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cap. 12 ao 15

 

 

 

 

 

 

 

 

 

12. Intruso

Meus olhos se abriram com o medo, apesar de eu estar tão exausta e confusa, que eu

nem tinha certeza se estava acordada ou dormindo.

Alguma coisa arranhou a minha janela de novo com o mesmo barulho alto, fino.

Confusa e lerda com o sono, eu me arrastei pra fora da cama e fui para a janela,

piscando no caminho com as lágrimas que permaneceram nos meus olhos.

Uma enorme sombra escura se moveu erraticamente do lado de fora da minha janela, se

lançando na minha diração como se fosse se jogar pra dentro. Eu me inclinei pra trás,

aterrorizada, minha garganta se preparando pra gritar.

Victória.

Ela veio pra me pegar.

Eu estava morta.

Charlie também não!

Eu engolí o grito. Eu teria que me manter quieta ao passar por isso.

De alguma forma. Eu tinha que evitar que Charlie viesse investigar...

E aí uma voz familiar, rouca chamou vinda da figura escura.

"Bella", ele assobiou. "Ouch! Droga, abra a janela! OUCH!"

Eu levei dois segundos pra me livrar do horror antes de conseguir me mexer, mas

depois eu corri para a janela e abri o vidro. As nuvens deixava uma luz fraca passar por

entre elas, luz suficiente pra que eu pudesse identificar as formas.

"O que é que você está

 

fazendo?

", eu asfixiei.

Jacob estava se pendurando cuidadosamente no topo da árvore que crescia no meio do

pequeno quintal na frente da casa de Charlie.

O peso dele havia feito a árvore se curvar na direção da casa e agora ele estava se

balançando - as suas pernas estavam se balançando a vinte metros do chão - a menos de

um metro de mim.

Os galhos finos no topo da árvore arranharam o lado da casa de novo fazendo um

barulho agudo.

"Eu estou tentando manter" - ele bufou, inclinando seu peso enquanto o topo da árvore

balançava com ele - "minha promessa".

Eu pisquei com os meus olhos molhados e turvos, e de repente eu tinha certeza de que

estava sonhando.

"Quando foi que você prometeu se matar caindo de uma árvore na frente da casa da

Charlie?"

Ele bufou, sem se diverit, balançando as pernas pra manter o equilibrio.

"Saia do caminho", ele ordenou.

"Como é?"

Ele balançou as pernas de novo, pra frente e pra trás, aumentando o ritmo. Foi aí que eu

me dei conta do que ele estava tentando fazer.

"Não, Jake!"

Mas eu me desviei para o lado, porque já era tarde demais.

Com um grunhido, ele se lançou em direção a minha janela aberta.

Outro grito se construiu na minha garganta enquanto eu esperava que ele caísse para a

morte - ou pelo menos que ele se machucasse quando caísse. Pra meu choque, ele se

balançou agilmente pra dentro do meu quarto, aterrisando nos calcanhares com um

estrondo baixo.

Nós dois olhamos para a porta automaticamente, segurando a respiração, esperando pra

ver se o barulho havia acordado Charlie.

Mais um breve momento se passou em silêncio, e depois nós ouvimos o som abafado do

ronco de Charlie.

Um grande sorriso atravessou o rosto de Jacob; ele parecia extramamente agradado

consigo mesmo. Aquele não era o sorriso que eu conhecia e amava - era um sorriso

novo, um que era mais uma piada ácida da sua antiga sinceridade, no novo rosto que

pertencia a Sam.

Isso era um pouco demais pra mim.

Eu chorei até dormir por causa desse garoto. A rejeição dura dele havia feito um novo

buraco no que ainda restava do meu peito. Ele deixou um novo pesadelo pra trás dele,

como uma infecção num inchaço - um insulto depois do ultraje. E agora ele estava aqui

no meu quarto, sorrindo pra mim como se nada tivesse acontecido. Pior que isso,

mesmo a chegada dele tendo sido estranha e barulhenta, ela me lambrou do jeito como

Edward costumava se enfiar pela minha janela de noite, e essa lembrança cutucou

maldosamente nas minhas feridas não curadas.

Tudo isso, acumulado ao fato de que eu estava cansada feito um cão, não me deixou

com um homor muito amigável.

"Se manda!" eu assobiei, colocando tanto veneno no sussurro quanto pude.

Ele piscou, o rosto dele ficando apático com a surpresa.

"Não", ele protestou. "Eu vim pra me desculpar".

"Eu não aceito".

Eu tentei empurrá-lo de volta para a janela - afinal, se aquilo era um sonho, ele não ia se

machucar. Porém, foi inútil. Eu não o moví nem um centímetro. Eu baixei as mãos

rapidamente e me afastei dele.

Ele não estava usando uma camisa, apesar do vento que soprava pela janela ser frio o

suficiente pra m fazer tremer, eu não me senti cinfortável colocando as minhas mãos no

peito nu dele. A pele dele estava queimando de tão quente, como a sua cabeça estava da

última vez que eu o toquei. Como se ele ainda estivesse com febre.

Ele não parecia doente. Ele parecia enorme. Ele se inclinou pra mim, tão grande que ele

bloqueou a janela, com a língua presa pela minha reação furiosa.

De repente a coisa toda era mais do que eu podia aguentar - era como se todas as noites

que eu fiquei sem dormir estivessem se jogando em cima de mim juntas. Eu estava tão

brutalmente cansada que eu pensei que podia cair bem alí no chão. Eu balançava

instável, e lutava pra manter meus olhos abertos.

"Bella?", Jacob sussurrou ansiosamente. Ele agarrou meu cotovelo quando eu balancei

de novo, e me guiou de volta para a cama. Minhas pernas desistiram quando eu alcansei

a beira, e eu me deixei cair com tudo no colchão.

"Ei, você tá bem?", Jacob perguntou, a preocupação começou a crescer no rosto dele.

Eu olhei pra ele, as lágrimas ainda não haviam secado nas minhas bochechas. "Por que

motivo eu estaria bem, Jacob?"

A angústia foi substituída por um pouco de acidez no rosto dele.

"Certo", ele concordou, e respirou fundo. "Merda. Bem... Eu- Eu lamento muito, Bella".

As desculpas foram sinceras, sem dúvida, apesar de ainda haverem algumas pontas de

raiva espalhadas pelo rosto dele.

"Porque você veio aqui? Eu não quero desculpas de você, Jake".

"Eu sei", ele cochichou. "Mas eu não podia deixar as coisas do jeito que estavam essa

tarde. Aquilo foi horrível. Me desculpe".

Eu balancei minha cabeça cautelosamente. "Eu não entendo nada".

"Eu sei. Eu quero explicar -" Ele parou de repente, quase como se alguma coisa tivesse

cortado o ar dele. Então ele sugou o ar com força. "Mas eu não posso explicar", ele

disse ainda com raiva. "Eu queria poder".

Eu deixei minha cabeça cair nos meus braços. Minha pergunta saiu abafada pelo meu

braço. "Porque?"

Ele ficou quieto por um momento. Eu virei minha cabeça para o lado - cansada demais

pra segurá-la pra cima - pra ver a expressão dele.

Ela me surpreendeu. Os olhos dele estavam apertados, seus dentes trincados, a testa dele

enrrugada com o esforço.

"Qual o problema?", eu perguntei.

Ele exalou pesadamente, e eu me dei conta de que ele estava segurando a respiração

também. "Eu não posso fazer isso", ele murmurou, frustrado.

"Fazer o que?"

Ele ignorou minha pergunta. "Olha, Bella, será que você nunca teve um segredo que não

podia contar pra ninguém?"

Ele olhou pra mim com olhos sábios, e os meus pensamentos pularam imediatamente

para os Cullen. Eu esperava que a minha expressão não estivesse muito culpada.

"Alguma coisa que você sentia que tinha que esconder de Charlie, da sua mãe...?" ele

pressionou. "Uma coisa que você não falaria nem comigo? Nem mesmo agora?"

Eu sentí meus olhos se estreitarem. Eu não respondí a pergunta dele, apesar de saber

que ele consideraria isso uma confirmação.

"Será que você pode entender que talvez eu esteja na mesma... situação?" Ele estava

lutando de novo, parecendo batalhar pra encontrar as palavras certas. "As vezes a

lealdade fica no caminho das coisas que você quer fazer. As vezes, nem é o seu

segredo".

Então, eu não podia discutir com isso. Ele estava exatamente certo -eu tinha que guardar

um segredo que não era meu, e mesmo assim era um segredo que eu me sentia inclinada

a proteger. Um segredo sobre o qual, de repente, ele parecia saber tudo.

Eu ainda não via como isso se aplicava a ele, ou Sam, ou Billy. O que era isso pra eles,

agora que os Cullen haviam ido embora?

"Eu não sei o que você veio fazer aqui, Jacob, se você só faz enigmas ao invés de me

dar respostas".

"Me desculpe", ele sussurrou. "Isso é tão frustrante".

Nós olhamos para os rostos um do outro na escuridão por um longo momento, os dois

rostos sem esperanças.

"A parte que me mata", ele disse de repente. "É que você já sabe. Eu já te contei tudo".

"Do que é que você tá falando?"

Ele sugou o ar alarmado, e então se inclinou na minha direção, o rosto dele passou de

desesperançoso para brilhante de intensidade em um segundo. Ele me olhava

penetrantemente nos olhos, e a voz dele estava mais rápida e mais ansiosa. Ele falou as

palavras diretamente no meu rosto; o hálito dele era tão quente quanto sua pele.

"Eu acho que vejo um jeito de ajeitar as coisas - porque você já sabe disso, Bella! Eu

não posso te dizer, mas se você adivinhasse! Isso não estaria me envolvendo!"

"O que você quer que eu adivinhe? Adivinhar o que?"

"O meu segredo! Você consegue - você sabe a resposta!"

Eu pisquei duas vezes, tentando limpar minha cabeça. Eu estava tão cansada. Nada do

que ele dizia fazia sentido.

Ele viu minha expressão vazia, e o rosto dele ficou tenso com o esforço de novo.

"Caramba, deixa eu ver se consigo te ajudar", ele disse. O que quer que fosse que ele

estivesse tentando fazer, era muito difícil quando ele estava ofegando.

"Ajuda?", eu perguntei, tentando acompanhar. Minhas pálpebras queriam se fechar, mas

eu forcei elas a ficarem abertas.

"É", ele disse, respirando com força. "Como pistas".

Ele pegou meu rosto entre as suas mãos enormes e quentes demais e o segurou a apenas

alguns centímentros do seu. Ele me olhava nos olhos enquanto cochichava, como se

estivesse me comunicando algo além das palavras que dizia.

"Se lembra do dia em que nos conhecemos - na praia em La Push?"

"É claro que lembro".

"Me fale sobre ele".

Eu respirei fundo e tentei me concentrar. "Você me perguntou sobre a minha

caminhonete..."

Ele balançou a cabeça, com pressa de que eu continuasse.

"Nós falamos sobre o Rabbit..."

"Continue".

"Nós fomos andar pela beira da praia..." Minhas bochechas estavam ficando quentes

embaixo das mãos dele enquanto eu me lembrava, mas ele não ia reparar, de tão quente

que a pele dele era. Eu tinha pedido pra ele andar comigo, fletando com ele inaptamente

mas com sucesso, pra arrancar informações dele.

Ele estava balançando a cabeça, ansioso por mais.

Minha voz estava quase sem som. "Você me contou histórias assustadoras... lendas

Quileute".

Ele fechou os olhos e os abriu de novo. "Sim".

A palavra era tensa, fervente, como se ele estivesse á beira de alguma coisa vital. Ele

falou lentamente, tornando cada palavra distinta. "Você se lembra do que eu disse?"

Mesmo no escuro, ele deve ter sido capaz de ver a mudança na cor do meu rosto. Como

eu poderia esquecer aquilo? Sem se dar conta do que estava fazendo, Jacob me contou

exatamente o que eu queria saber naquele dia - que Edward era um vampiro.

Ele olhou pra mim com olhos que sabiam demais. "Pense bastante", ele me disse".

"Sim, eu me lembro", eu respirei.

Ele inalou com força, lutando. "Você se lembra de todas as histó-" ele não conseguiu

terminar a pergunta. A boca dele se abriu como se alguma coisa houvesse agarrado a

garganta dele.

"Todas as histórias?", eu perguntei.

Ele balançou a cabeça mudo.

Minha cabeça se agitou. Somente uma história me importava de verdade. Eu sabia que

ele havia me contado outras, mas eu não conseguia me lembrar do prelúdio

inconsequente, especialmente quando minha mente estava tão nublada de exaustão. Eu

comecei a mexer a cabeça.

Jacob grunhiu e pulou da cama. Ele pressionou os punhos na testa e respirou rápido e

com raiva. "Você sabe disso, você sabe disso", ele murmurou pra sí mesmo.

"Jake? Por favor, Jake, eu estou exausta. Eu não estou muito boa pra isso agora. Talvez

amanhã de manhã..."

Ele deu um respiro pra se acalmar e balançou a cabeça. "Talvez as coisas voltem pra

você. Eu acho que posso entender porque você só se lembra de uma história".

Ele acrescentou num tom sarcástico, ácido. Ele se sentou de volta no colchão perto de

mim. "Você se importa se eu fizer uma pergunta sobre isso?", ele perguntou, ainda

sarcástico. "Eu estive morrendo pra saber".

"Uma pergunta sobre o que?", eu perguntei cautelosamente.

"Sobre os vampiros da história que eu te contei".

Eu encarei ele com olhos reservados, incapaz de responder. Ele fez a pergunta do

mesmo jeito.

"Você honestamente não sabia?", ele me perguntou, sua voz ficando áspera. "Fui eu

quem te contou o que ele era?"

Como é que ele sabe disso? Porque ele havia resolvido acreditar, porque agora? Meus

dentes se apertaram. Eu o encarei de volta, sem nenhuma intenção de responder. Ele

podia ver isso.

"Está vendo o que eu disse sobre lealdade?", ele murmurou, ainda mais áspero agora. "É

o mesmo pra mim, só que pior. Você não pode imaginar o quanto eu estou envolvido..."

Eu não gostei disso - não gostei do jeito como os olhos dele se fecharam como se ele

estivesse sentindo dor quando falava no quanto estava envolvido. Mais que não gostar -

eu ma dei conta de que odiava isso, odiava qualquer coisa que o fizesse sentir dor.

Odiava ferozmente.

O rosto de Sam encheu minha mente.

Pra mim, isso tudo era essencialmente involuntário. Eu protegia o segredo dos Cullen

por amor; não correspondido, mas verdadeiro. Pra Jacob, isso não parecia ser o mesmo.

"Não há nenhum jeito de você se libertar?", eu sussurrei, tocando a beira áspera na parte

de trás do seu cabelo curto.

As mãos dele começaram a tremer, mas ele não abriu os olhos. "Não. Eu estou nisso pra

vida inteira. Uma sentença de vida". Uma risada vazia. "Mais longa, talvez".

"Não, Jake", eu gemí. "E se nós fugíssemos? Só você e eu. E se saíssemos de casa, se

deixarmos Sam pra trás?"

"Não é uma coisa da qual eu posso fugir, Bella", ele cochichou. "No entanto, eu fugiria

com você, se eu pudesse". Agora os ombros dele estavam tremendo também. Ele

respirou fundo. "Olha, eu tenho que ir".

"Porque?"

"Pra começar, parece que você vai desmaiar a qualquer segundo. Você precisa do seu

sono - você precisa recarregar suas pistolas. Você vai descobrir tudo, você precisa".

"E porque mais?"

Ele fez uma careta. "Eu vou ter que escapar - eu não tenho permissão de ver você. Eles

devem estar imaginando onde eu estou". A boca dele se contorceu. "Eu acho que devo ir

e contar pra eles".

"Você não precisa contar nada pra eles", eu assobiei.

"Mesmo assim, eu vou".

A raiva passou por mim com força. "Eu odeio eles"

Jacob olhou pra mim com os olhos arregalados, surpreso. "Não, Bella. Não odeie os

caras. Não é culpa de Sam e nem de nenhum dos outros. Eu já te disse antes - sou eu.

Sam é na verdade... bem, incrivelmente legal. Jared e Paul são ótimos também, apesar

de Paul ser meio... e Embry sempre foi meu amigo. Nada mudou aí - a única coisa que

não mudou. Eu realmente me sinto muito mal pelas coisas que eu costumava pensar

sobre Sam..."

"Sam é incrivelmente legal", eu olhei para ele sem acreditar, mas deixei passar.

"E então porque é que você não pode mais me ver?", eu quis saber.

"Não é seguro", ele murmurou, olhando pra baixo.

As palavras mandaram um arrepio de medo pelo meu corpo.

