozinha.

Eu imaginei Charlie se levantando; não havia a menor possibilidade de Alice fazer esse

barulho todo.

A torneira correu, fazendo um splash no prato.

Não parecia que eles iam dizer mais alguma coisa sobre Edward, então eu decidí que era

hora de levantar.

Eu me virei, saltando sobre a mola pra fazê-la ranger. Depois eu bocejei alto.

Estava tudo quieto na cozinha.

Eu me estiquei e gemí.

"Alice?", eu perguntei inocentemente; a inflamação na minha garganta ajudou muito na

brincadeira.

"Eu estou na cozinha, Bella", Alice chamou, não havia nenhuma pontada da voz dela

que suspeitasse que eu estive escutando escondida. Mas ela era boa em esconder coisas

como essa.

Charlie teve que sair nessa hora - ele estava ajudando Sue Clearwater com os arranjos

para o funeral. Teria sido um longo dia sem Alice. Ela nunca falou sobre ir embora, e eu

não perguntei. Eu sabia que isso era inevitável, mas eu tirei isso da cabeça.

Ao invés disso, nós falamos sobre a sua família - todos menos um.

Carlisle estava trabalhando ás noites em Ithaca e ensinando parte do tempo em Cornell.

Esme estava restaurando uma casa do século dezessete, um monumento histórico, na

floresta á norte da cidade.

Emmett e Rosalie foram para a Europa por alguns meses para mais uma lua de mel, mas

agora eles já estavam de volta. Jasper estava em Cornell também, estudando filosofia

dessa vez. E Alice esteve fazendo algumas pesquisas pessoais, envolvendo informações

que eu acidentalmente havia revelado pra ela na primavera passada. Ela teve sucesso em

encontrar o asilo onde ela passou os últimos anos da sua vida humana. A vida da qual

ela não tinha nenhuma memória.

"Meu nome era Mary Alice Brandon", ela me disse baixinho. "Eu tinha uma irmã mais

nova chamada Cynthia. A filha dela - minha sobrinha - ainda vive em Biloxi".

"Você descobriu porque te colocaram... naquele lugar?" O que havia levado seus pais a

esse extremo? Mesmo se a filha deles tinha visões do futuro...

Ela só balançou a cabeça, seus olhos cor de topázio pensativos. "Eu não conbsegui

descobrir muito sobre eles. Eu lí todos os jornais antigos no estoque. Minha família não

era mencionada com muita frequência; eles não faziam parte do círculo de notícias que

faziam os jornais. O noivado dos meus pais estava lá, e o de Cynthia". O nome saiu da

boca dela sem muita certeza.

"Meu nascimento foi anunciado... e a minha morte. Eu encontrei meu túmulo. Eu

também vasculhei as fichas de admissão dos velhos arquivos do asilo. A data de

admissão e a data na minha lápide são a mesma".

E não sabia o que dizer, e, depois de uma pequena pausa, Alice mudou para tópicos

mais leves.

Os Cullen estavam reagrupados agora, com apenas uma excessão, e ele estão

aproveitando as férias de Cornell em Denali com Tânia e a família dela. Eu escutei

muito ansiosamente até as notícias mais triviais. Ela nunca mencionou o único no qual

eu estava mais interessada, e eu fiquei agradecida por isso. Já era suficiente ouvir as

histórias da família da qual um dia eu havia sonhado em fazer parte.

Charlie não voltou até depois que já estava escuro, e ele parecia estar mais cansado do

que estava na noite passada. Ele ia para a reserva na primeira hora da manhã para o

funeral de Harry, então ele havia voltado mais cedo. Eu fiquei no sofá com Alice de

novo.

Charlie era quase um estranho quando desceu as escadas quando o sol apareceu,

vestindo um terno velho que eu nunca havia visto ele usando antes. O terno estava

aberto; eu acho que estava apertado demais pra fechar os botões. A gravata dele era um

pouco larga demais para o estilo atual. Ele foi na porta dos pés até a porta, tentando não

acordar a gente. Eu deixei ele ir, fingindo que estava dormindo, assim como Alice fazia

na cadeira reclinável.

Assim que ele havia saído pela porta, Alice se sentou. Por baixo da colcha, ela estava

completamente vestida.

"Então, o que vamos fazer hoje?", ela perguntou.

"Eu não sei - você vê alguma coisa interessante acontecendo?"

Ela sorriu e balançou a cabeça. "Mas ainda é cedo".

Todo o tempo que eu estive passando em La Push signigficou que eu estava

neglegênciando algumas coisas dentro de casa, e eu decidí recuperar o tempo perdido.

Eu queria fazer alguma coisa, qualquer coisa que tornasse a vida mais fácil pra Charlie -

talvez ele se sentisse melhor voltando para uma casa limpa, organizada. Eu comecei

pelo banheiro - ele era o que mostrava mais sinais de abandono.

Enquanto eu trabalhava, Alice se encostou no batente da porta e fez perguntas de

cortesia sobre os meus, bem, nossos amigos da escola e o que eles andavam fazendo

desde que ela foi embora. O rosto dela continuou casual e sem emoção, mas eu sentia a

desaprovação dela quando ela viu o quanto eu tinha pouco a dizer. Ou talvez eu só

estivesse com a consciencia pesada depois de ter bisbilhotado a conversa dela com

Charlie ontem de manhã.

Eu literalmente estava de cotovelos no chão, esfregando o chão da banheira, quando a

campainha da porta tocou.

Eu olhei pra Alice imediatamente, e a expressão dela estava perplexa, quase

preocupada, o que era estranho; Alice nunca era pega de surpresa.

"Espere!" eu gritei na direção geral da porta da frente, me lavantando e me apressando

para a pia pra limpar meus braços.

"Bella", Alice disse com um traço de frustração na voz. "Eu tenho uma boa ideia de

quem pode ser, e eu acho que é melhor eu dar uma saidinha"

"Idéia?", eu ecoei. Desde quando Alice precisava ter uma idéia sobre alguma coisa?

"Se isso for um replay do meu notório lapso de visão de ontem, então é bem possível

que seja Jacob Black ou um dos seus... amigos".

Eu encarei ela, juntando as peças. "Você não consegue ver lobisomens?"

Ela fez uma careta. "Assim parece". Ela estava obviamente aborrecida por esse fato -

muito aborrecida.

A campainha tocou de novo - soando duas vezes rapidamente e impacientemente.

"Você não tem que ir a lugar nenhum, Alice. Você estava aqui primeiro".

Ela sorriu o seu pequeno sorriso prateado - ele possuia uma pontada obscura. "Confie

em mim - não seria uma boa idéia ter amim e Jacob Black juntos na mesma sala".

Ela beijou rapidamente a minha bochecha antes de desaparecer pela porta de Charlie - e

pela sua janela sem dúvida.

A campainha tocou de novo.

18. O Funeral

Eu voei pelas escadas abaixo e abri a porta.

Era Jacob, é claro. Mesmo cega, Alice não era lenta.

Ele estava parado á uns dois metros da porta, o nariz contorcido de desgosto, mas de

outras formas o seu rosto estava suave - uma máscara. Ele não me inganou; eu podia ver

as mãos dele tremendo fracamente.

A hostilidade rolava nele como ondas. Ela parecia trazer de volta aquela horrivel tarde

quando ele havia preferido Sam a mim, e eu senti o meu queixo se erguer

defensivamente em resposta.

O Rabbit de Jacob estava parado perto da esquina com Jared atrás de uma das rodas e

Embry no banco do passageiro. Eu entendí o que isso queria dizer: eles estavam com

medo de deixar ele vir sozinho. Isso me deixou triste, e um pouco aborrecida. Os Cullen

não eram daquele jeito.

"Oi", eu finalmente disse quando ele não falou.

Jake torceu os lábios, ainda permanecendo longe da porta. Os olhos dele estavam

revistando a frente da casa.

Eu tranquei os dentes. "Ela não está aqui. Você precisa de alguma coisa?"

Ele hesitou. "Você está sozinha?"

"Sim", eu suspirei.

"Eu posso falar com você por um minuto?"

 

claro

que você pode, Jacob. Entre".

Jacob olhou por cima do ombro para os seus amigos no carro. Eu ví Embry balançar a

cabeça só um pouquinho. Por alguma razão, isso me incomodou imensamente.

Meus dentes se apertaram de novo. "

 

Covarde"

, eu murmurei por baixo do meu fôlego.

Os olhos de Jake voltaram pra mim, as suas sobrancelhas grossa, pretas se juntando

num ângulo furioso em cima dos seus olhos fundos.

A mandíbula dele se apertou e ele marchou - não há putro jeito de descrever o jeito que

ele se moveu - pela calçada e levantou os ombros pra passar por mim e entrar na casa.

