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cap. 12 ao 14

12. Oscilando

"Billy!" Charlie chamou assim que saiu do carro.
Eu virei na direção da casa, convidando Jacob pra entrar enquanto passava pelo portal da entrada. Eu ouví Charlie saudando os dois em voz alta atrás de mim.
"Eu vou fingir que não ví você atrás do volante, Jake", ele disse em tom de desaprovação.
"Nós recebemos as carteiras mais cedo na reserva", Jacob disse enquanto eu destrancava a porta e ligava a luz da varanda.
"Claro que recebem". Charlie riu.
"Eu preciso sair de alguma forma", eu reconhecí facilmente a voz ressonante de Billy, apesar dos anos. O som dela fez com que eu me sentisse mais nova de repente, uma criança.
Eu entrei, deixando a porta aberta atrás de mim e acendendo as luzes antes de tirar meu casaco. Então eu fiquei perto da porta, observando ansiosamente enquanto Jacob e Charlie ajudavam Billy a sair do carro e a sentar na sua cadeira de rodas.
Eu saí do caminho enquanto os três corriam pra dentro, sacudindo a chuva.
"Isso é uma surpresa", Charlie estava dizendo.
"Já faz muito tempo", Billy disse. "Eu espero que esse não seja um momento ruim". Seus olhos escuros vieram parar em mim de novo. Sua expressão estava ilegível.
"Não, está ótimo. Eu espero que você possa ficar para o jogo."
Jacob sorriu. "Eu acho que esse é o plano- nossa TV quebrou na semana passada".
Billy fez uma cara feia para o filho. "E, é claro que Jacob estava ansioso pra ver Bella de novo", ele acrescentou. Jacob fez uma careta e baixou a cabeça enquanto eu tentava lutar contra uma onda de remorso que eu sentí de repente. Talvez eu tenha sido convincente demais na praia.
"Vocês estão com fome?" Eu perguntei, me virando na direção da cozinha. Eu estava ansiosa pra escapar do olhar especulativo de Billy.
"Não, nós acabamos de comer antes de vir pra cá". Jacob respondeu.
"E você, Charlie?", eu perguntei por cima do meu ombro enquanto virava no corredor.
"Claro", ele respondeu, sua voz vinha da entrada e estava se dirigindo á sala de TV. Eu podia ouvir a cadeira de Billy acompanhando.

Os sanduíches de queijo grelhado estavam na frigideira e eu estava fatiando um tomate quando sentí alguém atrás de mim.

"Então, como vão as coisas?", Jacob perguntou.

"Muito bem", era difícil resistir ao entusiasmo dele. "E você? Já terminou o seu carro?"

"Não", ele fez uma careta. "Eu ainda preciso de partes. Nós pegamos aquele emprestado". Ele apontou com o polegar na direção do quintal na frente de casa.

"Desculpa. Eu não ví nenhum...como era mesmo o nome da peça que você estava procurando?"

"Cilindro mestre", ele sorriu. "Tem alguma coisa errada com a caminhonete?" ele acrescentou.

"Oh. Eu só estava me perguntando porque você não estava dirigindo ela".

Eu olhei pra baixo para a frigideira e levantei a borda de um dos sanduíches pra olhar o lado de baixo. "Eu peguei uma carona com um amigo".

"Bela carona". Jacob estava admirado. "Contudo, eu não reconhecí o motorista. Eu achei que conhecia a maioria das pessoas daqui".

Eu afirmei com a cabeça, mantendo os olhos baixos enquanto virava os sanduíches.

"Meu pai pareceu reconhecê-lo de algum lugar".

"Jacob, você poderia pegar alguns pratos? Eles estão no armário em cima da pia."

"Claro".

Ele pegou os pratos em silêncio. Eu esperava que ele deixasse pra lá.

"Então, quem era?" ele perguntou, colocando dois pratos no balcão no meu lado.

Eu suspirei, vencida. "Edward Cullen".

Para minha supresa, ele riu. Eu olhei pra cima. Ele pareceu um pouco envergonhado.

"Eu acho que isso explica, então" ele disse. "Eu estava imaginando porque meu pai estava agindo tão estranho".

"É mesmo". Eu fingí uma expressão inocente. "Ele não gosta dos Cullen".

"Velho supersticioso", ele cochichou por baixo do fôlego.

"Você acha que ele vai dizer alguma coisa pra Charlie?" Eu não conseguí deixar de perguntar, as palavras sairam baixas e apressadas.

Jacob me encarou por um momento, e eu não conseguí entender a expressão nos seus olhos escuros. "Eu duvido", ele finalmente respondeu.

"Eu acho que Charlie já deu uma bela lição nele da última vez. Eles não se falaram muito desde então- hoje é uma espécie de reunião, eu acho. Eu não acho que ele vai falar nisso de novo"

"Oh" eu disse, tentando parecer indiferente.

Eu fiquei na frente da sala depois de levar a comida pra Charlie, fingindo que estava assistindo o jogo enquanto Jacob conversava comigo. Eu estava mesmo era ouvindo a conversa dos homens, procurando por algum sinal de que Billy ia me dedurar, pensando em alguma forma de pará-lo caso ele tentasse.

Foi uma noite longa. Eu tinha dever de casa pra fazer, mas estava com medo de deixar Billy sozinho com Charlie. Finalmente, o jogo acabou.

"Você e seus amigos vão voltar lá na praia logo?", Jacob perguntou enquanto carregava o seu pai pelo limiar da porta.

"Eu não tenho certeza", eu me esquivei.

"Foi divertido, Charlie", Billy disse.

"Volte para o próximo jogo", Charlie encorajou.

"Claro, claro", Billy disse. "Estaremos aqui. Tenha uma boa noite".

Seus olhos encontraram os meus. "Se cuide, Bella" ele acrescentou seriamente.

"Obrigada", eu murmurei, desviando o olhar.

Eu fui para a escada enquanto Charlie acenava pra eles na porta.

"Espere, Bella".

Eu congelei. Será que Billy tinha falado alguma coisa antes que eu estivesse na sala?

Mas Charlie estava relaxado, ainda sorrindo pela visita inesperada.

"Eu ainda não tive a chance de falar com você esta noite. Como foi seus dia?"

"Bom", eu hesitei com um dos pés no degrau da escada, procurando por detalhes que eu podia compartilhar sem medo. "Meu time de Badminton ganhou todas as quatro partidas hoje".

"Uau, eu não sabia que você jogava Badminton".

"Bem, na verdade eu não jogo,mas o meu parceiro é muito bom", eu admiti.

"Quem é?" ele perguntou interessado.

"Umm, Mike Newton", eu disse relutante.

"Ah,é- você já tinha dito que era amiga dele". Ele lembrou. "Boa família", ele meditou por um momento. "Porque você não convidou ele pro baile esse fim de semana?"

"Pai!" eu gemí.

"Ele está meio que namorando com a minha amiga Jéssica. Além do mais, você sabe que eue não sei dançar".

"Ah é" ele murmurou. Depois ele sorriu pedindo desculpas. "Então eu acho que é bom que você vai estar em Seattle no Sábado... Eu fiz planos pra ir pescar com os rapazes lá da delegacia. Tudo indica que o clima estará quente. Mas se você quiser adiar a viagem para esperar até alguém consiga ir com você, eu posso ficar em casa. Eu sei que te deixo sozinha tempo demais".

"Pai, você está fazendo um ótimo trabalho" Eu sorrí, esperando que o meu alivio não ficasse muito visível. "Eu nunca me importei em ficar sozinha- eu sou muito parecida com você", eu pisquei pra ele e ele deu um sorriso que fez seus olhos enrrugarem.

Eu dormí melhor essa noite, cansada demais pra sonhar de novo. Quando eu acordei na manhã de cor acinzentada, meu humor estava feliz. A noite tensa com Billy e Jacob pareceu inofensiva o suficiente; então eu decidí esquecê-la completamente. Eu me peguei assoviando enquanto estava prendendo a parte da frente da frente do meu cabelo com um grampo, e depois de novo quando descia as escadas.

Charlie reparou.

"Você está animada esta manhã" ele comentou enquanto tomávamos o café da manhã.

Eu levantei os ombros. "Hoje é sexta feira".

Eu me apressei para estar pronta para ir para a escola no segundo que Charlie fosse embora. Eu já estava com a minha mochila pronta, calçada, dentes escovados, mas mesmo correndo para a porta assim que eu tive certeza que Charlie já estava fora de vista, Edward foi mais rápido. Ele estava esperando no seu carro brilhante, com os vidros abaixados, o motor desligado.

Eu não hesitei dessa vez, entrando no lado do passgeiro rapidamente, tudo pra ver o rosto dele mais rápido. Ele mostrou seu sorriso torto pra mim, parando minha respiração e meu coração. Eu não conseguia imaginar como um anjo poderia ser mais glorioso. não havia nada nele que pudesse ser melhorado.

"Como você dormiu?", ele perguntou. Eu me perguntei se ele tinha noção de como sua voz era atraente.

"Bem. Como foi a sua noite?"

"Prazeirosa" Seu sorriso estava divertido; eu me sentí como se estivesse perdendo alguma piada.

"Será que eu posso perguntar o que você fez?"

"Não". Ele sorriu. "Hoje ainda é meu dia".

Hoje ele queria saber mais sobre as pessoas: mais sobre Renée, seus passatempos, o que nós fazíamos no nosso tempo livre. E depois a única avó que eu conhecia, meus poucos amigos da escola- me deixando envergonhada quando me perguntou sobre os garotos que eu havia namorado. Eu estava aliviada por nunca ter namorado, assim essa conversa em perticular não poderia durar muito. Ele pareceu tão surpreso quanto Jéssica e Angela pela minha falta de vida romântica.

"Então você nunca encontrou ninguém que você quisesse?" ele me perguntou num tom sério que me fez imaginar o que ele estaria pensando.

Eu fui malevolamente honesta. "Não em Phoenix".

Os seus lábios ficaram espremidos numa linha.

Nessa hora nós estávamos na cafeteria. Estava virando rotina o dia passar num sopro. Eu me aproveitei da sua breve pausa para dar uma mordida no meu pão.

"Eu devia ter deixado você vir sozinha hoje" ele disse, sem motivo algum, enquanto eu mastigava.

"Porque?" eu quis saber.

"Eu vou embora com Alice depois do almoço"

"Oh" eu pisquei desconcertada e desapontada. "Está tudo bem. Não é uma caminhada muito longa daqui até em casa".

Ele fez uma careta impaciente pra mim. "Eu não vou fazer você andar até sua casa. Nós vamos pegar a sua caminhonete e deixá-la aqui pra voce".

"Eu não trouxe as minhas chaves", eu suspirei. "Eu realmente não me importo de ir andando". Eu me importava era de não poder estar com ele.

Ele balançou a cabeça. "Sua caminhonete estará aqui, e a chave estará na ignição- a não ser que você tenha medo que alguém vá roubá-la". Ele sorriu com o pensamento.

"Tudo bem", eu concordei, torcendo os lábios. Eu tinha certeza de que as minhas chaves estavam no bolso da calça que eu usei na quarta, embaixo de uma pilha de roupas sujas na lavanderia.

Mesmo que ele invadisse minha casa, ou o que quer que ele estivesse planejando, ele jamais encontraria.

Ele pareceu sentir o desafio do meu consentimento. Ele sorriu, confiante demais.

"Então pra onde vocês vão?", eu perguntei tão casualmente quanto pude.

"Caçar" ele respondeu severamente. "Se eu vou estar sozinho com você amanhã, eu vou tomar todas as precauções que puder". Seu rosto ficou sombrio... e declarador.

"Você ainda pode cancelar, sabe".

Eu olhei pra baixo, com medo do poder persuasivo dos seus olhos. Eu me recusava a ser convenciada a sentir medo dele, não importava quão grande o perigo pudesse ser. Não importa, eu repetí na minha mente.

"Não" eu sussurei. "Eu não posso".

"Talvez você esteja certa" ele murmurou secamente. A cor dos seus olhos pareceu ficar mais escura enquanto eu observava.

Eu mudei de assunto. "Que horas eu te vejo amanhã?" Eu perguntei, já deprimida por ter que deixá-lo ir agora.

"Isso depende...é Sábado, você não quer dormir até tarde?" ele perguntou.

"Não" eu respondí rápido demais. Ele prendeu o riso.

"A mesma hora de sempre, então" ele decidiu. "Charlie vai estar em casa?"

"Não, ele vai pescar amanhã" Eu estava radiante pelo rumo conveniente que as coisas tomaram.

O tom de sua voz ficou afiado. "E se você não voltar pra casa, o que é que ele vai pensar?"

"Eu não tenho idéia" eu respondí calmamente. "Ele sabe que eu estava querendo lavar as roupas. Talvez ele ache que eu caí dentro da máquina".

Ele fez uma carranca pra mim e eu fiz uma carranca pra ele. A raiva dele era muito mais impressionante que a minha.

"O que você vai caçar hoje?" Eu perguntei depois de perder o concurso de quem encarava mais.

"Qualquer coisa que encontrarmos no parque. Nós não vamos muito longe" Ele pareceu se divertir com a minha referêcia casual ao seu segredo.

"Porque você está indo com Alice?" Eu me perguntei.

"Alice é a mais...encorajadora". Ele fez uma careta enquanto falava.

"E os outros?" eu perguntei timidamente. "O que eles são?"

Suas sobrancelhas se uniram por um breve momento. "Incrédulos, em grande parte."

Eu espiei rapidamente a sua família atrás de mim. Eles estavam olhando para direções diferentes, exatamente como na primeira vez que eu os ví. Só que agora ele só eram quatro; seu lindo irmão com o cabelo cor de bronze, estava sentado na minha frente, com os olhos confusos.

"Eles não gostam de mim", eu advinhei.

"Não é isso", ele discordou, mas seus olhos eram inocentes demais. "Eles só não entendem porque eu não consigo te deixar sozinha".

Eu fiz uma careta. "Eu também não, por falar nisso".

Edward balançou a cabeça lentamente e revirou os olhos na direção do teto antes de olhar para os meus olhos de novo. "Eu já disse- você não se vê com muita clareza. Você não é como ninguém que já tenha conhecido. Você me fascina".

Eu olhei pra ele, certa de que agora ele estava brincando.

Ele sorriu enquanto decifrava a minha expressão. "Tendo as vantagens que eu tenho", ele murmurou,tocando discretamente na testa. "Eu tenho uma compreensão melhor da mente humana. As pessos são previsíveis. Mas você... você nunca faz o que eu espero. Você sempre me pega de surpresa".

Eu desviei o olhar, meus olhos aterrisando na família dele de novo, envergonhada e insatisfeita. As palavras dele me fizeram parecer uma experiência científica. Eu queria rir de mim mesma por esperar outra coisa.

"Essa parte é fácil de explicar", ele continuou. Eu sentí seus olhos no meu rosto, mas ainda não conseguia olhar pra ele, com medo que ele percebesse o desespero nos meus olhos. "Mas tem mais... e isso não é fácil de explicar com palavras-"

Eu ainda estava olhando para os Cullen enquanto ele falava. De repente, Rosalie, a sua irmã loira, de tirar o fôlego, se virou pra me olhar. Olhar não- encarar, com olhos escuros e frios. Eu queria afastar o olhar, mas o olhar dela segurou o meu até que Edward parou no meio de uma frase e fez um barulho raivoso e baixo. Era quase um assobio.