Ele sabia disso também? Ninguém sabia disso além de mim. Mas ele estava certo - era o

meio da noite, a hora perfeita para uma caçada. Jacob não devia estar aqui no meu

quarto. Se alguém viesse atrás de mim, eu tinha que estar aqui sozinha.

"Se eu achasse que era muito... muito arriscado", ele sussurrou. "Eu não teria vindo.

Mas, Bella", ele olhou pra mim de novo. "Eu te fiz uma promessa. Eu não tinha idéia de

que seria t~]ao difícil cumpri-la, mas isso não significa que eu não vá tentar".

Ele viu a incompreensão no meu rosto. "Depois daquele filme estúpido", ele me

lembrou. "Eu prometí que nunca te machucaria... Então eu realmente estraguei tudo essa

tarde, não foi?"

"Eu sei que não era a sua intenção, Jake. Está tudo bem".

"Obrigado, Bella", ele segurou minha mão.

"Eu farei todo o possível pra estar lá por você, assim como prometí". Ele sorriu pra mim

de repente. O sorriso não era meu, nem de Sam, mas uma estranha combinação dos

dois. "Ia ajudar muito se você pudesse descobrir isso sozinha, Bella. Se esforce muito

pra isso".

Eu fiz uma careta fraca. "Eu vou tentar".

"Eu vou tentar te ver logo" Ele suspirou. "E eles vão tentar me convencer a não vir".

"Não escute eles".

"Eu vou tentar". Ele balançou a cabeça como se duvidasse do seu sucesso. "Venha e me

diga assim que você descobrir". Alguma coisa ocorreu a ele nessa hora, alguma coisa

que fez as mãos dele tremerem. "Isso se... isso se você quiser".

"Porque eu não iria querer ver você?"

O rosto dele ficou duro e ácido. Aquele rosto pertencia cem porcento á Sam. "Oh, eu

posso pensar numa razão", ele disse num tom áspero. "Olha, eu realmente tenho que ir.

Você pode fazer uma coisa por mim?"

Eu só acenei com a cabeça, assustada pela mudança nele.

"Pelo menos me ligue - se não quiser me ver de novo. Me deixe saber se for assim".

"Isso não vai acontecer-".

Ele ergueu uma mão, me cortando. "Só me deixe saber".

Ele se levantou e foi para a janela.

"Não seja idiota, Jake", eu reclamei. "Você vai quebrar a perna. Use a porta. Charlie não

vai te pegar".

"Eu não vou me machucar", ele murmurou, mas se virou para a porta. Ele hesitou

enquanto passou por mim, me olhando com uma expressão como se alguma coisa

estivesse incomodando ele. Ele levantou uma mão, como se fosse uma declaração.

Eu peguei a mão dele, e de repente ele me puxou - com força demais - pra fora da cama

e para o peito dele.

"Só pela dúvida", ele murmurou no meu cabelo, me apertando num abraço de urso que

quase quebrou minhas costelas.

"Não consigo - respirar", eu asfixiei.

Ele me soltou imediatamente, mantendo uma mão na minha cintura pra que eu não

caísse. Ele me puxou, mais gentilmente dessa vez, de volta para a cama.

"Durma um pouco, Bells. Você precisa fazer sua cabeça trabalhar. Você precisa

entender. Eu não vou te perder, Bella. Não por isso".

Ele estava na porta num piscar de olhos, abrindo-a quietamente, e então desaparecendo

por ela. Eu escutei pra ouvir ele pisar no primeiro degrau da escada, mas não houve

nenhum som.

Eu fiquei na minha cama,com a cabeça rodando. Eu estava cansada demais, desgastada

demais. Eu fechei meus olhos, tentando entender o sentido de tudo aquilo, apenas pra

ser tragada pela inconsciência tão rapidamente que fiquei desorientada.

Não foi o sono em paz, sem sonhos que eu havia pedido - é claro que não. Eu estava na

floresta como sempre, e eu comecei a vagar como sempre fazia.

Eu rapidamente me dei conta de que esse não era o mesmo sonho de sempre. Pra

começar, eu não sentia a compulsão em continuar a minha procura; eu estava

siplesmente vagando por hábito, porque isso era geralmente o que se esperava de mim

aqui. Na verdade, essa não era nem a mesma floresta. O cheiro era diferente, e a luz

também.

Cheirava, não como o chão molhado das matas, mas como a brisa que vinha do oceano.

Eu não podia ver o céu; mas ainda assim, me pareceu que o sol estava brilhando - as

folhas acima eram de um verde brilhante cor de jade.

Essa era a floresta que havia em La Push - perto da praia que havia lá, eu tinha certeza

disso. Eu sabia que se encontrasse a praia, eu seria capaz de ver o sol, então eu me

apressei e segui em frente, seguinte o som fraco das ondas á distância.

E então Jacob estava lá. Ele agarrou minha mão, me puxando de volta para a parte mais

escura da floresta.

"Jacob, o que há de errado?", eu perguntei. O rosto dele era o rosto assustado de uma

criança, e o cabelo dele estava lindo de novo, colocado pra trás num rabo de cavalo,

bem acima da sua nuca.

Ele me puxava com toda a sua força, mas eu resistia; eu não queria ir para o escuro.

"Corra, Bella, você tem que correr!", ele sussurrou, aterrorizado.

A abrupta onda de deja vu foi tão forte que quase me acordou.

Agora eu sabia porque reconhecia esse lugar. Era porque eu já tinha estado lá antes, em

outro sonho. A um milhão de anos atrás, parte de uma vida inteiramente diferente. Esse

foi o sonho que eu tive na noite depois de ter passeado com Jacob na praia, na primeira

noite em que eu soube que Edward era um vampiro. Reviver aquele dia com Jacob deve

ter desenterrado essas memórias.

Destacada do sonho agora, eu esperei as coisas acontecerem. Uma luz estava vindo na

minha direção da praia.

Em apenas um momento, Edward sairia das árvores, a pele dele brilhando fracamente e

seus olhos pretos e perigosos. Ele me chamaria e sorriria. Ele estaria tão lindo quanto

um anjo, e seus dentes seriam apontados e afiados...

Mas eu estava ultrapassando a mim mesma. Alguma coisa tinha que acontecer antes.

Jacob soltou minha mão e ganiu. Tremendo e se contorcendo, ele caiu no chão á meus

pés.

"Jacob!", eu gritei, mas ele havia desaparecido.

Em seu lugar, havia um enorme lobo marrom avermelhado com olhos escuros,

inteligentes.

O sonho mudava de direção é claro, como um trem saindo dos trilhos.

Aquele não era o mesmo lobo com o qual eu havia sonhado na minha outra vida. Esse

era o grande lobo ruivo que havia ficado a meio metro de mim na clareira, a apenas uma

semana atrás.

Esse lobo era gigante, monstruoso, maior do que um urso.

O lobo olhou atentamente pra mim, tentando me dizer algo vital com seus olhos

inteligantes. Os olhos pretos amarronzados, os olhos familiares de Jacob Black.

Eu acordei gritando no limite dos meus pulmões.

Eu quase esperei que Charlie viesse me checar dessa vez. Esse não era o meu grito de

sempre. Eu cobri minha cabeça com o travesseiro pra tentar abafar a histeria que meus

gritos estavam criando dentro de mim. Eu apertei o algodão com força no meu rosto,

imaginando se de alguma forma eu não poderia abafar também a conexão que havia

acabado de fazer.

Mas Charlie não entrou, e eu eventualmente fui capaz de estrangular a estranha gritaria

saindo da minha garganta.

Eu me lembrava agora - todas as palavras que Jacob havia me dito naquela tarde na

praia, mesmo da parte antes de ele falar sobre "os frios". Especialmente aquela primeira

parte.

"Você sabe de alguma das nossas antigas histórias, sobre de onde viemos - os Quileute,

eu quero dizer?" ele perguntou.

"Na verdade não", eu respondí.

"Bem, existem muitas lendas, algumas delas datam da época da dilúvio - supostamente,

os anciões Quileute amarraram suas canoas no topo das árvores mais altas pra

sobreviver, como Noé e a arca."

Nessa hora ele sorriu pra demonstrar o quanto acreditava pouco nessas histórias. "Outra

lenda diz que nós somos descendentes dos lobos - e que os lobos ainda são nossos

irmãos. É contra a lei da tribo matar eles.

"E então tem as histórias sobre os frios".

A voz dele ficou um pouco mais baixa.

"Os frios?"

"Sim. Existem histórias sobre os frios tão velhas quanto as lendas dos lobos, e algumas

muito mais recentes. De acordo com a lenda, o meu próprio bisavô conheceu alguns

deles. Foi ele quem criou o acordo que os mantem fora da nossa terra". Jacob rolou os

olhos.

"Seu bisavô?"

"Ele era um líder tribal, como meu pai. Veja, os frios são naturalmente inimigos dos

lobos - bem, não dos lobos exatamente, mas dos lobos que se transformam em homens,

como nossos ancestrais.

Vocês os chamariam de lobisomens".

"Lobisomens têm inimigos?"

"Só um".

Havia alguma coisa presa na minha garganta, me sufocando. Eu tentei engolir, mas

estava preso lá, sem se mexer. Eu tentei cuspir.

"Lobisomem", eu asfixiei.

Sim, essa era a palavra que estava me sufocando.

O mundo inteiro sacudiu, girando do jeito errado no seu eixo.

Que espécie de lugar era esse? Será que realmente poderia existir um mundo onde

lendas ansiãs vagavam nas fronteiras das cidades pequenas, insignificantes, se

deparando com monstros míticos? Sera que absolutamente todos os contos de fadas

impossíveis eram de alguma forma presos na mais absoluta verdade?

Havia alguma coisa sã e normal, ou tudo era simplesmente mágica, histórias de

fantasmas?

Eu agarrei minha cabeça com as minhas mãos, tentando evitar que ela explodisse.

Uma voz pequena, seca atrás da minha cabeça me perguntava qual era o grande

problema. Eu já não tinha aceito a existência dos vampiros a tanto tempo atrás - e sem

ficar histérica?

Exatamente, eu queria gritar para aquela voz. Será que um mito já não era suficiente pra

qualquer um? Suficiente pra uma vida?

Além do mais, nunca houve sequer um momento em que eu não soubesse que Edward

Cullen era algo acima e além do normal. Eu não fiquei tão surpresa de descobrir o que

ele era, porque obviamente ele era alguma coisa.

Mas Jacob? Jacob, que era só Jacob, e nada além disso? Jacob, meu amigo? Jacob, o

único ser humano com o qual eu fui capaz de me relacionar...

E ele nem era humano.

Eu lutei contra a urgência de gritar de novo.

O que isso dizia sobre mim?

Eu sabia a respodta pra essa. Isso dizia que havia alguma coisa profundamente errada

comigo. Porque outro motivo minha vida estaria tão cheia de personagens de filmes de

terror? E porque outro motivo eu me importaria tanto ao ponto de meu peito ficar cheio

de buracos quando eles seguissem com os meus caminhos míticos?

Na minha cabeça, tudo rodava e mudava, se reestruturando de um jeito que as coisas

que um dia significaram alguma coisa, agora significavam algo mais.

Não havia nenhum culto. Nunca houve um culto, nunca houve uma gangue. Não, era

muito pior que isso. Era um bando.

Um bando de cinco lobisomens incrivelmente gigantes, multicoloridos, que havia

passado bem ao meu lado na clareira de Edward...

De repente, eu estava com uma pressa frenética. Eu olhei para o relógio - era cedo

demais e eu não me importava. Eu tinha que ir á La Push agora. Eu tinha que ver Jacob

pra que ele me disesse que eu não havia perdido a cabeça de uma vez por todas.

Eu me vestí com as primeiras roupas que conseguí encontrar, sem me importar em ver

se elas combinavam, e descí as escadas dois degraus de cada vez. Eu quase esbarrei com

Charlie enquanto corria pelo corredor, á caminho da porta.

"Onde você está indo?", ele me perguntou, tão surpreso por me ver quanto eu estava por

ver ele. "Você sabe que horas são?"

"É. Eu tenho que ir ver Jacob".

"Eu pensei que a coisa com Sam-"

"Isso não importa, eu tenho que ir falar com ele agora mesmo".

"É muito cedo". Ele fez uma careta quando a minha expressão não mudou. "Você quer o

café da manhã?"

"Não tô com fome", as palavras voaram dos meus lábios. Ele estava bloqueando meu

caminho para a saída. Eu considerei a idéia de me desviar dele e tentar sair correndo,

mas eu sabia que teria que explicar isso pra ele depois. "Eu vou voltar logo, Ok?"

Charlie fez uma careta. "Direto para a casa de Jacob, certo? Sem paradas no caminho?"

"É claro que não, onde é que eu ia parar?" Minhas palavras estavam saindo todas juntas

com a minha pressa.

"Eu não sei...", ele admitiu. "É só que... bem, houve outro ataque-os lobos de novo.

Dessa vez foi bem perto do resort, perto das piscinas quentes - houve uma testemunha

dessa vez. A vítima vítima só estava a doze metros da pista quando desapareceu. A

esposa dele viu um enorme lobo cinza apenas alguns minutos depois, enquanto ela

estava procurando por ele, e correu pra pedir ajuda".

Meu estômago semexeu como se eu tivesse batido num corvo numa montanha russa.

"Um lobo o atacou?"

"Não havia sinal dele - só um pouco de sangue de novo". O rosto de Charlie

demonstrava dor. "Os patrulheiros estão saindo armados, e levando voluntários

armados. Tem um monte de caçadores que estão loucos pra se envolver - tem uma

recompensa sendo paga pela carcaça de lobos. Isso significa que vão haver muitos

disparos na floresta, e isso me preocupa". Ele balançou a cabeça.

"Quando as pessoas ficam muito excitadas, acidentes acontecem..."

"Eles vão atirar nos lobos?"

Minha voz caiu uns três oitavos.

"O que mais podemos fazer? O que há de errado?", ele me perguntou, seus olhos tensos

examinando o meu rosto. Eu me sentí fraca; eu teve ter ficado mais branca do que o

normal. "Você não vai começar a abraçar as árvores, vai?"

Eu não consegui responder. Se ele não estivesse me observando, eu teria colocado

minha cabeça entre os joelhos. Eu havia esquecido sobre os mochileiros desaparecidos,

e sobre as pegadas com marcas de sangue... eu não havia conectado esses fatos ás

minhas realizações.

"Olha, querida, não deixe que isso te assuste. Só fique na cidade ou na estrada - sem

paradas - Ok?"

"Ok", eu repetí com uma voz fraca.

"Eu tenho que ir".

Eu olhei pra ele de perto pela primeira vez, e ví que ele estava com a arma amarrada na

cintura e as suas boras de caminhada nos pés.

"Você não vai atrás daqueles lobos, vai, pai?"

"Eu tenho que ajudar, Bells. As pessoas estão desaparecendo".

Minha voz gritou de novo, quase histérica agora. "Não! Não, não vá. É perigoso

demais!"

"Eu tenho que fazer meu trabalho, garota. Não seja tão pessimista - eu vou ficar bem".

Ele caminhou para a porta e a segurou aberta.

"Você não vai sair?"

Eu hesitei, meus estômago ainda dando cambalhotas desconfortáveis.

O que eu podia dizer pra pará-lo? Eu estava tonta demais pra pensar numa solução.

"Bells?"

"Talvez estaja cedo demais pra ir á La Push", eu sussurrei.

"Eu concordo", ele disse, e saiu para a chuva, batendo a porta atrás dele.

Assim que ele estava fora de vista, eu caí no chão e coloquei minha cabeça entre os

joelhos.

Será que eu devia ir atrás de Charlie? O que eu ia dizer?

E quanto a Jacob? Jacob era meu melhor amigo; eu precisava avisá-lo.

Se ele realmente fosse um - eu tremí e me forcei a pensar na palavra - lobisomem (e eu

sabia que era verdade, eu podia sentir), então as pessoas estariam atirando nele! Eu

precisava avisar ele e os seus amigos que as pessoas iam tentar matá-los se eles

continuassem correndo por aí como lobos gigantes. Eu precisava dizê-los pra parar.

Eles tinham que parar! Charlie estava lá na floresta. Será que eles se importariam com

isso? Eu imaginei...

Até agora, só estranhos haviam desaparecido. Isso significava alguma coisa, ou era só

uma conhecidência?

Eu precisava que Jacob, pelo menos, se importaria com isso.

De qualquer forma, eu tinha que avisá-lo.

Jacob era meu melhor amigo, mas ele era um monstro também? Um de verdade? Um

mal? Será que eu devia avisá-los se ele e os seus amigos fossem... fossem assassinos! Se

eles estivessem matando mochileiros inocentes a sangue frio?