Eu prendi o olhar primeiro com Jared e depois com Embry - eu não gostava do jeito

como eles me olhavam; será que eles realmente achavam que eu ia deixar alguma coisa

machucar Jacob? - antes de fechar a porta pra eles.

Jacob estava na sala atrás de mim, olhando para a bagnça de lençóis na sala de estar.

"Festa do pijama?", ele perguntou, seu tom sarcástico.

"É", eu respondi no mesmo tom de voz ácido. Eu não gostava quando Jacob agia dessa

forma. "O que você tem com isso?"

Ele torceu o nariz de novo e cheirou alguma coisa desagradável. "Onde está a sua

'amiga'?", eu podia ouvir o tom o tom de citação na voz dele.

"Ela foi dar uma corrida sem rumo. Olha, Jacob, o que você quer?"

Alguma coisa na sala pareceu deixar ele mais nervoso - seus longos braços estavam

tremendo. Ele não respondeu a minha pergunta. Ao invés disso ele foi até a cozinha,

seus olhos se mexiam por todo lugar sem descanso.

Eu segui ele. Ele andou pra cima e pra baixo pelo pequeno balcão.

"Ei", eu disse me colocando no caminho dele. Ele parou de caminhar e olhou pra mim.

"Qual é o seu problema?"

"Eu não gosto de ter que estar aqui".

Essa doeu. Eu estremecí e os olhos dele se apertaram.

"Então eu lamento que você tivesse que vir", eu murmurei. "Porque você não me diz o

que você precisa pra que aí você possa ir embora?"

"Eu só tenho que te perguntar algumas coisas. Não vai demorar muito.

Nós temos que voltar para o funeral".

"Ok. Então acabe logo com isso", eu provavelmente estava exagerando no antagonismo,

mas eu não queria que ele visse o quanto isso estava doendo. Eu sabia que não estava

sendo justa. Afinal, eu havia escolhido a sugadora de sangue a ele na noite passada.

Eu havia machucado ele primeiro.

Ele respirou fundo, e de repente seus dedos tremendo estavam parados. O rosto dele se

suavisou e se transformou numa máscara de serenidade.

"Um dos Cullen está ficando aqui com você", ele declarou.

"Sim. Alice Cullen".

Ele balançou a cabeça pensativo. "Por quanto tempo ela vai ficar?"

"Até quando ela quiser ficar". A beligerância ainda estava no meu tom. "É um convite

em aberto".

"Será que você acha que podia... por favor... explicar pra ela sobre aquela outra -

Victória?"

Eu fiquei pálida. "Eu contei pra ela".

Ele balançou a cabeça. "Você já deve saber que nós só podemos vigiar as nossas terras

com um Cullen aqui. Você só vai estar a salvo em La Push. Eu não posso mais te

proteger aqui".

"Ok", eu disse com uma voz pequena.

Nessa hora ele desviou o olhar, pra fora pelas janelas. Ele não continuou.

"Isso é tudo?"

Ele continuou com os olhos no vidro enquanto respondeu. "Só mais uma coisa".

Eu esperei, mas ele não continuou. "Sim", eu finalmente incitei.

"O resto deles também vai voltar agora?", ele perguntou numa voz gelada, quieta. Isso

me lembrou do jeito calmo de Sam. Jacob estava ficando mais parecido com Sam... eu

me perguntei porque isso me incomodava tanto.

Agora eu não falei. Ele olhou de volta pro meu rosto com olhos provadores.

"Bem?", ele perguntou. Ele lutou pra conciliar a tensão atrás da sua expressão serena.

"Não", eu disse finalmente. Mal humorada. "Eles não vão voltar".

A expressão dele não mudou. "Tudo bem. Isso é tudo".

Eu olhei pra ele, minha irritação cintilando. "Bem, pode correr agora. Pode ir dizer pra

Sam que os monstros assustadores não vão vir pegar vocês".

"Tudo bem", ele repetiu, ainda calmo.

Isso parecia ser tudo. Jacob caminhou rapidamente saindo da cozinha.

Eu esperei pra ouvir a porta da frente, mas eu não ouví nada. Eu podia ouvir o tique

taque do relógio na parede, e fiquei mais uma vez impressionada de ver o quanto ele

havia ficado silincioso.

Que disastre. Como é que eu posso ter alienado ele tão completamente num espaço tão

curto de tempo?

Será que ele ia me perdoar quando Alice fosse embora? E se ele não perdoasse?

Eu me joguei no balcão e coloquei o rosto nas mãos. Como é que eu tinha bagunçado

tudo desse jeito? Mas o que eu podia ter feito diferente? Mesmo olhando para a

situação, eu não vejo uma saida melhor, em nenhum dos caminhos da situação.

"Bella...?", Jacob perguntou com uma voz perturbada.

Eu tirei o meu rosto das mãos pra ver Jacob hesitante na porta da cozinha; ele não havia

ido embora como eu pensei.

Foi só quando eu ví as gotas claras pingando nas minhas mãos que eu ví que eu percebí

que estava chorando.

A expressão calma de Jacob havia desaparecido; o rosto dele estava ansioso e incerto.

Ele caminhou silenciosamente de volta e ficou na minha frente, abaixando a cabeça pra

que seus olhos ficassem na mesma altura dos meus.

"Eu fiz de novo, não fiz?"

"Fez o que?", eu perguntei, minha voz falhando.

"Quebrei minha promessa. Desculpe".

"Tudo bem", eu murmurei. "Fui eu quem começou dessa vez".

O rosto dele se torceu. "Eu sabia como você se sentia em relação a eles. Isso não devia

ter me pego de surpresa desse jeito".

Eu podia ver a repulsa nos olhos dele. Eu queria explicar como Alice realmente era, pra

defender ela do julgamento que ele fazia, mas alguma coisa me avisou que essa não era

a hora.

Então eu só disse "Desculpa", de novo.

"Não vamos nos preocupar com isso, tá bom? Ela só está visitando, certo? Ela vai

embora, e as coisas vão voltar ao normal."

"Será que eu não posso ser amiga dos dois ao mesmo tempo?", eu perguntei, minha voz

não escondia a dor que eu sentia.

Ele balançou a cabeça lentamente. "Não, eu não acho que pode".

Ele respirei e olhei para os pés grandes dele. "Mas você vai esperar, certo? Você ainda

vai ser meu amigo, mesmo que eu ame Alice também?"

Eu não olhei pra cima, com medo de ver o que ele pensaria sobre essa última parte. Ele

levou um minuto pra responder, então eu provavelmente estava certa por não olhar.

"É, eu sempre vou ser seu amigo", ele disse mal humorado. "Não importa o que você

ame".

"Promete?"

"Prometo".

Eu senti os braços dele ao meu redor, e eu me inclinei para o peito dele, ainda inalando.

"Isso é uma droga".

"É", então ele cheirou o meu cabelo e disse, "Eca".

"O que?" eu quis saber. Eu olhei pra cima pra ver que o nariz dele estava torcido de

novo. "Porque que todo mundo fica fazendo isso? Eu não cheiro mal!"

Ele sorriu um pouquinho. "Cheira sim - você cheira como eles. Eca. Muito doce -

doentemente doce. E... gelada. Queima meu nariz".

"Mesmo?" Isso era estranho. Alice tinha um cheiro inacreditavelmente maravilhoso. Pra

um humano, pelo menos. "Mas, porque Alice achou que eu estava cheirando mal

também?"

Isso levou o sorriso dele embora. "Huh. Talvez eu também não cheire muito bem pra

ela. Huh".

"Bem, vocês dois cheiram bem pra mim", eu descansei a minha cabeça nele de novo. Eu

ia sentir terrivelmente a falta dele quando ele saisse pela porta. Eu era uma péssima

pessoa - por um lado, eu queria que Alice ficasse pra sempre. Eu ia morrer -

metaforicamente - quando ela fosse embora. Mas como era que eu podia ficar sem ver

Jake por qualquer espaço de tempo? Que bagunça, eu pensei de novo.

"Eu vou sentir sua falta", Jacob cochichou, ecoando os meus pensamentos. "A cada

minuto. Eu espero que ela vá embora logo".

"Isso realmente não precisa ser desse jeito, Jake".

Ele suspirou. "Sim. Tem sim. Bella. Você... ama ela. Então é melhor eu não chegar nem

perto dela. Eu não tenho certeza de que sou controlado o suficiente pra lidar com isso.

Sam ficaria louco se eu quebrasse o acordo, e-" a voz dele ficou sarcástica "- você

provavelmente não ia gostar muito de mim se eu matasse a sua amiga".

Eu me apartei dele quando ele disse isso, mas ele me apertou mais forte, se recusando a

me deixar escapar. "Não há necessidade de esconder a verdade. As coisas são do jeito

que são, Bells".

"Eu não gosto do jeito que elas são".

Jacob me soltou com um braço pra que ele pudesse usar a mão pra levantar o meu

queixo pra me fazer olhar pra ele. "É. Era mais fácil quando nós dois eramos humanos,

não era?"