Rosalie virou a cabeça e eu fiquei aliviada por estar livre.

Eu olhei de volta para Edward - eu sabia que ele veria a confusão e o medo que esbugalharam meus olhos.

Seu rosto estava contraído enquanto ele explicava. "Eu sinto muito sobre isso. Ela só está preocupada. Entenda... não é perigoso apenas pra mim se, depois de passar tanto tempo publicamente perto de você...", ele olhou pra baixo.

"Se?"

"Se isso acabar... mal". Ele deixou a cabeça cair nas mãos,como fez naquela noite em Port Angeles. Sua angústia era visível; eu queria confortá-lo, mas eu não tinha idéia de como. Minha mão foi na direção dele involuntariamente; rapidamente, porém, eu deixei ela cair na mesa, temendo que o meu toque só deixasse as coisas piores. Eu percebí lentamente que as palavras dele deviam me assustar. Eu esperei o medo vir,mas tudo que eu conseguia sentir era a dor do seu sofrimento.

E frustração- frustração porque Rosalie interrompeu o que ele estava dizendo. Eu não sabia como voltar ao assunto. Ele ainda estava com a cabeça nas mãos.

Eu tentei falar com uma voz normal. "E você tem que ir agora?"

"Sim", ele ergueu o resto; estava sério por um momento, e então o seu humor mudou e ele sorriu. "Provavelmente é o melhor a fazer. Nós ainda temos quinze minutos daquele filme inacabado de Biologia- eu não acho que poderia aguentar mais".

Eu encarei. Alice- seu cabelo preto formava uma auréola ao redor do seu rosto notável, élfico- estava repentinamente atrás dele. Sua leve figura era esbelta, graciosa mesmo estando absolutamente parada.

Ele saudou ela sem desviar os olhos de mim. "Alice".

"Edward". Sua voz soprano era quase tão atrante quanto a dele.

"Alice, Bella- Bella, Alice", ele nos apresentou, fazendo gestos com a mão casualmente, um sorriso torto nos lábios.

"Olá,Bella", seus olhos eram impossíveis de ler, mas seu sorriso era amigável. "É bom finalmente te conhecer".

Edward deu uma olhada sombria pra ela.

"Oi, Alice", eu disse timidamente.

"Você está pronto?" ela perguntou pra ele.

A voz dele estava indiferente. "Quase. Eu te encontro no carro".

Ela foi embora sem outra palavra. Seu caminhar era tão fluido, tão suntuoso que eu sentí uma leve pontada de inveja.

"Eu devo dizer 'divirta-se' eu seria o sentimento errado?" eu perguntei, virando pra ele de novo.

"Não. 'divirta-se' funciona tão bem quanto qualquer outra palavra", ele sorriu.

"Divirta-se, então", eu fiz o máximo para parecer sincera. É claro que eu não enganei ele.

"Eu vou tentar", ele ainda estava sorrindo. "E você tente se manter em segurança, por favor".

"Ficar segura em Forks- que desafio".

"Pra você isso é um desafio". Sua mandíbula ficou apertada.

"Prometa".

"Eu prometo tentar ficar em segurança", eu recitei. "Eu vou lavar roupa hoje á noite- isso não deve oferecer nenhum perigo".

"Não caia", ele zombou.

"Eu farei meu melhor"

Então, ele se levantou e eu me levantei também.

"Te vejo amanhã", eu suspirei.

"Parece tempo demais pra você, não parece?", ele meditou.

Eu afirmei pesadamente com a cabeça.

"Eu estarei lá pela manhã" ele prometeu, dando seu sorriso torto. Ele se inclinou sobre a mesa para tocar meu rosto, alisando a maçã do meu rosto de novo. Então ele se virou e foi embora. Eu fiquei olhando para ele até que ele foi embora.

Eu estava muito tentada a faltar as aulas restantes, ou pelo menos Educação física, mas um instinto de advertência me impediu. Eu sabia que se eu desaparecesse agora, Mike e os outros iriam presumir que eu estava com Edward. E Edward se preocupava com o tempo que passávamos juntos publicamente...caso algo desse errado.

Eu me recusava a pensar na última possibilidade, me concentrando em fazer as coisas mais seguras pra ele.

Eu intuitivamente sabia- e sentia que ele também- que amanhã seria providencial.

Nosso relacionamento não podia continuar se equilibrando, como estava, na ponta de uma faca.

Nós iamos cair de um lado ou de outro, dependendo inteiramente da decisão dele, ou dos seus instintos. Minha decisão estava tomada, eu já havia a tomado mesmo antes de poder escolher e eu estava disposta a ir adiante.

Porque não havia nada mais assustador pra mim, nada mais doloroso, do que o pensamento de me afastar dele.

Não havia possibilidade.

Eu fui para a aula, sentindo que era uma obrigação. Eu honestamente não poderia dizer o que aconteceu em Biologia; minha mente estava ocupada demais pensando em amanhã. Na aula de Educação física, Mike estava falando comigo de novo; ele desejou que eu me divertisse em Seattle. Eu expliquei cuidadosamente que havia cancelado a viagem, preocupada com minha caminhonete.

"Você vai pro baile com Cullen?", sua voz ficou mal-humorada de repente.

"Não, eu não vou ao baile".

"O que você vai fazer, então?",ele perguntou, interessado demais.

Minha primeira vontade foi de dizer pra ele não se meter. Inves disso, eu mentí brilhantemente.

"Lavar roupa, depois eu tenho que estudar para o teste de Trigonometria se não eu vou reprovar".

"Cullen vai te ajudar a estudar?"

Edward", eu enfatizei "não vai me ajudar a estudar. Ele vai viajar pra algum lugar durante fim de semana" As mentiras sairam mais naturalmente, eu reparei surpresa.

"Oh", ele se empertigou. "Você poderia vir para o baile com o nosso grupo- vai ser legal. Nós todos dançaremos com você", ele prometeu.

A imagem mental de da cara de Jéssica deixou o meu tom mais áspero do que era necessário.

"Eu não vou para o baile, Mike, tá bem?"

"Tá", ele murchou de novo. "Eu só estava oferecendo".

Quando o dia de aula finalmente terminou, eu caminhei para o estacionamento sem entusiasmo. Eu não estava especialmente a fim de ir caminhando pra casa, mas eu não sabia como ele seria capaz de trazer minha caminhonete. De qualquer forma, eu estava começando a acreditar que nada era impossível pra ele. Meus instintos provaram estar certos- minha caminhonete estava na mesma vaga em que ele tinha estacionado o Volvo esta manhã. Eu balancei a cabeça, incrédula, enquanto abria a porta e via a chave na ignição.

Havia um pedaço de papel dobrado no banco. Eu o peguei e fechei a porta antes de lê-lo.

Duas palavras estavam escritas com sua letra elegante.

FIQUE SEGURA .

O som do motor ligandome assustou. Eu rí comigo mesma.

Quando eu cheguei em casa, a maçaneta da porta estava trancada, o ferrolho estava aberto, exatamente como eu havia deixado essa manhã.

Já dentro, eu fui direto para a lavanderia. Também parecia exatamente igual a como eu havia deixado de manhã. Eu procurei minha calça e, depois de encontrá-la, procurei nos bolsos. Vazios. Talvez eu tenha levado minhas chaves lá pra cima no fim das contas, eu pensei, balançando a cabeça.

Seguindo o mesmo instinto que me levou a mentir pra Mike, eu liguei pra Jéssica com o pretexto de desejá-la sorte no baile. Quando ela me ofereceu os mesmos desejos na minha tarde com Edward, eu contei que havíamos cancelado. Ela estava mais desapontada do que o necessário para uma pessoa que ia ficar olhando a festa sem se divertir. Eu me despedí rapidamente depois disso.

Charlie estava com a mente ausente durante o jantar, preocupado com alguma coisa do trabalho, eu achava, ou com o jogo de Basquete, ou talvez ele simplesmente tivesse gostado mesmo da lasanha- com Charlie era difícil advinha.

"Sabe, pai...", eu quebrei sua ausência

"O que foi, Bella?"

"Eu acho que você está certo sobre Seattle. Eu acho que vou esperar até que Jéssica ou outra pessoa possa vir comigo".

"Oh", ele disse surpreso. "Oh, tudo bem. Então, você quer que eu fique em casa?"

"Não,pai, não mude seus planos. Eu tenho um milhão de coisas pra fazer... dever de casa, lavar a roupa... Eu preciso ir á biblioteca e ao supermercado. Eu vou ficar fora o dia todo... vá e se divirta."

"Você tem certeza?"

"Absoluta, pai. Além do mais, o estoque de peixe está ficando perigosamente baixo- nós só temos um estoque para dois ou três anos".

"Com certeza é fácil conviver com você, Bella". Ele sorriu.

"Eu acho que posso dizer o mesmo de você", eu disse sorrindo. Minha risada estava sem som, mas ele não pareceu reparar.

Eu estava me sentindo tão culpada por estar mentindo pra ele que eu quase seguí o conselho de Edward e contei onde estaria. Quase.

Depois do jantar, eu dobrei as roupas e levei outra pilha para a secadora. Infelizmente, esse é o tipo de trabalho que só ocupa as mãos. Minha mente estava definitivamente tendo tempo demais, e eu já estava ficando fora de controle. Eu flutuei entre uma espera tão intensa que quase chegava a ser dolorosa, e o medo inscidioso que envolvia a minha escolha. Eu tive que continuar me lembrendo que eu já havia feito minha escolha, e não ia voltar atrás. Eu tirei seu bilhete do bolso tantas vezes quanto foram necessárias para absorver as duas palavras que ele havia escrevido. Ele me queria a salvo, eu disse pra mim mesma de novo e de novo. Eu só tinha que me segurar á fé de que, no final, esse desejo estaria acima dos outros.

E qual era a minha outra opção- tirá-lo da minha vida? Intolerável.

Além do mais, desde que eu cheguei á Forks, parecia que minha vida era sobre ele.

Mas uma vozinha no fundo da minha mente estava preocupada se doeria muito ...se acabasse mal.

Eu fiquei aliviada quando chegou um horário aceitável pra eu ir dormir. Eu sabia que estava estressada demais pra dormir, então eu fiz algo que nunca fiz antes. Eu deliberadamente tomei remédio pra gripe desnecessariamente- o tipo que me tirava do ar por oito horas.

Eu normalmente não toleraria esse tipo de comportamento de mim mesma, mas eu sabia que amanhã já seria uma dia complicado sem que eu estivesse voadora por falta de sono. Enquanto eu esperava que os remédios fizessem efeito, eu sequei meu cabelo até que ele estivesse impecavelmente liso, e procurei pelo que eu vestiria amanhã. Com tudo preparado para a manhã, eu deitei na minha cama. Eu sentia hiperativa; eu não parar de me contrair. Eu me levantei e fucei na minha caixa de sapatos até encontrar uma coleção de CD's com os noturnos de Chopin. Eu o coloquei baixinho e me deitei de novo, concentrando em relaxar as partes do meu corpo individualmente.

Em algum lugar no meio desses exercícios, os remédios fizeram efeito, e eu alegremente fui ficando inconsciente.

Eu acordei cedo, tendo dormido sonoramente e sem sonhos graças ao meu uso desnecessário de remédios.

Apesar de estar bem descansada, eu entrei no mesmo frenesí apressado da noite passada. Eu me vestí com pressa, ajeitando a gola da blusa no meu pescoço, passando os dedos no sweater até que ele ficou bem acima da minha calça. Eu dei uma rápida olhada pela janela pra ver que Charlie já tinha ido embora. Uma fina camada de nuvens macias passeava pelo céu. Não parecia que elas iam durar por muito tempo.

Eu comí o café da manhã sem sentir o gosto da comida, me apressando pra limpar tudo quando eu acabei. Eu olhei pela janela de novo, mas nada havia mudado. Eu tinha acabado de escovar os dentes e estava descendo as escadas quando uma batida baixinah na porta fez meu coração bater com mais nas minhas costelas.

Eu voei para a porta; eu tive uns probleminhas com o ferrolho, mas eu finalmente abrí a porta, e lá estava ele. A agitação se dissolveu assim que eu olhei para o rosto dele, se transformando em calma. Eu dei um suspiro de alívio- os medos de ontem pareciam muito bobos com ele aqui.

Primeiro ele não estava sorrindo- seu rosto estava sombrio. Mas então sua expressão se suavisou quando ele olhou pra mim, e então ele riu.

"Bom dia", ele deu uma gargalhada.

"Qual é o problema?" Eu olhei pra baixo pra ter certeza que não tinha esquecido nada importante como os sapatos, ou as calças.

"Estamos combinando", ele riu de novo. Eu percebí que ele estava usando um sweater da cor do meu, com uma camisa de gola por baixo, e jeans azuis. Eu rí com ele, escondendo uma pontinha de arrependimento- porque ele tinha que parecer um modelo de passarela quando eu não podia?

Eu tranquei a porta atrás de mim enquanto ele andava para a caminhonete. Ele esperou ao lado da porta do passageiro, com uma expressão martirisada que era fácil de compreender.

"Nós temos um acordo", eu lembrei presumidamente, sentando no banco do motorista e me inclinando no banco para abrir a porta pra ele.

"Pra onde?" eu perguntei.

"Ponha o seu cinto de segurança- eu já estou nervoso".

Eu dei uma olhada feia enquanto repetia.

"Pra onde?", eu repetí com um suspiro.

"Pegue a estrada um-zero-um para o norte", ele comandou.

Era surpreendentemente difícil me concentrar na estrada com os olhos dele no meu rosto. Eu compensei dirigindo ainda mais cuidadosamente pela cidade ainda adormecida.

"Você estava planejando voltar á Forks antes do anoitecer?"

"Esta velha caminhonete é velha o suficiente pra ser a avó do seu carro- tenha algum respeito". Eu rebatí.

Em pouco tempo estávamos fora dos limites da cidade- apesar da negatividade dele.

Grossos arbustos e árvores com os troncos cobertos de verde substituiam os gramados e as casas.

"Vire á direita na um-dez", ele instruiu bem quando eu estava prestes a perguntar. Eu obedecí silenciosamente.

"Agora nós vamos até onde o asfalto termina."

Eu podia ouvir um sorriso na voz dele, mas eu estava com medo de sair da estrada e provar que ele estar certo.

"E onde é que dá, quando o asfalto acaba?" Eu imaginei.

"Numa trilha".

"Nós vamos fazer uma caminhada?", graças á Deus que eu estava usando tênis.

"Isso é um problema?", parecia que ele esperava que fosse.

"Não", eu tentei fazer a mentira soar confiante. Mas se ele pensava que minha caminhonete era lenta...

"Não se preocupe. São só uns cinco quilometros, e nós não estamos com pressa".

Cinco quilômetros. Eu não respondí para que ele não ouvísse o pânico na minha voz.

Cinco quilometros de raízes traiçoeiras e pedras soltas, tentando torcer meu tornozelo ou me incapacitar de alguma forma. Isso ia ser humilhante.

Nós dirigimos em silêncio enquanto eu contemplava o horror que se aproximava.