Se eles realmente fossem criaturas dos filmes de terror em todos os sentidos, seria

errado protegê-los.

Era inevitável que eu comparasse Jacob e seus amigos aos Cullen. Eu passei meus

braços ao redor do peito, lutando com o buraco, enquanto pensava neles.

Eu não sabia nada sobre lobisomens, claramente. Eu tinha esperado alguma coisa mais

próximas dos filmes - criaturas que eram meio homens e cabeludos - se é que eu havia

esperado alguma coisa.

Então eu não sabia o que os fazia caçar, se era a fome ou a sede ou se era simplesmente

o desejo de matar. Era difícil julgar, sem saber dessas coisas.

Mas isso não podia ser pior do que o que os Cullen tinham que suportar na sua tentativa

de serem bons. Eu pensei em Esme - as lágrimas apareceram quando eu pensei em seu

rosto gentil, adorável- e em como, mesmo sendo maternal e amorosa como ela era, ela

teve que segurar o nariz, toda envergonhada, e correr de mim quando eu estava

sangrando. Não podia ser mais difícil do que isso. Eu pensei em Carlisle, nos séculos

após séculos que ele havia lutado pra se ensinar a ignorar o sangue, pra que assim

pudesse salvar vidas como médico. Nada poderia ser mais dificil do que isso.

Os lobisomens haviam escolhido um caminho diferente.

Agora, qual caminho eu devia escolher?

13. Assassino

Se fosse qualquer um menos Jacob

 

, eu pensei comigo mesma, balançando a cabeça

enquanto dirigia pela pista cercada de floresta á caminho de La Push.

Eu não tinha certeza que q estava fazendo a coisa certa, mas eu fiz uma compromisso

comigo mesma.

Eu não podia condenar o que Jacob e os seus amigos, o seu bando, estavam fazendo. Eu

entendia agora o que ele havia dito na noite passada - que eu podia nunca querer vê-lo

de novo - e eu podia ligá-lo como ele sugeriu, mas isso parecia covarde. Eu devia a ele

uma conversa cara a cara, pelo menos. Eu ia dizer na cara dele que não faria vista grossa

para o que estava acontecendo. Eu não podia ser amiga de um assassino e não dizer

nada, deixar a matança continuar... Isso me faria uma monstro também.

Mas eu também não podia

 

não

avisá-lo. Eu tinha que fazer o que podia para protegê-lo.

Eu parei na frente da casa dos Black com os lábios pressionados numa linha dura. Já era

ruim o suficiente que meu melhor amigo era um lobisomem. Será que ele tinha que ser

um monstro, também?

A casa estava escura, não haviam luzes nas janelas, mas eu não me importava de

acordá-los. Meu punho bateu na porta com a energia da raiva; o som ecoava nas

paredes.

"Pode entrar", eu ouví Billy chamar depois de um minuto, e uma luz se acendeu.

Eu girei a maçaneta; ela estava destrancada. Billy estava inclinado na abertura de uma

porta bem do lado de fora da cozinha, um roupão de banho nos ombros, ainda não

estava na sua cadeira. Quando ele viu quem era, seus olhos se arregalaram brevemente,

e depois seu rosto ficou estóico.

"Bem, bom dia, Bella. O que é que você está fazendo acordada tão cedo?"

"Oi, Billy. Eu preciso falar com Jake - onde ele está?"

"Umm... eu realmente não sei", ele mentiu, a cara dura.

"Você sabe o que Charlie está fazendo essa manhã?", eu quis saber, doente com tanta

enrrolação.

"Eu devia?"

"Ele e metade dos homens na cidade estão na floresta com armas, caçando lobos

gigantes".

A expressão de Billy mudou, e depois ficou vazia.

"Então eu gostaria de falar com o Jake sobre isso, se você não se importa", eu continuei.

Billy apertou seus lábios finos por um longo momento. "Eu aposto que ele ainda está

dormindo", ele finalmente disse, acenando com a cabeça em direção ao pequeno

corredor fora da sala. "Ele tem ficado fora até tarde esses dias. O garoto precisa de

descanso - provavelmente você não devia acordar ele".

"É minha vez", eu murmurei por baixo do fôlego enquanto me mandava pelo corredor.

Billy suspirou.

O pequeno armário que era o quarto de Jacob era o único quarto que havia no corredor.

Eu não me importei de bater. Eu abri a porta; ela bateu na parede com um estrondo.

Jacob - ainda usando apenas as calças pretas que estava usando na noite passada - estava

jogado na diagonal no beliche que tomava todo o espaço no seus quarto deixando

apenas alguns centímetros sobrando nas paredes. Mesmo sendo grande, ela não era

grande o suficiente; os pés dele ficavam de fora de um lado e a cabeça ficava de fora do

outro. Ele estava dormindo pesado, roncando suavemente com a boca aberta.

O som da porta não fez nem ele se mexer.

O rosto dele estava em paz com o sono pesado, todas as linhas de raiva haviam se

suavizado. Haviam círculos embaixo dos olhos dele que eu não havia notado antes. A

despeito de seu tamanho ridículo, ele parecia muito jovem agora, e muito cansado. A

piedade me chocou.

Eu dei um passou pra trás, e fechei a porta silenciosamente atrás de mim.

Billy me encarou com olhos curiosos, guardados enquanto eu caminhava lentamente de

volta pra sala de frente.

"Eu acho que vou deixar ele descansar".

Billy balançou a cabeça, e então ficamos olhando um para o outro por um longo

momento. Eu estava morrendo pra perguntar qual era parte dele em tudo isso.

O que ele achava que o filho dele havia se tornado? Mas eu sabia como ele defendia

Sam desde o início, então eu achava que os assassinatos não incomodavam ele. Como

ele justificava isso pra sí mesmo eu não tinha idéia.

Eu podia ver muitas perguntas pra mim nos seus olhos escuros, mas ele não fez

nenhuma.

"Olha", eu disse, quebrando o silêncio perturbador. "Eu vou ficar na praia por um

tempo. Quando ele acordar, diga que eu estou esperando por ele, Ok?"

"Claro, claro", Billy concordou.

Eu me perguntei se ele realmente diria. Bom, se ele não disesse, eu tentei, não foi?

Eu dirigi até a praia e estacionei no estacionamento vazio e sujo.

Ainda estava escuro - o pré- nascer do sol de um dia nebuloso - e quando eu desliguei

os faróis ficou difícil de enxergar. Eu deixei meus olhos se ajustarem antes de poder

encontrar a trilha que guiava pela alta cerca de ervas. Estava frio lá, com o vento vindo

das ondas pretas, e eu afundei minhas mãos no fundo dos bolsos da minha jaqueta de

inverno. Pelo menos a chuva havia parado.

Eu caminhei na praia no caminho da parede marinha do norte. Eu não conseguia ver St.

James e nem as outras ilhas, só a vaga forma da beira da água. Eu segui o meu caminho

cuidadosamente pelas rochas, prestando atenção em alguma onda que pudesse me

durrubar.

Eu encontrei o que estava procurando antes que eu me desse conta de que estava

procurando. Eu materializei por entre a neblina quando estava a apenas alguns metros

de distância: Uma longa árvore de salgueiro branca feito osso que estava enfiada no

fundo das rochas.

As raízes se entrelaçavam no mar, com centenas de pequenos tentáculos. Eu não podia

ter certeza de que essa era a mesma árvore onde Jacob e eu havíamos tido a nossa

primeira conversa - uma conversa que havia iniciado tantas linhas diferentes, enroladas

da minha vida - mas parecia ser o mesmo lugar. Eu sentei onde havia me sentado antes,

e olhei para o mar invisível.

Ver Jacob daquele jeito - inocente e vulnerável quando dormia - havia roubado toda a

minha repulsa, dissolvido toda a minha raiva.

Eu ainda não podia me fingir de cega para o que estava acontecendo, como Billy parecia

fazer, mas eu também não podia condenar Jacob por isso. O amor não funciona desse

jeito, eu decidi.

Quando você se importa com uma pessoa, você já não podia mais pensar nela usando a

lógica.

Jacob era meu amigo quer ele matasse pessoas ou não. E eu não sabia o que ia fazer em

relação a isso.

Quando eu imaginei ele dormindo tão em paz, eu senti uma necessidade dominante de

proteger ele. Completamente ilógico.

Lógico ou não, eu pensei nas imagens dele dormindo, tentando imaginar alguma

resposta, alguma forma de proteger ele, enquanto o céu lentamente ia ficando cinza.

"Oi, Bella"

A voz de Jacob vinda da escuridão me fez pular. Ele estava macia, quase tímida, mas eu

estava esperando alguma espécie de som nas rochas que me servisse como aviso, e

então isso me assustou.

Eu podia ver a silhueta dele vindo na diração contrária á do sol - ele parecia enorme.

"Jake?"

Ele ficou a vários passos de distância, mudando seu peso de um pé para o outro

ansiosamente.

"Billy me disse que você apareceu- não te levou muito tempo, não foi? Eu sabia que

você ia descobrir".

"É, eu me lembro da história certa agora", eu sussurrei.

Tudo ficou quito por um longo momento, e mesmo estava escuro demais pra ver o seu

rosto direito, minha pele fez cócegas com se ele estivesse vasculhando o meu rosto.

Devia haver luz suficiente pra ele ler a minha expressão, porque quando ele falou de

novo, sua voz estava repentinamente ácida.

"Você devia só ter ligado", ele disse duramente.

Eu balancei a cabeça. "Eu sei".

Jacob começou a andar pelas rochas. Se eu prestasse bastante atençao, eu podia ouvir o

leve som dos pés dele se arrastando nas rochas por trás do som das ondas. As rochas de

batiam como castanholas comigo.

"Porque você veio?", ele quis saber, sem parar a sua caminhada raivosa.

"Eu achei que um cara a cara seria melhor".

Ele bufou. "Oh, muito melhor".

"Jacob, eu tenho que te avisar -"

"Sobre os patrulheiros e os caçadores? Não se preocupe com isso. Nós já sabemos".

"Não se preocupe com isso?", eu quis saber sem acreditar. "Jake, ele estão armados!

Eles estão plantando armadilhas e oferecendo recompensas e -"

"Nós podemos cuidar de nós mesmos", ele grunhiu, ainda andando. "Eles não vão pegar

nada. Eles só estão dificultando as coisas - eles vão começar a desaparecer logo logo

também".

"Jake!", eu gritei.

"O que? É só um fato".

Minha voz estava pálida de revolta. "Como é que você pode... se sentir assim? Você

conhece essas pessoas. Charlie está lá!" Esse pensamento fez meu estômago revirar.

Ele parou abruptamente. "O que mais podemos fazer?", ele retorquiu.

O sol dexou as nuvens com uma cor rosa acinzentada acima de nós. Eu podia ver a

expressão dele agora; ele era de raiva, frustração, de traição.

"Você podia... bem tentar não ser um lobisomem?" eu sugerí com um sussurro.

Ele jogou as mãos para o ar. "Como se eu pudesse escolher!", ele gritou. "E como se

isso ajudasse em alguma coisa, se você está preocupada com as pessoas que estão

desaparecendo".

"Eu não te entendo".

Ele olhou pra mim, os olhos se apertando e a se contorcendo em um rugido. "Você sabe

o que me deixa com tanta raive que me dá vontade de cuspir?"

Eu virei a cabeça da expressão hostil dele. Ele parecia estar esperando uma resposta,

então eu balancei minha cabeça.

"Você é uma hipócrita, Bella - aí está você, aterrorizada de medo de mim! Como é que

isso pode ser justo?" As mãos dele tremiam de raiva.

"Hipócrita? Como é que ter medo de um monstro me transforma numa hipócrita?"

"Ugh!", Ele rugiu, pressionando os punhos nas têmporas e fechando os olhos com força.

"Será que dá pra você se escutar?"

"O que?"

Ele deu dois passos na minha diração, se inclinando pra mim e brilhando de fúria.

"Bem, eu lamento que não posso ser o tipocerto de monstro pra você, Bella. Eu acho

que não sou tão bom quanto um bebedor de sangue, sou?"

Eu pulei pra ficar de pé e encarei de volta. "Não, você não é!", eu gritei. "Não é o que

você é, seu estúpido, é o que você faz!"

"O que é que isso significa?" Ele grunhiu, todo o seu corpo tremendo de raiva.

Eu fui pega inteiramente de surpresa pela voz de aviso de Edward.

"Tome cuidado, Bella", sua voz aveludada me preveniu. "Não o pressione demais. Você

precisa fazê-lo se acalmar".

Nem a voz na minha cabeça estava fazendo sentido hoje.

No entanto, eu ouví ele. Eu faria qualquer coisa por aquela voz.

"Jacob", eu implorei, fazendo o tom da minha voz macio e uniforme.

"É realmente necessário matar as pessoas, Jacob? Não há outro jeito? Quer dizer, se até

o vampiros conseguiram encontrar uma maneira de sobreviver sem matar as pessoas,

você podia tentar, não é?"

Ele se estendeu com um impulso, como se as minhas palavras tivessem mandando uam

corrente eletrica pelo corpo dele. As sobrancelhas dele pularam pra cima, e ele me

encarou com os olhos arregalados.

"Matar pessoas?", ele quis saber.

"Do que você pensava que estávamos falando?"

Ele já não estava mais tremendo. Ele olhou pra mim com uma descrença meio

esperançosa. "Eu pensei que estávamos falando sobre o seu desgosto por lobisomens".

"Não, Jake, não. Não é que você é um... lobo. Com isso tudo bem" eu prometí, eu eu

sabia enquanto falava as palavras que eu estava falando sério. Eu não me importava se

ele havia se tornado um lobo grande - ele ainda era Jacob. "Se você pudesse apenas

encontrar um jeito de não machucar as pessoas... é isso que me aborrece. Essas pessoas

são inocentes, Jake pessoas como Charlie, e eu não posso simplesmente olhar para o

outro lado enquanto você -"

"É só isso? Mesmo?", ele me interrompeu, um sorriso brotando no seu rosto. "Você só

está assustada porque eu sou um assassino? Essa é a única razão?"

"E não é razão suficiente?"

Ele começou a rir.

"Jacob Black, isso é muito não engraçado".

"Claro, claro", ele concordou, ainda sorrindo.

Ele deu um longo passo e me agarrou em outro apertado abraço de urso.

"Você realmente, honestamente não se umporta que eu me transforme num cachorro

gigante?", ele perguntou, a sua voz estava alegre no meu ouvido.

"Não", eu asfixiei. "Não - consigo respirar - Jake!"

Ele me soltou,mas segurou minhas duas mãos. "Eu não sou um assassino, Bella".

Eu estudei o rosto dele, e estava claro que era verdade. O alívio pulsou pelo meu corpo".

"Mesmo?", eu perguntei.

"Mesmo", ele prometeu solenemente.

Eu joguei meus braços ao redor dele. Isso me lembrou dequele primeiro dia com as

motos - porém, ele estava maior, e eu me sentia mais como uma criança agora.

Como daquela outra vez, ele alisou meu cabelo.

"Me perdoe por ter te chamado de hipócrita", ele se desculpou.

"Me desculpe por ter te chamado de assassino".

Ele riu.

Nessa hora eu pensei em uma coisa, e me apartei dele pra poder ver o seu rosto. Minhas

sobrabcelhas se estreitaram de ansiedade. "E quanto á Sam? E quanto aos outros?"

Ele balançou a cabeça, sorrindo como se um grande peso tivesse sido tirado dos seus

ombros. "É claro que não. Você lembra do que nós nos chamamos?"

A memória estava clara - eu estive pensando naquilo nesse mesmo dia.

"Protetores?"

"Exatamente".

"Mas eu não entendo. O que está acontecendo na floresta? Os mochileiros

desaparecendo, o sangue?"

O rosto dele ficou sério, preocupado na hora. "Nós estamos tentando fazer o nosso

trabalho, Bella. Nós estamos tentando protegê-los, mas estamos sempre um pouco

atrasados".

"Protegê-los do que? Há mesmo um urso lá também?"

"Bella, querida, nós só protegemos as pessoas de uma coisa - o nosso único inimigo.

Essa é a razão pela qual existimos - porque eles existem".

Eu o encarei com uma expressão vazia até que eu entendí. Então o sangue foi drenado

do meu rosto com um choro de horror sem palavras, fino que saiu pelos meus lábios.

Ele balançou a cabeça. "Eu pensei que você, entre todas as pessoas, entenderia o que

está acontecendo".

"Laurent", eu cochichei. "Ele ainda está aqui".

Jacob piscou duas vezes, e deixou sua cabeça cair pro lado. "Quem é Laurent?"

Eu tentei dissolver o caos na minha cabeça pra poder responder. "Você sabe, você o viu

na clareira. Você estava la´..."