Eu suspirei.

Nós olhamos um pra o outro por um longo momento. A mão dele queimava na minha

pele. No meu rosto, eu sabia que não havia nada além de uma tristeza saudosa - eu não

queria ter que dizer adeus agora, não importava por quão pouco tempo fosse. No início

o rosto dele refletia o meu, mas depois, quando nenhum de nós desviou o olhar, a

expressão dele mudou.

Ele me soltou, usando a outra mão pra alisar a minha bochecha com a pontas dos dedos,

trilhando com eles até a minha mandíbula. Eu podia sentir os dedos dele tremendo -

dessa vez não era com raiva.

Ele pressionou a palma na minha bochecha, pra que assim o meu rosto ficasse preso

entre suas mãos que pegavam fogo.

"Bella", ele sussurrou.

Eu estava congelada.

Não! Eu ainda não havia tomado essa decisão. Eu não sabia se poderia fazer isso, e

agora eu estava sem tempo pra pensar nisso. Mas eu seria uma boba se eu pensasse que

rejeitá-lo não teria nenhuma consequência.

Eu encarei ele de volta. Ele não era o meu Jacob, mas ele podia ser. O rosto dele era

familiar e amado. De muitas maneiras verdadeiras, eu amava ele. Ele era meu conforto,

meu porto seguro.

Agora mesmo, eu podia escolher que ele pertenceria a mim.

Alice estava de volta por um momento, mas isso não mudava nada. O amor verdadeiro

estava perdido pra sempre. O príncipe nunca mais ia voltar pra me beijar e me acordar

do meu sono encantado. Eu não era uma princesa, afinal. Então qual era o protocolo dos

contos de fadas contra outros beijos? Ele eram de uma espécie mundana que não

quebravam nenhum feitiço?

Talvez isso fosse fácil - como segurar a mão dele ou sentir os braços dele ao meu redor.

Talvez fosse uma sensação boa. Talvez eu não me sentisse como uma traidora. Além do

mais, quem eu estava traindo, afinal? Só eu mesma.

Mantendo os olhos dele nos meus, Jacob começou a inclinar seu rosto na direção de

meu. E eu estava absolutamente indecisa.

O toque estridente do telefone fez a gente pular, mas isso não quebrou a concentração

dele. Ele tirou a mão dele que estava em baixo do meu queixo e alcançou pra pegar o

aparelho, mas ele ainda segurava o meu rosto seguramente com uma das mãos em

minha bochecha. Os olhos escuros dele não libertaram os meus. Eu estava confusa

demais pra reagir, mesmo pra tomar vantagem da distração.

"Residência dos Swan", Jaco disse, sua voz rouca estava baixa e intensa.

Alguém respondeu, e Jacob se alterou num instante. Ele se enrigeceu, e a mão dele caiu

do meu rosto. Os olhos dele ficaram vazios, o rosto dele ficou branco, e eu podia

apostar qualquer coisa de que era Alice.

Eu me recuperei e estiquei minha mão pra pegar o telefone. Jacob me ignorou.

"Ele não está aqui", Jacob disse, e as palavras eram ameaçadoras.

Houve uma resposta muito curta, pareceu ser um pedido de mais informação, porque ele

respondeu sem vontade. "Ele está no funeral".

Então Jacob desligou o telefone. "Sugador de sangue sujo", ele murmurou por baixo do

fôlego. O rosto dele havia voltado para aquela máscara azeda de novo.

"Com quem foi que você acabou de falar?", eu asfixiei, furiosa.

"Na minha casa, no meu telefone?"

"Calma! Ele desligou na minha cara!"

"Ele? Quem era?!"

Ele zombou do título. "Dr. Carlisle Cullen".

"Porque você não me deixou falar com ele?!"

"Ele não perguntou por você", Jacob disse friamente. O rosto dele estava suave, sem

expressão, mas mãos dele estavam tremendo. "Ele perguntou onde Charlie estava e eu

disse. Eu não quebrei nenhuma regra de etiqueta".

"Me escute aqui, Jacob Black -"

Mas ele obviamente não estava me escutando, ele olhou rapidamente por cima do

ombro, como se alguém tivesse chamado o nome dele na outra sala. Os dele ficaram

arregalados e o corpo dele ficou rígido, e aí ele começou a tremer. Eu escutei também,

automaticamente, mas eu não ouvia nada.

"Tchau, Bells", ele soltou, e se virou na direção da porta da frente.

Eu corrí atrás dele. "O que foi?"

E aí eu esbarrei nele, quando ele se virou nos calcanhares, xingando por baixo do

fôlego. Ele girou de novo, me colocando de lado. Eu me prendi e caí no chão, minhas

pernas entrelaçadas com as dele.

"Droga, ow!", eu protestei enquanto ele rapidamente desentrelaçava as suas pernas das

minhas.

Eu lutei pra me colocar de pé enquanto ele se apressava para a porta da frente; de

repente ele congelou de novo.

Alice ficou imóvel no pé das escadas.

"Bella", ela gaguejou.

Eu me atrapalhei ficando de pé e corrí para o lado dela. Os olhos dela estavam confusos

e distantes, o rosto dela estava cansado e mais branco que osso. O pequeno corpo dela

tremia como se houve um redemoinho dentro dela.

"Alice, qual é o problema?", eu perguntei. Eu coloquei minhas mãos no rosto dela,

tentando acalmá-la.

Os olhos dela se focaram nos meus abruptamente, arregalados de dor.

"Edward", ela sussurrou.

O meu corpo reagiu mais rápido do que a minha mente foi capaz de captar as

implicações das palavras dela.

No começo eu não entendia porque a sala estava rodando ou de de onde o zumbido

vazio dos meus ouvidos estava vindo.

Minha mente trabalhou, incapaz de tirar um sentido do rosto esbranquiçado de Alice e o

que Edward poderia ter a ver com isso, enquanto meu corpo já estava balançando,

procurando o alívio na inconsciencia antes mesmo que ela me encontrasse.

As escadas ficaram num ângulo estranho.

A voz furiosa de Jacob de repente estava no meu ouvido, soltando uma fileira de

palavras profanas. Eu sentí uma vaga desaprovação. Os novos amigos dele claramente

eram uma má influência.

Eu estava no sofá sem entender como havia chegado lá, e Jacob ainda estava xingando.

Eu podia sentir que estava havendo um terremoto - o sofá estava tremendo embaixo de

mim.

"O que você disse pra ela?", ele quis saber.

Alice ignorou ele. "Bella? Bella, sai dessa. Nós temos que nos apressar".

"Afaste-se", Jacob avisou.

"Acalme-se, Jacob Black", Alice ordenou. "Você não quer fazer isso tão perto dela".

"Eu não acho que vou ter nenhum problema pra encontrar meu alvo", ele respondeu,

mas a voz dele parecia um pouco mais calma.

"Alice?", minha voz estava fraca. "O que aconteceu?", eu perguntei, mesmo sem querer

ouvir a resposta.

"Eu não sei", ela gemeu de repente. "O que ele está pensando?!"

Eu trabalhei pra me colocar de pé apesar da tontura. Eu me dei conta de que era no

braço de Jacob que eu estava me agarrando pra ter apoio. Era ele quem estava tremendo,

não o sofá.

Alice estava tirando um pequeno celular prateado da bolsa quando eu a relocalizei. Os

dedos dela discaram os numeros tão rapidamente que eram só um vulto.

"Rose, eu preciso falar com Carlisle agora", a voz dela chicoteava as palavras. "Tá,

assim que ele estiver de volta. Não, eu vou estar num avião. Olha, você tiveram alguma

notícia de Edward?"

Alice pausou agora, escutando com uma expressão que ficava mais e mais pasma a cada

segundo. A boca dela se abriu em um pequeno O de tão horrorizada, e o telefone tremia

na mão dela.

"Porque?", ela asfixiou. "Porque você faria isso, Rosalie?"

Qualquer que tenha sido a resposta, ela fez a mandíbula dela trincar de raiva. Os olhos

dela brilharam e se estreitaram.

"Bem, no entanto, você está errada nas duas situações, Rosalie, então isso deve ser um

problema, você não acha?" ela perguntou acidamente. "Sim, é isso mesmo. Ela está

absolutamente bem - eu estava errada... É uma longa história... Mas você está errada

nessa parte também, foi por isso que eu liguei... Sim, foi exatamente isso o que eu ví".

A voz de Alice estava muito dura e seus lábios estavam curvados em cima dos dentes.

"É um pouco tarde demais pra isso, Rose. Guarde o seu remorso pra alguém que

acredite nele". Alice fechou o telefone com um rápido movimento dos dedos.

Os olhos dela estavam torturados quando ela olhou pro meu rosto.