"O que você está pensando?", ele perguntou impacientemente depois de alguns minutos.

Eu mentí de novo. "Só imaginando pra onde estamos indo".

"É um lugar pra onde eu gosto de ir quando o clima está bom". Nós dois olhamos para as nuvens que estavam afinando depois que ele falou.

"Charlie disse que hoje estaria morno"

"E você contou ao Charlie o que ia fazer?", ele perguntou

"Não".

"Mas Jéssica acha que vamos pra Seattle juntos?", ele pareceu animado com a idéia.

"Não, eu disse pra ela que havíamos cancelado- o que é verdade".

"Ninguém sabe que você está comigo?",agora com raiva.

"Isso depende... eu acredito que você tenha contado pra Alice".

"Isso ajuda muito, Bella". Ele disparou.

Eu fingí não ouvir isso.

"Forks te deixa tão deprimida que agora você virou suicída?" ele perguntou quando eu ignorei ele.

"Você disse que podia te causar problemas...nós sendo vistos juntos publicamente". Eu lembrei ele.

"Então você está preocupada com o que pode acontecercomigo- se você não voltar pra casa?" Sua voz ainda estava enraivecida, mas um pouco sarcástica.

Eu afirmei com a cabeça, mantendo meus olhos na estrada.

Ele murmurou alguma coisa tão baixa e tão rápido que eu não conseguí entender.

Ficamos em silêncio pelo resto do caminho. Eu podia sentir as ondas furiosas de desaprovação que vinham dele, e não conseguia pensar em nada pra dizer.

E então a estrada acabou, sendo seguida por uma fina trilha , marcada por um pedaço de madeira. Eu parei no acostamento e desci do carro, preocupada porque ele estava com raiva de mim e eu não tinha mais a estrada como desculpa pra não olhar pra ele. Estava mais quente agora, mais quente do que já esteve em Forks desde o dia que eu cheguei lá, quase mormacento embaixo das nuvens. Eu tirei meu sweater e amarrei na cintura, feliz por ter usado uma camisa leve, sem mangas- especialmente já que eu tinha cinco quilometros de caminhada á minha frente.

Eu ouví sua porta bater também, e virei pra ver que ele também tinha tirado o sweater. Ele estava olhando pra longe de mim, para a floresta que estava ao lado da minha caminhonete.

"Por aqui", ele disse, olhando pra mim por cima do ombro, os olhos perturbados.

Ele começou a entrar na floresta escura.

"A trilha?", o pânico começou a tomar conta da minha voz enquanto eu dava a volta na minha caminhonete correndo para acompanhá-lo.

"Eu disse que havia uma trilha no fim do caminho, não que íamos usá-la".

"Sem trilha?" eu perguntei desesperadamente.

"Você não vai se perder". Nessa hora ele se virou pra mim, com um sorriso de zombaria e eu tentei prender um suspiro.

A camisa branca dele era sem mangas, e ele estava usando desabotoada, então a suave pele branca do seu pescoço seguia ininterruptamente até os contornos do seu peito, sua musculatura perfeita não estava mais meramente escondida por roupas.

Ele era perfeito demais, eu me dei conta com uma penetrante sensação de desespero. Não tinha jeito dessa criatura divina ter sido feita pra ficar comigo.

Ele olhou pra mim, desconcertado com minha expressão de tortura.

"Você que voltar pra casa?" ele perguntou baixinho, uma dor diferente da minha saturando a voz dele.

"Não" eu caminhei até ficar ao lado dele, ansiosa pra não desperdiçar nem um segundo do tempo que tinha com ele.

"Qual é o problema?" ele perguntou, sua voz gentil.

"Eu não sou muito boa em caminhadas", eu disse estupidamente. "Você vai ter que ser paciente".

"Eu posso ser paciente- se eu fizer um grande esforço". Ele sorriu, prendendo o meu olhar, tentando me tirar do meu abatimento inexplicado, repentino.

Eu tentei sorrir de volta, mas o sorriso não foi convincente. Ele analisou me rosto.

"Eu vou te levar pra casa", ele prometeu. Eu não sabia se a promessa era incondicional, ou restrita a uma partida imediata. Eu sabia que ele pensava que era o medo que estava me aborrecendo, e eu estava agradecida de novo por ser a única pessoa cuja mente ele não podia ouvir.

"Se você quer que eu ande cinco quilômetros dentro da floresta antes que o sol se ponha, é melhor você começar a mostrar o caminho", eu disse acidamente. Ele fez uma careta pra mim, lutando pra entender meu tom e minha expressão.

Depois de um momento ele desistiu e me guiou para a floresta.

Era tão ruim quanto eu temía. O caminho era quase todo plano e ele segurou as samambaias e trepadeiras pra que eu passasse. Quando o caminho ficou fechado por causa de árvores caídas e pedregulhos, ele me ajudou, me levantando pelo cotovelo, e depois me colocando no chão instantaneamente quando o caminho estava limpo. O toque da pele dele não parava de fazer meu coração bater alucinadamente. Duas vezes, quando isso aconteceu, eu olhei para o rosto dele e me dei conta que ele estava ouvindo, de alguma forma.

Eu tentei manter os meus olhos da sua perfeição o máximo que pude, mas eu falhava com frequencia. Todas as vezes, a beleza dele me afundava na depressão.

Na maior parte do caminho, nós caminhamos em silêncio. Ocasionalmente, ele me perguntava algo do cotidiano que ele havia deixado passar durante os dois dias de questionário. Ele me perguntou sobre os meus aniversários, minha notas, meus animais de estimação na infância- e eu admití que depois de ter matado três peixinhos, eu tive que desistir da empreitada.

Ele sorriu com isso, mais alto do que o normal- como o dobrar de sinos dentro da floresta vazia.

A caminhada me tomou boa parte da manhã, mas ele não mostrou nenhum sinal de impaciência. A floresta se arrastava ao nosso redor como um labirinto de árvores ansiãs, e eu comecei a ficar com medo que ele nunca mais encontrasse o caminho de volta. Ele estava perfeitamente calmo, confortável no labirinto verde, parecendo nunca ter dúvidas em relação á direção.

Depois de algumas horas, a luz que passava pela copa das árvores se transformou, o tom azeitona se tornou uma cor brilhante de Jade. O dia tinha se tornado ensolarado, exatamente como ele havia dito.

Pela primeira vez desde que entramos na floresta, eu comecei a sentir uma excitação- que logo se transformou em impaciencia.

"Já chegamos?", eu perguntei, fingindo fazer uma carranca.

"Quase", ele sorriu pelo mudança no meu humor. "Você vê a claridade alí na frente?"

Eu tentei enxergar dentro da vasta floresta. "Umm, eu devia?"

Ele brincou. "Talvez seja cedo demais pra os seus olhos".

"Hora de visitar o oculista", eu murmurei. O sorriso dele cresceu ainda mais.

Mas então, alguns metros mais á frente, eu definitivamente podia ver uma luminosidade atrás das árvores, um brilho que era amarelo e não verde. Eu apertei o passo, minha ansiosidade crescendo a cada passo. Ele me deixou guiar agora, seguindo silenciosamente.

Eu alcancei a borda da piscina de luz e entrei pelas últimas samambaias no lugar mais adorável que já tinha visto. A clareira era pequena, perfeitamente redonda, e cheia de flores selvagens- violetas, amarelas e de um branco macio. Em algum lugar próximo, eu podia ouvir o som borbulhante de um rio. O sol estava bem áfrente, enchendo o círculo com uma incandescente luz amarela. Eu caminhei lentamente, abobalhada, através da grama macia, das flores e do ar morno, convidativo. Eu dei uma meia volta, esperando compartilhar isso com ele, mas ele não estava atrás de mim onde eu achava que ele estaria.

Eu me virei, procurando por ele, alarmada de repente. Finalmente eu encontrei ele, ainda embaixo da densa sombra das copas na borda da clareira, me observando com olhos cuidadosos. Só então eu me lembrei do que tinha me levado alí e que a beleza do lugar havia me feito esquecer- o enigma de Edward e o sol, que ele havia prometido decifrar pra mim hoje.

Eu dei um passo na direção dele, meus olhos estavam curiosos. Seus olhos estavam confusos, relutantes. Eu sorrí encorajando e o convidei com a mão, dando outro passo na sua direção. Ele levantou uma mão como num aviso, eu hesitei, dando um passo pra trás nos tornozelos.

Edward pareceu respirar fundo, e então deu um passo dentro da luz brilhante do sol da tarde.

13. Confissões

Edward na luz do sol era chocante. eu não conseguia me acostumar com isso, mesmo tendo passado a tarde inteira olhando pra ele. A pele dele, a despeito de uma leve ruborescência pela caçada de ontem, estava literalmente brilhando, como se milhões de pequenos diamantes estivessem cravados em sua superfície. Ele ficou completemente rígido na grama, sua camisa aberta deixava seu peito esculpido, incandescente aparecer, seus braços incandescentes estavam nús. Suas pálpebras brilhantes e pálidas da cor de lavanda estavam fechadas, apesar dele não estar dormindo. A estátua perfeita, talhada em alguma pedra desconhecida, suave como o mármore, e brilhante como o cristal.
De vez em quando, seus lábios se moviam tão rápido que pareciam que estavam tremendo. Mas quando eu perguntei, ele disse que estava cantando pra si mesmo; era baixo demais pra que eu ouvisse.
Eu aproveitei o sol, também, apesar do ar não estar seco op suficiente para o meu gosto. Eu teria gostado de me deitar, como ele, e deixar o sol esquentar meu rosto. Mas eu fiquei enrolada, com o queixo nos meus joelhos, sem querer tirar os olhos dele. O vento estava calmo; ele assoprou meu rosto e balançou a grama embaixo da sua forma imóvel.
A clareira, tão espetacular pra mim antes, agora era feia em comparação com ele.
Hesitantemente, sempre com medo,mesmo agora, que ele desaparecesse como uma miragem, bonito demais pra ser real... hesitantemente, eu levantei um dedo e alisei as costas da sua mão brilhante, até onde deu pra alcançar. De novo, eu fiquei maravilhada com a textura perfeita, macia como seda, fria como pedra. Quando eu olhei pra cima, seus olhos estavam abertos, me observando. Seus olhos estava da cor de whisky hoje, mais claros, mais amenos depois da caçada de ontem. Seu rápido sorriso curvou os cantos dos seus lábios perfeitos.
"Eu não te assusto?", ele perguntou de brincadeira, mas eu ouvia a curiosidade por trás da sua voz suave.
"Não mais que o normal".
Seu sorriso cresceu; seus dentes brilharam ao sol.

Eu cheguei mais perto, abrindo minha mão pra tocar os contornos do seu braço com as pontas dos meus dedos. Eu ví que meus dedos tremeram, e eu sabia que ele não deixaria de notar.

"Você se incomoda?", eu perguntei já que ele havia fechado os olhos de novo.

"Não", ele disse sem abrir os olhos. "Você não pode imaginar o que isso me faz sentir", ele suspirou.

Eu passei minha mão suavemente no seu braço, trilhando os contornos dos musculos perfeitos, segui a leve linha das veias em baixo do seu cotovelo. Com minha outra mão, eu virei a mão dele. Se dar conta do que eu queria, ele levantou sua mão em um daqueles movimentos rápidos e desconcertantes dele. Isso me assustou, meus dedos congelaram no braço dele por um breve segundo.

"Me desculpe", ele murmurou. Eu olhei pra cima pra ver seus olhos claros se fechando de novo. "É fácil demais ser eu mesmo quando eu estou com você".

Eu levantei a mão dele, virando ela pra cima e pra baixo enquanto eu observava o brilho do sol cintilar na sua palma. Eu segurei ela mais próxima do meu rosto, tentando ver os detalhes escondidos da pele dele.

"Me diga o que você está pensando", ele sussurou. Eu olhei pra cima pra ver seus olhos me observando, repentinamente atentos. "Ainda é estranho pra mim, não saber".

"Sabe, o resto de nós se sente assim o tempo inteiro".

"É uma vida injusta". Será que eu imaginei a pontada de arrependimento na voz dele? "Mas você ainda não me disse".

"Eu estava desejando saber o que você estava pensando..." eu hesitei.

"E...?"

"Eu estava desejando poder acreditar que você é real. E eu estava desejando não ter medo".

"Eu não quero que você sinta medo", a voz dele era um leve murmúrio. Eu ouví o que ele queria ter dito na verdade, que eu não precisava ter medo, que não havia nada a temer.

"Bem, não é exatamente desse medo que eu estou falando, apesar de que isso realmente é algo em que eu devia estar pensando".

Tão rápido que eu perdí o movimento, ele estava meio sentado, apoiado no braço direito, sua palma esquerda ainda na minha mão.

Seu rosto angelical estava a apenas alguns centímetros do meu. Eu devo ter - posso ter - me afastado algns centímetros, assustada com a súbita aproximação, mas eu não consegui me mexer. Seus olhos dourados me hipnotizaram.

"Do que você está com medo, então?", ele sussurou atentamente.

Mas eu não consegui responder. Como eu já tinha feito antes, eu senti a sua respiração gelada no meu rosto. Doce, delicioso, o cheiro fez a minha boca encher de água. Não havia nada parecido. Instintivamente, sem pensar, eu me inclinei pra frente para inalar o cheiro.

E ele desapareceu, sua mão sumiu da minha. Quando os meus olhos fianlmente ficaram focados, eu percebi que ele estava a uns três metros de distância, de pé na beira da clareira, na sombra de uma enorme árvore. Ele me encarou, seus olhos escuros nas sombras, sua expressão ilegível.

Eu podia sentir a dor e o choque no meu rosto. Minhas mãos vazias tremeram.

"Me...desculpe...Edward", eu sussurei. Eu sabia que ele podia ouvir.

"Me dê um momento", ele respondeu, alto o suficiente apenas para eu ouvir. Eu sentei muito rígida.

Depois de dez segundos incrivelmente longos, ele voltou, devagar demais pra ele. Ele parou ainda a vários passos de distância e se sentou graciosamente no chão, cruzando as pernas. Seus olhos não se desgrudavam dos meus. Ele respirou fundo duas vezes, e então sorriu se desculpando.

"Eu sinto muito", ele hesitou. "Você entenderia se eu dissesse que sou apenas humano?"

Eu afirmei com a cabeça uma vez, sem conseguir rir da piada dele. A adrenalida pulsou nas minhas veias quando eu me dei conta do verdadeiro perigo. Ele conseguia sentir isso não importava onde ele se sentasse. Seu sorriso se tornou zombeteiro.

"Eu sou o melhor predador do mundo, não sou? Tudo em mim é convidativo pra você- minha voz, meu rosto e até meu cheiro. Como se eu precisasse disso!" Inesperadamente, ele estava de pé, andando pra longe, instantemente fora de vista, só pra depois aparecer atrás daquela mesma árvore de antes; ele circulou a clareira em meio segundo.

"Como se você pudesse fugir de mim". Ele sorriu amargamente.

Ele levantou uma mão e, com um crack alto, ele arrancou uma árvore de dois metros de altura com raiz e tudo, sem esforço. Ele segurou ela com uma mão por um momento, e então jogou ela pra longe com uma rapidez impressionante, fazendo com que ela se chocasse contra outra árvore enorme, ela caiu no chão com um barulho incrível fazendo o chão tremer.