As palavras saíram em um tom de imaginação enquanto as palavras começavam a fazer

sentido. "Você estava lá, e você o impediu de me matar..."

"Oh, a sanguessuga de cabelo preto?", ele sorriu, um sorriso apertado e largo. "Esse era

o nome dele?"

Eu tremí. "O que você estava pensando?", eu sussurrei. "Ele podia ter te matado! Jake,

você não entende o quanto é perigoso -"

Outra risada me interrompeu. "Bella, um vampiro só não é problema pra um bando

grande como o nosso. Foi tão fácil, quase nem foi divertido!"

"o que foi tão fácil?"

"Matar o bebedor de sangue que queria matar você. Agora, eu não conto isso como

aquela coisa de assassino", ele adicionou rapidamente. "Vampiros não contam como

pessoas".

Eu só consegui mexer os lábios. "Você... matou... Laurent?"

Ele balançou a cabeça. "Bem, foi um esforço de equipe", ele qualificou.

"Laurent está morto?", eu cochichei.

A expressão dele mudou. "Você não está aborrecida com isso, está?

Ele ia matar você - ele havia saído pra matar, Bella, nós tinhamos certeza disso antes

que ele atacasse. Você sabe disso, não é?"

"Eu sei disso. Não, eu não estou aborrecida - eu estou..." eu tive que me sentar. Eu dei

um passo pra trás até que sentí o salgueiro nos meus calcanhares, e então eu sentei nele.

"Laurent está morto. Ele não vai voltar por mim".

"Você não está com raiva? Ele não era um dos seus amigos ou algo assim, era?"

"Meu amigo?", eu olhei pra ele, confusa e tonta de alívio. Eu comecei a tagarelar, meus

olhos ficando úmidos. "Não Jake. Eu estou... tão aliviada. Eu pensei que ele fosse me

encontrar - eu estive esperando por ele todas as noites, só rezando pra que ele me

encotrasse e deixasse Charlie em paz. Eu estava tão assustada, Jacob... mas como? Ele

era um vampiro! Como você matou ele? Ele era tão forte, tão duro, como o mármore..."

Ele se sentou perto de mim e colocou um braço no meu ombro me confortando. "É pra

isso que somos feitos, Bella. Nós somos fortes também. Eu queria que você tivesse me

dito que estava com tanto medo. Você não precisava".

"Você não estava por perto", eu murmurei, perdida em pensamentos.

"Oh, certo".

"Espere, Jake - contudo, eu pensei que você soubesse. Na noite passada você disse que

não era seguro você estar no meu quarto. Eu pensei que você soubesse que um vampiro

podia estar vindo. Não era sobre isso que você estava falando?"

Ele pareceu confuso por um minuto, e então abaixou a cabeça. "Não, não era sobre isso

que eu estava falando".

"Então porque você pensava que não seria seguro estar lá?"

Ele olhou pra mim com olhos livres de culpa. "Eu não disse que não era seguro pra

mim. Eu estava pensando em você".

"O que você quer dizer?"

Ele olhou pra baixo e chutou uma pedra. "Há mais de uma razão pela qual eu não devia

me aproximar de você, Bella. Eu não podia te contar o nosso segredo, pra começar, mas

a outra parte é que não era seguro pra você. Se eu fico bravo demais... muito

aborrecido... você pode se machucar".

Eu pensei nisso cuidadosamente. "Quando você estava bravo antes... quando eu estava

gritando com você... e você estava tremendo...?"

"É", o rosto dele foi ainda mais pra baixo. "Aquilo foi bem estúpido da minha parte. Eu

tenho que aprender a me segurar melhor.

Eu jurei que não ia ficar bravo, não importava o que você me disesse. Mas... eu comecei

a ficar aborrecido demais porque ia perder você... porque você não conseguia lidar com

o que eu sou".

"O que aconteceria... se você ficasse bravo demais?", eu sussurrei.

"Eu ia me transformar num lobo" ele sussurrou de volta.

"Você não precisa de uma lua cheia".

Ele rolou os olhos. "A versão de Hollywood não é muito verdadeira".

Então ele suspirou, sério de novo. "Você não precisa ficar tão estressada, Bells. Nós

vamos cuidar disso. E vamos manter os olhos especialmente em Charlie e nos outros -

não vamos deixar nada acontecer com eles. Confie em mim".

Havia algo muito, muito óbvio que eu devia ter reparado na hora - mas eu estava tão

destraída com a idéia de Jacob e seus amigos brigando com Laurent que eu deixei

passar na hora.

Isso me ocorreu agora, quando Jacob usou o tempo presente de novo.

Nos vamos cuidar disso.

Não estava acabado.

"Laurent está morto", eu asfixiei, todo o meu corpo ficou frio feito gelo.

"Bella?", Jacob perguntou ansiosamente, tocando a minha bochecha cinzenta.

"Se Laurent morreu... a uma semana atrás... então outra pessoa está matando as pessoas

agora".

Jacob acenou com a cabeça, seus dentes trincados, e ele falou por entre eles. "Haviam

dois deles. Nós achamos que a parceira dele ia querer lutar com a gente - nas nossas

histórias, eles geralmente ficam fora de sério quando matam os parceiros deles - mas ela

só fica correndo da gente, e depois volta de novo. Se nós pudessemos descobrir o que

ela está procurando, seria muito mais fácil de rastreá-la. Ela fica escapando pelas

beiradas, como se estivesse testando as nossas defesas, procurando por um jeito de

entrar - mas entrar onde? Onde é que ela quer ir? Sam acha que ela está tentando nos

separar, pra ter uma chance melhor..."

A voz dele foi sumindo até que ficou parecendo que ele estava falando de dentro de um

túnel; eu não conseguia mais individualizar as palavras. Minha testa grudava com o suor

e o meu estômago girava como se eu estivesse com a doença do estômago de novo. Era

exatamente como se eu estivesse doente.

Eu me virei pra longe dele rapidamente, e me inclinei no tronco da árvore. Meu corpo

estava sofrendo convulsões com suspiros inúteis, meu estômago vazio se contraía com

uma náusea aterrorizante, apesar de não haver nada nele pra botar pra fora.

Victoria estava aqui. Procurando por mim. Matando estranhos na floresta. A floresta

onde Charlie estava procurando...

Minha cabeça revirou doentemente.

As mãos de Jacob agarraram meus ombros - me impedindo de rolar nas rochas. Eu

podia sentir o hálito quente dele na minha bochecha. "Bella! Qual é o problema?"

"Victória", eu asfixiei assim que consegui juntar ar suficiente entre os meus espasmos

de náusea.

Na minha cabeça, a voz de Edward rosnou furiosa pelo nome.

Eu sentí Jacob me levantar do meu banco. Ele me jogou estranhamente no colo,

colocando minha cabeça sem vida no ombro dele. Ele estava lutando pra me equilibrar,

pra me impedir de escorregar, de um jeito ou de outro. Ele tirou o cabelo molhado de

suor do meu rosto.

"Quem?", Jacob perguntou. "Você consegue me ouvir, Bella? Bella?"

"Ela não era parceira de Laurent", eu gemí no ombro dele. "Eles só eram velhos

amigos..."

"Você precisa de água. De um médico? Me diga o que fazer" ele pediu, frenético.

"Eu não estou doente - eu estou assustada", eu expliquei num sussurro. A palavra

assustada não parecia explicar direito.

Jacob deu uns tapinhas nas minhas costas. "Com medo dessa Victória?"

Eu balancei a cabeça, tremendo.

"Victória é a fêmea de cabelos vermelhos?" Eu tremí de novo e me arrepiei.

"Sim".

"Como é que você sabe que ela não era a parceira dele?"

"Laurent me disse que James era o parceiro dela", eu automaticamente flexionei a mão

com a cicatriz.

Ele segurou meu rosto, segurando firmemente na sua mão grande. Ele me olhou

atentamente nos olhos. "Ele te disse mais alguma coisa, Bella? Isso é importante. Você

sabe o que ela quer?"

"É claro", eu cochichei. "Ela quer a mim". Os olhos dele se arregalaram, e depois se

estreitaram.

"Porque?", ele quis saber.

"Edward matou James", eu sussurrei. Jacob estava me segurando tão apertado que não

havia necessidade de segurar o buraco - ele me manteve inteira.

"Ela realmente ficou... fora de sério. Mas Laurent disse que ela achava que era mais

justo matar a mim do que a Edward. Parceiro por parceiro. Ela não sabia - ela ainda não

sabe, eu acho - que... que"

eu engolí seco. "Que as coisas não são mais assim. Pelo menos, não pra Edward".

Jacob ficou distraído com isso, o rosto dele dividido entre várias expressões. "Foi isso

que aconteceu? Por isso os Cullen foram embora?"

"No fim das contas, eu não passo de uma humana. Nada especial." eu expliquei,

tremendo fracamente.

Algo como um rosnado - não um rosnado de verdade, só um som humano que se

aproximava disso - estrondou no peito de Jacob embaixo do meu ouvido. "Se aquele

bebedor de sangue idiota é honestamente estúpido o suficiente -"

"Por favor" eu gemí. "Por favor. Não".

Jacob hesitou, e então balançou a cabeça uma vez.

"Isso é importante", ele disse de novo, seu rosto era todo negócios agora. "Isso é

exatamente o que precisamos saber. Nós precisamos contar pro outros imediatamente".

Ele se levantou, me colocando de pé. Ele manteve as duas mãos na minha cintura até

que tivesse certeza de que eu não ia cair.

"Eu estou bem", eu mentí.

Ele ficou segurando a minha cintura com uma das mãos. "Vamos lá".

Ele me levou em direção á caminhonete.

"Pra onde estamos indo?", eu perguntei.

"Eu ainda não tenho certeza", ele admitiu. "Eu vou convocar uma reunião. Ei, espere

aqui só um minuto, está bem?" ele me colocou no lado da caminhonete e soltou minha

mão.

"Onde você tá indo?"

"Eu volto logo", ele prometeu. Depois ele se virou e correu pelo estacionamento,

atravessou a rua, e entrou na floresta. Ele se enfiltrou entre as árvores, rápido e

brilhante, como um veado.

"Jacob!", eu gritei atrás dele com a voz rouca, mas ele já tinha desaparecido.

Não era um bom momento pra ser deixada sozinha. Segundos depois que Jacob saiu de

vista, eu estava hiperventilando. Eu ma arrastei pra dentro da caminhonete, e coloquei

as travas pra baixo imediatamente.

Isso não fez eu me sentir melhor.

Victória já estava me caçando. Eu apenas tinha sorte que ela ainda não havia me

encontrado - sorte e cinco lobisomens adolescentes.

Eu exalei ríspidamente. Não me importava o que Jacob dizia, o pensamento dele

chegando em algum lugar próximo de Victória era aterrorizante. Eu não me importava

com o que ele podia virar quando estava com raiva. Eu podia ver ela na minha cabeça,

seu rosto selvagem, seu cabelo que parecia feito de chamas, letal, indestrutível...

Mas, de acordo com Jacob, Laurent estava morto. Isso era realmente possível?

Edward - eu me apertei automaticamente ao meu peito - havia me dito uma vez que era

muito difícil matar um vampiro. Somente outro vampiro podia fazer o trabalho. Ainda

assim Jake dizia que os lobisomens haviam sido feitos pra isso...

Ele disse que eles manteriam um olho especialmente em Charlie - que eu devia confiar

nos lobisomens pra manter meu pai a salvo. Como eu podia confiar nisso? Nenhum de

nós estava a salvo! Jacob muito menos que todos, se ele ia tentar ficar no meio do

caminho entre Victoria e Charlie... entre Victoria e eu.

Eu sentí que estava prestes a vomitar de novo.

Um ruído agudo na janela da caminhonete me fez gritar de terror - mas era só Jacob,

que já estava de volta. Eu destranquei a porta com dedos tremendo, agradecidos.

"Você realmente está com medo, não está?", ele perguntou enquanto deslizava pra

dentro.

Eu balancei a cabeça.

"Não fique. Nós vamos tomar conta de você - e de Charlie também. Eu prometo".

"A idéia de Victória encontrando você me assusta mais do que a idéia de ela me

encontrar", eu sussurrei.

Ele riu. "Você precisa confiar em nós um pouco mais do que isso. É insultante".

Eu só balancei a cabeça. Eu já tinha visto muitos vampiros em ação.

"Onde é que você foi agora?", eu perguntei.

Ele torceu os lábios e não disse nada.

"O que? É segredo?"

Ele fez uma careta. "Na verdade não. Contudo, é meio estranho. Eu não quero te

assustar".

"Eu já estou meio confusa nesse ponto, sabe". Eu tentei sorrir sem muito sucesso.

Jacob sorriu de volta facilmente. "Eu acho que você tinha que estar. Ok. Veja, quando

nós somos lobos, nós podemos... ouvir um ao outro".

Minhas sobrancelhas se baixaram confusas.

"Não ouvir sons", ele continuou. "Mas nós podemos ouvir...pensamentos - uns dos

outros pelo menos - não importa a distância que estamos um do outro. Ajuda muito

quando estamos caçando, mas de outra forma atrapalha muito. É embaraçoso - não ter

segredos desse jeito. Esquisito, né?"

"Foi isso que você quis dizer na noite passada, quando disse que teria que dizer para

eles onde estava, mesmo sem querer?"

"Você é rápida".

"Obrigada".

"Você também é muito boa lidando com o estranho. Eu achei que isso ia te incomodar".

"Não é... bem, você não é primeira pessoa que eu conheço que pode fazer isso. Então

isso não me parece tão estranho".

"Mesmo?... Espere - você está falando dos bebedores de sangue?"

"Eu queria que você parasse de chamá-los assim".

Ele riu. "Que seja. Os Cullen, então?"

"Só... Só Edward", eu passei o braço rapidamente ao redor do meu tórax.

Jacob pareceu surpreso - e não pareceu feliz. "Eu pensei que eram só histórias. Eu já

tinha ouvido lendas sobre vampiros que podiam fazer... coisas extras, mas eu pensei que

fossem só mitos".

"Será que ainda existe alguma coisa que seja só mito?",. eu o perguntei cautelosamente.

Ele bufou. "Acho que não. Ok, nós vamos encontrar Sam e os outros nos lugar onde

costumávamos andar com as nossas motos".

Eu liguei a caminhonete e comecei a voltar para a estrada.

Jacob balançou a cabeça parecendo envergonhado. "Eu tentei encurtar as coisas - eu

pensei não pensar em você pra que eles não soubessem o que está acontecendo. Eu

estava com medo que Sam me disesse pra não trazer você".

"Isso não teria me impedido". Eu não conseguia me livrar da imagem de Sam como um

cara mal. Meus dentes se tricavam toda vez que eu ouvia o nome dele.

"Bem, isso teria meimpedido". Jacob disse, sombrio agora.

"Se lembra como ou simplesmente não conseguia terminar as frases ontem? De como eu

simplesmente não conseguia te contar a história toda?"

"É. Você parecia estar engasgando com alguma coisa".

Ele gargalhou sombriamente. "Bem perto. Sam me disse que eu não podia te contar. Ele

é... o cabeça do bando, sabe. Ele é o Alpha. Quando ele nos diz pra fazer uma coisa, ou

pra não fazer alguma coisa - quando ele fala sério, bem, nós não podemos simplesmente

ignorá-lo".

"Esquisito", eu murmurei.

"Muito", ele concordou. "É uma coisa de lobos".

"Huh", foi a melhor resposta que eu conseguí dar.

"É, tem um monte de coisas assim - coisas de lobo. Eu ainda estou aprendendo. Eu não

consigo imaginar como foi pra Sam, tentando lidar com isso sozinho. Já é ruim o

suficiente ter que passar por isso com um bando inteiro te apoiando".

"Sam estava sozinho?"

"É", a voz de Jacob baixou. "Quando eu me transformei foi a coisa mais... horrível, a

coisa mais aterrorizante pela qual eu já passei - pior que qualquer coisa que eu podia ter

imaginado. Mas eu não estava sozinho - haviam as vozes lá, em minha cabeça, me

dizendo o que havia acontecido e o que eu tinha que fazer. Isso me ajudou a não perder

a cabeça, eu acho. Mas Sam...", ele balançou a cabeça. "Sam não teve ajuda".

Isso is precisar de alguns ajustes. Quando Jacob explicava isso assim, era difícil não

sentir compaixão por Sam. Eu tive que continuar dizendo pra mim mesma que já

haviam mais motivos pra odiá-lo.

"Eles vão ficar com raiva se eu estiver com você?", eu perguntei.

Ele fez uma cara. "Provavelmente".

"Talvez eu não devesse -"

"Não, está tudo bem", ele me assegurou. "Você sabe uma tonelada de coisas que podem

nos ajudar. Você não é como uma outra humana ignorante. Você é como uma... eu não

sei, espiá, ou uma coisa assim. Você esteve atrás das linhas inimigas".