"Alice", eu soltei rapidamente. Eu não podia deixar ela falar ainda. Eu precisava de

mais alguns segundos antes que ela falasse e as palavras dela destruíssem o que havia

restado da minha vida.

"Alice, mas Carlisle está de volta. Ele acabou de ligar antes de..."

Ela olhou pra mim com um olhar vazio. "A quanto tempo?" ela perguntou com uma voz

confusa.

"Meio minuto antes de você aparecer".

"O que foi que ele disse?" Ela realmente estava prestando atenção agora, esperando pela

minha resposta.

"Eu não falei com ele", meus olhos voaram pra Jacob.

Alice virou o seu olhar penetrante pra ele. Ele tremeu, mas continuou sentado ao meu

lado.

Ele sentou de um jeito estranho, quase como se fosse usar seu corpo como um escudo

pra mim.

"Ele perguntou por Charlie, e eu disse que Charlie não estava aqui", Jacob murmurou

resentido.

"Isso é tudo?", Alice quis saber, a voz dela era como gelo.

"Depois ele desligou na minha cara", Jacob mandou de volta. Um tremor desceu a

espinha dele, me fazendo tremer junto.

"Você disse pra ele que Charlie estava no funeral", eu lembrei ele.

Alice jogou a cabeça dela de volta pra mim. "Quais foram as palavras exatas dele?"

"Ele disse 'Ele não está aqui' e Carlisle perguntou onde Charlie estava, Jacob disse 'No

funeral'".

Alice gemeu e caiu e joelhos.

"Me conte Alice", eu sussurrei.

"Aquele não era Carlisle no telefone", ela disse desesperançosa.

"Você está me chamando de mentiroso?" Jacob rosnou do meu lado.

Alice ignorou ele, focando em meu rosto desnorteado.

"Era Edward", as palavras eram só um soluço sussurrado. "Ele acha que você está

morta".

Minha mente começou a trabalhar de novo. Essas não eram as palavras que eu estava

esperando, e o alívio clareou minha cabeça.

"Rosalie disse a ele que eu me matei, não disse?", eu perguntei, suspirando enquanto

relaxava.

"Sim", Alice admitiu, seus olhos brilhavam duramente de novo.

"Em defesa dela, ela realmente pensava isso. Eles confiam demais nas minhas visões

pra uma coisa que funciona tão imperfeitamente. Mas pra fazer ela rastrear ele desse

jeito! Será que ele não se dava conta... ou se importa...?" A voz dela desapareceu de

horror.

"E quando Edward ligou pra cá, ele pensou que Jacob estava se referindo ao meu

funeral", eu me dei conta. Me machucou saber o quanto eu estive perto, a apenas alguns

centímetros da voz dele. As minhas unhas cravaram no braço de Jacob, mas ele nem se

mexeu.

Alice olhou pra mim estranhamente. "Você não está triste", ela sussurrou.

"Bem, esse não é um senso de timing muito bom, mas tudo vai se esclarecer. Da

próxima vez que ele ligar, alguém vai dizer pra ele... o que... realmente", minha voz

falhou.

O olhar dela estrangulou as palavras na minha garganta.

Porque ela estava tão apavorada? Porque o rosto dela estava se torcendo com piedade e

com horror? O que foi isso que ela havia acabado de dizer á Rosalie no telefone?

Alguma coisa relacionada ao que ela viu... e o remorso de Rosalie; Rosalie jamais

sentiria remorso por alguma coisa que acontecesse comigo. Mas se ela machucasse a

sua família, o seu irmão...

"Bella," Alice cochichou. "Edward não vai ligar de novo. Ele acreditou nela."

"Eu. Não. Entendo", minha boca formou cada palavra silenciosamente. Eu não

conseguia soltar o ar pra realmente dizer as palavras e fazer ela me explicar.

"Ele vai para a Itália".

Me levou a velocidade de um pulsar do meu coração pra entender.

Quando a voz de Edward voltou naminha cabeça agora, ela não era a perfeita imitação

das minhas ilusões. Era só o tom fraco, vazio, das minhas memórias. Mas só as palavras

já foram suficientes pra atingir o meu peito e fazê-lo se abrir de novo. Palavras de um

tempo quando eu podia ter apostado tudo o que eu tinha e tudo que podia pegar

emprestado no fato de que ele me amava.

Bem, eu não ia viver sem você, ele disse enquanto assistíamos Romeu e Julieta juntos,

aqui nessa mesma sala. Mas eu não tinha certeza de como fazer isso... eu sabia que

Emmett e Jasper jamais iriam me ajudar... então eu pensei que talvez eu pudesse ir para

a Itália e fazer alguma coisa pra provocar os Volturi... Você não deve irritá-los. Não a

menos que você queira morrer.

Não a menos que você queira morrer.

"NÃO!" Essa negação meio gritada foi tão alta, depois das palavras sussurradas, que fez

todo mundo pular. Eu sentí o sangue correndo para o meu rosto enquanto me dava conta

do que ela havia visto.

"Não! Não, não, não! Ele não pode! Ele não pode fazer isso!"

"Ele se convenceu assim que o seu amigo o convenceu que era tarde demais pra te

salvar".

"Mas ele... ele foi embora! Ele não me queria mais! Que diferença isso faz agora? Ele

sabia que eu ia morrer alguma hora!"

"Eu não acho que ele estava planejando viver muito mais que você", Alice disse

baixinho.

"Como ele se atreve!", eu gritei. Agora eu estava de pé, e Jacob se levantou sem muita

certeza pra se colocar entre Alice e eu.

"Oh, saia do caminho, Jacob!" eu acotovelei o seu corpo tremendo com uma

ansiosidade desesperada. "O que nós faremos?" eu implorei pra Alice. Tinha que haver

alguma coisa. "Não podemos ligar pra ele? Ligar pra Carlisle?"

Ela estava balançando a cabeça. "Essa foi a primeira coisa que eu tentei. Ele deixou o

telefone numa lata de lixo no Rio - Alguém atendeu..." ela cochichou.

"Você disse antes que tínhamos que nos apressar. Apressar como? Vamos fazer isso,

seja lá o que for!"

"Bella eu - eu não acho que posso te pedir pra..." Ela parou indecisa.

"Me peça!", eu comandei.

Ela colocou a mão no meu ombro, me segurando no lugar, seus dedos se flexionavam

esporádicamente pra dar ênfase ás suas palavras. "Nós podemos já estar atrasadas. Eu ví

ele indo para os Volturi... e pedindo pra morrer". Nós suas vacilamos, e meus olhos

ficaram cegos de repente. Eu pisquei fervorosamente com as lágrimas.

"Tudo depende do que eles escolherem. Eu não posso ver isso até que eles tomem a

decisão.

"Mas se eles disserem não, e eles podem fazer isso - Aro sente afeição por Carlisle, e

não ia querer ofendê-lo - Edward tem um plano reserva. Eles são muito protetores de

sua cidade. Se Edward fizer alguma coisa pra perturbar a paz, ele acha que isso vai fazer

eles o pararem. E ele está certo. Eles vão."

Eu encarei ela com a mandíbula apertada de frustração. Eu ainda não tinha ouvido nada

que explicasse porque ainda estávamos aqui.

"Então se eles concordarem em acatar o seu pedido, nós chegaremos tarde. Se eles

disserem não, e ele inventar um plano que os aborreça rápido o suficiente, chegaremos

tarde. Se ele começar a se deixar levar pelas suas tendências mais teatrais... podemos ter

tempo."

"Vamos logo!"

"Escute, Bella! Chegando em tempo ou não, estaremos no coração da cidade dos

Volturi. Eu vou ser considerada cúmplisse dele se ele conseguir o que quer. Você será

uma humana que não apenas sabe demais, como também cheira bem demais. Há uma

chance muito boa de eles eliminarem todos nós - apesar de no seu caso o castigo não

durar mais que a hora do jantar".

"É isso que ainda tá segurando a gente aqui?", eu perguntei sem acreditar. "Eu vou

sozinha se você estiver com medo". Eu mentalmente contabilizei o dinheiro que ainda

havia na minha conta, e me perguntei se Alice me emprestaria o resto.

"Eu só estou com medo que você acabe morta".

Eu bufei de desgosto. "Eu quase me mato todos os dias! Me diga o que eu tenho que

fazer!"

"Escreva um bilhete pra Charlie. Eu vou ligar para a compania de vôo".

"Charlie", eu asfixiei.

Não que a minha presença aqui estivesse protegendo ele, mas eu não podia deixá-lo

aqui pra encarar...

"Eu não vou deixar nada acontecer com Charlie", a voz baixa de Jacob estava mal

humorada e com raiva. "Dane-se o acordo".

Eu olhei pra ele e ele fez escárnio com a minha expressão assustada.

"Se apresse, Bella!", Alice interrompeu urgentemente.

Eu corrí para a cozinha, arrancando as gavetas dos armários e jogando tudo que havia

dentro delas no chão enquanto eu procurava uma caneta. Uma mão macia, marrom,

passou uma pra mim.