E ele estava na minha frente de novo, á dois passos de distância, ainda como uma pedra.

"Como se você pudesse me vencer", ele disse gentilmente.

Eu me sentei imóvel, com mais medo dele do que eu jamais sentí. Eu nunca tinha visto ele fora daquela fachada cuidadosamente cultivada. Ele nunca esteve menos humano... ou mais bonito. Com o rosto pálido, olhos arregalados, eu estava sentada como um pássaro preso pelos olhos da cobra.

Seus olhos adoráveis pareciam brilhar com a excitação. Então, quando os segundos passaram, eles foram escurecendo. Sua expressão lentamente foi se transformando numa máscara de tristeza.

"Não tenha medo", ele murmurou, sua voz sedosa era muito atraente mesmo sem essa intenção. "Eu prometo..." ele hesitou. "Eu juro que não vou te machucar". Ele parecia estar mais preocupado em se convencer disso do que a mim.

"Não tenha medo", ele sussurou de novo, enquanto dava um passo á frente, com uma lentidão exagerada. Ele se sentou sinuosamente, com movimentos deliberadamente lentos, até que os nossos rostos estavam na mesma altura, a apenas uns centímetros de distância.

"Por favor me perdoe", ele disse formalmente. "Eu posso me controlar. Você me pegou de surpresa. Mas eu estou com o meu melhor comportamento agora".

Ele esperou, mas eu não conseguia falar.

"Eu não estou com sede hoje, honestamente", ele piscou pra mim.

Com essa eu tive que rir, apesar do som estar tremendo e sem fôlego.

"Você está bem?", ele perguntou delicadamente, levantando a mão lentamente, cuidadosamnete, pra colocá-la de volta na minha.

Eu olhei para a sua mão suave, fria, e então para seus olhos.

Eles estavam suaves, arrependidos. Eu olhei de volta para as suas mãos, e então deliberadamente recomecei a tatear a sua mão com as pontas dos meus dedos. Eu olhei pra cima e sorrí timidamente.

O sorriso dele era deslumbrante.

"Então onde é que nós estavamos, antes de eu me comportar tão rudemente?", ele perguntou com as tendências gentís do início do século.

"Eu honestamente não me lembro"

Ele sorriu mas o seu rosto estava envergonhado. "Nós estávamos falando sobre porque você estava com medo, sem contar as razões óbvias".

"Ah certo".

"Então?"

Eu olhei para as mãos dele e tateei á toa na sua palme macia. Os segundos passaram.

"Como eu fico frustrado facilmente", ele suspirou. Eu olhei para os olhos dele,me dando conta abruptamente que isso era tão novo pra ele quanto era pra ele. Assim como muito anos de experiências insondáveis que ele teve, isso era difícil pra ele também. Eu me encorajei com esse pensamento.

"Eu estava com medo...porque, bem, por razões óbvias, eu não posso ficar com você. E eu tenho medo de querer ficar com você, mais até do que eu devia". Eu olhei pra baixo para as mãos dele enquanto falava. Era difícil pra mim dizer isso em voz alta.

"Sim", ele concordou lentamente. "Isso é algo pra se temer, realmente. Querer ficar comigo. Esse realmente não é o seu melhor interesse".

Eu fiz uma careta.

"Eu já devia ter ido embora a muito tempo", ele suspirou. "Eu devia ir embora agora. Mas eu não sei se consigo".

"Eu não quero que você vá embora", eu murmurei pacientemente, olhando pra baixo de novo.

"E é exatamente por isso que eu devia ir. Mas não se preocupe. Eu sou uma pessoa essencialmente egoísta. Eu necessito demais da sua companhia para fazer o que eu devia".

"Eu fico alegre"

"Não fique!". Ele retirou a sua mão, mais gentilmente dessa vez; sua voz estava mais grossa que de costume, ainda mais bonita do que qualquer voz humana. Era difícil acompanhar- as mudanças subitas do seu humor sempre me deixavam pra trás, confusa.

"Não é apenas da sua companhia que eu necessito! Nunca se esqueça disso. Nunca se esqueça de que eu sou muito mais perigoso pra você do que pra qualquer outra pessoa". Ele parou e eu olhei pra ele pra ver que ele estava olhando a floresta sem ver nada.

Eu pensei por um momento.

"Eu acho que não entendo o que você quis dizer- sobre a última parte", eu disse.

Ele olhou pra mim e sorriu, seu humor mudando de novo.

"Como eu vou explicar?", ele zombou. "E sem assustar você...Hummm".

Sem parecer pensar em nada, ele colocou sua mão de volta na minha; eu apertei a mão dele com as minhas duas. Ele olhou para as nossas mãos.

"Isso é incrivelmente prazeroso. O calor", ele suspirou.

Um momento se passou enquanto ele assemelhava seus pensamentos.

"Você sabe como as pessoas gostam de diferentes sabores?", ele começou. "Como alguns gostam de sorvete de chocolate, outros preferem morango?"

Eu afirmei com a cabeça.

"Me desculpe pela analogia á comida- eu não conseguia pensar em outra forma de explicar".

Eu sorri. Ele sorriu de volta sem graça.

"Entenda, cada pessoa cheira diferente, tem uma essencia diferente. Se você colocasse uma pessoa alcólotra numa sala cheia de cerveja, ela beberia feliz. Mas ela poderia resistir, se ela quisesse, se ela fosse uma alcólica em reabilitação. Agora digamos que voc~e coloca nessa sala uma garrafa de brandy de cem anos, o conhaque mais raro, mais fino- que enche a sala com o seu aroma- como voc~e acha que ela reagiria?"

Nós sentamos em silêncio, olhando para os olhos um do outro - tentando ler os pensamentos um do outro.

Ele quebrou o silêncio primeiro.

"Talvez essa não seja a comparação certa. Talvez fosse fácil demais recusar o brandy. Talvez o nosso alcólico devesse ser um viciado em heroína".

"Então, o que você está dizendo é que eu sou a sua injeção de heroína?", eu brinquei, tentando melhorar o clima.

Ele sorriu brevemente, parecendo apreciar meu esforço. "Você é exatamente minha injeção de heroína".

"Isso acontece sempre?" eu perguntei.

Ele olhou para o topo das árvores enquanto pensava na resposta.

"Eu falei com os meus irmãos sobre isso". Ele ainda olhava pra longe. "Pra Jasper, todos vocês são praticamente iguais. Ele foi o que se juntou á família mais recentemente. A abstinência já é difícil pra ele por si só. Ele ainda não teve tempo pra desenvolver o olfato, as diferenças do cheiro, no sabor". Ele olhou rapidamente pra mim, se desculpando.

"Desculpe", ele disse.

"Eu não me importo. Por favor, não tenha medo de me ofender, ou me assustar, ou o que quer que seja. É aasim que você pensa. Eu posso entender, ou pelo menos tentar. Me explique como puder."

Ele respirou fundo e olhou para o céu de novo.

"Então Jasper não tinha certeza se já tinha cruzado com alguém tão"-

ele hesitou procurando pela palavra certa - "atraente como você é pra mim". O que me faz acreditar que não. Emmett já está nessa a mais tempo, por assim dizer, e ele entendeu o que eu quis dizer. Ele disse que já aconteceu com ele duas vezes, para ele, uma vez foi mais difícil que a outra".

"E com você?"

"Nunca".

A palavra ficou pendurada durante um momento na brisa morna.

"O que Emmett fez?" eu perguntei pra quebrar o silêncio.

Foi a coisa errada pra perguntar. Seu rosto obscureceu, a mão dele se apertou no punho dentro da minha. Ele desviou o olhar. Eu esperei, mas ele não ia responder.

"Eu acho que já sei", eu finalmente disse.

Ele levantou os olhos, sua expressão tristonha, implorativa.

"Até o mais forte de nós comete erros, não é?"

"Você está pedindo o que? Minha permissão?", minha voz estava mais cortante do que eu pretendia. Eu tentei deixar o meu tom mais suave - eu podia imaginar o que a sua honestidade estaria custando pra ele. "Eu quero dizer, não existem esperanças, então?" Como eu podia discutir a minha morte tão calmamente!

"Não, não", ele estava instantaneamente arrependido. "É claro que há esperança! Digo, é claro que eu não vou..." Ele não terminou a frase.

Seus olhos queimavam nos meus. "É diferente conosco. Emmett... aqueles eram estranhos que cruzaram o nosso caminho. Foi há muito tempo e ele não tinha tanta... prática e cuidado que tem hoje".

Ele ficou em silêncio me observando atentamente enquanto eu pensava nisso.

"Então... se tivéssemos nos conhecido num beco escuro ou alguma coisa assim...", minha voz falhou.

"Eu fiz tudo o que pudia pra não pular em você no meio de uma sala cheia de crianças e"- ele parou abruptamente, desviando o olhar. "Quando você passou por mim, eu podia ter arruinado tudo o que Carlisle construiu pra nós, lá mesmo. Se eu não tivesse renegado a minha sede pelos últimos, bem , muitos anos, eu não teria sido capaz de me refrear". Ele parou, olhando para as árvores.

Ele olhou pra mim severamente, nós dois lembrando. "Você deve ter pensado que eu estava possuído".

"Eu não conseguia entender porque. Como você poderiame odiar tão rapidamente..."

"Pra mim, era como se você fosse uma espécie de demônio, reunindo forças do meu próprio inferno pra me destrir. A fragrância que saia da sua pele... eu pensei que ia me deixar desarranjado naquele primeiro dia. Naquela uma hora, eu pensei em milhões de formas de te tirar da sala comigo, pra que ficássemos sozinhos. E eu lutei com esses pensamentos, pensando na minha família, o que eu podia causar pra eles. Eu tive que sair correndo, pra sair de perto de você antes de te dizes as palavras que faria você me seguir..."

Então ele olhou pra cima para a minha expressão vacilante enquanto eu tentava absorver memórias amargas. Seus olhos dourados me observavam por baixo dos cílios, hipnoticos e mortais.

"Você teria vindo", ele garantiu.

Eu tentei falar calmamente. "Sem dúvida".

Ele olhou pra baixo para as minhas mãos, me libertando da força do seu olhar. "E então, enquanto eu tentava refazer o meu horário numa tentativa inútil de te evitar, você estava lá- naquela sala pequena, quente, o seu cheiro era enlouquecedor. E então eu quase te ataquei lá. Só havia uma outra frágil humana lá-fácil de lidar

Eu me arrepiei no sol quente, vendo minhas memórias através dos olhos dele, só agora me dando conta do perigo. Pobre Sra. Cope; eu tremí de novo por saber que por pouco eu não fui a causa da sua morte.

"Mas eu resisti. Eu não sei como. Eu me forcei a não te esperar, a não seguir você depois da escola. Foi mais fácil do lado de fora, quando eu não conseguia mais sentir o seu cheiro, eu consegui pensar claramente, tomar a decisão correta. Eu deixei os outros perto de casa- eu estava envergonhado demais pra contar pra ele o quanto eu era fraco, eles só sabiam que algo estava muito errado- eu fui direto até Carlisle, no hospital, pra dizer pra ele que estava indo embora".

Eu o encarei surpresa.

"Eu troquei de carro com ele - o dele estava com o tanque cheio e eu não queria parar. Eu não queria ir pra casa, para enfrentar Esme. Ela não me deixaria ir sem fazer uma cena. Ela teria tentado me convencer de que não era necessário...

"Na manhã seguinte eu já estava no Alaska". Ele parecia envergonhado, como se estivesse admitindo uma grande covardia. "Eu fiquei lá dois dias, com alguns conhecidos...mas fiquei com saudades de casa. Eu detestava saber que estava machucando Esme, e o resto deles, minha família adotiva. No ar puro das montanhas era difícil de acreditar que você fosse tão irresistível. Eu me convencí de que era um fraco por ter fugido. Eu lidei com a tentação antes, não nessas proporções, nem perto disso, mas eu era forte. Quem era você, uma garotinha insignificante" - ele sorriu de repente- "pra me afastar do lugar onde eu queria estar? Então eu voltei..." Ele parou .

Eu não conseguia falar.

"Eu tomei precauçôes, caçando, comendo mais do que o normal antes que ver você de novo. Eu tinha certeza de que era forte o suficiente pra ter tratar como qualquer outra humana. Eu estava sendo arrogante.

"Era inquestionavelmente uma complicação não poder simplesmente ler a sua mente pra saber o que você pensava de mim. Eu não estava acostumado a ser tão indireto, escutando as suas palavras pelos pensamentos de Jéssica... a mente dela não é muito origonal, e era irritante ter que me manter preso áquilo. E depois eu não sabia se você realmente estava pensando as coisas que estava dizendo. Tudo era extremamente irritante." Ele fez uma careta pela memória.

"Eu queria que você esquecesse o meu comportamento no primeiro dia, se possível, então eu tentei falar com você como eu falaria com qualquer pessoa. Eu estava ansioso na verdade, esperando decifrar os seus pensamentos. Mas você era interessante demais, eu me ví vidrado nas suas expressões... e de vez em quando você esporeava o ar com o cabelo ou com as mãos, e o cheiro me pegava de novo...

"É claro, depois você quase foi espremida até a morte diante dos meus olhos. Depois eu pensei na desculpa perfeita pra ter feito o que eu fiz naquele momento - porque se eu não tivesse te salvado, seu sangue teria se esparramado bem na minha frente, eu não acho que teria conseguido evitar e teria exposto a nós todos. Mas eu só pensei nessa desculpa depois. Naquela hora, tudo o que eu conseguia pensar era 'ela não'".

Ele fechou os olhos, perdido em sua confissão agonizante. Eu escutei, mais ansiosa do que era racional. Meu senso comum devia me dizer pra ficar assustada. Mas ao invés disso, eu estava aliviada por finalmente entender. Eu estava cheia de compaixão pelo seu sofrimento, mesmo agora, enquanto ele confessava que queria tirar minha vida.

Eu finalmente consegui falar, apesar da minha voz estar fraca. "No hospital?"

Seus olhos vieram parar nos meus. "Eu estava intimidado. Eu não conseguia acreditar que tinha exposto a nós todos daquela forma, me colocado na sua mão- você entre todas as pessoas. Como se eu precisasse de outro motivo pra te matar". Nós dois enrijessemos quando a palavra escapuliu. "Mas teve o efeito oposto", ele continuou rapidamente.

"Eu briguei com Rosalie, Emmett, e com Jasper quando eles sugeriram que essa era a hora... foi a pior briga que já tivemos. Carlisle ficou do meu lado, e Alice". Ele fez uma cara estranha quando disse o nome dela. Eu não podia imaginar o porquê. "Esme me disse pra fazer o que eu tivesse que fazer pra ficar". Ele balançou a cabeça indulgentemente.

"No dia seguinte eu espionei as mentes de todas as pessoas que falavam com você, chocado por você ter mantido sua palavra. Eu não entendia nem um pouco. Mas eu sabia que não podia me envolver nem mais um pouco com você. Eu fiz o que pude pra ficar tão longe de você quanto era possível. E todos os dias o perfume da sua pele, sua respiração, seu cabelo... tudo era tão apelativo quanto no primeiro dia".