Eu fiz uma carranca pra mim mesma. Era isso que Jacob queria de mim?

Informações de dentro pra destruir seus inimigos? Porém, eu não era uma espiã. Eu não

estava colotando esse tipo de informação. De qualquer forma, as palavras dele já me

faziam sentir uma traidora.

Mas eu queria que ele parasse Victória, não queria?

Não.

Eu queria que Victória fosse parada, preferivelmente antes que ela me torturasse até a

morte ou esbarrasse em Charlie ou matasse outro estranho. Eu só não queria que fosse

Jacob a matá-la, ou pelo menos tentar. Eu não queria Jacob a menos de cem metros

dela.

"Como aquela história do bebedor de sangue que lê mentes", ele continuou, incosciente

do meu devaneio.

"Aquele é o tipo de coisas que precisamos saber. Realmente é um saco que aquelas

histórias sejam verdadeiras. Isso torna tudo mais complicado. Ei, você acha que essa

Victoria tem alguma coisa especial?"

"Eu acho que não", eu hesitei, e depois suspirei. "Ele nunca mencionou nada sobre

isso".

"Ele? Oh, você quer dizer Edward - oops, desculpa. Eu esqueci. Você não gosta de dizer

o nome dele. Ou de ouvir."

Eu apertei o meu centro, tentando ignorar a palpitação nas beiras do meu peito. "Não, na

verdade".

"Desculpa".

"Como é que você me conhece tão bem, Jacob? As vezes parece que você consegue ler

a minha mente".

"Não. Eu só presto atenção".

Nós estávamos na pequena estrada de terra onde Jacob havia me ensinado a andar de

moto.

"Tão bem assim?"

"Claro, claro".

Eu encostei e desliguei o motor.

"Você ainda está bem infeliz, não é?", ele perguntou.

Eu balancei a cabeça, olhando para a floresta obscura sem ver nada.

"Você acha que um dia... que talvez... você vai superar?"

Eu inalei lentamente, e depois deixei a respiração sair. "Não".

"Porque ele não era o melhor -"

"Jacob, por favor", eu interrompí, implorando com um sussurro. "Será que podemos não

falar nisso, por favor? Eu não posso aguentar".

"Ok", ele respirou fundo. "Eu lamento ter dito alguma coisa".

"Não se sinta mal. Se as coisas fossem diferentes, seria bom finalmente poder falar

sobre isso com alguém".

Ele balançou a cabeça. "É, eu passei por dificuldades escondendo o meu segredo de

você por duas semanas. Deve ter sido um inferno pra você não poder falar sobre isso

com ninguém".

"Um inferno", eu concordei.

Jacob sugou o ar com um som cortante. "Eles estão aqui. Vamos lá".

"Você tem certeza?", eu perguntei enquanto ele abria a sua porta.

"Talvez eu não devesse estar aqui".

"Eles vão saber lidar com isso", ele disse, e depois deu uma risada.

"Quem é que tem medo de um lobo grande e mal?"

"Ha Ha", eu disse. Mas eu saí da caminhonete, ma apressando pela frente pra ficar perto

de Jacob. Eu me lembrei rápido demais dos monstros gigantes da clareira.

As minhas mãos estavam tremendo como as de Jacob haviam estado antes, mas com

medo ao invés de raiva.

Jake pegou minha mão e a apertou. "Aqui vamos nós".

14 - Família

Eu me encolhi ao lado de Jacob, meus olhos examinando a floresta minuciosamente à

procura dos outros lobisomens. Quando eles apareceram entre as árvores, eles não eram

como eu esperava. Eu tinha a imagem dos lobos gravada em minha cabeça. Estes eram

só quatro garotos seminus realmente grandes.

Novamente, eles me lembraram irmãos quadrigêmeos. Algo na forma que se moveram,

quase sincronizados, para chegarem até nós, a maneira que todos tinham os mesmos

músculos grandes e redondos sob a mesma pele cor de cobre, o mesmo cabelo preto

curto, e a maneira que suas expressões mudavam exatamente ao mesmo tempo.

Eles começaram com curiosidade e cautela. Quando me viram ali, meio escondida atrás

de Jacob, os quatro se enfureceram no mesmo segundo. Sam continuava sendo o mais

velho, mesmo assim Jacob estava quase o alcançando. Sam não contava como um

garoto de verdade. Seu rosto parecia mais velho – não porque tinha rugas ou sinais de

envelhecimento, e sim pela maturidade, a paciência de sua expressão.

- O que você fez, Jacob? – ele demandou.

Um dos outros, o qual eu não reconheci – Jared ou Paul – se pôs na frente de Sam e

falou antes que Jacob pudesse se defender.

- Por que você não consegue simplesmente seguir as regras, Jacob? – ele gritou –

agitando os braços no ar. – Em que diabos você está pensando? Ela é mais importante

que tudo – que toda a tribo? Que as pessoas sendo mortas?

- Ela pode ajudar. – Jacob disse calmamente.

- Ajudar! – o garoto furioso gritou. Seus braços começaram a tremer. – Claro, é

provável! Tenho certeza de que adoradora de sanguessugas está

 

doida

para nos ajudar!

- Não fale assim dela! – respondeu Jacob, irritado pela crítica do garoto.

Um calafrio percorreu os ombros e a coluna vertebral do outro garoto.

Paul! Se acalme! – Sam lhe ordenou.

Paul balançou a cabeça de um lado para o outro, não em sinal de desafio, mas como se

ele estivesse tentando se concentrar.

- Caramba, Paul – um dos outros garotos murmurou, provavelmente Jared – Controlese.

Paul virou a cabeça para Jared, seus lábios se apertando em sinal de irritação. Depois

voltou seu olhar fulminante para minha direção. Jacob deu um passo à frente para se pôr

na minha frente.

Aí aconteceu.

- Certo, proteja ela! – Paul rugiu em afronta. Outro arrepio, uma convulsão, percorreu

seu corpo. Paul virou sua cabeça para trás, um verdadeiro rosnado surgiu dentre seus

dentes.

- Paul! – Sam e Jacob gritaram ao mesmo tempo.

Paul pareceu cair para frente, movendo-se violentamente.

A meio caminho do chão, houve um barulho de rasgado, e o garoto explodiu.

Uma pele cinza escuro apareceu no garoto, transformando-se em uma forma cinco vezes

maior do que seu tamanho – uma figura peluda, abaixada, pronta para pular.

O lobo enrugou o focinho amostrando os dentes, e outro rosnado saiu de seu peito

colossal. Seus olhos negros e raivosos se cravaram em mim.

A meia passada, um forte arrepio passou pela coluna vertebral de Jacob, que saltou de

ponta-cabeça no ar vazio.

Com outro afiado som de rasgado, Jacob explodiu também. Ele explodiu sua pele –

pedacinhos pretos e brancos de roupa voaram pelo ares. Tudo ocorreu tão rápido que se

eu tivesse piscado, eu teria perdido a transformação inteira. Um segundo antes, Jacob

saltava de cabeça, e um segundo depois havia se transformado em um gigantesco lobo

de cor marrom avermelhado - tão enorme que eu não pude entender como aquela massa

havia se ajustado de alguma maneira dentro de Jacob – que se jogava contra a besta

cinza.

Jacob chocou-se contra o ataque do outro Lobisomem de cabeça. Seus furiosos rosnados

ecoaram como trovões entre as árvores.

Os farrapos brancos e pretos – restos da roupa de Jacob – caíram no chão onde ele tinha

desaparecido.

- Jacob! – eu gritei de novo, indo para frente.

- Fique onde está, Bella. – Sam me ordenou.

Era difícil ouvi-lo diante dos rugidos de ambos os lobos, que se mordiam e arranhavam

buscando a garganta do rival com seus afiados dentes. Jacob parecia ganhar: era

visivelmente maior que o outro lobo, e também parecia muito mais forte. Ele lançou seu

ombro de novo e de novo no lobo cinza, jogando-o de volta para as árvores.

- Leve-a para casa da Emily – Sam gritou para os outros garotos, que estavam distraídos

assistindo a briga. Jacob empurrou o lobo cinza para fora do caminho com sucesso, e

eles estavam desaparecendo na floresta, mas o som de seus grunhidos ainda eram altos.

Sam foi atrás deles, tirando seus sapatos no caminho. Quando se lançou entre as

árvores, ele estava tremendo da cabeça aos pés.

Os grunhidos e estalos estavam ficando distantes. De repente, o som acabou e a estrada

ficou muito quieta.

Um dos garotos começou a rir.

Virei-me para olhá-lo fixamente, meus olhos arregalados e congelados, eu não podia

nem mesmo piscar para eles.

O garoto parecia estar rindo da minha expressão.

- Bem, isto não é algo que se vê todos os dias – ele riu silenciosamente. – Seu rosto

vagamente familiar – era mais magro que os outros... Embry Call.

- Eu vejo – o outro garoto, Jared, murmurou. – Todo dia.

- Aw, Paul não perde as estribeiras todo dia. – descordou Embry, sorrindo. – Talvez

dois entre três.

Jared se agachou para pegar algo branco no chão. E o segurou no alto na direção de

Embry; balançava em tiras flácidas na sua mão.

- Totalmente cortado em tiras. – disse Jared – Billy disse que era último par que podia

lhe comprar. Acho que Jacob terá que ir descalço a partir de agora.

- Este aqui sobreviveu – disse Embry, recolhendo um tênis branco – Jacob pode pular. –

ele acrescentou com uma risada.

Jared começou a recolher vários pedaços de tecido da sujeira.

- Pegue os sapatos de Sam, não é? O resto vai pro lixo.

Embry pegou os sapatos e depois correu para as árvores onde Sam havia desaparecido.

Ele voltou poucos segundos depois, com um par de calça Jeans pendurados no ombro.

Jared recolheu as sobras de roupas de Jacob e Paul e fez uma bola com elas. De repente,

ele pareceu se lembrar de mim.

Ele me olhou cuidadosamente, avaliando.

- Ei, você não irá desmaiar ou vomitar, ou algo assim? - Ele demandou.

- Acho que não. – eu ofeguei.

- Você não parece bem. É melhor se sentar.

- Certo. – eu murmurei. Pela segunda vez em uma manhã, ponho a cabeça nos meus

joelhos.

- Jake deveria ter nos avisado. – Embry reclamou.

- Ele não devia ter metido sua namorada nisso. O que ele esperava?

- Bem, o lobo foi revelado, agora. – Embry suspirou – Vá em frente, Jake.

Levantei a cabeça e olhei para os garotos que pareciam estar levando tudo isto muito

despreocupadamente.

- Vocês não estão preocupados com o que possa acontecer? – eu perguntei.

Embry piscou uma vez, surpreendido.

- Preocupados? Por quê?

- Eles podem machucar um ao outro!

Embry e Jared riram.

- Espero que Paul lhe dê uma mordida – disse Jared – Isso lhe dará uma lição.

Eu empalideci.

- Ah, certo. – discordou Embry – Você viu o Jake? Nem mesmo Sam pode entrar na

fase dessa forma, em pleno salto. Ao ver que Paul perdia o controle, quanto tempo ele

levou pra atacar, meio segundo? Esse garoto tem um dom.

-Paul luta a mais tempo. Aposto dez pratas que eles deixa uma marca.

- Apostado. Jake é talentoso. Paul não pode fazer nada.

Eles apertaram as mãos, sorrindo.

Tentei me acalmar ao ver que não estavam preocupados, mas não podia tirar da cabeça

as imagens brutais da luta dos lobisomens.

Meu estômago estava revirado, vazio e ácido, e a preocupação havia me dado dor de

cabeça.

- Vamos ver Emily. Você sabe que terá comida esperando. – Embry baixou seu olha

para mim. – Se importa de dar um passeio?

- Sem problema. – eu asfixiei.

Jared ergueu uma sobrancelha.

- Acho melhor você dirigir, Embry. Parece que ela vai voltar a qualquer momento.

- Ótima idéia. Cadê as chaves? – Embry perguntou?

- Na ignição.

- Você vai aqui. – ele me disse alegremente, me levantando do chão com uma mão e me

pondo na cadeira. Depois estudou o espaço disponível – Você terá que ir atrás – ele

disse a Jared.

- Isso é bom. Não tenho muito estômago. Não quero estar lá quando ela soprar.

- Eu aposto que ela é mais dura que isto. Ela anda com vampiros.

- Cinco pratas? – Jared propôs.

- Feito. Sinto-me culpado por tirar seu dinheiro assim.

Embry entrou e ligou o motor enquanto Jared pulava para a parte de trás. Quando

fechou sua porta, Embry me disse baixinho:

- Não vomite, certo? Só tenho uma nota de dez e se Paul conseguir cravar os dentes em

Jacob...

"Tudo bem", eu sussurrei.

Embry nos dirigiu de volta para a vila.

"Ei, como é que Jake passou por cima da proibição afinal?"

"A... o que?"

"Er, a ordem. Você sabe, pra não sair falando tudo. Como foi que ele te contou sobre

isso?"

"Oh, isso", eu disse, lembrando de Jacob se engasgando tentando me contar a verdade

na noite passada. "Ele não me disse. Eu dei um chute certo".

Embry torceu os lábios, parecendo surpreso. "Hmm. Eu acho que isso também

funciona".

"Pra onde estamos indo?", eu perguntei.

"Para a casa de Emily. Ela é namorada de Sam... não, noiva, agora, eu acho. Eles vão

nos encontrar lá depois que Sam der uma lição neles pelo que acabou de acontecer. E

depois que Paul e Jake arranjarem algumas roupas, se é que Paul ainda tem alguma

sobrando".

"Emily sabe sobre...?"

"É. E ei, não encare ela. Isso irrita o Sam".

Eu fiz uma carranca pra ele. "E porque eu encararia ela?"

Embry pareceu desconfortável. "Como você acabou de ver, andar por aí com

lobisomens tem seus riscos". Ele mudou de assunto rapidamente. "Ei, você tá legal

sobre aquela coisa toda do bebedor de sangue de cabelo preto da clareira? Ela não

parecia ser seu amigo, mas..." Embry levantou os ombros.

"Não, ele não era meu amigo"

"Isso é bom. Nós não queríamos começar nada, quebrar o acordo, sabe".

"Oh, é, Jake me contou sobre o acordo uma vez, há muito tempo. Porque matar Laurent

ia quebrar o acordo?"

"Laurent", ele repetiu, bufando, como se ele achasse engraçado que um vampiro tivesse

nome. "Bem, tecnicamente, nós estávamos no terrenos dos Cullen. Nós não temos

permissão pra matar nenhum deles, os Cullen, pelo menos, fora da nossa terra - a não

ser que eles quebrem o acordo antes. Nós não sabíamos se aquele de cabelo preto era

um parente deles ou alguma coisa assim. Parecia que você o conhecia".

"O que é que eles teriam que fazer pra quebra o acordo?"

"Morder um humano. Jake não estava muito contente com a idéia de deixar isso ir tão

longe".

"Oh. Umm, obrigada. Eu fico feliz que vocês não esperaram".

"O prazer foi nosso". Parecia que ele estava querendo dizer isso no sentido literal.

Embry dirigiu através da casa mais á oeste na estrada antes de fazer uma curva apertada

numa estrada de terra.

"A sua caminhonete é lenta", ele notou.

"Desculpe".

No fim dessa rua havia uma casa pequena que um dia já havia sido cinza. Havia apenas

uma janela apertada do lado de uma porta pintada de azul, mas havia uma caixa

embaixo da janela que estava cheia de margaridas laranjas e amarelas, dando ao lugar

todo uma aparência alegre.

Embry abriu a porta da caminhonete e inalou. "Mmm. Emily está cozinhando".

Jared pulou da carroceria da caminhonete e foi caminhando na direção da porta, mas

Embry parou ele com uma mão no peito. Ele olhou pra mim significantemente, e

limpou a garganta.

"Eu não estou com a minha carteira aqui", Jared disse.

"Tudo bem. Eu não vou esquecer".

Eles passaram por cima do único degrau e entraram na casa sem bater na porta. Eu segui

os dois timidamente depois.

A sala da frente, como na casa de Billy, era em grande parte a cozinha. Uma mulher

jovem com a pele cor de cobre e com um cabelo cor de corvo longo, liso, estava de pé

no balcão perto da pia, tirando muffins grandes de uma bandeja e os colocando num

prato de papel. Por um segundo, eu me perguntei se o motivo de Embry pra que eu não

encarasse era porque essa garota era tão linda.

E então ela perguntou. "Vocês estão com fome?" com uma voz melódica, e ela se virou

pra nos encarar de frente, um sorriso na metade do rosto.