"Obrigada", eu murmurei, arrancando o bocal com os dentes. Ele silenciosamente me

passou o bloco de papéis no qual eu escreví o meu bilhete. Eu arranquei a capa e a

joguei por cima do meu ombro.

Pai, eu escreví. Eu estou com Alice. Edward está com problemas. Você pode me colocar

de castigo quando eu voltar pra casa. Eu sei que é uma má hora. Lamento muito. Te

amo demais. Bella.

"Não vá", Jacob cochichou. A raiva havia desaparecido agora que Alice estava fora de

vista.

Eu não ia perder meu tempo discutindo isso com ele. "Por favor, por favor, por favor

tome conta de Charlie", eu disse enquanto corria de volta para a porta da frente.

Alice estava esperando na porta com uma mala no ombro.

"Pegue a sua carteira - vamos precisar da sua identidade.

 

Por favor

me diga que você

tem um passaporte. Eu não tenho tempo pra falsificar um agora".

Eu balancia a cabeça e corrí lá pra cima, meus joelhos fracos de gratidão por minha mãe

ter tido vontade de se casar com Phil numa praia no México.

É claro, como todos os planos dela, esse não deu certo. Mas não antes que eu tivesse

tempo de lidar com todos os preparativos práticos pra ela.

Eu invadí meu quarto. Eu enfiei minha carteira velha, uma camiseta limpa, e uma calças

na minha mochila, e depois joguei a minha escova de dentes no topo. Eu corri lá pra

baixo. A sensação de deja vu já estava me batendo nesse ponto. Pelo menos, diferente

da última vez - quando eu tive que fugir de Forks pra escapar de vampiros e não pra

encontrá-los

 

- eu não teria que me despedir de Charlie pessoalmente.

Jacob e Alice estavam presos em alguma espécie de confrontação na frente da porta

aberta, tão distantes um do outro que eu não podia presumir no início que eles estavam

tendo uma conversa. Nenhum dos dois pareceu reparar na minha aparição barulhenta.

"Você pode se controlar na ocasião, mas esses sanguessugas pra quem você está a

levando -", Jacob estava a acusando furiosamente.

"Sim. Você está certo. Cachorro". Alice estava rosnando também.

"Os Volturi são a verdadeira ecênssia da nossa espécie - eles são a razão pela qual os

cabelos do seu braço se arrepiam quando você me cheira. Eles são a substância dos seus

pesadelos, o pavor por trás dos seus instintos. Eu não estou mal informada nesse

aspecto".

"E você leva ela até eles como se fosse uma garrafa de vinho para um festa!", ele gritou.

"Você acha que seria melhor se eu deixasse ela aqui sozinha, com Victória perseguindo

ela?"

"Nós podemos cuidar da ruiva".

"Então porque é que ela ainda está caçando?"

Jacob rosnou, e um estremecimento passou pelo seu tórax.

"Parem com isso!", eu gritei para os dois, com uma impaciência selvagem.

"Discutam quando nós voltarmos, vamos!"

Alice se virou para o carro, desaparecendo na sua pressa. Eu corrí atrás dela, parando

automaticamente pra trancar a porta.

Jacob agarrou meu braço com a mão tremendo.

"Por favor, Bella. Eu estou implorando".

Os olhos escuros dele estavam brilhando com lágrimas. Um caroço preencheu minha

garganta.

"Jake, eu

 

preciso-

".

"Mas você não precisa. Você realmente não precisa. Você podia ficar aqui comigo.

Você podia ficar viva. Por Charlie. Por mim".

O motor da Mercedes de Carlisle ronronou; o ritmo do ronco se intensificou quando

Alice acelerou impacientemente.

Eu balancei minha cabeça, lágrimas saltando dos meus olhos com uma emoção

devastadora. Eu puxei meu braço, e ele não lutou comigo.

"Não morra, Bella", ele gaguejou. "Não vá. Não".

E se eu nunca mais visse ele?

O pensamento me afastou das lágrimas silenciosas, um soluço escapou do meu peito. Eu

joguei meus braços ao redor do seu tórax e o abracei por um momento curto demais,

enterrando o meu rosto molhado de lágrimas no peito dele. Ele colocou sua mão grande

na parte de trás do meu cabelo, como que pra me segurar lá.

"Adeus, Jake". Eu tirei a mão dele do meu cabelo, e beijei a palma dele. Eu não

consegui olhar para o rosto dele. "Me desculpe", eu cochichei.

Então eu me virei e corri para o carro. A porta do lado do passageiro estava aberta e me

esperando. Eu joguei minha mochila por cima do encosto de cabeça e entrei, batendo a

porta atrás de mim.

"Tome conta de Charlie", eu me virei pra gritar pela janela, mas Jacob não estava em

nenhum lugar á vista. Enquanto Alice acelerava e - com os pneus cantando como se

fossem gritos humanos - nos virava pra o lado da estrada, eu ví um pedaço de trapo

perto de onde começavam as árvores.

Um pedaço de sapato.

19. Ódio

Nós chegamos pra o nosso vôo com apenas segundos pra gastar, e então a tortura

começou. O avião ficou inativo no portão enquanto as comissárias de bordo - muito

casualmente - andavam pra cima e pra baixo no corredor, apalpando as bolsas nos

compartimentos pra ter certeza de que elas cabiam. Os pilotos se inclinavam pra fora da

cabine, conversando com elas enquanto elas passavam. Amão de Alice estava dura no

meu ombro, me segurando no ascento enquanto eu saltava ansiosamente pra cima e pra

baixo.

"Isso é mais rápido que ir correndo", ela me lembrou em uma voz baixa.

Eu só balancei a cabeça no ritmo dos meus pulos.

Enfim o avião se separava lentamente do portão aumentando a velocidade gradualmente

com uma estabilidade que me torturava ainda mais. Eu esperava sentir alguma espécie

de alívio quando finalmente começamos a decolar, mas o meu frenesí de impaciência

não cessou.

Alice levantou o telefone nas costas do ascento na frente dela assim que paramos de

subir, dando as costas para a comissária de bordo que olhou pra ela com um olhar de

desaprovação. Alguma coisa na minha expressão impedia a comissária de vir protestar.

Eu tentei não prestar atenção no que Alice estava murmurando pra Jasper; eu não queria

ouvir as palavras de novo, mas alguma coisa escapou.

"Eu não posso ter certeza, e fico vendo ele fazer coisas diferentes, ele fica mudando de

idéia... Uma matança pela cidade, atacando um guarda, levantando um carro por cima

da cabeça na praça principal... um monte de coisas que poderiam expor eles - ele sabe

que essa é a forma mais rápida de forçar uma reação..."

"Não, você não pode", a voz de Alice baixou até que já estava quase inaudível, apesar

de eu estar sentada a apenas alguns centímetros dela. Contrariada, eu prestei mais

atenção. "Diga a Emmett que não... Bem, vá atrás de Emmett e Rosalie e os traga de

volta... Pense nisso, Jasper. Se ele vir qualquer um de nós, o que você acha que ele vai

fazer?"

Ela balançou a cabeça. "Exatamente. Eu acho que Bella é a única chance - se houver

uma chance... Eu farei tudo o que puder ser feito, mas prepare Carlisle; as chances não

são boas".

Ela sorriu então, e havia um tom diferente na voz dela. "Eu pensei nisso... Sim, eu

prometo" A voz dela se tornou implorativa. "Não me siga. Eu prometo, Jasper. De um

jeito ou de outro, eu me viro... E eu te amo".

Ela desligou, e se inclinou no ascento dela com os olhos fechados. "Eu odeio mentir pra

ele."

"Me diga tudo, Alice", eu implorei. "Eu não entendo. Porque você disse a Jasper pra

parar Emmett, porque eles não podem vir nos ajudar?"

"Duas razões", ela cochichou, ainda com os olhos fechados. "A primeira eu disse pra

ele. Nós podemos tentar parar Edward sozinhas - se Emmett colocar as mãos em cima

dele, nós podemos ser capazes de pará-lo por tempo suficiente pra convencê-lo de que

você está viva. Mas não dá pra enganar Edward. Se eles vir qualquer um de nós se

aproximando, ele simplesmente vai agir muito mais rápido.

Ele vai jogar um carro contra uma parede ou alguma coisa assim, e os Volturi vão

agarram ele.

"E tem a segunda razão é claro, a razão que eu não consegui dizer pra Jasper. Porque se

eles estiverem lá e os Volturi matarem Edward, eles vão lutar com eles. Bella", ela me

encarou e abriu os olhos, suplicando. "Se houvesse alguma chance de nós vencermos...

se houvesse uma forma de nós quatro podermos lutar pra salvar o meu irmão, talvez

isso fosse diferente. Mas nós não podemos, e, Bella, eu não posso perder Japer desse

jeito".