Ele encontrou meus olhos de novo, e ele estava surpreendentemente carinhoso.

"E por tudo isso", ele continuou. "Eu teria feito muito melhor se eu tivesse expostos a todos nós naquele primeiro momento, do que aqui- sem testemunhas e ninguém pra me parar- eu ia te machucar."

Eu era humana o suficiente pra ter que perguntar. "Porque?"

"Isabella", ele pronunciou meu nome inteiro cuidadosamente, e então começou a brincar com o meu cabelo com a mão que estava livre. Como sempre, um choque correu no meu corpo quando ele me tocou. "Bella, eu não conseguiria viver comigo mesmo se eu te machucasse. Você não sabe como isso me torturou". Ele olhou pra baixo, envergonhado de novo. "O pensamento de você, rígida, branca, fria... nunca mais ver você ficar corada de novo, nunca mais ver esse flash de intuição que passa nos seus olhos quando você desvenda uma das minhas pretensões... isso seria insuportável". Ele levantou seus olhos gloriosos, agonizantes para os meus. "Você é a coisa mais importante pra mim agora. A coisa mais importante que eu já tive".

Minha cabeça estava rodando pela rapidez que a nossa conversa mudou de rumo. Do alegre tópico do meu falecimento impedido, nós de repente estavamos nos declarando.

Ele esperou, e mesmo estando com a cabeça baixa, olhando para as nossas mãos, que estavam entre nós, eu sabia que seus olhos dourados estavam em mim. "Você já sabe como eu me sinto, é claro", eu disse finalmente. "Eu estou aqui... que, traduzindo, significa que eu preferiria morrer do que ficar longe de você". Eu fiz uma careta. "Eu sou uma idiota".

"Você é uma idiota", ele concordou sorrindo. Nossos olhos se encontraram e eu sorri também. Nós sorrimos juntos pela idiotice e impossível felicidade do momento.

"E então o leão se apaixona pelo cordeiro..." ele murmurou. Eu escondí meus olhos pra não mostrar o quanto eles haviam ficado felizes com a palavra.

"Que cordeiro idiota", eu suspirei.

"Que leão doente e masoquista", Ele olhou para a floresta cheia de sombras e eu fiquei imaginando onde seus pensamentos haviam o levado.

"Porque...?", eu comecei, e então parei por não saber como continuar.

Ele olhou pra mim sorrindo; o sol cintilava no seu rosto, nos seus dentes.

"Sim?"

"Me diga porque você corria de mim antes".

Seu sorriso desapareceu. "Você sabe porque".

"Não, eu digo, o que exatamente eu fiz de errado? Eu terei que ficar de guarda, sabe, pra aprender melhor o que eu devo fazer. Isso, por exemplo" - eu alisei as costas da mão dele - "parece ser normal".

Ele sorriu de novo. "Você não fez nada de errado, Bella. Foi minha culpa."

"Mas eu quero ajudar, se puder, pra não fazer isso ser ainda pior pra você".

"Bem", ele pensou por um momento. "É só que você estava muito perto. A maioria dos humanos é instintivamente timida perto de nós, são repelidos pela nossa alienação... Eu não estava esperando que você chegasse tão perto. E o cheiro da sua garganta." Ele parou de repente, olhando pra ver se tinha me aborrecido.

"Tudo bem, então", eu disse alegremente, tentando aliviar a atmosfera tensa que surgiu. Eu abaixei o queixo. "Nada de expor a garganta".

Funcionou; ele riu. "Não, de verdade, foi mais a surpresa do que qualquer outra coisa".

Ele ergueu a mão livre e a encostou no meu pescoço. Eu sentei muito rígida, os arrepios pelo seu toque eram um aviso natural- um aviso natural me dizendo pra sentir medo. Mas não havia nenhum pouco de medo em mim. Haviam, no entanto, outros sentimentos...

"Veja", ele disse. "Perfeitamente normal".

Meu sangue estava correndo, eu desejei poder pará-lo, sentindo que isso iria tornar as coisas tão mais difíceis - o pulsar das minhas veias. Com certeza ele podia ouvir.

"As suas bochechas coradas são adoráveis", ele murmurou. Ele gentilmente livrou a sua outra mão. Minhas mãos cairam moles no meu colo. Ele alisou suavemente as minhas bochechas, e então segurou o meu rosto entre suas mãos de mármore.

"Fique bem parada", ele murmurou, como se eu já não estivesse congelada.

Lentamente, sem tirar os olhos dos meus, ele se inclinou na minha direção. Então abruptamente, mas muito gentilmente, ele descansou a sua bochecha gelada na base da minha garganta. Eu estava quieta, impossibilitada de me mexer, mesmo quando eu queria. Eu escutei o som da sua respiração uniforme, olhando o sol e o vento bricarem com o seu cabelo cor de bronze, mais humano do que qualquer outra parte dele.

Com deliberada lentidão, suas mãos escorregaram pelos lados do meu pescoço. Eu tremi, e ouvir ele prender a respiração. Mas suas mãos não pararam e continuaram descendo até os meus ombros, e então pararam.

Seu rosto virou para o lado, seu nariz explorando a minha clavícula. Ele descansou o seu rosto carinhosamente no meu peito.

Escutando o meu coração.

"Ah". Ele suspirou.

Eu não sei quanto tempo nós ficamos sem nos mexer. Podem ter sido horas. Eventualmente, o pulsar das minhas veias se aquietou, mas ele não se mexeu ou falou de novo enquanto me abraçava. Eu sabia que á qualquer momento aquilo podia ser demais, e minha vida acabaria- tão rapidamente que eu nem ia reparar. E eu não conseguia me fazer ficar com medo. Eu não conseguia pensar em nada, exceto que ele estava me tocando.

E então, cedo demais, ele me soltou.

Seus olhos estavam em paz.

"Não vai mais ser tão difícil", ele disse com satisfação.

"Foi muito difícil pra você?"

"Nem de perto foi tão difícil quanto eu imaginava que seria. E você?"

"Não, não foi ruim pra mim".

Ele sorriu com a minha flexão. "Você abe o que eu quero dizer".

Eu sorrí.

"Aqui", ele pegou minha mão e colocou no peito dele. "Você sente como está quente?"

E a sua pele geralmente gelada, estava quase quente. Mas eu mal reparei, porque estava alisando o seu rosto,algo que eu sonhava em fazer constantemente desde o primeiro dia que eu o ví.

"Não se mova", eu sussurei.

Ninguém conseguia ficar tão rígido quanto Edward. Ele fechou os olhos e ficou imóvel como uma pedra, uma rocha embaixo da minha mão.

Eu me moví anda mais lentamente que ele, tomando cuidado pra não fazer movimento brusco. Eu acariciei sua bochecha, delicadamente alisei suas pálpebras, os círculos roxos embaixo dos olhos dele. Eu tracei o formato perfeito do seu nariz, e então, muito cuidadosamente, os seus lábios perfeitos. Seus lábios se abriram embaixo do meu toque, e eu podia seu hálito frio na minha mão. Eu queria me inclinar, para sentir o cheiro. Então, eu me inclinei pra longe, sem querer forçá-lo demais.

Ele abriu seus olhos, e eles estavam famintos. Não de uma maneira que me fazia ter medo, mas sim da maneira que fez os musculos do meu estômago se contrairem e o meu pulso ficar acelerado de novo.

"Eu queria", ele sussurou. "Eu queria que você sentisse a...complexidade... a confusão... que eu sinto. Queria que você pudesse entender".

Ele ergueu uma mão para o meu cabelo, e então cuidadosamente espalhou ele ao redor do meu rosto.

"Me diga", eu suspirei.

"Eu não acho que posso. Eu já te disse, de um lado a fome -a sede- que essa criatura deplorável que eu sou sente por você. E eu acho que você consegue compreender isso, de uma certa forma. Apesar de que"- ele deu um meio sorriso - "Como você não é viciada em nenhuma substancia ilegal, você provavelemente não pode enfatizar completamente".

"Mas...", seus dedos tocaram levemente os meus lábios, me fazendo tremer de novo. "Existem outras fomes. Fomes que eu nem sequer entendo, que são estranhas pra mim".

"Eu acho que entendo isso melhor do que você imagina".

"Eu não estou acostumado a me sentir tão humano. É sempre assim?"

"Pra mim?" eu pausei. "Não, nunca. Nunca antes disso".

Ele segurou minhas mãos entre as suas. Elas pareciam tão fracas sob o seu aperto de aço.

"Eu não sei como ficar perto de você", ele admitiu. "Eu não sei se consigo".

Eu me inclinei bem lentamente, avisando ele com o meu olhar. Eu coloquei minha bochecha no seu peito de pedra. Eu podia ouvir sua respiração, e nada mais.

"Isso é suficiente", eu suspirei, fechando os olhos.

Num gesto muito humano, ele passou um braço por mim e descançou seu rosto no meu cabelo.

"Você é melhor nisso do que pensava", eu notei.

"Eu tenho instintos humanos- eles podem estar enterrados bem no fundo, mas estão lá".

Nós sentamos nessa posição por outro momento sem fim; eu imaginei se ele estava tão sem vontade de se mexer quanto eu. Mas eu podia ver que a luz estava desaparecendo, as sombras da floresta estavam começando a se aproximar de nós, e eu suspirei.

"Você tem que ir".

"Eu pensei que você não podia ler minha mente"

"Ela já está começando a ficar mais clara", eu podia ouvir o sorriso na voz dele.

Ele segurou meus ombros e eu olhei pra o rosto dele.

"Eu posso te mostrar uma coisa?", ele pediu, uma excitação repentina brilhando nos olhos dele.

"Me mostrar o que?"

"Como eu ando pela floresta". Ele viu minha expressão. "Não se preocupe, você estará segura, e chegaremos na sua caminhonete muito mais rápido". Sua boca se contorceu naquele sorriso torto tão lindo e meu coração quase parou.

"Você vai se transformar num morcego?", eu perguntei brincando.

Ele riu mais alto do que eu jamais tinha ouvido ele sorrir. "Como se eu nunca tivesse ouvido essa antes".

"Claro, eu tenho certeza que você ouve isso o tempo todo"

"Vamos lá, pequena covarde, suba nas minhas costas".

Eu esperei pra ver se ele estava brincando,mas, aparentemente, ele estava falando sério. Ele sorriu quando viu minha hesitação, e veio meu pegar. Meu coração reagiu; apesar dele não poder ouvir ouvir meus pensamentos, minhas pulsações sempre me denunciavam. Ele então me colocou nas costas dele, com muito pouca resistência da minha parte, além do mais, quando eu estava no meu lugar, eu agarrei ele com tanta força com meus braços e pernas que eu teria sufocado uma pessoa normal. Eu senti que estava agarrando uma pedra.

"Eu sou uma pouco mais pesada do que a sua bagagem normal", eu avisei.

"Hah", ele zombou. Eu quase podia ver seus olhos revirando. Eu nunca ví ele com tão bons espíritos quanto hoje.

Ele me surpreendeu, segunrando a minha palma contra o rosto dele e cheirando profundamente.

"Cada vez fica mais fácil", ele murmurei.

E então ele começou a correr.

Se alguma vez eu já tive medo da morte antes na presença dele, isso não era nada comparado ao que eu sentia agora.

Ele corria na escuridão, entre os arbustos da foresta como uma bala, um fantasma. Não havia nenhum som,nenhuma evidência de que seus pés estavam realmente tocando o chão. A respiração dele não mudou, ela não denunciava nenhum esforço. Mas as árvores passavam mortalmente rápidas por nós, sempre nos perdendo por pouco.

Eu estava assutada demais pra fechar os olhos, apesar do vento da floresta estar passando rapidamente pelo meu rosto e queimando eles. Eu sentí que estava estupidamente colocando a minha cabeça pra fora de um avião em pleno vôo. E, pela primeira vez na minha vida, eu sentí nauseas por causa do movimento.

Então estava acabado. Nós tínhamos caminhado durante horas pela manhã para chegar até a clareira de Edward, e agora, em questão de minutos, estávamos de volta á caminhonete.

"Divertido, não é?" A voz dele estava alta, excitada.

Ele permaneceu em pé sem se mexer, esperando que eu descesse. Eu tentei,mas meus musculos não respondiam.

Meus braços e pernas continuaram trancados ao redor dele enquanto minha cabeça girava desconfortavelmente.

"Bella?", ele perguntou, ansioso agora.

"Eu acho que preciso me deitar agora", eu gaguejei.

"Oh, desculpe". Ele esperou por mim, mas eu ainda não conseguia me mexer.

"Eu acho que preciso de uma ajudinha", eu admití.

Ele sorriu baixinho e gentilmente soltou o meus braços de seu pescoço. Não havia como resitir ao poder da sua força de aço.

Então ele me puxou pra encará-lo, me segurando nos braços como uma criança pequena. Ele me segurou por um momento e então me colocou na grama primaveríl.

"Como você se sente?", ele perguntou.

Eu não tinha muita certeza das coisas quando minha cabeça estava girando. "Tonta, eu acho".

"Ponha a cabeça entre os seus joelhos".

Eu tentei isso, e ajudou um pouco. Eu respirei devagar, ainda mantendo minha cabeça bem parada. Eu sentí ele se sentando do meu lado. Os segundos passaram, e finalmente, eu descobri que podia levantar a cabeça. Haviam um sino tocando nos meus ouvidos.

"Eu acho que essa não foi a melhor idéia", ele zombou.

"Eu tentei ser positiva,mas minha voz estava fraca. "Não, foi interessante".

"Hah! Você está branca feito um fantasma- você está branca que nem eu".

"Eu devia ter fechado os olhos"

"Lembre-se disso na próxima vez"

"Próxima vez!", eu gemí.

Ele riu, seu humor ainda estava radiante.

"Exibido", eu sussurei.

"Abra seus olhos, Bella", ele disse baixinho.

E ele estavá lá, seu rosto bem perto do meu. Sua beleza fascinou minha mente- era demais, um excesso ao qual eu não conseguia me acostumar.

"Eu estava pensando, enquanto eu estava correndo..." Ele parou.

"Em não bater nas árvores, eu espero".

"Bella boba", ele gargalhou. "Correr é minha segunda natureza, não há nada o que pensar".

"Exibido", eu sussurei de novo.

Ele sorriu.

"Não", ele continuou. "Eu estava pensando que há algo que eu quero tentar". E então ele pegou meu rosto nas mãos de novo.

Eu não conseguia respirar.

Ele hesitou- não do jeito normal, do jeito humano.

Não do jeito que o homen hesita quando vai beijar uma mulher, pra ver a reação dela, pra ver se ele seria recebido. Talvez ele hesitasse pra prolongar o momento, o momento ideal da antecipação, que as vezes era melhor do que o beijo em si.

Edward hesitou pra se testar, pra ver se isso era seguro, pra ter certeza que ele ainda poderia se controlar se precisasse.

E então seus lábios gelados, de mármore se pressionaram nos meus.

Nenhum de nós estava preparado para a minha resposta.

O sangue queimou embaixo da minha pele, queimou nos meus lábios.

Minha respiração saiu num suspiro selvagem.

Meus dedos se fecharam nos cabelos dele, apertando ele contra mim. Meus lábios se abriram enquanto eu respirava o su cheiro forte.