O lado direito do rosto dela estava marcado da linha do cabelo até o queixo com três

linha finas, vermelhas, numa cor vívida apesar delas já terem sarado há muito tempo.

Uma das linhas havia puxado pra baixo um canto do seu olho com formato de amêndoa,

e a outra havia virado o canto direita da sua boca como numa careta permanente.

Agradecida pelo aviso de Embry, eu me virei rapidamente pra olhar para os muffins na

mão dela. O cheiro deles era maravilhoso - como amoras frescas.

"Oh", Emily disse, surpresa. "Quem é essa?"

Eu olhei pra cima, tentando me concentrar em olhar para a parte esquerda do rosto dela.

"Bella Swan", Jared disse pra ela, levantando os ombros. Aparentemente eu já fui o

tópico de uma conversa antes. "Quem mais?"

"Deixe que Jacob arrume um jeito pra contornar isso", Emily murmurou.

Ela me encarou, e nenhuma das duas partes do seu rosto uma vez lindo era amigável.

"Então, você é a garota vampira".

Eu me enrijeci. "Sim. Você é a garota lobisomem?"

Ela sorriu, e Embry e Jared também. O lado esquerdo do rosto dela se amenizou.

"Eu acho que sou". Ela se virou para Jared. "Onde está Sam?"

"Bella, er, surpreendeu Paul essa manhã".

Emily rolou seu olho bom. "Ah, Paul", ela suspirou.

"Você acha que eles vão demorar? Eu ia começar a fazer os ovos".

"Não se preocupe", Embry disse a ela. "Se eles se atrasarem, nós não vamos deixar nada

se desperdiçar".

Emily gargalhou, e então abriu a geladeira. "Sem dúvida", ela concordou. "Bella, você

está com fome? Vá em frente e se sirva com um muffin".

"Obrigada". Eu peguei um do prato e comecei a mordiscar pelas beiras. Estava

delicioso, e caiu bem no meu estômago delicado. Embry pegou o seu terceiro e enfiou

inteiro na boca.

"Deixe algum pros seus irmãos", Emily castigou ele, batendo na cabeça dele com uma

colher de pau. A palavra me surpreendeu, mas parecia não ser nada para os outros.

"Porco", Jared comentou.

Eu me inclinei no balcão e observei eles três brincando como uma família. A cozinha de

Emily era um lugar amigável, brilhante com armários brancos e madeira pálida no chão.

Na pequena mesa redonda, um vaso chinês azul e branco estava lotado de flores

selvagens. Embry e Jared pareciam completamente á vontade aqui.

Emily estava misturando uma quantidade enorme de ovos, várias dúzias, em uma

grande tigela amarela. Ela tinha levantado as mangas da sua camisa cor de lavanda, e eu

podia ver que as cicatrizes se estendiam por todo o seu braço e sua mão direita. Andar

por aí com lobisomens tinha seus riscos, assim como Embry havia dito.

A porta da frente se abriu, e Sam passou por ela.

"Emily", ele disse, e tanto amor transbordava da voz dele que eu me senti

envergonhada, uma intrusa, enquanto observada ele atravessar a sala com uma passada e

pegar o rosto dela entre suas mãos grandes. Ele se inclinou e beijou as cicatrizes escuras

na bochecha direita dela antes de beijar seus lábios.

"Ei, para com isso", Jared reclamou. "Eu estou comendo".

"Então cala a boca e come", Sam sugeriu, beijando a boca arruinada de Emily de novo.

"Ugh", Embry gemeu.

Isso era pior do que qualquer filme romântico; isso era tão real que cantava com a

alegria e o amor verdadeiro. Eu abaixei meu muffin e passei meus braços ao redor do

meu peito vazio. Eu olhei para as flores, tentando ignorar a paz dominante do momento,

e a dor pulsante das minhas feridas.

Eu fiquei agradecida pela distração quando Jacob e Paul entraram pela porta, e depois

fiquei chocada quando vi que eles estavam rindo. Enquanto eu olhava, Paul deu um

murro no ombro de Jacob e Jacob retribuiu com um soco nas costelas. Eles riram de

novo. Os dois pareciam ainda estar inteiros.

Jacob procurou pela sala, os olhos dele pararam quando ele me encontrou inclinada,

esquisita e fora do lugar, no balcão perto do fim da cozinha.

"Ei, Bells", ele me cumprimentou alegremente. Ele pegou dois muffins enquanto

passava pela cozinha pra vim ficar do meu lado. "Desculpa por antes", ele murmurou

por baixo do fôlego. "Como é que você tá?"

"Não se preocupe, eu estou bem. Bons muffins". Eu peguei o meu de volta e comecei a

mordiscar de novo. Meu peito se sentiu melhor assim que Jacob estava ao meu lado.

"Oh, cara!", Jared gemeu, nos interrompendo.

Eu olhei pra cima e Embry estava examinando uma linha cor de rosa que estava

desaparecendo no antebraço de Paul. Embry estava sorrindo, exultante.

"Quinze dólares", ele declarou.

"Você fez aquilo?", eu cochichei pra Jacob, me lembrando da aposta.

"Eu mal toquei nele. Ele vai estar perfeito no por do sol".

"No por do sol?" Eu olhei para a linha no braço de Paul. Estranho, mas ela parecia já

estar lá a semanas.

"Coisa de lobo", ele cochichou.

Eu balancei a cabeça, tentando não achar estranho.

"Você está bem?" eu perguntei pra ele por baixo do fôlego.

"Nenhum arranhão". A expressão dele era de zombaria.

"Ei, caras", Sam disse numa voz alta, interrompendo todas as conversas que estavam

acontecendo na pequena sala.

Emily estava no fogão, mexendo a mistura de ovos numa frigideira grande, mas Sam

ainda estava com uma mão tocando a parte de baixo das suas costas, um gesto

inconsciente. "Jacob tem uma informação pra nós".

Paul não parecia surpreso. Jacob já devia ter explicado isso pra ele e pra Sam. Ou... eles

já haviam ouvido os seus pensamentos.

"Eu sei o que a ruiva quer" Jacob dirigiu suas palavras pra Jared e Embry.

"Era isso que eu estava tentando te contar". Ele chutou a perna da cadeira onde Paul

havia se sentado.

"E?", Jared perguntou.

O rosto de Jacob ficou sério. "Ela está querendo vingar o seu parceiro - só que o

parceiro dela não é o sanguessuga de cabelos pretos que nós matamos. Os Cullen

mataram o parceiro dela no ano passado, e agora ela está atrás de Bella".

Isso não era novidade pra mim, mas eu tremí.

Jared, Embry e Emily olharam pra mim com as bocas abertas de surpresa.

"Ela é só uma garota", Embry protestou.

"Eu não disse que fazia sentido. Mas é por isso que a sugadora de sangue está querendo

passar por nós. Ela está a caminho de Forks".

Eles continuaram a olhar pra mim, ainda com as bocas abertas, por um longo momento.

Eu abaixei a cabeça.

"Excelente", Jared finalmente disse, um sorriso começando a puxar os cantos da sua

boca pra cima. "Nós temos um isca".

Com uma velocidade formidável, Jacob agarrou uma lata aberta em cima do balcão e a

lançou na cabeça de Jared. A mão de Jared se levantou mais rápido do que eu julgaria

possível, e afastou a lata pouco antes que ela atingisse o seu rosto.

"Bella não é isca".

"Você sabe o que eu quero dizer", Jared disse sem nenhuma vergonha.

"Então nós vamos mudar os nossos padrões", Sam disse, ignorando a discussão. "Nós

vamos tentar deixar alguns buracos, e ver se ela cai nessa. Nós vamos ter que nos

separar, e eu não gosto disso. Mas se ela realmente estiver atrás de Bella, ela

provavelmente não vai tentar tirar vantagem dos nossos números divididos".

"Quil deve estar perto de se juntar a nós", Embry murmurou. "Então nós seremos

capazes de nos separar igualmente".

Todo mundo olhou pra baixo. Eu olhei para o rosto de Jacob, e ele estava sem

esperança, como estava ontem á tarde, do lado de fora da casa dele.

Não importava o quanto eles parecessem estar confortáveis com os seus destinos, aqui

nessa cozinha feliz, nenhum desses lobisomens queria esse mesmo destino para o

amigo.

"Bem, não vamos contar com isso", Sam disse numa voz baixa, e então continuou no

seu volume normal.

"Paul, Jared e Embry vão ficar no perímetro exterior, e Jacob e eu vamos ficar com o

interior. Nós vamos nós juntar quando agarrarmos ela".

Eu reparei que Emily não ficou particularmente satisfeita por Sam ter ficado no grupo

menor. A preocupação dela me fez olhar pra Jacob, preocupada também.

Sam viu meu olhar. "Jacob acha que seria bom você passar o máximo de tempo aqui em

La Push. Ela não vai saber onde te encontrar assim tão facilmente, só na duvida".

"E quanto á Charlie?", eu quis saber.

"A maré de março ainda está aí", Jacob disse. "Eu acho que Billy e Harry vão conseguir

manter Charlie aqui quando ele não estiver no trabalho".

"Espere", Sam disse, segurando uma mão pra cima. O olhar dele foi pra Emily e depois

voltou pra mim. "Isso é o que Jacob acha melhor, mas você precisa decidir sozinha.

Você devia pesar os riscos de ambas as situações muito seriamente. Você viu essa

manhã o quanto as coisas podem ficar perigosas com facilidade por aqui, com podem

sair de controle rapidamente. Se você escolher ficar conosco, eu não posso te dar

garantias sobre a sua segurança".

"Eu não vou machucar ela", Jacob murmurou, olhando pra baixo.

Sam agiu como se não tivesse ouvido ele falar. "Se houvesse outro lugar onde você

posse se sentir segura..."

Eu mordi meu lábio. Onde mais eu podia ir sem colocar mais ninguém em risco? Eu

recuei de novo da idéia de trazer Renée pra dentro disso - colocando ela pra dentro do

alvo onde eu estava... "Eu não quero levar Victoria pra nenhum outro lugar", eu

sussurrei.

Sam balançou a cabeça. "Isso é verdade. É melhor deixar ela aqui, onde nós podemos

acabar com isso".

Eu vacilei. Eu não queria Jacob ou nenhum dos outros tentando acabar com Victória. Eu

olhei para o rosto de Jake; ele estava relaxado, quase o mesmo do qual eu me lembrava

antes dessa coisa de lobo, e extremamente despreocupado com a idéia de caçar

vampiros.

"Você vai ser cuidadoso, certo?" eu perguntei, com um caroço audível na minha

garganta.

Os garotos explodiram de vaias de brincadeira. Todos riram de mim - exceto Emily. Ela

encontrou meus olhos, e eu de repente consegui enxergar a simetria por baixo da sua

deformidade. O rosto dela ainda era lindo, e vivo com uma preocupação ainda mais

penetrante do que a minha. Eu tive que desviar o olhar, antes que o amor por trás das

suas preocupações fizessem o meu peito doer de novo.

"A comida tá pronta", ela anunciou, a conversa sobre estratégias virou história. Os

rapazes correram ao redor da mesa - que parecia pequena e prestes a cair por causa deles

- e devoraram a panela de tamanho gigante de ovos que Emily havia colocado na frente

deles em tempo recorde. Emily comeu inclinada no balcão como eu - evitando a

confusão da mesa - e olhou pra eles com olhos aficionados. A expressão dela deixava

bem claro que essa era a sua família.

No fim das contas, isso não era exatamente o que eu esperava de um bando de

lobisomens.

Eu passei o dia em La Push, em grande parte na casa de Billy. Ele deixou mensagens no

telefone de Charlie e na delegacia, e Charlie apareceu quase na hora do jantar com duas

pizzas. Foi bom que ele tenha trazido duas grandes; Jacob comeu uma inteira sozinho.

Eu vi Charlie olhando pra nós dois com olhos suspeitos a noite inteira, especialmente

para o Jacob muito mudado. Ele perguntou sobre o cabelo; Jacob levantou os ombros e

disse que isso era mais conveniente.

Eu sabia que assim que Charlie e eu fossemos pra casa, Jacob ia se mandar - ele ia sair

por aí como lobo, como ele havia feito em pequenos intervalos durante o dia inteiro.

Ele e os seus irmãos meio que mantinham uma ronda constante, procurando por algum

sinal de que Victória havia voltado. Mas desde que eles a caçaram nas piscinas termais

ontem á noite - caçado ela até meio caminho do Canadá, de acordo com Jacob - ela

continuava desaparecida.

Eu não tinha a mínima esperança que ela fosse simplesmente desistir. Eu não tinha esse

tipo de sorte.

Jacob me acompanhou até a caminhonete depois do jantar e ficou grudado na janela,

esperando que Charlie fosse embora primeiro.

"Não tenha medo essa noite", Jacob disse enquanto Charlie fingia estar tendo problemas

com o cinto de segurança. "Nós vamos estar de olho lá, observando".

"Eu não vou estar preocupada comigo mesma", eu prometí.

"Você é boba. Caçar vampiros é divertido. É a melhor parte dessa bagunça toda".

Eu balancei minha cabeça. "Se eu sou boba, então você está perigosamente

desequilibrado".

Ele gargalhou. "Descanse um pouco, Bella, querida. Você parece exausta".

"Eu vou tentar".

Charlie tocou a buzina impaciente.

"Te vejo amanhã", Jacob disse. "Venha assim que acordar".

"Eu vou".

Charlie me seguiu até em casa. Eu prestei pouca atenção aos faróis no meu espelho

retrovisor. Ao invés disso, eu imaginei onde Sam e Jared e Embry e Paul haviam ido, na

sua caçada de hoje á noite. Eu imaginei se Jacob já havia se juntado a eles.

Quando nós chegamos em casa, eu corri para as escadas, mas Charlie estava bem atrás

de mim.

"O que está acontecendo, Bella?", ele quis saber antes que eu conseguisse escapar. "Eu

pensei que Jacob fizesse parte de uma gangue e que vocês estavam brigando".

"Fizemos as pazes".

"E a gangue?"

"Eu não sei - quem consegue entender os garotos adolescentes? Eles são um mistério.

Mas eu conheci Sam Uley e sua noiva, Emily. Pra mim eles pareceram bem legais". Eu

levantei os ombros. "Deve ter sido tudo um mal-entendido".

O rosto dele mudou. "Eu não sabia que ele e Emily haviam tornado oficial. Isso é bom.

Pobre garota".

"Você sabe o que aconteceu com ela?"

"Espancada por um urso, no norte, durante a temporada de defeso dos salmões - um

acidente horrível. Faz mais de um ano agora. Eu ouvi dizer que Sam ficou bem

perturbado com a coisa toda".

"Isso é horrível", eu ecoei. Mais de um ano atrás. Eu aposto que isso havia acontecido

quando só havia um lobisomem em La Push. Eu tremi ao pensar em como Sam deve se

sentir toda vez que olha para o rosto de Emily.

Naquela noite eu fiquei acordada por muito tempo tentando pensar no dia de hoje. Eu

pensei no meu jantar com Billy, Jacob e Charlie, na longa tarde na casa dos Black,

esperando ansiosamente ter notícias de Jacob, na cozinha de Emily, o horror da briga de

lobisomens, a conversa com Jacob na praia.

Eu pensei no que Jacob havia dito cedo nesse manhã, sobre hipocrisia.

Eu pensei nisso por um longo momento. Eu não gostava de pensar que era uma

hipócrita, só que qual era a vantagem de mentir pra mim mesma?

Eu me curvei numa bola muito apertada. Não, Edward não era um assassino. Mesmo em

seu passado obscuro, pelo menos ele nunca foi assassino de inocentes.

Mas e se ele tivesse sido? E se, durante o tempo que eu não o conheci, ele tivesse sido

exatamente igual a qualquer outro vampiro? E se houvessem pessoas desaparecendo nas

florestas, como agora? Isso teria me mantido afastada dele?

Eu balancei minha cabeça tristemente. O amor é irracional, eu lembrei pra mim mesma.

Quanto mais você ama alguém, menos sentido as coisas fazer.

Eu me virei e tentei pensar em outra coisa - em pensei em Jacob e seus irmãos, correndo

na escuridão. Eu peguei no somo imaginando os lobos, invisíveis na noite, me

protegendo do perigo.

Quando eu sonhei, eu estava na floresta de novo, mas eu não estava vagando. Eu estava

segurando a mão assustada de Emily enquanto nós encarávamos as sombras e

esperávamos ansiosamente que os nossos lobisomens voltassem pra casa.

15. Pressão

Eram as férias de primavera em Forks de novo.

Quando eu acordei na segunda de manhã, eu fiquei deitada na cama por uns minutos

absorvendo isso. Nas últimas férias de primavera, eu fui caçada por um vampiro

também. Eu esperava que essa não fosse uma espécie de tradição se formando.