Eu me dei conta do porque de os olhos dela estarem implorando pela minha

compreensão. Ela estava protegendo Jasper, á nossas custas, e talvez as custas de

Edward também. Eu entendí, e não pensei mal dela. Eu balancei a cabeça.

"Contudo, será que Edward não poderia ouvir seus pensamentos?", eu perguntei. "Ele

não ia saber, assim que ouvisse seus pensamentos, que eu estou viva, que não havia

necessidade pra isso?"

Não que isso fosse uma justificativa, de qualquer jeito. Eu ainda não acreditava que ele

fosse capaz de reagir dessa forma. Isso não fazia nenhum sentido! Eu me lambrava com

dolorosa clareza das suas palavras naquele dia no sofá, enquanto nós assistíamos Romeu

e Julieta se matarem. Eu não ia viver sem você, ele havia dito, como se isso fosse uma

coclusão muito óbvia. Mas as palavras que ele havia dito na floresta quando ele me

deixou haviam cancelado essa coisa toda - forçadamente.

"Se ele estivesse ouvindo", ela explicou. "Mas acredite ou não, é possível mentir em

pensamento. Se você tivesse morrido, eu ainda tentaria impedir ele. E eu estaria

pensando 'Ela está viva, ela está viva' o máximo que eu pudesse. Ele sabe disso".

Eu tranquei os dentes com uma frustração muda.

"Se houvesse uma forma de fazer isso sem você, Bella, eu não estaria te colocando em

risco dessa forma. É muito errado da minha parte".

"Não seja estúpida. Eu sou a última coisa com a qual você deve se preocupar". Eu

balancei a cabeça impacientemente. "Me diga o que você quis dizer quando disse que

odiava mentir pra Jasper".

Ela deu um sorriso tímido. "Eu prometí a ele que ia me mandar antes que eles me

matassem também. Não é uma coisa que eu posso garantir - não por muito tempo". Ela

ergueu as sobrancelhas, como se estivesse desejando que eu levasse o perigo mais a

sério.

"Quem são esses Volturi?", eu quis saber em um suspiro. "O que os torna tão mais

perigosos do que Emmett, Jasper, Rosalie e você?", era difícil imaginar uma coisa mais

assustadora do que isso.

Ela respirou fundo, e então abruptamente deu uma olhada obscura por cima do meu

ombro. Eu me virei a tempo de ver um homem sentado na poltrona ao lado se virando

como se estivesse nos escutando. Ele aparentava ser um homem de negócios, em um

terno escuro e uma gravata poderosa e um laptop nos joelhos. Enquanto eu o encarava

irritada, ele abriu o computador e muito notavelmente colocou fones de ouvido.

Eu me inclinei pra mais perto de Alice. Os lábios dela estavam no meu ouvido enquanto

ela cochichava a história.

"Eu estava surpresa por você ter reconhecido o nome", ela disse. "Que você tenha

reconhecido tão imediatamente o que ele significava - quando eu disse que ele estava

indo para a Itália. Eu pensei que fosse ter que explicar. O quanto Edward te contou?"

"Ele só disse que eles era uma família antiga, poderosa - como a realeza. Que você não

devia chateá-los a menos que você quisesse... morrer". Eu sussurrei. Essa última palavra

foi difícil de botar pra fora.

"Você precisa entender", ela disse, com a voz lenta, mais comedida agora. "Nós Cullen

somos únicos em mais maneiras do que você imagina. É... anormal tantos de nós

vivendo juntos e em paz. Isso é o mesmo para a família de Tânia vivendo no norte, e

Carlisle especula que a nossa abstinência facilita a nossa civilização, de forma que os

nossos laços são mais de amor do que de sobrevivência ou de conveniência. Mesmo o

pequeno grupo de três de James era extraordinariamente grande - e você viu como foi

fácil pra Laurent abandoná-los. A nossa espécie viaja sozinha, ou em pares, como se

fosse uma regra geral. A família de Carlisle até onde eu sei é a maior em existência,

com uma excessão. Os Volturi.

"Haviam três deles originalmente, Aro, Caius, e Marcus".

"Eu ví eles", eu murmurei. "Numa tela na sala de estudos de Carlisle".

Alice balançou a cabeça. "Duas fêmeas se juntaram a eles com o tempo, e eles cinco

formavam a família. Eu não tenho certeza, mas eu acho que é a idade deles que dá a eles

a habilidade de viverem juntos e em paz. Eles todos têm mais de trezentos anos. Ou

talvez sejam os dons deles que os dá tolerância extra. Como Edward e eu, Aro e Marcus

são... talentosos".

Ela continuou antes que eu pudesse perguntar. "Ou talvez seja apenas o amor deles por

poder que os mantêm unidos. Realeza é uma descrição apta".

"Mas se só são cinco -"

"Cinco que formam a família", ela me corrigiu. "Isso não inclui os guardas".

Eu respirei fundo. "Isso parece... sério".

"Oh, e é", ela me assegurou. "Haviam nove membros da guarda que eram permanentes,

da última vez que ouvimos falar. Os outros são mais... transitórios. Isso muda. E muitos

deles tem dons também - com dons formidáveis, que fazem os meus parecerem um

truque de circo. Os Volturi os escolhem pelas suas habilidades, físicas ou de outra

espécie".

Minha boca se abriu, e depois se fechou de novo. Eu acho que não queria muito saber

quanto as nossas chances eram ruins.

Ela balançou a cabeça de novo, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.

"Eles não se envolvem em muitos confrontos. Ninguém é estúpido o suficiente pra se

meter com eles. Eles ficam na cidade deles, e só saem quando o dever os chama".

"O dever?", eu imaginei.

"Edward não te disse o que eles fazem?"

"Não", eu disse, sentindo o meu rosto branco como papel.

Alice olhou por cima da minha cabeça de novo, para o homem de negócios, e colocou

seus lábios gelados no meus ouvido de novo.

"Há uma razão pela qual ele os chamou de realeza... as regras de governo. Através do

milênio, eles assumiram a posição de forçar as nossas regras - que na verdade,

traduzindo significa que eles punem os transgressores. Eles cumprem esse dever

decisivamente".

Meus olhos se arregalaram com o choque. "Existem regras?" Eu perguntei numa voz

que era alta demais.

"Shh!"

"Será que alguém não devia ter mencionado isso pra mim antes?" eu cochichei

raivosamente. "Quer dizer, eu queria ser uma... ser uma de vocês! Será que alguém não

devia ter explicado as regras pra mim?"

Alice gargalhou uma vez com a minha reação. "Não é tão complicado, Bella. Só há um

caroço de restrição - e se você pensar nisso, você provavelmente vai descobrir qual é

sozinha".

Eu pensei nisso. "Não. Eu não faço idéia".

Ela balançou a cabeça, desapontada. "Talvez seja óbvio demais. Nós só temos que

manter a nossa existência em segredo".

"Oh", eu murmurei. Era óbvio.

"Faz sentido, e a maioria de nós não precisa ser policiada", ela continuou.

"Mas, depois de alguns séculos, ás vezes um de nós fica de saco cheio. Ou louco. Eu

não sei. E aí os Volturi se intrometem antes que comprometam eles, ou o resto de nós..."

"Então Edward..."

"Está pretendendo desconsiderar isso na cidade deles - a cidade que eles têm protegido

secretamente por trezentos anos, desde o tempo dos etruscos. Eles protegem tanto

aquela cidade que não permitem que haja caça dentro de seus limites. Volterra é

provavelmente a cidade mais segura do mundo - pelo menos de ataques de vampiros".

"Mas você disse que eles não saem. Como é que eles saem?"

"Eles não saem. Eles trazem a comida deles de fora, de bem longe as vezes. Isso dá aos

guardas deles alguma coisa pra fazer quando eles não estão aniquilando aves. Ou

protegendo Volterra da exposição..."

"De situações como essa, como Edward", eu terminei a frase dela. Era incrivelmente

fácil dizer o nome dele agora. Eu não tinha a certeza de qual era a diferença. Talvez

fosse porque eu não estivesse planejando viver mais muito tempo sem ver ele. Ou sem

vê-lo absolutamente, se fosse tarde demais. Era reconfortante saber que eu podia acabar

facilmente com as coisas.

"Eu duvido que eles já tenham tido que lidar com uma situação como essa", ela

murmurou, enojada. "Você não encontra muitos vampiros suicidas por aí".

O som que escapou da minha boca era muito baixo, mas Alice pareceu compreender

que era um choro de dor. Ela passou o seu braço magro, forte ao redor do meus ombros.

"Nós faremos o que pudermos, Bella. Ainda não está acabado".

"Ainda não". Eu deixei ela me confortar, apesar de saber o quanto as chances eram

pequenas. "E os Volturi vão nos pegar se estrarmos as coisas".