Imediatamente eu senti ele se tornar uma pedra sem resposta sob meus lábios. Suas mãos gentís, mas com uma força iresistível, afastaram meu rosto. Eu abri meus olhos e vi a sua expressão cuidadosa.

"Ooops", eu respirei.

"Isso é uma declaração"

Seus olhos estavam selvagens, sua mandíbula estava fechada com uma força aguda, mas nem isso modificou suas feições perfeitas. Ele segurou meu rosto a apenas alguns centímetros do seu. Ele me fascinou com seus olhos.

"Será que eu posso...?", eu tentei me soltar, pra dar um pouco de espaço pra ele.

As mãos dele não permitiram que eu me movesse nem um centímetro.

"Não. Isso é intolerável. Espere um momento,por favor". Sua voz estava educada, controlada.

Eu mantive meus olhos nos seus, observei enquanto a excitação neles se esvaia e eles ficavam gentís.

Então ele deu um sorriso surpreendentemente travesso.

"Pronto", ele disse, obviamente satisfeito consigo mesmo.

"Tolerável?", eu perguntei.

Ele riu alto. "Eu sou mais forte do que pensava. É bom saber".

"Eu queria poder dizer o mesmo. Me desculpe".

"Você é apenas humana, no final das contas".

"Muito obrigada", eu disse.

Com um dos seus movimentos leves, quase invisíveis, ele ficou de pé. Ele segurou sua mão pra mim, um gesto inesperado.

Eu estava muito acostumada ao tratamento cuidadoso do não-toque. Eu segurei sua mão gelada, precisando mais de apoio do que eu esperava.

Meu equilíbrio ainda não havia voltado.

"Você ainda está tonta pela corrida? Ou foi minha habilidade com beijos?" Como ele pareceu frívolo, humano quando riu agora. Seua rosto angelical estava sem preocupações. Era um Edward diferente do que eu conhecia. E eu me sentia muito mais atraída a ele. Me separar dele agora teria me causado dor física.

"Eu não tenho certeza, eu ainda estou lerda", eu conseguí responder.

"Porém, eu acho que é um pouco dos dois".

"Talvez você devesse me deixar dirigir".

"Você está louco?, eu protestei.

"Eu dirijo melhor do que você nos seus melhores dias", ele zombou. "Você tem reflexos muito mais lentos".

"Eu tenho certeza de que é verdade, mas eu não acho que os meus nervos, ou a minha caminhonete, aguentariam"

"Um pouco de confiança, Bella, por favor".

Minha mão estava no meu bolso, apertando a minha chave com toda força. Eu curvei meus lábios, meditei e falei com um sorriso apertado.

"Não. Sem chance"

Ele ergueu as sobrancelhas sem acreditar.

Eu comecei a passar por ele, indo para o banco do motorista. Ele poderia ter me deixado passar se eu não tivesse tropeçado de leve. Mas também, ele poderianão ter deixado. Seus braços criaram uma prisão inscapável ao redor da minha cintura.

"Bella, eu já gastei um bocado de esforço até esse ponto, pra manter você viva. Eu não vou deixar você ficar atrás de um volante quando você não consegue nem caminhar direito. Além do mais, amigos não deixam amigos dirigir quando estão bebados". Ele citou com uma gargalhada.

Eu podia sentir a doçura do perfume que exalava do peito dele.

"Bêbada?", eu perguntei.

"Você está intoxicada com a minha presença". Ele estava dando aquele sorriso zombeteiro de novo.

"Eu não posso discutir com isso", eu suspirei. Não havia volta; eu não conseguia resistir a ele de forma nenhuma. Eu segurei a chave e soltei, vendo sua mão se mover como um trovão e pegá-la no ar silenciosamente. "Pegue leve- minha caminhonete é uma cidadã idosa".

"Muito sensível", ele aprovou.

"E você não está nem um pouco afetado", eu perguntei, aborrecida.

"Pela minha presença?"

De novo as suas feições se transformaram, sua expressão ficou suave, aconchegante. Ela não respondeu de primeira; ele simplesmente aproximou seu rosto do meu e passou os lábios lentamente pela minha mandíbula, da minha orelha até o queixo, pra frente e pra trás. Eu tremí.

"Sem dúvida", ele finalmente disse. "Eu tenho reflexos melhores".

14. A mente domina a matéria.

Ele até que dirigia bem, quando a velocidade estava razoável, eu tinha que admitir isso. Como tantas outras coisas, isso não parecia requerer nenhum esforço da parte dele. Ele mal olhava para a estrada, mas mesmo assim, os pneus não sem desviaram nem um centímetro da linha no centro da estrada. Ele dirigiu com uma mão só, segurando a minha mão no banco do carro. As vezes ele olhava para o sol se pondo, as vezes ele olhava pra mim- meu rosto, meu cabelo voando ao vento da janela aberta, nossas mãos juntas.
Ele ligou o rádio numa estação de músicas antigas e cantou uma canção que eu nunca tinha nem ouvido. Ele conhecia cada frase.
"Você gosta das músicas dos anos cinquenta?", eu perguntei.
"As músicas nos anos cinquenta eram boas. Muito melhor do que as dos anos sessenta e setenta, ugh!", ele tremeu. "As dos anos oitenta eram suportáveis".
"Você vai me contar quantos anos você tem?", eu perguntei, fazendo uma tentativa, sem querer estragar o seu humor animado.
"Isso importa muito?", ele sorriu, pra meu alívio, ainda animado.
"Não, mas eu ainda imagino...", eu fiz uma careta. "Não há nada como um mistério não resolvido pra te manter acordada de noite".
"Eu me pergunto se isso vai te aborrecer", ele refletiu consigo mesmo. Ele olhou para o sol; os minutos passaram.
"Me teste", eu disse finalmente.
Ele suspirou, e olhou pra os meus olhos, parecendo se esquecer completamente da estrado por um tempo. O que quer que ele tenha visto lá deve ter encorajado ele. Ele olhou para o sol - a luz do por do seu fez ele brilhar como um rubi - e ele falou.
"Eu nasci em Chicago, em 1901". Ele parou e olhou para mim pelo canto dos olhos. Meu rosto estava cuidadosamente insurpreendido, pacientemente esperando pelo resto. Ele deu um pequeno sorriso e continuou. "Carlisle me encontrou em um hospitam em 1918, eu tinha dezessete anos e estava morrendo com a gripe Espanhola".
Ele ouviu quando eu prendí o fôlego, apesar do som ter sido baixo até para os meus próprios ouvidos. Ele olhou para os meus olhos de novo.

"Eu não me lembro muito bem- já foi há muito tempo e as memórias humanas desaparecem". Ele ficou perdido em pensamentos por um breve período de tempo e então continuou. "Eu me lembro de como eu me sentí, quando Carlisle me salvou. Não é uma coisa fácil, algo que você esquece".

"Seus pais?"

"Eles já tinham morrido com a doença. Eu estava sozinho. Foi por isso que ele me escolheu. Como todo aquele caos da epidemia, ninguém se deu conta de que eu tinha desaparecido".

"Como foi que ele... te salvou?"

Alguns segundos se passaram antes que ele respondesse. Ele parecia estar escolhendo as palavras cuidadosamente.

"Foi difícil. Nem todos de nós tem controle suficiente pra completar a transição. Mas Crlisle sempre foi o mais humano, sempre o que teve mais compaixão entre nós...Eu não acho que você encontraria outra pessoa igual a ele em toda a história". Ele parou. "Pra mim foi meramente muito, muito doloroso".

Eu podia ver pelos seus lábios que ele não falaria mais nada sobre esse assunto. Eu suprimi minha curiosidade, apesar dela não estar nem um pouco saciada. Haviam ainda muitas coisas sobre esse assunto nas quais eu precisava pensar, coisas que estavam apenas começando a aparecer na minha cabeça. Sem dúvida, sua mente rápida já havia compreendido cada aspecto que ainda me confundia.

Sua voz suave interrompeu meus pensamentos. "Ele agiu por causa da solidão. Geralmente essa é a razão por trás da escolha. Eu fui o primeiro da família de Carlisle, apesar dele ter achado Esme logo depois. Ela caiu de um abismo. Eles levaram ela direto para o necrotério do hospital apesar de, de alguma forma, o coração dela ainda estar batendo".

"Você precisa estar morrendo, então, pra se tornar um...", eu nunca havia pronunciado a palavra, e não conseguí falá-la agora.

"Não, isso é só com Carlisle. Ele nunca faria isso com alguém que tem outra escolha". O respeito na voz dele era sempre muito profundo quando ele falava na sua figura de pai. "Contudo, ele diz que é mais fácil", ele continuou.

"Se o sangue estiver mais fraco", ele olhou para a estrada agora escura, e eu pude sentir que ele estava fechando o assunto de novo.

"E Emmett e Rosalie?"

"Carlisle trouxe Rosalie para a nossa família logo depois. Só muito tempo depois eu percebí que ele esperava que ela fosse pra mim o que Esme era pra ele- ele era cuidadoso com os seus pensamentos quando estava perto de mim". Ele revirou os olhos. "Mas ela nunca foi nada além de uma irmã. Foi apenas dois anos depois que ela encontrou Emmett. Ela estava caçando- estávamos em Appalachia nessa época- e encontrou um urso a ponto de acabar com ele. Ela carregou ele até Carlisle, andando por mais de cem quilometros, como medo de não conseguir fazer sozinha. Só agora eu começo a imaginar como aquela jornada foi difícil pra ela". Ele deu uma olhada pra mim e levantou nossas mãos, ainda juntas, e acariciou a minha bochacha com as costas da mão dele.

"Mas ela conseguiu", eu encorajei, desviando o olhar da beleza insuportável dos seus olhos.

"Sim", ele murmurou. "Ela viu alguma coisa no rosto dele que fez ela ser forte o suficiente. E eles estão juntos desde então. Mas quanto mais jovens fingimos ser, por mais tempo podemos ficar em um só lugar. Forks parecia ser perfeito, então todos nós entramos na escola". Ele riu. "Eu acho que teremos que ir ao casamento deles daqui á alguns anos, de novo".

"Alice e Jasper?"

"Alice e Jasper são duas criaturas muito raras. Eles dois adquiriram a consciencia, por assim dizer, sem nenhum tipo de ajuda.

Jasper perteceu á outra... família, um tipo de família muito diferente. Ele ficou muito deprimido, e então resolveu vagar sozinho. Alice encontrou ele. Assim como eu, ela tem certos dons fora do comum para a nossa espécie".

"Mesmo?", eu interrompí, fascinada. "Mas você disse que era o único que podia ler mentes".

"Isso é verdade. Ela sabe outras coisas. Ela vê coisas- coisas que podem acontecer, coisas que estão por vir. Mas é muito subjetivo. O futuro não está cravado em uma pedra. As coisas podem mudar".

Ele comprimiu a mandíbula quando disse isso, e seus olhos olharam para os meus e se viraram tão rápido que eu não tenho certeza se foi só imaginação.

"Que tipo de coisas ela vê".

"Ela olhou pra Jasper e soube que ele estava procurando por ela antes que ele mesmo soubesse. Ela viu Carlisle e nossa família e os dois vieram juntos nos encontrar. Ela é sempre mais sensível com os não-humanos. Ela sempre vê, por exemplo, quando outro grupo da nossa espécie está se aproximando. E que tipo de problemas eles podem representar".

"Existem muitos... da sua espécie?". Eu estava surpresa. Quantos deles estariam andando entre nós sem serem detectados?

"Não, não muitos. Mas a maioria não se firma em um só lugar. Só aqueles como nós, que desistiram de caçar pessoas"- uma olhadela na minha direção- "podem viver perto de humanos por qualquer período de tempo. Nós só encontramos uma outra família como a nossa, num pequeno vilarejo no Alaska. Nós vivemos juntos por algum tempo, mas éramos tantos que começou a dar nas vistas. Aqueles que são...diferentes de nós costumam formar bandos".

"E os outros?"

"Nômades, em grande parte. Nós todos já vivemos assim as vezes. Acaba ficando tedioso, como todo o resto. Mas de vez em quando nós esbarramos uns nos outros, porque a maioria de nós prefere o Norte".

"Porque isso?"

Estávamos parados na frente de casa agora, e ele desligou a caminhonete. Estava tudo muito quieto e escuro; não havia lua. A luz da varanda estava desligada, então eu sabia que meu pai ainda não estava em casa.

"Seus olhos estavam abertos essa tarde?", ele zombou. "Você acha que eu poderia andar numa rua á luz do sol sem causar alguns acidentes de trânsito? Há uma razão pela qual escolhemos a Penínsulo do Olímpico, um dos lugares com menos sol no mundo inteiro. Você não acreditaria no quanto pode se cansar da noite, depois de oitenta anos".

"Então é daí que vêm as lendas?"

"Provavelmente."

"E Alice vem de outra família, como Jasper?"

"Não, isso é um mistério. Alice não se lembra de absolutamente nada da sua vida humana. E ela não sabe quem a transformou. Ela acordou sozinha. Quem quer que seja que transformou ela, fugiu, nenhum de nós entende como, ou porque ele fez isso. Se ela não tivesse essa outra sensibilidade, se não tivesse encontrado Jasper e Carlisle e visto que poderia se tornar uma de nós, ela podia ter se transformado numa selvagem".

Havia tanto em que pensar, tantas coisas que eu ainda queria perguntar. Mas, para a minha grande vergonha, meu estômago roncou. Eu estava tão intrigada, que nem reparei que estava com fome. Agora eu via que era uma fome voraz.

"Me desculpe, eu estou atrapalhando o seu jantar".

"Eu estou bem, de verdade".

"Eu naunca passei tanto tempo perto de uma pessoa que come comida. Eu esquecí".

"Eu quero ficar com você". Era mais fácil dizer na escuridão, sabendo que a minha voz ia me trair, trair a minha completa obsessão por ele.

"Eu posso entrar?", ele perguntou.

"Você quer?", eu não conseguia imaginar a cena, essa criatura divina sentada nas cadeira rotas da cozinha do meu pai.

"Sim, se estiver tudo bem". Eu ouví a porta se fechar baixinho, e quase ao mesmo tempo ele estava ao meu lado, abrindo a porta pra mim.

"Muito humano", eu cumprimentei ele.

"Eu estou definitivamente resurgindo".

Ele caminhou ao meu lado na noite, tão quieto que eu tinha que observar constantemente pra ver se ele ainda estava lá. Na escuridão ele parecia muito mais normal. Ainda pálido, ainda com sua beleza saida de um sonho, mas não mais aquela criatura brilhando no sol da tarde.

Ele alcançou a porta antes e abriu ela pra mim. Eu parei a meio caminho da entrada.

"A porta estava aberta?"

"Não, eu usei a chave que tem embaixo do tapete".

Eu entrei, acendí a luz da varanda, e me virei pra olhá-lo com as sobrancelhas erguidas. Eu tinha certeza que nunca havia usado aquela chave na frente dele.

"Eu estava curioso sobre você".

"Voce me espionou?", mas eu não consegui colocar um tom apropriado de ultraje na minha voz. Eu estava lisonjeada.

Ele não parecia arrependido. "O que mais há pra fazer de noite?"