Eu já estava caindo nos padrões das coisas em La Push. Eu passei a maior parte do

domingo na praia, enquanto Charlie ficava com Billy na casa dos Black. Era pra eu ter

ficado com Jacob, mas Jacob tinha outras coisas pra fazer, então eu fiquei vagando

sozinha, pra manter o segredo escondido de Charlie.

Quando Jacob parou pra vir me ver, ele se desculpou por mr deixar sozinha por tanto

tempo. Ele me disse que a sua agenda não era sempre tão louca, mas até que Victoria

fosse parada, os lobos estavam em alerta vermelho.

Quando nós andavamos pela praia agora, ele sempre segurava a minha mão.

Isso me fez meditar sobre o que Jared tinha dito, sobre Jacob estar envolvendo a sua

"namorada". Eu acho que isso era exatamente o que parecia pelo lado de fora. Enquanto

Jake e eu soubessemos o que era, eu não devia me incomodar com esses tipos de

suposições.

E talvez elas não me incomodassem, se eu não soubesse que Jacob teria adorado que as

coisas fossem como aparentavam ser.

Mas as mãos dele eram boas aquecendo as minhas, e eu não protestei.

Eu trabalhei na terça á tarde - Jacob me seguiu na sua moto pra ter certeza de que eu

chegaria á salvo - e Mike reparou.

"Você tá namorando aquele garoto de La Push? O do segundo ano?" Ele escondeu,

escondendo muito mal o ressentimento na sua voz.

Eu levantei os ombros. "Não no sentido técnico da palavra. Porém, eu passo a maior

parte do tempo com Jacob. Ele é o meu melhor amigo".

Os olhos de Mike se apertaram maliciosamente. "Não se engane, Bella. O cara tá

apaixonado por você".

"Eu sei", eu suspirei. "A vida é complicada".

"E as garotas são cruéis", Mike disse por baixo do fôlego.

Eu acho que essa era uma suposição fácil de fazer, também.

Naquela noite, Sam e Emily se juntaram a Charlie e eu para a sobremesa na casa de

Billy. Emily levou um bolo que teria feito um homem menos duros que Charlie se

render.

Eu podia ver, enquanto a conversa saía fluentemente apesar da casual troca de assuntos,

que todas as preocupações que Charlie podia ter sobre a gangue de La Push estavam

desaparecendo.

Jake e eu escapamos cedo, pra ter um pouco de privacidade. Nós fomos para a garagem

dele e nos sentamos no Rabbit.

Jacob encostou a cabeça no encosto do banco, seu rosto coberto de exaustão.

"Você precisa dormir um pouco, Jake".

"Eu vou me virar".

Ele se aproximou e pegou minha mão. A pele dele estava queimando na minha.

"Isso é uma daquelas coisas de lobo?", eu perguntei. "Quer dizer, o calor".

"É. Nós ficamos um pouco mais quentes que as pessoas normais. Cerca de uns quarenta

e quatro, quarenta e cinco graus. Eu nunca mais fico com frio. Eu podia ficar assim" -

ele fez um gesto para o seu tórax nú - "numa tempestade de neve e isso não ia me

incomodar. Os flocos iam virar chuva onde eu estivesse".

"E você sara mais rápido - isso é uma coisa de lobo também?"

"É, quer ver? É bem legal" Os olhos dele se abriram e ele abriu um sorriso. Ele se

inclinou para o porta-luvas e cavou lá por um minuto. A mão dele saiu de lá de dentro

com um canivete.

"Não, eu não quero ver!" eu gritei assim que me dei conta do que ele estava

pretendendo fazer. "Põe isso pra lá!"

Jacob gargalhou, mas jogou a faca lá dentro onde ela pertencia. Tá bom. Contudo, é

bom que a gente sare rápido. Você não pode ir ver nenhum médico quando está com

uma temperatura que significa que você devia estar morto".

"Não, eu acho que não". Eu pensei nisso por um minuto.

"...E ser tão grande - é parte disso também? É por isso que você está preocupado com

Quil?"

"Isso e o fato de que o avô de Quil diz que o garoto é capaz de fritar um ovo na testa", o

rosto de Jacob ficou sem esperança. "Não vai demorar muito. Não há idade exata... isso

só se constrói se constrói, e então de repente -"

Ele parou, e demorou um momento até que ele pudesse falar de novo.

"As vezes, se você se aborrece muito com uma coisa, isso se libera mais cedo. Mas eu

não estava aborrecido com nada - eu estava feliz". Ele sorriu acidamente. "Por sua

causa, em grande parte.

Por isso que não aconteceu comigo antes. Ao invés de só continuar me construindo por

dentro - eu era como uma bomba relógio. Você sabe o que me disparou? Eu voltei pra

casa do cinema naquela noite e Billy disse que eu parecia estranho. Isso foi tudo, mas eu

simplesmente disparei. E então eu - eu explodí. Eu quase arranquei o rosto dele - meu

próprio pai!" Ele levantou os ombros, e seu rosto empalideceu.

"É tão ruim assim, Jake?", eu perguntei ansiosamente, desejando que houvesse alguma

forma de eu ajudá-lo. "Você está infeliz?"

"Não, eu não sou infeliz", ele me disse. "Não mais. Não agora que você sabe. Isso foi

difícil, antes". Ele se inclinou até que a bochecha dele estava descansando na minha

mão.

Ele ficou quieto por um momento, eu eu imaginei o que ele estava pensando. Talvez eu

não quisesse saber.

"Qual é a parte mais difícil?" eu sussurrei, ainda desejando poder ajudar.

"A parte mais defícil é se sentir... fora de controle", ele disse lentamente. "Sentir que eu

não posso ter certeza de mim mesmo - como se talvez você não devesse estar perto de

mim, como talvez ninguém devesse. Como se eu fosse um monstro que pode machucar

as pessoas. Você viu a Emily. Sam perdeu o controle do seu temperamente por um

segundo... e ela estava muito perto. E agora não há nada que ele possa fazer pra

concertar as coisas de novo. Eu ouço os pensamentos dele - eu sei como ele se sente...

"Quem quer ser um pesadelo, um monstro?

"Então, o jeito como vem mais fácil pra mim, o jeito que eu sou melhor nisso do que

eles - isso me torna menos humano que Embry ou Sam? As vezes eu tenho medo de me

perder".

"É difícil? Se encontrar novamente?"

"No começo", ele disse. "É preciso um poucvo de prática pra se transformar e voltar.

Mas é mais fácil pra mim".

"Porque?", eu imaginei.

"Porque Ephraim Black era avô do meu pai, e Quil Ateara era avô da minha mãe".

"Quil?", eu perguntei confusa.

"O bisavô dele", Jacob esclareceu. "O Quil que você conhece é meu primo de segundo

grau".

"E porque importa quem eram os seus avós?"

"Porque Ephraim e Quil estavam no último bando. Levi Uley era o terceiro. Isso está no

meu sangue dos dois lados. Eu nunca tive uma chance. Assim como Quil não tem uma

chance".

A expressão dele era vazia.

"Qual é a melhor parte?", eu perguntei, esperando animá-lo.

"A melhor parte", ele disse, sorrindo de novo de repente. "É a velocidade".

"Melhor do que as motos?"

Ele balançou a cabeça, entusiasmado. "Não tem comparação".

"Quão rápido você pode...?"

"Correr?" ele terminou minha pergunta. "Rápido o suficiente. Como é que eu posso

medir isso? Nós pegamos... como era o nome dele? Laurent? Eu imagino que isso seja

mais do que pra outras pessoas".

Isso significava algo pra mim. Eu não conseguia imaginar isso - os lobos correndo mais

rápido que os vampiros. Quando os Cullen correm, eles ficam nada menos que

invisíveis com a velocidade.

"Então, me diga uma coisa que eu não sei", ele disse. "Alguma coisa sobre vampiros.

Como foi que você aguentou, ficar ao redor deles? Isso não te assustou?"

"Não", eu disse curtamente.

Meu tom deixou ele pensativo por um momento.

"Diga, porque o seu sugador de sangue matou aquele James, afinal?" ele perguntou de

repente.

"James estava tentando me matar - era como um jogo pra ele. Ele perdeu. Você se

lembra da primavera passada quando eu estava no hospital em Phoenix?"

Jacob prendeu a respiração. "Ele chegou assim tão perto?"

"Ele chegou muito, muito perto". Eu toquei minha cicatriz. Jacob percebeu, porque ele

segurou a mão que eu havia mexido.

"O que é isso?" Ele trocou as mãos, examinando a minha direita.

"Isso é a sua cicatriz engraçada, a fria" Ele olhou mais de perto, com outros olhos, e

asfixiou.

Seus olhos incharam, e o rosto dele ficou de uma cor estranha, superficial, por baixo da

cor de cobre. Parecia que ele estava prestes a passar mal.

"Mas se ele te mordeu...? Você não devia ser...?" Ele engasgou.

"Edward me salvou duas vezes", eu sussurrei. "Ele sugou o veneno pra fora - você sabe,

como uma cascavél", eu me contorcí com a dor que se lançou nas beiras do buraco.

Mas eu não era a única me contorcendo. Eu podia sentir o corpo de Jacob tremendo

todo perto do meu. Até o carro tremeu.

"Cuidado, Jake. Calma. Acalme-se".

"É", ele arquejou. "Calma". Ele balançou a cabeça pra frente e pra trás rapidamente.

Depois de um momento, apenas as suas mãos estavam tremendo.

"Você tá bem?"

"É, quase. Me fale outra coisa. Me dê outra coisa pra pensar".

"O que você quer saber?"

"Eu não sei", ele estava com os olhos fechados, se concentrando. "As coisas extras, eu

acho. Agum outro dos Cullen tem... talentos extras? Como ler mentes?"

Eu hesitei por um segundo. Essa parecia o tipo de pergunta que ele faria a sua espiã, não

a sua amiga. Mas qual era a necessidade de esconder o que eu sabia? Isso não importava

agora, e isso ajudaria ele a se controlar.

Então eu falei rapidamente, com a imagem do rosto arruinado de Emily na minha

cabeça, e o cabelo dos meus braços se levantando. Eu não tinha idéia de como o lobo

ruivo caberia dentro do Rabbit - Jacob ia acabar com a garagem inteira se ele se

transformasse agora.

"Jasper conseguia... meio que controlar as emoções das pessoas ao seu redor. Não de

um jeito ruim, só acalmar uma pessoa, esse tipo de coisa. Isso provavelmente ajudaria

muito Paul", eu adicionei, brincando fracamente. "E depois Alice pode ver coisas que

vão acontecer. O futuro, sabe, mas não absolutamente. As coisas que ela vê mudam

quando as pessoas mudam o caminho onde estão..."

Como quando ela me viu morrendo... e ela havia visto eu me tornando uma deles. As

duas coisas não haviam acontecido. E uma delas nunca iria.

Minha cabeça começou a girar - eu não parecia conseguir tirar oxigênio suficiente do ar.

Sem pulmões.

Jacob estava inteiramente sobre controle agora, muito rígido ao meu lado.

"Porque você faz isso?", ele perguntou. Ele cutucou levemente em um dos meus braços,

que estava agarrado no meu peito, e depois desistiu quando viu que eu não soltaria tão

facilmente. "Você faz isso quando está chateada. Porque?"

"Dói pensar neles", eu sussurrei. "É como se eu não pudesse respirar... como se eu

estivesse me quebrando em pedaços..." Era bizarro o quanto eu podia contar pra Jacob

agora. Nós não tínhamos mais segredos.

Ele alisou meu cabelo. "Está tudo bem, Bella, está tudo bem. Eu não vou mais falar

nisso. Me desculpe".

"Eu estou bem", eu asfixiei. "Acontece o tempo todo. Não culpa sua".

"Nós somos um par bem bagunçado, não somos?", Jacob disse. "Nenhum de nós

consegue se segurar da maneira certa".

"Patético", eu concordei, ainda sem fôlego.

"Pelo menos nós temos um ao outro", ele disse, claramente confortado com o

pensamento.

Eu estava confortada também. "Pelo menos tem isso", eu concordei.

E quando nós estávamos juntos, eu estava bem. Mas Jacob tinha um trabalho horrível,

perigoso, que ele se achava compelido a fazer, então eu estava frequentemente sozinha,

presa em La Push para a minha segurança, sem nada pra afastar minha mente das

preocupações.

Eu me sentia estranha, sempre ocupando o espaço de Billy. Eu estudei um pouco para

um teste de Cálculo que teria na semana que vem, mas não consegui ficar presa na

metemática durante muito tempo.

Quando eu não tinha nada óbvio pra fazer nas mãos, eu me sentia obrigada a conversar

com Billy - a pressão das regras normais da sociedade.

Mas Billy não era muito bom pra preencher silêncios longos, e então a estranheza

continuava.

Eu tentei dar uma volta na casa de Emily na quarta á tarde, pra variar um pouco. No

início foi bem legal. Emily era uma pessoa alegre que nunca ficava sentada.

Eu me arrastava atrás dela enquanto ele flutuava entre sua pequena casa e o quintal,

esfregando o chão impecável, cortando uma pequena erva daninha, concertando uma

dobradiça quebrada, recolocando um fio de lã num novelo velho, sempre cozinhando

também. Ela reclamava um pouco do apetite crescente dos garotos por causa da corrida

extra, mas era fácil ver que ela não se incomodava em cuidar deles.

Não era difícil estar com ela- afinal, agora nós duas eramos garotas lobo.

Mas Sam apareceu depois que eu fiquei lá por algumas horas. Eu só fiquei lá por tempo

suficiente pra me certificar de que Jacob estava bem e de que não haviam novidades, e

depois eu tive que escapar.

A aura de amor e contentamento que cercava os dois era difícil de tomar em doses

concentradas, sem ninguém ao seu redor para diluí-la.

Isso me deixou a opção de ir vadiar na praia, passeando na escosta de pedras pra frente e

pra trás, de novo e de novo.

O tempo sozinha não era bom pra mim. Graças á nova honestidade com Jacob, eu estive

falando e pensando demais nos Cullen. Não importava o quanto eu tentasse me distrair -

e eu tinha muito no que pensar: eu estava honestamente e desesperadamente preocupada

com Jacob e com seus irmãos-lobos, eu estava aterrorizada por Charlie e pelos outros

que achavam que estavam caçando animais, eu estava me aproximando mais e mais de

Jacob sem ter decidido conscientemente progredir nessa direção e não sabia o que fazer

sobre isso - nenhuma dessas preocupações muito reais, muito merecedoras de

pensamentos, muito opressoras, conseguiam tirar a minha cabeça da dor do meu peito

por muito tempo. Eventualmente, eu nem conseguia mais caminhar, porque eu não

conseguia mais respirar.

Eu me sentei num pedaço de rochas semi-secas e me cuvei numa bola.

Jacob me encontrou assim, eu podia ver pela expressão dele que ele entendia.

"Eu lamento", ele disse imediatamente. Ele me puxou do chão e passou ambos os braços

pelos meus ombros. Eu não havia percebido que estava com frio até essa hora.

O calor dele me fez tremer, mas pelo eu podia respirar com ele lá.

"Eu estou arruinando as suas férias de primavera", Jacob se acusou enquanto

caminhávamos de volta para a praia.

"Não, não está. Eu não tinha outros planos. De qualquer jeito, eu acho que não gosto de

férias de primavera".

"Amanhã eu vou tirar a manhã de folga. Os outros podem correr sem mim. Nós vamos

fazer alguma coisa divertida".

A palavra pareceu fora de contexto pra minha vida agora, mal era compreensível, era

bizarro. "Divertida?"

"Diversão é exatamente o que você precisa. Hmm..." ele olhou para as ondas escuras,

pensando. Enquanto os olhos dele olhavam para o horizonte, ele teve um flash de

inspiração.

"Já sei!", ele anunciou. "Outra promessa a cumprir".

Ele soltou a minha mão e apontou na direção da costa oeste da praia, onde estavam as

rochas planas, com formato de meia lua que acabavam nos recifes de corais

transparentes. Eu olhei, sem compreender.

"Eu não prometí que te levaria pra mergulhar nos penhascos?"

Eu tremi.

"É, vai estar bem frio - não tão frio quanto está hoje. Você consegue sentir o tempo

mudando? A pressão? Vai estar mais quente amanhã. Você tá a fim?"

A água escura não parecia convidativa, e, por esse ângulo, os penhascos pareciam ainda

mais altos que antes.

Mas já faziam dias que eu não ouvia a voz de Edward.

Isso era provavelmente parte do problema. Eu estava viciada no som das minhas

alucinações. As coisas pioravam se eu passava muito tempo sem ouví-las. Pular de um

penhasco certamente ia remediar essa situação.