Alice enrigeceu. "Você diz isso como se fosse uma coisa boa".

Eu levantei os ombros.

"Sai dessa, Bella, se não a gente desce em Nova York e eu te levo de volta pra Forks"

"O que?"

"Você sabe o que. Se chegarmos tarde demais pra Edward, eu vou fazer o máximo que

puder pra te levar de volta pra Charlie, e eu não quero ter problemas com você. Você

entendeu isso?"

"Claro, Alice".

Ela se afalstou um pouquinho pra que pudesse me olhar. "Nada de problemas".

"Palavras de escoteira", eu murmurei.

Ela revirou os olhos.

"Deixe eu me concentrar, agora. Eu estou tentando ver o que ele está planejando".

Ela deixou o braço ao meu redor, mas a cabeça dela encostou no ascento e ela fechou os

olhos. Ela pressionou a mão livre no lado do rosto, esfregando as pontas dos dedos nas

têmporas.

Eu observei ela fascinadamente por algum tempo.

Eventualmente, ela ficou extremamente imóvel, o rosto dela parecia uma escultura de

mármore. Os minutos se passaram, e se eu não soubesse melhor, eu acharia que ela

havia pego no sono. Eu não me atrevi a interrompê-la pra perguntar o que estava

acontecendo.

Eu desejei que houvesse uma coisa segura pra eu pensar. Eu não podia me permitir a

pensar nos horrores que estavam á frente, ou, mais horroroso ainda, na chance de que

pudessemos falhar - eu não podia pensar nisso se quisesse me impedir de gritar.

Eu também não podia antecipar nada. Talvez, se tivessemos muita, muita, muita sorte,

nós seriamos de alguma forma capazes de salvar Edward. Mas eu não era tão estúpida a

ponto de pensar que salvar ele significava que eu ficaria com ele. Isso não era diferente,

nenhum pouco mais especial do que era antes. Não havia nenhum motivo pra ele me

querer agora. Ver ele e perdê-lo de novo...

Eu lutei contra a dor. Esse era o preço que eu tinha que pagar para salvar a vida dele. E

eu ia pagar.

Ele passaram um filme, e o meu vizinho colocou os fones. As vezes eu olhava as figuras

se movendo na pequena tela, mas eu nem podia dizer se o filme era de romance ou de

terror.

Depois de uma eternidade, o avião começou a descer na direção da cidade de Nova

York. Alice permaneceu no seu transe. Eu me arrepiei, me aproximando para tocá-la, só

pra colocar minha mão de volta. Isso aconteceu uma dúzia de vezes antes que o avião

tocasse o chão com um leve impacto.

"Alice", eu finalmente disse. "Alice, temos que ir".

Eu toquei o braço dela.

Seus olhos se abriram muito lentamente. Ela balançou a cabeça lentamente de um lado

pro outro por um momento.

"Algo novo?", eu perguntei numa voz baixa, consciente do homem que estava ouvindo

do meu lado.

"Não extamente", ela respirou numa voz que eu mal conseguí entender.

"Ele está chegando perto. Ele está decidindo como vai pedir".

Nós tivemos que correr pra pegar o próximo vôo, mas isso foi bom - melhor que ter que

esperar.

Assim que o avião estava no ar, Alice fechou os olhos e deslizou para aquele mesmo

estado de letargia de antes. Eu esperei tão pacientemente quanto pude. Quando já estava

escuro de novo, eu abri a janela pra olhar pra o escuro lá fora que não era nenhum

pouco melhor do que quando a janela estava fechada.

Eu estava agradecida por ter tido tanto tempo pra praticar com os controles dos meus

pensamentos. Ao invés de duelar com as horríveis possibilidades de que, não importava

o que Alice disesse, eu não ia sobreviver, eu me concentrei em problemas menores.

Como, o que eu ia dizer pra Charlie quando eu voltasse. Isso era problemático o

suficiente pra me ocupar algumas horas. E Jacob? Ele havia prometido esperar por mim,

mas será que essa promessa ainda estava de pé? Será que eu ia acabar sozinha em minha

casa em Forks, sem absolutamente ninguém? Talvez eu não quisesse sobreviver,

independente do que acontecesse.

Parecia que só haviam se passado alguns segundos quando Alice balançou num ombro -

eu não me dei conta de que havia caído no sono.

"Bella", ela assobiou, a voz dela um pouco alta demais numa cabine escura cheia de

humanos adormecidos.

Eu não estava desorientada - eu não estive dormindo por tempo suficiente pra isso.

"Qual o problema?"

Os olhos de Alice brilhavam na luz fraca de uma luz acesa na fileira atrás da nossa.

"Não é errado", ela sorriu impetuosamente. "Eles estão deliberando, mas eles decidiram

dizer não".

"Os Volturi?", eu eu murmurei, confusa.

"É claro, Bella, me acompanhe. Eu consigo ver o que els vão dizer".

"Me diga".

Um atendente veio na ponta dos pés pelo corredor até nós. "Posso pegar um travesseiro

para as senhoritas?", ele disse com um cochicho que era uma repreensão em

comparação com a nossa conversa alta.

"Não, obrigada", Alice brilhou pra ele, com um sorriso chocantemente amável. A

expressão do atendente estava deslumbrada quando ele se virou e foi tropeçando de

volta para o seu lugar.

"Me diga", eu respirei quase silenciosamente.

Ela sussurrou no meu ouvido. "Eles estão interessados nele - eles acham que o talento

dele pode ser útil. Eles vão oferecê-lo um lugar com eles".

"O que ele vai dizer?"

"Isso eu ainda não sei dizer, mas eu aposto que vai ser mal educada" ela riu de novo.

"Essas são as primeiras boas notícias - o primeiro intervalo. Eles estão intrigados; eles

realmente não querem destruí-lo - 'desperdício' essa é a palavra que Aro vai usar - e isso

deve ser o suficiente pra forçá-lo a ser criativo. Quanto mais tempo ele gastar me seus

planos, melhor pra nós".

Isso não era o suficiente pra me deixar esperançosa, pra me fazer sentir o alívio que ela

obviamente sentia. Ainda existem tantas formas de nois atrasarmos. E se eu não

conseguisse entrar na cidade dos Volturi, eu não seria capaz de impedir que Alice me

arrastasse de volta pra casa.

"Alice?"

"O que?"

"Eu estou confusa. Como é que você está vendo isso tão claramente? E depois outras

vezes, você vê coisas tão distantes - coisas que não acontecem".

Os olhos dela se estreitaram. Eu me perguntei se ela havia adivinhado o que eu estava

pensando.

"É claro porque é próximo e imediato, e eu realmente estou me concentrando. As coisas

mais distantes que acontecem por sí próprias - essas são só suposições, meros talvez.

Além do mais, eu enxergo a minha espécie muito mais claramente do que a sua. Edward

é mais fácil porque eu estou tão ligada a ele".

"Você me vê as vezes", eu lembrei ela.

Ela balançou a cabeça. "Não tão claramente".

Eu suspirei.

"Eu realmente queria que você estivesse certa sobre mim. No começo, quando você viu

coisas sobre mim, mesmo antes de termos nos conhecido..."

"O que você quer dizer?"

"Você viu eu me tornar uma de vocês", eu mal murmurei as palavras.

Ela suspirou. "Era uma possibilidade naquela época".

"Naquela época", eu repetí.

"Na verdade, Bella", ela hesitou, e depois pareceu fazer uma escolha. "Honestamente,

eu acho que isso é mais que ridículo. Eu estou debatendo a idéia de eu mesma

transformar você".

Eu olhei pra ela, congelada pelo choque. Instantemente, minha mente registrou as

palavras dela. Eu não podia me dar ao luxo de ter esperanças caso ela mudasse de idéia.

"Eu te assustei?", ela imaginou. "Eu pensei que era isso que você queria".

"Eu quero!", eu asfixiei. "Oh, Alice, faça isso agora! Eu podia te ajudar tanto - e assim

eu não ia te atrapalhar. Me morda!"

"Shh!", ela precaviu. O atendente estava olhando na nossa direção de novo. "Tente ser

razoável", ela sussurrou. "Nós não temos tempo suficiente. Nós temos que chegar em

Volterra até amanhã. Você ficaria se contorcendo de dor por dias". Ela fez uma cara. "E

eu não acho que os outros passageiros iam reagir bem".

Eu mordí meu lábio. "Se você não fizer isso agora, você vai mudar de idéia".

"Não", ela fez uma carranca, a expressão infeliz. "Eu não acho que vou. Ele vai ficar

furioso, mas o que é que ele vai poder fazer?"

Meu coração bateu mais rápido. "Absolutamente nada".

Ela sorriu baixinho, e depois suspirou. "Você tem muita fé em mim, Bella. Eu não tenho

muita certeza de que posso. Eu provavelmente vou acabar te matando".

"Eu vou me arriscar".