Eu deixei essa passar no momento e fui caminhando no corredor até a cozinha. Ele já estava lá antes de mim, sem precisar de guia. Ele sentou exatamente na cadeira onde eu estava tentando imaginá-lo. Levou um momento até que eu pudesse desviar o olhar.

Eu me concentrei no meu jantar, tirando a lasanha da noite passada da geladeira, colocando um pedaço num prato e colocando pra esquentar no microondas. Ela girou, enchendo a cozinha com o cheiro do tomate e do orégano. Eu não tirei os olhos do meu prato de comida enquanto falava.

"Com que frequência?", eu perguntei casualmente.

"Hmmm?" Ele soou como se eu tivesse tirado ele de outra linha de pensamento.

Eu ainda não me virei. "Com que frequência você vem aqui?"

"Eu venho aqui quase todas as noites".

Eu me virei, aturdida. "Porque?"

"Você é muito interessante quando dorme", ele falou como se estivesse atestando um fato. "Você fala".

"Não!",eu fiquei ofegante. O calor começou a flir no meu rosto até chegar ao meu cabelo. Eu me agarrei no balcão da cozinha pra ter suporte. Eu sabia que falava durante o sono, é claro; minha costumava zombar de mim por causa disso. No entanto, eu não pensava que era algo com que eu precisaria me preocupar aqui.

Sua expressão se transformou instantaneamente em uma de pesar. "Você está com raiva de mim?"

"Isso depende!", eu soei como se tivesse levado um soco no estômago.

Ele esperou.

"Do que?", ele implorou.

"Do que você ouviu!", eu gemí.

Instantaneamente, silenciosamente, ele estava ao meu lado, segurando minhas mãos cuidadosamente com as suas.

"Não fique brava!", ele implorou. Ele baixou seu rosto até o nível dos meus olhos, segurando meu olhar. Eu estava com vergonha. Eu tentei desviar o olhar.

"Você sente falta da sua mãe", ele sussurou. "Você se preocupa com ela. E então tem a chuva, o barulho não te deixa dormir. Você costumava falar muito de casa, mas agora não é tão frequente. Uma vez você disse 'é muito verde'". Ele sorriu levemente, esperando, como eu pude ver, que ele não tivesse me ofendido demais.

"Algo mais?", eu perguntei.

Eu sabia o que estava por vir. "Você disse meu nome", ele admitiu.

Eu suspirei me sentindo derrotada. "Muito?"

"O que exatamente você quer dizer com 'muito'?"

"Oh, não!", minha cabeça caiu.

Ele me puxou para seus braços, suavemente, naturalmente.

"Não fique constrangida", ele sussurou no meu ouvido. "Se eu pudesse sonhar, eu sonharia com você. E eu não me envergonho disso".

Então nós dois ouvimos os barulhos dos pneus na calçada de tijolos, vimos os faróis brilharem pela janela da frente, no corredor perto de nós. Eu enrijeci nos braços dele.

"Seu pai deve saber que eu estou aqui?", ele perguntou.

"Eu não tenho certeza...", eu tentei pensar com clareza.

"Outra vez então".

E eu estava sozinha.

"Edward!", eu chamei.

Eu ouví uma gargalhada fantasmagórica, e nada mais.

Meu pai virou a chave na porta.

"Bella?", ele chamou. Isso havia me aborrecido antes; quem mais poderia ser? Agora isso não parecia mais tão anormal.

"Eu tô aqui". Eu esperava que ele não ouvísse o tom histérico da minha voz. Eu tirei o meu jantar do microondas e coloquei em cima da mesa enquanto ele entrava. Os passos dele pareceram muito barulhentos depois do meu dia com Edward.

"Você pode pegar um pouco disso pra mim? Eu estou faminto". Ele ficou na pontas das botas pra tirá-las, usando o encosto da cadeira de Edward como suporte.

Eu levei minha comida comigo, assoprando enquanto pegava a comida dele. Eu queimei minha boca. Eu peguei dois copos de leite enquanto a comida dele esquentava, e dei um gole no meu pra apagar o fogo.

Enquanto eu colocava o leite na mesa, eu percebí que minha mão estava tremendo.

Charlie sentou na cadeira, o contraste entre ele e o ocupante anterior era cômico.

"Obrigado", ele disse quando eu coloquei o seu jantar sobre a mesa.

"Como foi seu dia", eu perguntei. As palavras saíram rápidas; eu estava morrendo de vontade de fugir de lá.

"Bom, os peixes estavam mordendo a isca... e o seu? Você fez tudo que queria fazer?"

"Não- estava bonito demais lá fora pra ficar em casa". Eu dei outra grande mordida.

"Foi um dia bom", ele concordou. Que declaração, eu pensei comigo mesma.

Terminada a lasanha, eu levantei meu copo de leite e bebi o resto no copo.

Charlie me surpreendeu com sua observação. "Com pressa?"

"É, eu tô cansada. Vou dormir mais cedo".

"Você parece bem disposta". Oh, porque, porque de todas as noites ele tinha que estar prestando atenção hoje?

"Pareço?", foi tudo que eu consegui responder. Eu rapidamente lavei os meus pratos na pia, e coloquei eles de cabeça pra baixo num pano de prato seco pra secarem.

"É Sábado", ele zombou.

Eu não respondi.

"Não tem planos pra essa noite?", ele perguntou de repente.

"Não, pai, eu só quero dormir um pouco".

"Nenhum dos garotos da cidade faz o seu tipo, né?", ele estava parecendo suspeitar de alguma coisa,mas fingia levar numa boa.

"Não, nenhum dos garotos chamou minha atenção ainda". Eu tomei cuidado para não enfatizar a palavra garotos na minha urgência de ser honesta com Charlie.

"Eu pensei talvez que Mike Newton...você disse que ele era amigável"

"Ele é só um amigo, pai!"

"Bem, de qualquer forma, você é boa demais pra eles. Espere pra entrar na faculdade antes de procurar". O sonho de todos os pais, que suas filhas estivessem fora de casa antes dos hormonios começarem a se manifestar.

"Parece uma boa idéia pra mim", eu concordei enquanto subia as escadas.

"Boa noite, querida", ele falou atrás de mim. não tenho dúvidas de que ele passou a noite inteira espionando pra ver se ia fugir no meio da noite.

"Te vejo de manhã, pai". Te vejo mais tarde quando você estiver se enfiando no meu quarto pra me espiar.

Eu tentei fazer um som lento e cansado enquanto subia as escadas. Eu fechei a porta alto o suficiente pra ele ouvir, e então fui na ponta dos pés até a janela. Eu abri ela e coloquei a cabeça pra fora dentro da noite. Meu olhos procuraram na escuridão, nas sombras impenetráveis das árvores.

"Edward?", eu sussurei me sintindo uma perfeita idiota.

A resposta baixa e risonha veio de trás de mim. "Sim?"

Eu me virei, uma mão voou pra a minha garganta por causa da surpresa.

Ele estava deitado na minha cama, com um enorme sorriso no rosto, as mãos atrás da cabeça, seus pés estavam passando do fim da cama, a perfeita imagem da tranquilidade.

"Oh", eu respirei, caido na chão sem equilíbrio.

"Me desculpe". Ele apertou os lábios, tentando esconder que estava se divertindo.

"Só me dê um segundo pra acalmar meu coração".

Ele se sentou devagar, como se fosse pra não me assustar. Então ele se ergueu e levantou seu longo braço pra me levantar, me puxando pelos braços como se eu fosse um fantoche. Ele me sentou na cama ao lado dele.

"Porque você não senta comigo?", ele sugeriu, colocando a mão fria na minha. "Como está o coração?"

"Me diga você- com certeza você consegue ouvir melhor do que eu".

Eu sentí a sua risada quieta balançar a cama.

Nós ficamos sentados por um momento em silêncio, os dois escutando as patidas do meu coração desacelerarem. Eu pensei em Edward no meu quarto, com meu pai em casa.

"Posso ter um minuto pra ser humana?", eu pedí.

"Certamente", ele fez um gesto com a mão, me dizendo pra seguir em frente.

"Fique", eu disse, tentando paracer severa.

"Sim, madame". E ele fez uma mágica de transformar em estátua na beira da minha cama.

Eu me levantei, pegando meu pijama do chão, minha bolsa de utilitários em cima da mesa. Eu deixei a luz desligada e saí, fechando a porta.

Eu podia ouvir o som da televisão mesmo de lá de cima. Eu batí a porta do banheiro com força, assim Charlie não viria me incomodar.

Eu tentei me apressar. Tentando ser eficiente e rápida pra tirar a lasanha dos dentes.

Mas a água quente do chuveiro não podia ser apressada. Eu destravei os músculos das minhas costas, tentei acalmar o pulso. O cheiro familiar do meu shampoo me disse que eu devia tentar ser a mesma pessoa que eu era de manhã. Eu tentei não pensar em Edward, sentado no meu quarto, esperando, porque se eu fizesse isso eu teria que recomeçar o processo de me acalmar. Finalmente, eu não pude mais espera. Eu desliguei o chuveiro, me enchugando vorazmente, com pressa de novo. Eu coloquei a blusa e as calças do meu pijama. Tarde demais pra me arrepender por não ter trazido o pijama da Victoria's Secret que minha mãe havia me dado há dois anos atrás, eles ainda estavam com a etiqueta em alguma gaveta na minha casa.

Eu esfreguei a toalha no cabelo de novo e passei a escova por ele depressa. Eu joguei a toalha no cesto, coloquei a minha escova e a minha pasta de dentes dentro da minha bolsa. Então eu desci as escadas correndo pra que charlie visse que eu estava de pijamas, com o cabelo molhado.

"Boa noite, pai".

"Boa noite, Bella". Ele ficou surpresa pela minha aparência. Talvez isso impedisse que ele viesse me espiar no meio da noite.

Eu subi as escadas dois degraus de cada vez, tentando não fazer barulho, e voei pra o meu quarto, fechando a porta atrás de mim.

Edward não tinha se movido uma fração de centímetro de onde eu o havia deixado, uma estátua de Adonis deitada no meu edredom.

Eu sorri e os seus lábios tremeram, a estátua veio á vida.

Seus olhos me examinaram, parando no cabelo molhado, na blusa do meu pijama. Ele ergueu uma sobrancelha. "Legal".

Eu fiz uma careta.

"Não, fica bem em você".

"Obrigada", eu sussurei. Eu voltei para o lado dele, sentando de pernas cruzadas ao leu lado. Eu olhei para as linhas do chão de madeira.

"Pra quê foi tudo isso?"

"Charlie acha que eu vou fugir no meio da noite"

"Oh", ele analisou isso. "Porque?". Como se ele não pudesse entender a mente de Charlie muito mais claramente do que eu.

"Aparentemente, eu estou excitada demais".

Ele levantou meu queixo, olhando para meu rosto.

"Na verdade, você parece muito cálida".

Ele baixou o seu rosto para o meu e encostou sua bochecha fria na minha pele. Eu me mantive perfeitamente rígida.

"Mmmmmm...", ele respirou.

Era muito difícil, enquanto ele estava me tocando, formular uma pergunta coerente. Me levou um minuto até que eu pudesse reunir a concentração necessária.

"Parece ser... muito mais fácil pra você, agora, ficar perto de mim".

"É isso que parece pra você?",ele perguntou, seu nariz passando pela minha mandíbula. Eu sentí sua mão, tão leve quanto a asa de uma mariposa, colocando o meu cabelo molhado pra trás, para que seus lábios pudessem tocar a parte de baixo da minha orelha.

"Muito, muito mais fácil", eu disse, tentando respirar.

"Hmm".

"Então eu estava imaginando..." eu comecei de novo, mas seus dedos estavam traçando a minha clavícula, então eu perdí a linha de pensamento de novo.

"Sim?", ele sussurou.

"Porque?", minha voz tremeu me deixando envergonhada. "É assim?"

Eu sentí o tremor da sua respiração quando ele sorriu. "Não se importe".

Eu me inclinei pra trás; enquanto eu movia, ele congelou- e eu não podia ouvir mais o som da sua respiração.

Nós olhamos cuidadosamente um para o outro por um momento, e então sua mandíbula contraída foi se relaxando aos poucos, sua expressão ficou confusa.

"Eu fiz alguma coisa errada?"

"Não- pelo contrário. Você está me deixando louca", eu expliquei.

Ele considerou isso brevemente, e quando falou, parecia satisfeito.

"Mesmo?" Um sorriso triumfante vagarosamente iluminou o seu rosto.

"Você gostaria de uma salva de palmas?", eu perguntei sarcasticamente.

Ele deu uma gargalhada.

"Eu só estou agradavelmente surpreso", ele esclareceu. "Nos últimos cem anos mais ou menos", ele zombou. "Eu nunca imaginei uma coisa assim. Eu nunca imaginei que encontraria uma pessoa que quisesse ficar comigo...sem contar meus irmãos e irmãs. Então eu descobri , apesar de ser novo nisso, que eu sou bom...em estar com você..."

"Você é bom em tudo", eu apontei.

Ele levantou os ombros, se acostumando com isso, e nós dois rimos baixinho.

"Mas como é que pode ser tão fácil agora?", eu pressionei. "Essa tarde..."

"Não é tão fácil", ele suspirou. "Mas essa tarde eu ainda não estava...decidido. Me desculpe por aquilo, foi imperdoável eu ter me comportado daquela forma".

"Imperdoável não", eu discordei.

"Obrigado", ele sorriu. "Entenda", ele continuou olhando pra baixo.

"Eu não tinha certeza de que era forte o suficiente..." Ele pegou uma das minhas mãos e pressionou levemente contra o seu rosto. "E enquanto houvessem possibilidades de eu ser...superado"- ele aspirou o cheiro do meu pulso- "Eu estava... suscetível. Até que eu me convencesse de que era forte o suficiente, não haviam possibilidades de que eu pudesse... que eu fizesse..."

Eu nunca vi ele lutar tanto para encontrar as palavras certas. Era tão... humano.

"Então existe uma possibilidade agora?"

"Veremos o que acontece", ele disse, sorrindo, seus dentes brilhavam mesmo na escuridão.

"Uau, isso é fácil", eu disse.

Ele jogou a cabeça pra trás e riu, tão baixo como um suspiro, mas ainda exuberantemente.

"Fácil pra você", ele emendou, tocando o meu nariz com a ponta do dedo.

Então seu rosto ficou abruptamente sério de novo.

"Eu estou tentando", ele sussurou, sua voz cheia de dor. "Se for... demais, eu tenho quase certeza que sou capaz de ir embora."

Eu fiz uma careta. Eu não queria ouvir ele falando de ir embora.

"Vai se mais difícil amanhã", ele continuou. "Eu fiquei com o seu cheiro na minha cabeça o dia inteiro, e acabei perdendo a sensibilidade. Se eu me afastar de você por qualquer período de tempo, eu vou ter que começar tudo de novo. Não exatamente do início, eu acho".

"Então, não vá embora", eu respodi sem conseguir esconder a vontade na minha voz.

"Isso seria bom pra mim", ele respondeu, seu rosto se transformou num sorriso gentil. "Traga as suas algemas- eu sou seu prisioneiro"

Mas as longas mãos dele fecharam os meus pulsos enquanto ele falava. Ele sorriu com o seu sorriso baixo, musical. Ele sorriu mais hoje do que em todo o tempo desde que nos conhecemos.