"Claro, eu estou a fim. Diversão".

"É um encontro", ele disse, e passou o braço ao redor dos meus ombros.

"Ok - agora vamos fazer você dormir um pouco". Eu não gostava do jeito como os

círculos embaixo dos olhos dele pareciam estar grudados permanentemente na pele dele.

Eu acordei cedo na manhã seguinte e carreguei uma muda de roupas comigo para a

caminhonete. Eu tinha a sensação de que Charlie aprovaria os planos de hoje tanto

quanto ele aprovaria as motos.

A idéia de distração quase me deixou excitada. Talvez isso fosse divertido. Um

encontro com Jacob, um encontro com Edward... eu sorrí obscuramente pra mim

mesma. Jake podia dizer o que quisesse sobre nós sermos um par bagunçado- mas era

eu que era realmente bagunçada. Eu fazia um lobisomem parecer absolutamente normal.

Eu esperei que Jacob esperasse por mim na frente, do jeito que ele sempre fazia quando

minha caminhonete barulhenta anunciava a minha chegada. Quando ele não apareceu,

eu imaginei que talvez ele ainda estivesse dormindo. Eu ia esperar - deixar ele descansar

o quanto pudesse. Ele precisava do sono, e isso ia dar tempo pro dia esquentar mais. No

entanto, Jake estava certo sobre o tempo; ele havia mudado durante a noite.

Uma grossa camada de nuvens se apertava na atmosfera agora, deixando ela quase

abafada; estava quente e aconchegante em baixo do cobertor cinza. Eu deixei meu

suéter na caminhonete.

Eu batí baixinho na porta.

"Entre, Bella", Billy disse.

Ele estava na mesa da cozinha, comendo cereal frio.

"Jake tá dormindo?"

"Er, não", ele abaixou sua colher, e suas sobrancelhas se apertaram.

"O que aconteceu?" Eu quis saber. Eu podia dizer pela expressão dele que alguma coisa

havia acontecido.

"Embry, Jared e Paul cruzaram numa trilha fresca essa manhã. Sam e Jake foram ajudar.

Sam estava esperançoso - ela está indo na direção das montanhas. Ele acha que eles têm

uma boa chance de acabar com isso".

"Oh, não, Billy", eu cochichei. "Oh, não".

Ele gargalhou, profundamente e baixo. "Você realmente gosta tanto de La Push que

quer permanecer presa aqui?"

"Não faça piadas, Billy. Isso é assustador demais pra isso".

"Você está certa", ele concordou, ainda complacente. Seus olhos anciões eram

impossíveis de ler. "Essa é difícil".

Eu mordí meu lábio.

"Não é tão perigoso pra eles quanto você pensa que é. Sam sabe o que está fazendo. É

com você mesma que você devia se preocupar. A vampira não quer lutar com eles. Ela

só está tentando despistá-los... pra chegar até você".

"Como é que Sam sabe o que está fazendo?" Eu quis saber, colocando de lado a sua

preocupação por mim. "Eles só mataram um vampiro - aquilo pode ter sido sorte".

"Nós levamos muito a sério o que fazemos, Bella. Nada foi esquecido. Tudo o que eles

sabem foi passado de pai pra filho por gerações".

Isso não me confortou do jeito que ele provavelmente intencionava.

A memória de Victória, selvagem, parecendo uma gata, letal, estava forte demais na

minha cabeça. Se ela não conseguisse passar pelos lobos, ele eventualmente iria passar

por cima deles.

Billy voltou para o seu café da manhã; eu me sentei no sofé e fiquei passando os canais

da Tv á toa. Isso não durou muito tempo. Eu comecei a me sentir fechada na sala

pequena, claustrofóbica, chateada pelo fatop de que eu não conseguia enxergar através

das cortinas da janela.

"Eu vou estar na praia", eu disse pra Billy abruptamente, e corrí para a porta.

Estar do lado de fora não me ajudou tanto quanto eu esperava. As nuvens empurravam

um peso invisível que não permitia que a claustrofobia fosse embora. A floresta parecia

estranhamente vazia enquanto eu caminhava na direção da praia. Eu não vía os animais

- nada de pássaros, nada de esquilos. Eu também não ouvia os pássaros.

O silêncio era melancólico; não havia nem o som do vento nas árvores.

Eu sabia que isso era só um produto do tempo, mas isso ainda me deixou nervosa. A

pressão pesada, quente da atmosfera era perceptível até para os meus fracos sensos

humanos, e isso significava algo mais no departamento climático. Uma olhada para o

céu levou minhas suspeitas embora; as nuvens estavam se agitando pregiçosamente

apesar do pouco vento que havia no chão. As nuvens mais próximas era de uma cor

cinza de fumaça, mas entre as aberturas, eu podia ver uma outra camada que era de uma

horrível cor roxa. Os céus tinham um horrível plano pra hoje. Os animais deviam estar

se escondendo.

Assim que eu cheguei na praia, eu desejei não ter vindo - eu já tinha aguentado esse

lugar o suficiente.

Eu havia estado aqui quase todos os dias, vagando sozinha. Será que isso era tão

diferente dos meus pesadelos? Mas onde mais eu poderia ir? Eu me abaixei para a

árvore de salgueiro, e me sentei no seu fim pra poder me encostar nas raízes

emaranhadas. Eu olhei para o céu raivoso sangrando, esperando que as primeiras gotas

de chuva quebrassem a quietude.

Eu tentei não pensar no perigo que Jacob e seus amigos estavam correndo. Porque nada

podia acontecer com Jacob. O pensamento era insuportável. Eu já havia perdido muito -

será que o destino iria levar embora os únicos trapos de paz que foram deixados pra

trás?

Isso parecia injusto, fora de equilíbrio. Mas talvez eu tivesse violado alguma regra

desconhecida, crusado alguma linha que havia me condenado. Talvez fosse errado estar

envolvida com tantos mitos e lendas, para a minha volta para o mundo dos humanos.

Talvez...

Não. Nada aconteceria com Jacob. Eu tinha que acreditar nisso ou nunca seria capaz de

funcionar direito.

"Argh!", eu rosnei, e pulei pra fora do tronco. Eu não podia ficar sentada, isso era pior

que ficar vagando.

Eu realmente estava contando com ouvir Edward essa manhã. Parecia que essa era a

única coisa que faria esse dia suportável de viver.

O buraco estava em chamas ultimamente, como se ele estivesse se vongando pelos

momentos em que a presença de Jacob o acalmava. As ectremidades queimavam.

As ondas aumentaram enquanto eu andava, começando a se chocarem com as rochas,

mas ainda não havia nenhum vento. Eu me sentí esmagada pela pressão da tempestade.

Tudo estava girando ao meu redor, mas eu estava perfeitamente imóvel onde estava. O

ar sofreu um leve alteração elétrica - eu podia sentir a estática nos meus cabelos.

Á distância, as ondas estavam mais raivosas do que estavam na costa.

Eu podia ver elas banhando a fila de precipícios, espalhando grandes nuvens brancas

que saiam do mar em direção ao céu.

Ainda não havia nenhum movimento no ar, apesar das nuvens estarem se movendo mais

rapidamente agora.

Era uma vista melancólica - como se as nuvens estivessem se movendo por vontade

própria. Eu tremí, apesar de saber que isso era só um truque da pressão.

Os precipícios pareciam a ponta de uma faca preta indo contra o céu lívido. Olhando pra

eles, eu me lembrei do dia em que Jacob me contou sobre Sam e sua "gangue". Eu

pensei nos garotos - nos lobisomens - jogando a sí mesmos no espaço vazio. As

imagens das figuras caindo, rodopiando, ainda estavam vívidas na minha mmemória. Eu

imaginei a liberdade infinita da queda... eu imaginei o jeito como a voz de Edward

soaria na minha cabeça - furiosa, aveludada, perfeita... A queimadura no meu peito

ardendo de forma agonizante.

Tinha que haver um jeito de extinguir isso. A dor estava mais intolerável a cada

segundo. Eu olhei para os precipícios e para as ondas batendo.

Bem, porque não? Porque não extinguí-lo agora?

Jacob havia me prometido o mergulho nos penhascos, não havia? Só porque ele não

estava disponível, será que eu devia abrir mão da distração que eu precisava tanto - e

precisa ainda mais porque Jacob estava arriscando sua vida?

Se arriscando, em essencia, por mim. Se não fosse por mim, Victória não estaria

matando pessoas aqui... só alguma outra pessoa, em um lugar distante. Se alguma coisa

acontecesse com Jacob, seria minha culpa. Essa realização me atingiu profundamente

como uma facada e eu saí correndo pela estrada na direção da casa de Billy, onde minha

caminhonete estava esperando.

Eu sabia o caminho para a rua que passava mais próxima dos penhascos, mas eu tive

que fazer um pequeno desvio para o caminho que me levaria á beira deles.

Enquanto eu seguia por aí, eu procurei por retornos ou encruzilhadas, sabendo que Jake

havia planejado me levar para o penhasco mais baixo e não para o mais, mas o caminho

acabava numa única linha fina na direção dos penhascos me deixando sem opção.

Eu não tinha tempo pra procurar outro caminho pra baixo - a tempestade estava se

movendo mais rapidamente agora.

O vento finalmente havia começado a me tocar, as nuvens se aproximando ainda mais

do chão. Assim que eu cheguei no fim do caminho de terra que levava ao precipício de

pedra, as primeiras gotas começaram a cair e bater no meu rosto.

Não foi muito difícil me convencer de que eu não tinha tempo pra procurar outro

caminho - eu queria pular do topo. Essa era a imagem que havia ficado grudada na

minha cabeça. Eu queria a longa queda que faria parecer que eu estava voando.

Eu sabia que essa era a coisa mais estúpida e irresponsável que eu já havia feito. Esse

pensamento me fez sorrir. A dor já estava se acalmando, como se o meu corpo soubesse

que a voz de Edward estava a apenas alguns segundos de distância...

O oceano parecia muito distante, de alguma forma mais do que antes, quando eu estava

passeando perto da árvore. Eu fiz uma careta quando pensei na provável temperatura da

água. Mas eu não ia deixar isso me impedir.

O vento soprava mais forte agora, soprando a chuva como um redemoinho ao meu

redor.

Eu pisei na beira do precipício, mantendo meus olhos no espaço vazio á minha frente.

Meus pés seguiram em frente cegamente, acariciando a margem da pedra quando a

encontraram. Eu respirei fundo e segurei a respiração... esperando.

"Bella"

Eu sorrí e exalei.

Sim? Eu não respondí em voz alta, com medo que o som da minha voz alta fizesse a

minha linda ilusão desaparecer. Ele parecia tão real, tão próximo. Era só quando mentir

era reprovável como nessa hora que eu conseguia ouvir a memória real da sua voz - a

textura aveludada, a entonação musical que fazia a mais perfeita das vozes.

"Não faça isso", ele implorou.

Você queria que eu fosse humana, eu lembrei ele. Bem, me observe.

"Por favor. Por mim".

Mas de outro jeito você não vai ficar comigo.

"Por favor", era só um sussurro na chuva forte que soprava os meus cabelos e

encharcava as minhas roupas - me deixando tão molhada como se eu estivesse dando o

segundo mergulho do dia.

Eu rolei nos calcanhares.

"Não, Bella!", ele estava com raiva agora, e a raiva era tão adorável.

Eu sorrí e ergui meus braços pra fora, como se eu fosse mergulhar, levantando o meu

rosto para a chuva.

Mas eu estava bem treinada demais por causa dos anos de piscinas públicas - pés

primeiro, primeira vez. Eu me inclinei para a frente, me abaixando pra conseguir mais

impulso...

E me joguei no penhasco.

Eu gritei enquanto caia no espaço como um meteoro, mas era um grito de exitação, não

de medo. O vento resistiu, tentando inutilmente lutar contra a invencível gravidade, se

empurrando contra mim e me girando em espirais como um foquete caindo na terra.

Sim! A palavra ecoou na minha cabeça enquanto eu entrava cortando na superfície da

água. Ela estava mais fria, mais gelada do que eu temia, e mesmo assim o frio só

aumentou a adrenalina.

Eu estava orgulhosa de mim mesma enquanto mergulhava mais fundo na água negra

congelante. Eu não tive nenhum momento de terror - só pura adrenalina. Realmente, a

queda não foi nem um pouco assustadora. Onde estava o desafio?

Foi aí que a corrente me pegou.

Eu estive tão preocupada com o tamanho dos penhascos, com o óbvio perigo da sua

altura, das suas faces afiadas, que eu não havia me preocupado nem um pouco com a

água negra esperando. Eu nunca sonhei que a verdadeira ameaça estivesse embaixo de

mim, embaixo da maré alta.

Eu sentí que as ondas estavam brigando comigo, me jogando pra frente pra trás, como

se estivessem determinadas a se juntarem pra me partir ao meio.

Eu sabia o jeito certo de evitar a maré cheia: era melhor nadar paralelamente até a praia

do que lutar pra chegar na praia. Mas esse conhecimento não ajudou muito já que eu

não sabia pra que lado a costa estava.

Eu nem sabia dizer pra que lado estava a superfície.

A água raivosa era preta em todas as direções; não havia nem um brilho pra me guiar. A

gravidade era toda poderosa quando lutava com o ar, mas ela não era nada nas ondas -

eu não conseguia me sentir sendo puxada pra baixo, ser guiada em nenhuma direção.

Eu só podia sentir o banho das correntes que me jogavam pra lá e pra cá como se eu

fosse uma boneca de pano.

Eu lutei pra manter o meu ar pra dentro, pra manter os meus lábios selados na minha

última reserva de oxigênio.

Não me surpreendeu que a minha ilusão de Edward estava lá. Ele me devia muito,

levando em consideração que eu estava morrendo. Eu estava supresa de ver o quanto

esse conhecimento era certo. Eu ia me afogar. Eu estava me afogando.

"Continue nadando!" Edward implorou urgentemente na minha cabeça.

Pra onde? Não havia nada além da escuridão. Não havia nenhum lugar pra nadar

"Pare com isso!", ele ordenou. "Não se atreva a desistir!"

A água gelada estava deixando meus braços e pernas dormentes. Eu nem sentia mais as

ondas batendo. Agora era mais como uma vertigem, como um rodopio sem esperança

na água.

Mas eu escutei ele. Eu forcei meus braços a continuarem avançando, minhas pernas a

chutarem com mais força, apesar de estar indo para uma direção diferente a cada

segundo. Isso não estava levando a nada. Qual era o ponto?

"Lute!", ele gritou. "Droga, Bella, continue lutando".

Porque?

Eu não queria mais lutar. E não era a cabeça leve, o frio, e nem os meus braços falhando

quando os meus musculos desistíram de exaustão, que me deixaram contente por estar

aqui onde eu estava.

Eu estava quase feliz por estar tudo acabado. Essa era uma morte mais fácil do que as

outras que eu enfrentei. Estranhamente tranquila.

Eu pensei brevemente nos clichés, de como você devia ver a sua vida passando na frente

dos seus olhos. Eu tinha muito mais sorte. Quem queria ver um replay, afinal?

Eu via ele, e eu não tinha vontade de lutar. Era tão claro, quase mais definido do que

qualquer memória. Meu subconsciente havia guardado Edward com perfeição de

detalhes, guardando ele para esse momento final.

Eu podia ver seu rosto perfeito como se ele estivesse realmente lá; o tom exato da sua

pele gelada, o formato dos seus lábios, a linha da sua mandíbula, o brilho nos seus

furiosos olhos dourados.

Ele estava com raiva, naturalmente, por eu estar desistindo. Seus dentes estavam

trincados e suas narinas estavam infladas de raiva.

"Não! Bella, não!"

Meus ouvidos estavam cheios da água gelada, mas a voz dele estava mais clara que

nunca. Eu ignorei as palavras dele e tentei me concentrar no som da sua voz. Porque eu

iria lutar quando estava tão feliz por estar aqui?

Mesmo com os meus pulmões queimando por mais ar e com minhas pernas congeladas

pela água fria, eu estava feliz. Eu havia me esquecido do que é a verdadeira felicidade.

Felicidade. Isso fazia toda a coisa de estar morrendo ser bem suportável.

A corrente ganhou nesse momento, me jogando abruptamente contra alguma coisa dura,

uma rocha invisível na escuridão. Ela bateu solidamente no meu peito, me atingindo

como uma barra de ferro, e então o ar foi roubado dos meus pulmões, escapando com

uma grossa nuvem de bolhas prateadas.

A água entrou pela minha garganta, me engasgando e queimando. A barra de aço

parecia estar me arrastando, me puxando pra longe de Edward, mais profundamente

para a escuridão, para o fundo do oceano.

Adeus, eu te amo, foi meu último pensamento.

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