"Você é muito bizarra, mesmo pra uma humana".

"Obrigada".

"Oh bem, isso é puramente hipotético até esse ponto, afinal. Primeiro nós temos que

sobreviver a amanhã".

"Bem lembrado". Mas pelo menos eu podia ter esperança de alguma coisa se

sobrevivêssemos.

Se Alice cumprisse a sua promessa - e não acabasse me matando - então Edward

poderia correr atrás de suas distrações o quanto ele quisesse, e eu poderia seguir. Eu não

deixaria ele se distrair. Talvez, quando eu fosse linda e forte, ele nem quisesse

distrações.

"Volte a dormir", ela me encorajou. "Eu te acordo quando houver algo novo".

"Certo", eu rosnei, certa de que dormir era uma causa perdida agora.

Alice puxou as pernas pra cima do ascento, agarrando elas com os braços e encostando

a testa nos joelhos. Ela se balançava pra frente e pra trás enquanto se concentrava.

Eu descansei minha cabeça no ascento, observando ela, e a próxima coisa que eu soube,

ela estava fechando cortina para o leve brilho do sol lá fora.

"O que está acontecendo?" eu murmurei.

"Eles disseram não pra ele", ela disse baixinho. Eu notei que todo o seu entusiasmo

havia desaparecido.

Minha voz ficou estrangulada na minha garganta com o pânico. "O que ele vai fazer?"

"Era muito caótico no início. Eu só estava pegando umas partes, ele estava mudando de

plano tão rapidamente".

"Que tipo de planos?", eu pressionei.

"Houve uma hora ruim", ela sussurrou. "Ele decidiu que ia caçar".

Ela olhou pra mim, vendo a compreensão nos meus olhos.

"Na cidade", ela explicou. "Ele chegou muito perto. Ele mudou de idéia no último

minuto".

"Ele não ia querer desapontar Carlisle", eu murmurei. Não no final.

"Provavelmente", ela concordou.

"Vai haver tempo suficiente?" Enquanto eu falava, houve uma mudança na pressão da

cabine. Eu podia sentia o avião se preparando pra aterissar.

"Eu estou esperando que sim - se ele continuar com a última decisão, pode ser".

"O que foi?"

"Ele vai se manter simples. Ele só vai caminhar no sol".

Só caminhar no sol. Isso era tudo.

Isso seria o suficiente. A imagem de Edward na clareira - brilhando, cintilando como se

a pele dele fosse feita de milhões de diamantes - estava gravada na minha memória.

Nenhum humano que visse aquilo iria esquecer. Os Volturi não iam permitir isso.

Não se eles quisessem manter a cidade acima de qualquer suspeita.

Eu olhei para o leve brilho cinza que brilhava através das janelas abertas. "Chegaremos

tarde demais", eu sussurrei, minha garganta se fechando de pânico.

Ela balançou a cabeça. "Messe meomento, ele está se inclinando para o melodrama. Ele

quer o maior público possível, então ele vai escolher a praça principal, embaixo da torre

do relógio. As paredes de lá são altas. Ele vai esperar para que o sol esteja bem

centrado".

"Então temos até o meio dia?"

"Se tivermos sorte. Se ele permanecer com essa decisão".

O piloto apareceu no intercomunicador, anunciando, primeiro em Francês, depois em

Inglês, a nossa aterissagem eminente. As luzes dos avisos dos cintos de segurança

tocaram e piscaram.

"Qual é a distância entre Florença e Volterra?"

"Isso depende da velocidade que você dirige... Bella?"

"Sim?"

Ela me olhou especulativamente. "O quanto você se opõe a roubar um carro?"

Um Porshe amarelo brilhante nos chamou a atenção á alguns passos de onde estávamos.

A palavra TURBO estava pregada em letras prateadas na parte de trás. Todo mundo

além de mim na calçada cheia do aeroporto parou pra olhar.

"Corre, Bella!", Alice gritou impacientemente pela janela aberta do passageiro.

Eu corrí para a porta e me joguei pra dentro, sentindo que eu podia muito bem estar

usando uma meia clça preta na cabeça.

"Nossa, Alice", eu reclamei. "Será que você poderia escolher um carro mais suspeito

pra roubar?"

O interior era de couro preto, e as janelas eram de fumê escuro. Eu me sentí mais segura

do lado de dentro, como se fosse noite.

Alice já estava se movendo, rápido demais, pelo engarrafamento no aeroporto -

passando por espaços muito pequenos enquanto eu me procurava e apertava o meu cinto

de segurança.

"A pergunta importante", ela corrigiu. "É se eu não podia ter roubado um carro mais

rápido, e eu não acho que poderia. Eu tive sorte".

"Eu tenho certeza de que ele será muito confortável se houver algum obstáculo na

estrada".

Ela vibrou com uma risada. "Confie em mim, Bella. Se algum colocar algum obstáculo

na pista, será depois que passarmos". Ela pisou no acelerador nessa hora, como se fosse

pra provar a teoria dela.

Eu provavelmente devia ter olhado pela janela pra ver as cidades de Florença e depois

de Toscana passavam por nós com uma velocidade incrível. Essa era a minha primeira

visita aqui, e talvez fosse a última também. Mas Alice na direção me assustava, apesar

do fato de eu saber que podia confiar nela atrás do volante.

Eu eu estava muito torturada com a ansiedade pra realmente ver as colinas ou as cidades

amuradas que pareciam com castelos á distância.

"Você vê algo mais?"

"Tem alguma coisa acontecendo", Alice murmurou. "Algum tipo de festival. As ruas

estão cheias de pessoas e bandeiras vermelhas. Que data é hoje?"

Eu não tinha inteiramente certeza. "Dezenove, talvez?"

"Bem, isso é irônico. Hoje é dia de São Marcos".

"Que significa?"

Ela gargalhou obscuramente. "A cidade faz uma celebração todo ano. Até onde a lenda

conta, um Cristão missionário, um Padre Marcus - Marcus de Voltun, na verdade -

expulsou os vampiros de Volterra a quinhentos anos atrás. A história diz que ele virou

mártir na Romênia, ainda tentando expulsar a corja dos vampiros. É claro que isso é

tudo bobagem- ele nunca deixou a cidade. Mas é daí que vêm as superstições sobre

cruzes e alho. O Padre Marcus usou eles e teve tanto sucesso. E os vampiros não

incomodam Volterra, então eles devem funcionar", o sorriso dela sardônico. "Isso se

tornou uma celebração para a cidade, e ganhou o reconhecimento da força policial -

afinal, Volterra é uma cidade extremamente segura. É a polícia quem leva o crédito".

Eu estava me dando conta do que ela quis dizer quando disse irônico. "Eles não vão

ficar muito felizes se Edward estragar a coisa toda do Dia de São Marcus, vão?"

Ela balançou a cabeça, sua expressão severa. "Não. Eles vão agir rapidamente".

Eu desviei os olhos, lutando contra os meus dentes quando eles começaram a tentar

arrebentar a pele do meu lábio inferior. Sangrar não era a melhor idéia agora.

O sol estava aterrorizadamente alto, no pálido céu azul.

"Ele ainda está no plano de meio dia?", eu chequei.

"Sim. Ele deciciu esperar. E eles estão esperando por ele".

"Me diga o que eu tenho que fazer".

Ela manteve os olhos na estrada - a agulha do medidor de velocidade já estava

alcansando o máximo da capacidade.

"Você não tem que fazer nada. Ele só tem que ver você antes de andar para a luz. E ele

tem que ver você antes que ele me veja".

"Como é que vamos fazer isso?"

Um pequeno carro vermelho parecia estar andando pra trás quando Alice o ultrapassou.

"Eu vou te levar até o mais próximo possível, e depois você vai correr na direção que eu

te apontar".

Eu balancei a cabeça.

"Tente não tropeçar", ele adicionou. "Nós não temos tempo para uma concussão hoje".

Eu gemí. Isso seria a minha cara - arruinar tudo, destruir o mundo, em um momento de

trapalhadas.

O sol continuou a subir no céu enquanto Alice corria contra ele. Ele estava brilhando

demais, e isso me fez entrar em pânico. Talvez no fim das contas ele não visse

necessidade em esperar até o meio dia.

"Ali", Alice disse abruptamente, apontando para o castelo no topo da colina mais

próxima.

Eu olhei pra ele, sentindo a primeira pontada do meu novo tipo de medo. Todos os

minutos desde ontem de manhã - parecia ter se passado uma semana - quando Alice

falou o nome dele no pé da escada, só houve um medo. E ainda assim, agora, enquanto

eu olhava para aquelas paredes ansiãs e para as torres se equilibrando no topo das

colinas, eu sentí outro, uma espécie mais egoísta de alegria passou por mim.

Eu achei que a cidade era muito bonita. Isso me deixou aterrorizada.

"Volterra", Alice disse numa voz vazia, gelada.

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