"Você parece mais... otimista do que o normal", eu observei. "Eu nunca te vi assim antes".

"Não é assim que deve ser?", ele sorriu. "A glória do primeiro amor, e isso tudo. Não é incrível, a diferença entre ler sobre uma coisa, ver em fotos, e experimentá-la?"

"Muito diferente", eu concordei. "Mais substancial do que eu pensava".

"Por exemplo"- suas palavras fluiam rapidamente agora, e eu tive que me concentrar pra entender todas- "o sentimento de inveja. Eu já li sobre isso milhares de vezes, já vi atores interpretando em milhares peças e filmes diferentes. Eu achei que compreendia esse sentimento muito bem. Mas ele me chocou...", ele fez uma careta. "Você se lembra daquele dia que Mike te convidou para o baile?"

Eu afirmei com a cabeça, apesar de lembrar daquele dia por um motivo diferente. "O dia que você começou a falar comigo de novo".

"Eu me surpreendo com a pontada de ressentimento, quase de fúria, que eu sentí- naquele momento eu não reconheci. Eu estava mais nervoso que o normal e eu não conseguia saber o que você estava pensando, porque você havia recusado o convite. Era simplesmente pra preservar a amizade? Era alguma outra coisa? Eu sabia que de qualquer jeito eu não tinha o direito de me importar. Eu tentei não me importar.

"E então a fila começou a se formar", ele gargalhou. Eu olhei zangada para a escuridão.

"Eu esperei, rasoavelmente ansioso pra ver o que você diria pra eles, pra ver as suas expressões. Eu não conseguia negar o alivio que estava sentindo, vendo a fúria no seu rosto. Mas eu não podia ter certeza.

"Aquela foi a primeira noite que vim aqui. Eu lutei a noite inteira, enquanto via você dormindo, com a brecha entre o que eu sabia que eracerto, moral, ético, e o que eu queria."

"Eu sabia que se eu te ignorasse como devia, ou se fosse embora por alguns anos, até que você fosse embora, você algum dia diria sim á Mike, ou alguém como ele. Isso me deixou com raiva.

"E então", ele sussurou. "Você falou meu nome enquanto dormia. Você falou tão claramente, que no início eu pensei que você tivesse acordado. Mas você virou para o lado e murmurou meu nome mais uma vez, e suspirou. O sentimento que passou no meu corpo nessa hora me deixou enervado, vacilante. E eu sabia que não podia mais te ignorar".

Ele ficou em silêncio, provavelmente ouvindo as batidas descompassadas do meu coração.

"Mas ciúme... é um sentimento estranho. Muito mais poderoso do que eu tinha imaginado. E irracional! Agora mesmo, quando Charlie te perguntou sobre Mike Newton...", ele balançou a cabeça com raiva.

"Eu devia saber que você estaria escutando", eu gemí.

"É claro".

"No entanto, aquilo te deixou com ciúmes?"

"Eu sou novo nisso tudo; eu estou ressucitando o humano que existe em mim, e tudo é mais forte porque é tão novo".

"Mas honestamente", eu zombei. "Você ficou com ciúmes disso, depois que eu tive que ouvir que Rosalie -Rosalie a encarnação pura da beleza - foi feita pra ficar com você. Com Emmett ou sem Emmett, como é que posso competir com aquilo?"

"Não há competição". Seus dentes brilharam. Ele colocou as minhas mãos ainda presas atrás das costas dele e me apertou contra seu peito. Eu fiquei tão rígida quanto pude, controlando até a respiração.

"Eu sei que não há competiçao". Eu murmurei no peito gelado dele. "Esse é o problema".

"É claro que Rosalie é linda do jeito dela, mas mesmo se ela não fosse minha irmã, mesmo se ela não estivesse com Emmett, eu não sentiria por ela nem um décimo, nem um centésimo da atração que eu sinto por você". Ele estava sério agora, pensativo. "Por quase noventa anos eu estive andando entre a minha espécie, e a sua... todo o tempo pensando que estava bem sozinho, sem saber o que eu estava procurando."

"E sem encontrar nada, porque você ainda não estava viva".

"Não parece muito justo", eu sussurei, meu rosto no peito dele, ouvindo sua respiração entrando e saindo. "Eu não tive que esperar. Porque eu posso me safar tão facilmente?"

"Você está certa", ele disse divertido. "Eu definitivamente devia tornar as coisas mais difíceis pra você. Ele liberou a sua mão soltando meu pulso, só pra prendê-lo com a outra mão. Ele alisou meu cabelo molhado suavemente, do topo da minha cabeça até a minha cintura. "Você só tem que arriscar a sua vida a cada segundo que passa comigo, isso com certeza não é muito. Você só tem que virar as costas para a sua natureza, a sua humanidade... quanto isso vale?"

"Muito pouco- eu não me sinto privada de nada"

"Ainda não". E sua voz estava abruptamente cheia de aflição.

Eu tentei me afastar, para olhar para o rosto dele, mas suas mãos seguravam meus pulsos com uma força inquebrável.

"O que-", eu comecei a perguntar quando seu corpo começou a ficar alerta. Eu fiquei congelada, mas ele de repente soltou minhas mãos e desapareceu. Eu fiz um esforço pra não cair de cara.

"Deite-se", ele assobiou. Eu não podia dizer de que lugar da escuridão ele estava falando.

Eu rolei pra baixo do meu edredom, me virando de lado, do jeito que eu costumo dormir. Eu ouvi a porta se abrir, enquanto colocou a cabeça pra dentro pra ver se eu estava lá como deveria estar. Eu respirei uniformemente, exagerando o movimento.

Um longo minuto se passou. Eu escutei, sem ter certeza de que a porta havia se fechado. Então o braço gelado de Edward estava em cima de mim,por baixo da coberta, seus lábios no meu ouvido.

"Você é uma pessima atriz- eu diria que essa carreira está fora de cogitação pra você".

"Droga", eu murmurei. Meu coração batia com força no peito.

Esse sussurou uma melodia que eu não conhecia; parecia uma canção de ninar.

Ele parou. "Será que eu devo cantar pra você dormir?"

"Certo", eu sorri. "Como se eu conseguisse dormir com você aqui!".

"Você faz isso o tempo inteiro", ele me lembrou.

Mas eu não sabia que você estava aqui", eu repliquei friamente.

"Então, se você não quer dormir...", ele sugeriu, ignorando meu tom. Minha respiração parou.

"Se eu não quero dormir...?"

Ele gargalhou. "O que você quer fazer então?"

Primeiro eu não conseguí responder.

"Eu não tenho certeza", eu disse finalmente.

"Me avise quando você se decidir".

Eu sentia a respiração gelada dele no meu pescoço, podia senti o nariz dele percorrendo minha mandíbula, inalando meu cheiro.

"Eu pensei que você estivesse sem sensibilidade".

"Só porque eu estou resistindo ao vinho, não significa que eu não posso apreciar sua fragrância", ele suspirou. "Você tem um cheiro muito floral, como lavanda... ou freesia", ele notou. "É de dar água na boca".

"É, é praticamente um feriado quando não tem alguém me dizendo o quanto eu sou apetitosa".

Ele gargalhou e então suspirou.

"Eu decidí o que quero fazer". Eu disse pra ele. "Eu quero ouvir mais sobre você".

"Me pergunte qualquer coisa".

Eu escolhi entre as perguntas de maior importância. "Porque você faz isso?" Eu disse. "Eu ainda não entendo como você pode resistir tanto a quem você...é. Por favor, não entenda mal, é claro que me alegra que você faça isso. Eu só não entendo porque você se incomoda".

Ele hesitou antes de responder. "Essa é uma boa pergunta, e você não é primeira a fazê-la. Os outros - a maioria da nossa espécie está contente do jeito que as coisas são pra eles -eles também se perguntam como nós vivemos. Mas, veja,só porque nós estamos...mortos de certa forma... isso não significa que nõs não possamos escolher ser melhores- tentar cruzar as barreiras do destino que nós não escolhemos. Podemos tentar reter o pouco de humanidade que ainda existe dentro de nós".

Eu me mantive parada, presa no silêncio pasmo.

"Você dormiu?", ele sussurou depois de alguns minutos.

"Não"

"Você só estava curiosa pra saber isso?"

Eu rolei os olhos. "Não exatamente".

"O que mais você quer saber?"

"Porque você consegue ler mentes- e só você? E Alice ver futuro? Como isso acontece?"

Eu sentí ele levantar os ombros na escuridão. "Nós realmente não sabemos. Carlisle tem uma teoria... ele acredita que todos nó temos alguma coisa em nossa vida humana que era muito forte, e que quando trazemos essa coisa para a nossa outra vida, ela é intensificada- como nossas mentes e os nossos sentidos. Ele acha que eu já devia ser sensível aos pensamentos das pessoas ao meu redor. E Alice tinha previsões, onde quer que ela estivesse".

"O que ele trouxe para a próxima vida? E os outros?"

"Carlisle trouxe sua compaixão. Esme trouxe a sua capacidade de amar apaixonadamente. Emmett trouxe sua força, Rosalie a sua...tenacidade. Ou será que eu devo chamar de cabeça dura?" Ele gargalhou. "Jasper é muito interessante. Ele era muito carismático em sua primeira vida, capaz de influencias as pessoas ao seu redor a ver as coisas da sua maneira. Agora ele é capaz de influenciar as emoções das pessoas que estão ao seu redor- acalmar uma sala cheia de pessoas raivosas, por exemplo, ou excitar uma multidão letárgica. É um dom muito súbito."

Eu considerei as possibilidades que ele estava me dando, tentando aceitar tudo aquilo. Ele esperou pacientemente enquanto eu pensava.

"Então como isso tudo começou? Quer dizer, Carlisle mudou você, e então ele deve ter sido mudado por alguém, e assim por diante..."

"Bem, de onde você veio? Evolução? Criação? Será que nós não podemos ter nos desenvolvido da mesma forma que as outras espécies, predador e presa? Ou, se você não acredita que esse mundo inteiro surgiu do nada, como eu mesmo acho difícil de acreditar, será que não dá pra você acreditar que a mesma força maior que criou o peixe anjo e o tubarão, eu o golfinho e a baleia assassina, tenha também criado também nossas duas espécies?"

"Me deixe entender isso direito- eu sou o golfinho, não é?"

"É". Ele sorriu, e alguma coisa tocou meus cabelos- seus lábios?

Eu queria me virar pra ele, pra ver se eram realmente seus lábios que estavam tocando meus cabelos. Mas eu tinha que ser boazinha; eu não queria fazer isso mais difícil pra ele do que já era.

"Você estaá pronta pra dormir?", ele perguntou interrompendo o breve silêncio. "Ou você tem mais perguntas?"

"Um milhão ou dois"

"Nós temos amanhã, e o dia depois, e o dia depois...", ele me lembrou. Eu sorrí, eufórica com o pensamento.

"Você tem certeza que não vai desaparecer de manhã?", eu queria ter certeza. "Afinal de contas, você é uma criatura mística".

"Eu não vou te deixar", havia um tom de promessa na sua voz.

"Só mais uma, então, por hoje...". Eu corei. A escuridão não ia ajudar, eu sabia que ele poida sentir o súbito calor na minha pele.

"O que é?"

"Não, esqueça. Eu mudei de idéia".

"Bella, você pode me perguntar qualquer coisa".

Eu não respondí e ele gemeu.

"Eu fico pensando que vai ser menos frustrante, não ouvir os seus pensamentos. Mas então fica pior e pior".

"Eu me alegro que você não possa ouvir meus pensamentos. Já é ruim o suficiente que você ouve o que eu falo no sono".

"Por favor?", a voz dele era muito persuasiva, quase impossível de resistir".

Eu balancei minha cabeça.

"Se você não me contar, eu vou simplesmente pensar que é muito pior do que realmente é", ele ameaçou obscuramente. "Por favor?", de novo aquela voz implorativa.

"Bem...", eu comecei, feliz que ele não podia ver meu rosto.

"Sim?"

"Você disse que Rosalie e Emmett vão se casar logo... esse... casamento... é como é para os humanos?"

Ele riu silenciosamente agora, compreendendo. "É lá que estamos chegando?"

Eu me mexi, sem consegui responder.

"Sim, eu acredito que é a mesma coisa", ele disse. "Eu te disse, a maioria desses desejos humanos estão lá, só que estão escondidos por desejos muito mais fortes".

"Oh", foi tudo que eu consegui dizer.

"Qual é o propósito por trás da sua curiosidade?"

"Bem , eu me pergunto... sobre você e eu... algum dia..."

Ele estava instantaneamente sério, eu podia dizer pela súbita rigidez do corpo dele. Eu gelei também, reagindo automaticamente.

"Eu não acho que... que... seria possível pra nós".

"Porque seria demais pra você, se estivéssemos tão...perto?"

"Isso certamente seria um problema. Mas não era nisso que eu estava pensando. É só que você é tão delicada, tão frágil. Eu tenho que comandar todas as minhas ações quando estou perto de você pra não te machucar. Eu poderia te matar tão facilmente, Bella, simplesmente por um acidente". Sua voz havia se transformado num leve murmúrio. Ele mexeu sua palma geleda para colocá-la na minha bochecha. "Se eu estivesse muito ansioso... se por um segundo eu não estivesse prestando atenção o suficiente, eu poderia avançar, querendo tocar seu rosto, e amassar o seu crânio por engano. Você não se dá conta do quanto é quebrável. Eu não posso me dar ao luxo de perder o controle quando estou perto de você".

Ele esperou que eu respondesse, e ficou ansioso quando eu não respondi. "Você está com medo?", ele perguntou.

Eu esperei um momento antes de responder, pra que as palavras fossem verdadeiras. "Não, eu estou bem".

Ele pareceu pensar por um momento. "Contudo, eu estou curioso", ele disse, sua voz leve de novo. "Você já...?", ele parou deliberadamente.

"É claro que não", eu corei. "Eu te disse que nunca sentí isso por ninguém antes, nem perto".

"Eu sei. É só que eu sei os pensamentos das outras pessoas. E amos e luxúria nem sempre andam acompanhados".

"Pra mim andam. Agora, de qualquer forma, que isso existe pra mim", eu suspirei.

"Isso é bom. Pelo menos, temos uma coisa em comum". Ele pareceu satisfeito.

"Seus instintos humanos...", eu comecei. Ele esperou. "Bem, você se sente atraído por mim, nesse sentido, de alguma forma?"

Ele sorriu e fez o meu cabelo quase seco voar levemente.

"Eu posso não ser humano, mas eu sou homem", ele me assegurou.

Eu bocejei involuntáriamente.

"Eu respondí todas as suas perguntas, agora você devia ir dormir", ele insistiu.

"Eu não tenho certeza se consigo".

"Você quer que eu vá embora?"

"Não!", eu disse alto demais.

Ele sorriu e então recomeçou a sussurar aquela mesma cançao de ninar desconhecida; a voz de um arcanjo, macia no meu ouvido.

Mais cansada do que eu imaginava, exausta pelo estresse mental e emocional como eu nunca havia estado antes, eu caí no sono nos seus braços gelados.

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